SHE'S LIKE THE WIND - ELA É COMO O VENTO - SongFic

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Songfic - Ela É Como O Vento - Estrofe II - Última Página Do Livro
By Snake Eye's - 2004
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Feel her breath on my face
(Sinto sua respiração no meu rosto)


Her body close to me
(Seu corpo perto do meu)


Can't look in her eyes
(Não posso olhar nos olhos dela)


She's out of my league
(Ela está fora do meu alcance)


Just a fool to believe
(Só um tolo pode crer)


I have anything she needs
(Que eu tenho coisas que ela precisa)


She's like the wind
(Ela é como o vento)


Oº°'¨Parte II - Última Página Do Livro¨'°ºO


Todos os dias restantes passaram inalterados, como se aquele breve nirvana jamais tivesse existido... externamente, para todos que estavam a parte e que não tiveram a graça de experimentar tal momento sublime, nada foi alterado. Mas internamente, dentro daqueles dois personagens principais daquela peça montada por, talvez, alguma divina providência, muita coisa mudou. Sentiam-se como se uma luzinha começasse a arder em pequenas chamas ou se uma sementinha de uma graciosa flor germinasse em seus corações. Mas para o mundo exterior, inclusive para ambos personagens com seus Eus exteriores, nada se alterou. Não podia. Não era o momento. Essas duas pessoas especiais sentiam que qualquer passo apressado poderia provocar um tropeção levando a uma queda. Do mesmo jeito que aquele momento aconteceu sem prévio aviso, sem planejamento, mas, talvez, imensamente desejado pela alma, sabiam que algo maior ainda estaria por vir. Mas, ainda era cedo.


O último dia em Hogwarts finalmente chegara. Hermione sentia-se dividida entre a melancolia de finalmente vir a fechar o seu livro daquela sua vida e a alegria de começar a escrever um novo livro, sobre sua nova vida que começaria depois daquele dia. É fato que a existência de qualquer ser é dividida por várias vidas, não é necessário morrer e renascer para viver uma nova vida. Vivemos várias vidas dentro de uma só existência. E a existência de Hermione, assim como ela sentia, estava para começar sua terceira vida, aquela que vinha pós-Hogwarts, que, sem dúvida alguma, seria o marco decisivo de sua existência.


Hermione estava deslumbrante, vestida a gala para o baile de formatura, a SUA formatura! Como esperava por isso. Esperava na mesma proporção que desejava que o tempo se alongasse ainda mais, para que a formatura levasse ainda mais tempo para chegar. Sentimentos contraditórios sempre são exigidos pelas boas coisas, não há como fugir desse dilema, apenas deixar viver...


Escolhera um vestido de corte simples, que deixava seus ombros à mostra. Justo no corpo, rodado levemente na saia, de seda amarela clarinha... depois daquele dia, tomara paixão por tons terrais. A cor do vestido valorizava a cor de sua pele levemente bronzeada. Seus cabelos estavam presos cuidadosamente num coque escondido, deixando apenas duas madeixas em cachos caírem displicentes nos dois lados do rosto. Seus cabelos castanhos enviesados de dourado se harmonizavam com todo o conjunto. Apenas um par de pequenos brincos e um colarzinho com pingente combinando. Tudo muito simples. E, assim como ela própria era, uma beleza simples e natural. Transpirava o frescor dourado daquela tarde inesquecível.


Herry esperava por Hermione no salão comunal. O salão não estava vazio, mas também ninguém permanecia por muito tempo ali, somente o tempo suficiente para esperar pelos colegas que haviam combinado de chegar ao salão de festa juntos. Enquanto estava alheio ao movimento nervoso dos outros colegas da casa, admirava o crepitar das chamas na lareira. Seus pensamentos iam longe, ou talvez não pensasse em nada, apenas mantinham-se hipnotizado pelo bailar das chamas.


Às vésperas de completar 18 anos, Harry havia tornado-se um belo rapaz, estava mais alto e forte, e havia deixado o cabelo crescer. Descobrira que, deixando os cabelos longos, estes finalmente seriam "domados". Estavam numa altura um pouco abaixo dos ombros, de negro brilhante e sedoso, preso por um laço em veludo verde escuro de mesmo tecido que combinava com suas vestes de gala. Seus grandes olhos verdes faziam um ton-sur-ton com as vestes e ainda permaneciam aprisionados por seus inseparáveis óculos redondos. Formava um conjunto harmonioso. Harry não era só um cara bonito. Toda a experiência que acumulou nos últimos sete anos deram-lhe uma maturidade que era visivelmente percebia por sua aparência e compostura.


