VIII

Em transição

            Era dia de canto no coral. Todo o grupo de membros do coro estava na capela St. Mark, junto de várias alunas do internato, alguns ajudantes e a própria Ms. Vaughn. Um lugar muito belo que lembrava o estilo gótico das igrejas.

            O coro estava organizado nas escadas; Paulie e Mouse estavam na fileira de trás, e Tori na da frente, bem perto delas. Usavam o uniforme do internato e cantavam um cântico chamado Sanctus, ao som de instrumentos de percussão que algumas garotas tocavam na frente.

            Mary gostava daquilo, sentia-se bem... era a sua primeira vez no coral e achava que ficaria concentrada na canção, no entanto fora facilmente dispersada quando reparou que Paulie estendia discretamente a mão para Tori, que a segurou...

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            Não era para ter estranhado... mas haviam evidências fortes demais. Afinal, o que existia entre Pauline e Victoria, além de uma grande amizade? Os beijos, a afinidade... Não sabia, a resposta não saía, não queria sair. Mas tinha quase certeza. Absoluta.

            Mary Bedford parou no meio do corredor principal do colégio ao avistar pela primeira vez, através da vidraça, o jardineiro – Joe Menzies... e então sorriu. Ele estava no pátio-jardim, plantando uma pequena árvore.

            Decidiu puxar assunto... dirigiu-se até lá com a mochila nas costas e aproximou-se do homenzinho, que usava luvas de borracha amarelo-canário e tinha olhos pequenos, negros e apertados.

            - Hum... com licença... eu estava pensando se... você gostaria... eu poderia...

            - Você gosta de plantar? – perguntou ele, com seu rosto bondoso, agachado na grama. Virou-se para Mary, ao perceber sua timidez.

            - É! Sim... eu costumava fazer isso nos dias de abril com a minha mãe, antes de ela falecer há alguns anos...

            - Sinto muito em ouvir isso...

            - Então... – desviou a menina, querendo ir logo no assunto – eu estava pensando se não poderia ajudá-lo de vez em quando... mas se preferir que não, eu entendo perfeitamente.   

            - Não, não, tudo bem! Vai ser bom... é a primeira vez em vinte anos que alguma de vocês de oferece. Parece um sinal... como a aurora de uma nova era – disse, rindo. Mary não pareceu achar muita graça – Eu estava brincando. Irei falar com Faye, digo... Ms. Vaughn, a diretora. Mas creio que ela não irá se importar.

            Mouse ficou satisfeita e sorriu. Estava virando-se em menção de voltar ao prédio quando o jardineiro perguntou:

            - Qual é o seu nome?

            - Bem... – [pausa] – digamos que esteja em transição...

            - Em transição? Gostei disso... e se escreve com 'ph' ou 'f'? – disse, começando a rir roucamente enquanto inclinava-se. Parou quando deu-se conta de que Mary não entendera a piada – Você... você é meio pensadora, né?

            - Não sei... – murmurou.

            - Bem... você é, sim. Okay, Em transição, estarei te esperando. Não se esqueça de trazer um par de luvas.

            Bedford sorriu com alegria e foi embora.