XVIII

Por Victoria...

            Paulie Oster corria pelo jardim da escola, cabisbaixa, sob os singelos raios de sol daquela manhã... que de especial não havia nada para ela.

            Levou um susto ao trombar com Ms. Vaughn, que acabou tropeçando e deixando toda a papelada que carregava cair no chão. A garota voltou atrás e se agachou para apanhar as coisas, com receio de encará-la.

- Uhh... você devia ter se desviado de mim.

- Eu procurei você por toda parte – disse a senhora, pegando as outras folhas soltas.

- Me desculpe por ter dito aquilo na classe... eu passei dos limites. Pode me dar uma detenção – disse Paulie, levantando-se para entregar-lhe os papéis e sorrindo – Pode me dar duas.

Ms. Vaughn suspirou e começou a falar, com seu jeito calmo, para não exaltar a garota:

- Eu conheço alguém, Paulie... Uma amiga minha que pode te ajudar... 

- Me ajudar em quê? – retrucou com aspereza, recuando ao perceber o toque da mão delicada da professora de leitura.

- Ajudá-la a lidar com isso...

- Acho que quem mente pra si mesmo é que precisa de ajuda, Faye. Não acha? – disse, olhando-a profundamente.

- Acredite em mim, por favor... eu sei o que você está passando...

- Não, você não sabe!

- O amor... pode ser uma experiência muito dolorosa. Eu sei...

Paulie aproximou bem seu rosto do dela, com olhar sério, e sussurrou:

- Você não sabe de nada.

- Sim, Paulie... eu acho que sei.

Faye Vaughn... sua expressão, seu olhar pareciam tão verdadeiros e honestos que foram capazes de fazer Paulie acreditar em sua confissão. A moça parou por um momento e até se arrependeu do modo como falou... seu rosto tornou-se triste, como sempre esteve desde que Tori a deixou, e então murmurou de um jeito que chegou a ficar doce:

- Ela é a única pessoa que me amou, sabe?... Acho que vou morrer sem ela...

Deixou a diretora parada, fitando-a, e então virou-se em direção à floresta, recomeçando a correr.

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            A entrada de asfalto do internato masculino, o R.A.B., ainda estava molhada por causa da chuva. O prédio era das mesmas proporções do Perkins College e, na entrada, havia uma rotatória com um jardim no centro, por onde Paulie passava. Avistou um moleque loiro de treze anos caminhar pelas redondezas e o chamou, à medida que se aproximava:

- Ei, garoto! Você conhece Jake Holander, do 2º grau?

- Sim... conheço.

A garota tirou um envelope de dentro do terno e pôs em sua mão.

- Certo, dê isto a ele ou então você vai se dar mal!

O garoto sequer questionou. Apanhou o papel e deu uma ligeira olhada, levando consigo em direção ao estacionamento do colégio.

"Jake, seu babaca. Sábado, meio-dia, um dia negro pra você. No lado leste da clareira... um duelo mortal pelo coração da minha rainha, Victoria.

Sinceramente: Paulie, 'o falcão'."

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            Mary Mouse falava com seu pai através do telefone da escola. Fora anunciado o dia da festa com os pais, e cada menina deveria convidar o seu. Uma espécie de confraternização e, apesar de ter se acostumado muito bem com o colégio e sentir menos saudades do que imaginava, estava ansiosa por revê-lo.

- Não, o jantar é às seis, o tour é às cinco. – conversava, bastante à vontade – Bem, tudo bem, desde que você vá ao jantar... Não quero ser a única garota a jantar sem o pai... eu não sei... frango, lagosta, tudo.... é um buffet. Então ok, vejo você no sábado, às seis em ponto. Oh, sim, estou bem.... quer dizer... talvez eu te diga quando vier. Tá... eu te amo... tchau.

Colocou o telefone preto no gancho, satisfeita, e saiu.

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       Os três rapazes estavam sentados na arquibancada do campo, enquanto os outros jogavam uma partida de futebol americano.

Phil mascava um chiclete, segurando uma bola, enquanto Jake contava sobre a carta que recebera de Paulie. Estava com marcas de dobra bem nítidas, segura em suas mãos. John sentava-se dois degraus acima, vestindo uma camisa de mangas longas para proteger-se do vento gelado.

- Ela está irada, cara! – exclamou Jake.

- E parece realmente estar fora de si; acho que você não deveria ir... – disse John.

O garoto fez uma pausa, analisando a carta. Queria ir... mas ao mesmo tempo, não...

- Ela está infernizando a Tori.

- Por que a Tori não dá um basta de uma vez?

- Ela é muito boazinha! Não teria coragem... – disse Jake Holander.

- Vamos lá, cara! – incentivou Phil – Faça isso pela Tori! Faça isso pela sua mulher.

Jake suspirou, erguendo as sobrancelhas:

- É...um duelo pode ser divertido...