_Já está saudoso, Harry? - Perguntava uma Hermione sorridente que esbanjava luminosidade. Silenciosamente, havia se postado ao lado da poltrona em que Harry estava sentado observando as chamas da lareira e esperando por seu par.
Harry olhou para a direção da voz que lhe falava ao longe. Sentiu-se ainda mais sereno ao ver aquela bela figura parada ao seu lado.


_Você sempre consegue ficar ainda mais bonita... - falou quase num sussurro. Estava extasiado com o que via. Não era o vestido, ou o penteado, a maquiagem, as jóias... a beleza de Hermoine vinha de dentro, havia uma luz que parecia emanar de si, uma áurea que contagiava o seu arredor.


Hermione respondeu num sorriso: _Então... vamos? Somos os monitores da Grifinória e estamos atrasados.


Harry levantou-se, mas deteve a ida de Hermione.


_Já iremos sim, mas gostaria de dar-lhe isso... - ele alcançou a ela uma pequena caixa prateada fechada por um elaborado laço igualmente prateado.


Hermione pegou a caixa com um maroto sorriso indagador, ainda olhando diretamente para Harry, que mantinha os olhos fixos na caixa, e estava um pouco encabulado.


A moça abriu a caixa cuidadosamente e seu sorriso se alargou ainda mais ao ver um belo broche adornado a um pequeno buquê de rosas brancas feitas de um tecido translúcido.


_Soube que é um tipo de tradição trouxa... parece que é para dar boa sorte para quem usá-lo, ou qualquer coisa do tipo. - Harry, com um leve sorriso nos lábios, olhava diretamente nos olhos da menina, que brilhavam intensamente. _Isso deveria ter sido usado no seu primeiro baile... mas, bem, acho que o baile de formatura é muito mais importante, né?


Hermione nada respondeu, apenas entrelaçou o pescoço do rapaz dando-lhe um forte abraço, que correspondeu abraçando-a ainda mais forte, sussurrando ao seu ouvido:


_Quero que seja muito feliz, Mione! Quero tudo de bom pra você! Eu te adoro! Pelo que é, por tudo que já fez por mim...


Os olhos de Hermione estavam rasos d'água e ela apenas respondeu com um longo beijo na face do menino.


_E eu sei que você será muito feliz, Harry! O seu momento chegou e não há mais ninguém para impedir isso!


Hermione, obviamente, mencionava o fato de finalmente Voldemort ter sido derrotado e que não era mais uma ameaça à felicidade de ninguém, especialmente a de Harry Potter, que finalmente e muito merecidamente, poderia desfrutar de uma vida normal - para ele, a maior felicidade de todas.


_Agora vamos - ordenou ele com um sorriso no rosto. Hermione prendia o broche no decote do ombro esquerdo.




O salão principal estava ricamente decorado. Todos os presentes pareciam transbordar alegria. E não era para menos. Depois de muito tempo, finalmente podia-se desfrutar um tranqüilo final de ano letivo, finalmente poderiam respirar aliviados. Não havia mais Voldemort para ameaçar a paz de ninguém. O que restou, eram, realmente, apenas restos.


Ron surgiu em meio a multidão de alunos das quatro casas do sétimo ano, acompanhado de Parvati Patil, que também estava radiante, dentro de um longo vermelho que realçava suas curvas. Ron estava tão feliz que abraçou Hermione e Harry num só abraço, depositando um beijo na face de cada um. Os dois monitores estavam sem fôlego diante da alegria do amigo ruivo e nada disseram, apenas olharam sorridentes para Ron, que deixava escapar umas pequenas gotinhas de lágrimas.


_Cara! Isso é muito legal - Ron enxugava as lágrimas quase invisíveis. _Não imaginei que seria assim tão emocionante!


Logo todo o murmurinho do salão foi interrompido pela voz de Dumbledore, que se opunha ao falatório para dar o início ao baile de formatura. A primeira valsa seria dos monitores das quatro casas.


