XVI

Um último beijo

"É difícil dizer adeus, quando se quer ficar. É difícil sorrir quando se quer chorar, mas difícil é ter que esquecer quando se quer amar."

        Tori estudava na biblioteca, em uma mesa a alguns metros da porta principal, junto de outras meninas. Tudo estava silencioso, e ela parecia bastante concentrada lendo um livro. Ms. Bannet passava por elas, observando, à disposição para tirar alguma dúvida.

        Um ruído de passos subindo as escadas daquele andar tirou sua atenção. Alguém apareceu na porta. Victoria virou o rosto e ficou surpresa ao ver que era Paulie...

        Paulie estava usando seu traje branco de esgrima, com os cabelos presos, segurando um florete. Começou a andar naturalmente em direção à garota e então ajoelhou-se a sua frente, como se fosse um cortejo, pousando uma mão sobre a mesa e a outra sobre a espada presa à sua calça. Ficou a olhá-la fixamente por alguns segundos e começou a recitar...

            - Farei uma cabana de salgueiro em teu portão, e meu espírito entrará em tua morada. Comporei canções de um amor proibido e cantarei insistentemente até mesmo na calada da noite.

            Paulie pulou agilmente sobre a mesa e continuou fitando-a de cima, enquanto Tori tentava esconder suas bochechas com a mão... Eleanor Bannet parou para olhar a cena, atenta.

            - Gritarei teu nome para que as colinas ressoem, e transformem o balbuciar do vento em um grito: 'Victoria!'...

            - Paulie, por que você não desce? – disse a professora, calmamente, depois de se aproximar da mesa.

            A garota Oster interrompeu a citação no ato, mas sequer moveu um músculo. Assim que Ms. Bannet tocou seu pulso, ela virou-se tão subitamente que assustou a todos.

            - Nunca toque em um falcão... – disse, com um olhar frio.

            - Por favor...

            Paulie girou-se e começo a caminhar de mesa em mesa e, ao chegar na última, saltou para o chão e saiu da biblioteca, sem olhar para ninguém.

            Tori deu um profundo suspiro e continuou a admirar o livro à sua frente, perturbada com o que acabara de acontecer.

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            Paulie lutava com outra garota na aula de esgrima. Avançava a espada, recuava, virava-se, esforçava-se intensamente... havia algo dentro dela sendo expelido através daquelas passadas. Concentrava-se totalmente àquela aula, sem perceber que as professoras a observavam de longe. Ms. Bannet e Ms. Vaughn a assistiam do alto do salão de esgrima.

            - Eu deveria saber que isso ia acontecer... – comentou a diretora.

            - Eu lhe disse... disse que isso ia acontecer. Mas ainda não acabou...

            Paulie tirou a máscara por um instante e olhou para fora através da janela. Tori e Jake passeavam juntos... juntos. A garota sentiu um calor subir em seu pescoço. A ira começava a invadir seu corpo, e voltou a lutar com sua parceira, desta vez com mais violência. Queria descontar toda a sua raiva naquela luta.

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            Victoria e Mary dormiam em suas camas, sob a misteriosa luz do luar. Estava tudo silencioso naquele quarto... naquela noite. Paulie ainda não dormira. Não conseguia dormir sem que um pensamento a perturbasse... ficar com a mente vazia.

            Paulie dirigiu-se à cama de Tori e descobriu-a lentamente, até a cintura, e então se posicionou sobre ela. Não sabia como, nem por que ao certo, mas...       

- Aposto que ele não sabe fazer o que eu faço com você... – sussurrou, aproximando seu rosto e começando a beijar sutilmente seu queixo.

 Tori havia acordado... seus olhos continuavam fechados, mas podia senti-la. Tentava empurrá-la preguiçosamente com a mão, mas algo também dentro de si não queria fazer isso.

- Paulie... – sussurrou, respirando mais rápido.

Pauline beijou a moça delicadamente, enquanto sua mão descia lentamente pelo seu corpo. Tori gemeu baixinho. Precisava tentar fazer aquilo, pelo menos uma última vez... Mas a moça deixou os sentimentos de lado e voltou à realidade, empurrando Paulie com mais força e sentando-se na cama rapidamente.

- Isso não vai mais acontecer, ok? – disse, levantado-se de costas a ela. Mary acordara; não pôde evitar olhar para a cama mais próxima e escutar a conversa – Eu amo o Jake!

Ama... ama o Jake? Paulie ficou paralisada. Isso não podia ser verdade, de jeito algum. Como que o amor por alguém pode mudar tão repentinamente? Sentou-se atrás dela e olhou para os lençóis, ajoelhando-se...

 Victoria sentiu o impacto do que acabara de dizer à garota. E aquela sensação de asfixia a tomava novamente. Sentiu uma estranha dor no peito... queria contar à Paulie, é claro, todo o contrário. Não queria fazê-la sofrer de maneira nenhuma, no entanto não poderia deixar nada mais acontecer entre elas.

Virou-se num instante e ajoelhou-se à sua frente, aproximando seu rosto do dela o máximo possível e o tocando com uma das mãos.

- Paulie, ouça-me, ok? Porque eu só vou dizer isso uma vez e nunca, nunca mais. – murmurou, com a voz entrecortada.

            Paulie a fitou de um jeito... com tanto amor e sofrimento que poderia ser perceptível em seus olhos com uma clareza incrível. Podia sentir sua respiração quente em sua face... tão, tão próxima. Poderia ficar assim para sempre... mesmo que tudo estivesse perdido à sua volta. 

            Tori ficou a fitá-la com os olhos trêmulos, tomando ar antes de continuar a dizer-lhe:

            - Eu nunca amarei ninguém do jeito como amo você... nunca... Você sabe disso, eu sei disso, e eu morrerei sabendo disso, ok? Mas isso nunca poderá acontecer, nunca mais. Você está entendendo? – Tori fez uma pausa, com lágrimas nos olhos. Paulie sentiu um desespero se apossar de sua mente – Nunca mais, nunca poderá acontecer...

            Victoria tomou o rosto da garota em suas mãos e a beijou com todo o amor que podia oferecer-lhe naquele momento. Paulie segurou sua mão contra sua face... não, não queria deixá-la ir embora depois desse instante mágico, depois dessa confissão. Não se conteve, sua respiração tornou-se ofegante e as lágrimas ameaçavam escorregar.

            Tori separou-se dela, tentando livrar-se dos dedos de Paulie que ainda entrelaçavam-se em sua mão, e então levantou-se da cama em direção às cortinas de bambu. A garota Oster ficou largada na cama, afundando a cabeça no colchão... sufocada pelos soluços de seu pranto.