IX

Um sentimento verdadeiro

            Paulie Oster e Tori Moller encontravam-se sentadas na varanda de fora do colégio interno. Pauline estava encostada na moça, e ambas dividiam um cigarro enquanto falavam sobre os planos para as férias de verão.

            - Então...

            - Ela esteve falando dessa viagem à Itália o ano inteiro – disse Tori, abraçando-a por trás – Não posso simplesmente chegar e dizer: 'desculpe, mãe, não posso mais viajar, pois estou indo plantar árvores com a Paulie no oeste...'

            Ela sorriu, e deu uma tragada.

            - Tori...

            - Você sabe o que quero fazer, mas não posso – murmurou, aproximando seus lábios de sua orelha – Ela tem agido estranho ultimamente, Paulie. Não quero mais perder tempo com ela... discutindo. Além do mais, estaremos juntas ano que vem no McGill... estaremos juntinhas!

            Elas sorriram, apaixonadas. McGill era uma universidade de Quebec.

            - Irei plantar três mil árvores por dia. – disse Pauline, oferecendo o cigarro à Tori – E conseguirei a pá de ouro pra você.

            As duas começaram a rir descontraidamente.

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            Era sobre aquilo tudo que Mary B. não tinha a certeza... e o amor era tudo aquilo.

            Um sentimento verdadeiro e tão forte que era capaz de romper todas as barreiras, se pudesse. E era essa a intensidade do relacionamento entre Pauline e Victoria...

            Enquanto Mouse dormia placidamente na cama da esquerda, sem desconfiar de nada, Paulie e Tori trocavam juras de amor e compartilhavam da mais profunda intimidade.

            Para o mundo, não passavam de melhores amigas. Mas era diferente em seus corações... tão grande o amor, tão mais forte do que elas mesmas, que desconhecia regras e preconceitos. Era simplesmente amor... um amor completo pela essência de seu ser...

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            Já era manhã cedo quando Joe, o jardineiro, estava no pátio jardim molhando a grama.

            Os raios de sol entravam violentamente pela janela do quarto das garotas. O relógio azul de Mary tocou o alarme estridentemente, fazendo-a acordar no mesmo instante e desligá-lo.

            Sentia seus olhos pesados... teve dificuldade em abri-los devido à claridade e então os esfregou, reparando então nas duas amigas, que pareciam despertar pelo mesmo motivo, ligeiramente assustadas.

            Paulie e Tori haviam dormido juntas na mesma cama – a do meio. Mary ficou surpresa no ato. Estavam nuas, com o cobertor escondendo-as até os seios. Pauline sentou-se e fitou-a, um pouco hesitante:

            - Han... ela... – gaguejou um pouco, esfregando o braço – ela tem pesadelos terríveis...

            Mary apenas assentiu com a cabeça, fingindo indiferença, e levantou-se em direção ao banheiro. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Afinal, o que iria dizer às amigas? Ei, o que é isso...?  

            Paulie e Victoria ficaram admiradas com a atitude da garota. Certamente não imaginaram que simplesmente aceitaria a desculpa sobre os pesadelos, mas ao menos não as olhou de forma diferente ou sequer perguntou alguma coisa.

            Oster afundou o rosto no travesseiro e riu naturalmente, um riso de alívio com espécie de incredulidade, junto de Tori.

            Não, Mouse não iria questionar coisa alguma... a vida era delas e não tinha nada que se meter. E, além do mais, sua relação não mudava em nada a amizade das três. Mas Mary veria – e entenderia – que era muito mais do que aquilo... e iria aprender muitas coisas sobre emoções e sentimentos...

            Lavou o rosto com a água da torneira e olhou-se no espelho, abrindo os olhos definitivamente.