Harry caminhava ao centro do salão de mãos dadas com Hermione. A moça deixou seus olhos correrem pela mesa dos professores e percebia cada olhar lhe transmitindo votos de felicidade, que respondia com o mesmo olhar e um largo sorriso. Dumbledore, McGonaggal, Hagrid, Lupin (que voltara a lecionar DCAT) e, quando chegou até Severus Snape, seu sorriso desaparecera por um momento e seus olhos buscavam alguma mensagem que não conseguia compreender, que vinha daqueles olhos negros e enigmáticos, porém, a expressão de Snape era fria como sempre. Por um brevíssimo momento, ambos foram transportados para aquele singular fim de tarde de maio; parecia que tudo ao redor havia sumido e restavam apenas aqueles dois personagens... mais um momento estranhamente mágico onde as palavras eram ditas apenas pelo olhar. Hermione pareceu ter encontrado a resposta que queria e dirigiu-lhe um olhar de ternura e um sorriso tão largo e sincero quanto o daquela tarde... Snape captou a áurea que vinha da moça e apenas assentiu com a cabeça levemente, no mesmo momento em que ela se ajustava ao seu par para a valsa.


Enquanto dançavam, Harry e Hermione conversavam com largos sorrisos, o que parecia para quem os observava que trocavam confidências.


_Não sei se é minha paranóia ou todos não desgrudam os olhos de nós, Mione... –
disse divertido, com o rosto colado ao da menina, olhando a todos no salão.


_É, devem tá achando que somos o casalzinho do ano!


_Deve ser! Seria engraçado ver a reação deles se soubesse que, na verdade, somos dois encalhados!


_Só se for eu, né? Você poderia ter vindo com qualquer garota que quisesse, era só estalar os dedos! - Hermione troçava com um sorriso malicioso no rosto.


_Você é uma encalhada porque quer, Hermione! Você dispensou todos os caras nos últimos dois anos! Só Victor Krun teve alguma chance contigo... seu ideal é de gosto muito duvidoso, sabia?


_É claro que nunca tive nada com o Krun... bem, talvez um namorico levemente infantil... mas, ninguém mais demonstrou qualquer interesse depois dele...


_Ah! Tá legal, Mione! Acha que não sei que você tá afim há muito tempo justamente pelo cara mais inacessível do mundo mágico?! - A valsa tinha acabado, Harry e Hermione haviam se separado; Harry segurava-lhe a mão enquanto olhava para ela com um sorriso e um brilho malicioso nos olhos. Hermione empalideceu e gaguejou:


_O-o que Harry? Do que você tá falando? - Tentou disfarçar o súbito nervosismo.
Harry aproximou-se novamente de Hermione e, como se fosse beijar-lhe a mão, olhando diretamente nos olhos, com um sorrisinho mau no rosto:


_Mione... convivi com você por sete anos! Te conheço tão bem quanto um bom pai conhece um filho!
Ambos afastaram-se do centro do salão, indo em direção às mesas. Hermione sentia-se perplexa. Harry a encarou novamente com a mesma expressão de antes.


_Você só tem mais hoje para resolver isso, Mione! Amanhã partiremos de Hogwarts e você não saberá quando o encontrará de novo...


_Harry, você bebeu? Não tô entendendo nada do que você tá dizendo... - Tentava-se fazer de sonsa, olhando com uma cara incrédula para Harry, que não desmanchava o sorrisinho e o olhar maliciosos.


_Essa carinha de sonsa não combina contigo, Mione, definitivamente! Sabe, tenho quase certeza que esse broche traz sorte no amor para a moça que o usa... você só tem mais essa noite, Mione, pense nisso. - Harry depositava um terno beijo na face da menina. _Você logo começará seus estudos em Oxford, não terá tempo pra correr atrás de nada.


Hermione se limitava a olhar Harry com uma das sobrancelhas erguidas, como se tivesse se entediando com a conversa do garoto, seus braços cruzados demonstravam que ela estava também impaciente com ele.

_Vou ali dar um oi pro Lupin, antes que o tirem para dançar. Vamos até lá comigo?


Hermione deu uma olhada para a direção da mesa dos professores, avistou Lupin que conversava animadamente com Snape. Bom, ao menos Lupin estava animado. Seus olhos se detiveram por alguns instantes sobre Severus, desanimando...


_Depois eu vou Harry... talvez eu tire Lupin pra uma dança... agora vou beber algo, minha garganta está seca...


_Tá bom... depois a gente se vê...



