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Asa quebrada
Aquele era mais um dia de caminhada – o primeiro de Mouse – quando as três amigas corriam pelo jardim em direção à floresta. Paulie ia à frente enquanto Tori acompanhava Mary, que tinha um pouco de dificuldade para respirar.
- Vamos facilitar para Mary Brava hoje? – perguntou Paulie, percebendo que ela não estava falando.
- Você vai adorar isso aqui, é tão legal! – animou-a Tori, passando por uma ponte de madeira, depois se dando conta de que a menina fazia um certo esforço para continuar o trajeto – Você está bem? O treinador disse que devemos estar aptas para conversar enquanto corremos.
- Ok, sem dor não há ganho, Mary Brava!
Mary se lembrou do que Victoria lhe dissera no primeiro dia no internato, subindo as escadas... Terá que correr conosco ou então vai enfartar antes dos vinte!
- Está se saindo muito bem para a sua primeira vez, não acha, Paulie?
- Nada mal!
- Eu diria que já fizemos uns sete quilômetros...
- Sem essa, Tor. Fizemos nove, ou mais... estamos secando as nossas bundas, cara!
Repentinamente, um som de uma ave interrompeu sua conversa. Como se fosse um choro... as amigas pararam de supetão ao avistarem um falcão negro parado no chão, em meio às folhas secas, parecendo estar ferido.
- Uou, uou! Caramba! – exclamou Paulie, encantada.
- Oh, meu Deus, ele é tão lindo... – murmurou Tori, fazendo menção de aproximar-se.
- Não toque nele se não quiser ser bicada – disse Oster com firmeza, colocando seu braço na frente para impedi-la.
- Eu não ia tocá-lo...
- Ok, vão na frente, eu cuido dele... – disse Pauline, fazendo uma pausa, sem tirar os olhos do animal. As duas continuaram paradas, receosas. – Eu disse para irem na frente! Encontro vocês depois. Vão!
- Vamos... quando ela coloca alguma coisa na cabeça... – disse Tori para Mouse, saindo entre as enormes árvores.
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Enquanto Mary e Victoria corriam de volta aos dormitórios, Jake e mais dois rapazes cruzaram seu caminho, ao tempo em que faziam seus exercícios matinais. Um deles era Phil, que também aparecera no dia da festa do chá; o outro era um garoto negro, atlético e de cabelo bem rente.
- Ei! – gritou Jake.
- Oi! – cumprimentou-os Tori, com simpatia.
- Estava pensando se as gatinhas não gostariam de fumar um pouco com a gente... – disse, parando então de correr.
- Não, obrigada... estamos em treinamento...
- Você não é a irmã de Tim Moller?
- Sim, eu sou Tori... e esta é Mary – apresentou-se. Mary sorriu com timidez quando Jake apertou sua mão cordialmente.
- Prazer. Eu sou Jake Holander; este é John. E este idiota é o Phil.
- Olá – saudou, sem se importar com a fala do amigo.
- Oi!
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Paulie Oster estava agachada, tentando acariciar o falcão. A ave parecia bastante assustada e fazia esforço para recuar, mas a garota estava decidia em ajudá-la de alguma forma. Existia algo de sobrenatural e misterioso nos olhos de ambos... uma espécie de ligação.
Paulie então esticou o braço cuidadosamente e alcançou a cabeça do falcão, acariciando-a lentamente para dar-lhe segurança.
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- Bem... precisamos ir, agora – disse Tori aos rapazes, dando algumas passadas.
- Ei, Tori, a festa de dezoito anos do Tim está chegando, né? No Blue Note? – perguntou Holander.
- Sim, está...
- Parece que vai ser legal. Você vai?
- Hum... talvez – respondeu, fazendo uma pausa e olhando de lado para Mary, que sorria – De qualquer jeito, nós temos que ir...
Elas sorriram e acenaram discretamente, retomando seu caminhar.
- Espero te ver lá, Tori – Jake se apressou em dizer.
Mouse e Moller já estavam afastadas, mas não o bastante para não poderem escutar.
Depois de uma certa distância, Phil mudou sua voz para uma grave e distorcida e brincou:
- Espero te ver lá, Tori...
Os três riram, começando a andar de volta pela floresta, quando Jake empurrou o rapaz...
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Mary e Tori corriam pela grama verde clara em direção à escola.
- Acho que ele gostou de você... – murmurou Mary, sorrindo.
- Quem?!
- Você sabe quem.
- Hum... ele gostou foi dos meus peitos. Todos eles gostam.
- Você vai?
- Aonde?
Parecia uma daquelas amnésias instantâneas da moça...
- Na festa do seu irmão.
- Com todos aqueles idiotas caindo em cima de mim? Não, obrigada! Prefiro ficar no quarto e estudar matemática. – disse, agregando uma pausa enquanto diminuía a velocidade de seus passos – Queria saber onde a Paulie se meteu com aquele pássaro... Paulie!! – gritou para as árvores, sem respostas.
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Paulie encontrava-se no laboratório do colégio. Estava cercada de materiais sobre pássaros, livros, figuras e várias aves empalhadas. Lia, interessada, um livro grosso à procura de algumas informações que poderiam ajudar com o falcão. Folheava as páginas, tentando achar uma foto do animal.
Sim, Pauline Oster sempre fora dedicada. Aos estudos e ao amor...