Lupin já não aparentava mais cansaço ou uma velhice prematura. Estava até muito alinhado, com os cabelos finos e lisos num corte que dava-lhe um ar de menino. Suas vestes não eram mais cosidas e sim vestes elegantes que completavam-lhe dignamente. Conversava alegremente com Snape, que, obviamente, não se mostrava tão alegre assim. Na verdade, estava mesmo muito aborrecido, por estar sendo obrigado a participar de mais um odioso baile. Lupin pouco se importava com a indisposição do seu interlocutor. Nos últimos tempos, ele poderia conversar alegremente até mesmo com uma pedra. Era a primeira noite de lua cheia e ele estava, finalmente, livre da maldição. Não definitivamente, mas enquanto se mantivesse medicado com a poção que Snape desenvolvera há dois anos.


Harry se aproximava cautelosamente da mesa onde estava Lupin. Tinha ainda algum receio de receber uma kedavra de Snape, principalmente se suas suspeitas em relação a ele fossem certas. Se estivesse certo, e tinha quase certeza absoluta disso, Snape não odiava mais por ser um Potter, mas deveria odiá-lo por achar que ele fosse uma grande ameaça que o afastava ainda mais de seu grande amor secreto e inatingível.


Harry não conseguiu conter um sorrisinho maroto com esse pensamento. Não era secreto - não pra ele, ao menos - e menos ainda inatingível. Esses dois precisavam é de uma pequena coragem de mandarem os pudores e regras sociais às favas!


_Harry! Não acredito que essa felicidade toda seja apenas porque se verá livre de Hogwarts! - Lupin lhe dirigia com um grande sorriso em tom malicioso, como se estivesse pensando bobagens demais.


_Livrar-me de Hogwarts não me traria qualquer felicidade. Gosto daqui! É o melhor lugar que já estive em minha vida... bem, o que não é muito... - Harry terminou a frase num tom tão baixo que só ele mesmo deve ter ouvido, ficando sem-graça ao se lembrar que nunca existiu uma vida de verdade para si antes de Hogwarts.


_Eu sei disso! Referia-me a você e Hermione. Vejo que finalmente resolveram assumir isso publicamente... - Lupin mantinha o sorriso malicioso, enquanto Snape olhava-o de lado, como se quisesse crucificá-lo ali mesmo.


_'Isso' o quê? Nossa amizade sempre foi pública e notória. Mais que isso seria tão perfeito que jamais daria certo! Agora, se o cara deixar essa última oportunidade passar achando que Hermione já está comprometida com alguém... - Harry deu uma breve pausa e dirigia um olhar faiscante à Snape - estará agindo como um verdadeiro trouxa!


_Eu senti uma ponta de ciúmes no que dizia, Harry? Não entendi o que quis dizer com isso? - Lupin fingia-se de desentendido, com um falso olhar indagador para Harry.


_É... pode ser ciúmes sim... ou inveja... - Harry fingia-se indignado, que precisava desabafar. _É, é inveja! Inveja do cara que a Mione idolatra num amor platônico há tempos, achando que ele está além de seu alcance. Acho que ela não se valoriza, senão ficaria comigo... - Harry terminou quase encarando Snape, que já passava do seu limite de tolerância a essa altura.


Snape levantou-se num salto e pôs se a caminhar em direção a saída do salão. Lupin o interrompeu:


_Pra onde vai Severus? O baile só está começando...


_Alvo que me perdoe, mas a minha tolerância chegou a zero! Tudo isso já é muito aborrecedor por si só sem a presença de pessoas intragáveis! - Snape respondeu secamente, com um forte rancor na voz. Não aguardou resposta e retirou-se do salão.


_Você deve tá louco achando que a Mione e Severus se gostam, Harry! De onde você tirou essa idéia esdrúxula? - Lupin olhava para Herry como se este não inspirasse qualquer confiança.


_É só um forte palpite que tenho... e depois, amanhã já não estaremos mais aqui. Se rolar algo, bom pra ambos; senão, não vai fazer diferença.


Hermione conversava numa rodinha de amigos, mas sem muito interesse. Ron continuava emocionado com o último baile, mas sem tantas demonstrações como na hora em que ela chegara junto com Harry. De vez em quando, olhava a sua volta. Muitos estavam dançando, inclusive os professores, muitos estavam em rodas de conversação, como eles ali, mas isso era só para disfarçar, pois seu interesse era mesmo na mesa dos professores. Sentiu um gelo no peito ao olhar em direção a Harry e Lupin... "onde ele estaria?" Olhou atentamente por todo o salão, e nada. "Mas estava ali há poucos minutos atrás..."


_O que foi Mione? Tá preocupada com alguma coisa? - quis saber Ron, entre uma golada e outra de cerveja amanteigada.


Hermione demorou alguns instantes para responder, estava desatenta. Também sentia-se estranhamente desolada. _Não... não, Ron. Vou até a mesa dos professores falar com Lupin. - Saiu apressada, sem ao menos dirigir o olhar para os colegas.


Aproximou-se sorrateiramente, parando as costas de Harry.


_Oi Harry... Professor Lupin! Como está se sentindo?


O sorriso de Lupin se alargou ainda mais ao fixar os olhos na moça, como se sentisse um morno raio de sol que despertava numa manhã fria... o que acontecia a essa menina? Que luz e calor esses que vinham dela?


_Estou ótimo, Hermione! Jamais estive tão bem numa noite de lua cheia! Sinto como se tivesse ganhado uma nova vida!


_E ganhou... - Hermione murmurou quase como se apenas um pensamento. Lembrou-se imediatamente de suas próprias teorias sobre a existência das pessoas, que era dividida em várias vidas... ela própria estava às vésperas de ganhar uma nova vida, a sua terceira vivência. Sentiu uma ponta de curiosidade em saber quantas Professor Lupin já tivera...


_Hermione... você está radiante! - Lupin levantava-se e ia em direção à menina, que apenas o olhava curiosa. Segurou-a pelos ombros e encarava direto em seus olhos.


_Há alguém que precisa muito dessa luz... alguém que não pode mais viver nas trevas...

Hermione fitava o Professor com ar intrigado... "aah, Harry já andou falando bobagens pro Lupin! O que será que ele quer di..."


Os três foram abordados pelas Professoras McGonaggal e Grubbly-Plank, que continuava lecionando Trato de Criaturas Mágicas, juntamente com Hangrid. As duas professoras pareciam alegrinhas demais; Hermione pôs a mão na boca para conter uma risadinha.


McGonaggal pegava na mão de Harry e já ia arrastando-o para o meio do salão: _Vamos, Sr. Potter, ou acredita que eu não dançaria com o aluno mais famoso de todos os tempos da Grifinória em seu baile de formatura? - a professora tinha um sorriso divertido no rosto, dando-lhe uma aparência 20 anos mais nova e, sim, ela estava um pouco alegrinha mesmo.


_E quanto a você, meu caro lobisomem reformado, dançará comigo! - falou uma igualmente alegrinha Grubbly-Plank, que agora tinha os cabelos um pouco abaixo dos ombros. _O meu negócio é trato de criaturas mágicas e não é por causa de uma poçãozinha que você deixou de ser! - A professora arrastava Lupin para o salão, com seu jeito curto e grosso. Remus não teve muita escolha.


_Grubbly-Plank! Devo-me sentir lisonjeado ou o quê com essa sua afirmativa?


_Oras, meu querido, não é hora pra se preocupar com isso! Vamos dançar!


Hermione via divertida os dois pares incomuns sumirem entre a multidão. Ainda sorria quando correu os olhos por todo o salão, mas seu sorriso se desmanchou ao constatar que não havia sobrado ninguém disponível para uma dança.


_Francamente! Isso só acontece comigo mesmo! Fora assim em todos os bailes e não poderia ser diferente justo no último não é mesmo?! - Hermione ficou aborrecida, fazendo pose de criança birrenta, cruzando os braços e estufando as bochechas.


_Se ao menos Victor Krum estivesse aqui, duvido que estaria sozinha! Por mais sem jeito que ele seja, ainda foi o meu melhor par!



Resolveu dar uma voltinha, para apreciar o movimento do baile em outros ângulos. Pensava em ver algo interessante, mas foi desanimando a cada passo que dava. Olhou novamente pra mesa dos professores, que estava totalmente vazia... suspirou fundo, expulsando de dentro de si o último resquício de algum interesse por tudo que estava acontecendo ali. Sentiu o ambiente abafado, como se o ar estivesse rarefeito. Decidiu dar uma voltinha pelos jardins, aproveitar a noite limpa e clara pela lua cheia... seria a última vez, por muito tempo, que veria aquela paisagem noturna. Respirar um arzinho fresco, cheirando a mato, e sentir a brisa no corpo, lhe daria mais ânimo para retornar pro resto do baile. Só por uns instantes, cogitou...


Mesmo já estando no Verão, o clima estava fresquinho, com uma leve brisa que soprava e balançava levemente, como se estivesse em câmera lenta, as folhas das árvores e plantas. Havia um perfume gostoso no ar, de plantas e flores que exalam odores somente à noite. A Lua reinava majestosa no alto, jogando seus prateados e frios raios sobre a paisagem, delineando as figuras que lá estavam. Um silêncio agradável era apenas quebrado pelos sonzinhos de pequenos insetos e pela brisa que deslizava sobre a vegetação. Hermione ergueu os braços espreguiçando-se e enchendo os pulmões com aquela atmosfera, estava mesmo precisando disso.


Caminhou em direção ao lago. Acreditava que era a única que estava fugindo do baile, mas conforme ia caminhando pelo jardim, via casaizinhos escondidos sob a lua, nos bancos e sob algumas árvores próximos a entrada do castelo. Não eram muitos, mas achava que estaria completamente sozinha lá fora. Apenas deu de ombros, pois, certamente, seu cantinho de recolhimento estaria deserto, como sempre, apenas esperando por sua chegada.


Foi andando em direção ao lago. Suas águas banhadas pela luz da Lua traziam um grande reflexo da mesma, como se esta estivesse ali boiando. Suas águas tremulavam pacificamente com a brisa, deixando o reflexo disforme e havia brilhos intensos que piscavam com o movimento. Lembrou-se daquela tarde de fim de maio... se antes a paisagem estava regada a um intenso ouro e branco, agora ocorria exatamente o inverso: tornara-se prata e negro.


Aproximou-se da frondosa árvore que a acolhia em seus momentos de libertação de seu Eu interior. Suas longas e grossas raízes que mantinham-se acima da terra recoberta por tufos fofos de grama eram-lhes como grandes e fortes braços que a embalavam, que abraçava maternalmente a menininha tola que vivia escondida num cantinho do coração de Hermione. Espalmou suas mãos sobre o tronco, como se quisesse acariciá-lo, em seguida recostou a cabeça, desligando-se de todos os pensamentos e sentindo como se a energia daquela árvore fluísse para dentro de suas veias. Muitos minutos se passaram como se fossem horas, enquanto Hermione ficava recostada à árvore como se estivesse num transe e, de certo modo, estava; tudo o que sentia era uma paz grandiosa a envolvendo. Estava em estado de absoluta tranqüilidade que podia sentir seu sangue correndo nas suas veias e ouvir seu próprio coração. Mas algo estava-lhe trazendo de volta ao mundo palpável...



Sentiu algo segurar seu ombro e uma voz macia chamando-a ao longe. Abriu os olhos lentamente, como se despertasse de um sono profundo. Uma paz indescritível ainda a envolvia e seu semblante era de total serenidade quando voltava seu rosto para a pessoa que a despertava.


_Srta. Granger! A senhorita está bem? Aconteceu algo?! - O homem esbelto que trajava elegantes vestes escuras estava oculto pelas sombras, mas Hermione sabia de quem se tratava, apesar de seu tom de voz lhe parecer totalmente novo. Jamais ouvira Snape num tom de voz tão terno e, menos ainda, deixando transparecer qualquer outro sentimento que não fosse letal ou sarcástico. Ela voltou a se recostar à árvore, esboçando um sorriso, mantinha-se na serenidade quando lhe respondeu:


_Estava me despedindo... não sei se poderei revê-la algum dia... ela me confortou e deu-me muita força nos momentos em que mais precisei...


_"Ela" quem, Srta. Granger? - Seu usual tom zombeteiro retornou a sua voz e a dirigia um meio sorriso como se dirigisse a alguém não muito bom da cabeça.


Ela sorriu-lhe com sinceridade, afastando-se da árvore, andando em direção a clareira frente ao lago... _Ela... essa árvore.


_Definitivamente, a senhorita não está bem. Bebeu demais não foi?


_Realmente acredita em suas palavras? - parando no meio da clareira em frente ao lago, Hermione olhava tristemente para Snape, que era apenas um vulto sob as sombras da imensa árvore. Ele parecia estar esperando sua resposta, mas, na verdade, estava avaliando o que dissera.



Olhando aquela moça parada diante de si alguns metros, vendo-a banhada pela luz da Lua cheia que já ia alto naquela noite, é que começou a entender porque desenvolvera um sentimento tão forte para justo com ela. A princípio, achava que era apenas sua imaginação, mas o tempo foi passando e essa vontade foi-se firmando em seu coração. Chegou a temer que estivesse se tornando algum monstro pervertido por estar se apaixonando por sua aluna, que era apenas uma criança, mesmo que a mente brilhante dessa menina passasse longe dessa qualificação. Tentou tudo o que podia para apagar aquele sentimento odioso que estava começando a corroê-lo dubiamente, pois a culpa e o medo cresciam na mesma proporção. Primeira batalha perdida. Se não podia apagá-lo, ao menos deveria reprimi-lo com todas as suas forças... e foi o que fez até então. Mas, sempre se questionava cruelmente o por que de amá-la com tanta intensidade, que a fazia tão necessária, tão vital para si, o que tornava uma tortura agonizante a sua tentativa quase inútil de reprimir aquele sentimento e o desejo de tê-la próxima, vivendo sua vida.


_A luz... - murmurou para si próprio.
Olhando-a, via o quanto a luz da lua a iluminava... lembrou-se daquela tarde, quando o sol poente fez o mesmo... iluminando-a. Mas não era isso. Não era a luz do sol ou da lua que a clareava daquela forma. Era algo mais intenso e mais profundo. Aquela força e energia vinham dela! Aquela luz vinha dela. Hermione tinha luz própria e era essa força vital que ele tanto necessitava.


Olhou para si mesmo. A princípio viu apenas sua imagem mergulhada nas sombras da vegetação. Depois, como se caísse num abismo, viu seu verdadeiro interior, perdido há tanto e tanto tempo em meio as trevas que se tornaram sua existência. Um lugar escuro, frio e sufocante. Necessitava enxergar a luz e do calor que essa lhe traria. Precisava vir à tona daquele abismo profundo para respirar.


"_Há alguém que precisa muito dessa luz... alguém que não pode mais viver nas trevas..."


E caminhou vacilante em direção àquela luz, sendo possuído por uma intensa paz e serenidade que sabia que era emanado pela própria dona daquela luz.


Hermione permanecia imóvel, apenas fitando-o, mas intimamente estava encorajando-o aqueles passos. Ela o chamava silenciosamente. O vento brincava com seu vestido e seus cabelos que se desmanchavam daquele coque, dando-lhe uma sensual naturalidade. Seus olhos brilhavam intensamente... estava, novamente, experimentando aquela rara felicidade. Poderia apenas ficar nisso mesmo que já teria válido por tudo.


Quando Snape aproximou-se de si, notou o quanto ele estava diferente naquele momento. Seu semblante sereno dava-lhe um ar de menino. Seus olhos continham um brilho esperançoso que afastava qualquer sombra da amargura que estava sempre presente ali. Seu rosto não demonstrava qualquer sinal de rancor ou tristeza que ela vira por tantas vezes nesses sete anos. Era um outro Severus que estava ali diante de si... talvez ele também tivesse um menino tolo preso no coração...


O silêncio daquele lugar era apenas quebrado pelo vento e pelo ruído da respiração de ambos. Severus envolveu o rosto de Hermione com as duas mãos. Ela tinha o olhar confiante e o encorajava com o esboço de um sorriso. Abaixou sua cabeça e deixou que seu próprio rosto acariciasse o rosto da moça, até que seus lábios tocaram-se levemente. Hermione envolveu seus braços entorno do corpo de Snape. Nesse momento o que sentiram foram como se seus corações pulsassem numa só batida e o sangue que fluía nas veias era um só. Uma energia e um forte sentimento de paz envolveu ambos como uma neblina.


Não eram necessárias palavras. Nada foi dito. Suas áureas misturaram-se e elas transmitiam os sentimentos que eram vividos, e partilhados... o que viviam naquele momento não podia ser traduzido verbalmente, não existiam palavras para isso. Contudo, não sabiam se aquele beijo durou segundos de eternidade ou horas efêmeras, mas, com certeza, o momento seria eterno e viveria para sempre em seus corações.

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Fim do Segundo Capítulo - continua...
By Snake Eye's - 2004
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