Titulo:
Dúvidas, Sonhos...Realidade
Autora: Suryia Tsukiyono
Classificação: shounen ai, angst, self insertion
Pares: Aya + Omi?
Por Suryia Tsukiyono
Eu havia chegado tarde em casa naquela noite, o frio congelava os meus pés obrigando-me a recorrer a um velho cobertor, eu podia ouvir as pequenas gotas de chuva que molhavam a minha janela, esse foi o som que me embalou durante os longos minutos que se seguiram. Tudo o que eu sabia naquela hora é que não queria pensar no amontoado de lixo retorcido que haviam se tornado os meus sonhos, no caos total que havia se tornado minha vida nos últimos anos, talvez motivada por isso coloquei aquela mesma fita no velho vídeo cassete, aquela mesma fita a qual fora assistida tantas vezes, e lá estavam eles. As pessoas devem se perguntar o que leva uma garota na minha idade a preferir passar tanto tempo enfrente a TV e ao computador quando o mundo gritava do lado de fora do meu pequeno apartamento.
"O mundo?" Me pergunto eu. O mundo nunca quisera nada comigo, por que eu deveria querer algo com ele?
Era essa a maneira que eu encontrava de esquecer de todas as frustrações vividas, pode parecer uma maneira idiota, mais ainda mais idiota seria ficar caindo pelos cantos da rua cheirando bebida barata e dependendo da ajuda de estranhos.
Embora eu já houvesse assistido inúmeras vezes àqueles mesmos episódios da minha serie preferida, se é que posso definir Weiss como minha serie preferida, pois você começa a se achar estranho quando nota que até mesmo os diálogos você consegue recitar simultaneamente aos personagens, e apesar disso tudo você não cansa de assistir. Eu peguei o pequeno caderno que estava na cabeceira da minha cama e comecei a rascunhar o que seria o projeto da minha nova fanfic, e envolvida pelas imagens da minha TV eu me deixei perder nas folhas daquele caderno, a cada palavra, a cada frase formada.
Foi então que tudo se apagou a minha frente, quando pude finalmente abrir meus olhos um forte clarão me cegou, levou um tempo até que meus olhos se acostumassem com aquela quantidade de luz.
"O que aconteceu? Eu dormi e já amanheceu?", pensei sentindo uma leve dor de cabeça, mas logo percebi que estava deitada em algo bem mais duro que a minha cama. Quando finalmente pude enxergar alguma coisa ao meu redor fui surpreendida por um belo par de enormes olhos azuis, os mais belos olhos azuis que eu já tinha visto em minha vida, não querendo acreditar no que eu estava vendo me esforcei para que minha visão se fizesse mais clara e pude então me deparar com aquele sorriso. Deus! Eu reconheceria aquele sorriso em qualquer parte do mundo.
"Omi...", eu pronunciei lentamente sem me dar conta do que meus lábios diziam, pude perceber que o menino que me olhava parou de sorrir, obviamente tentando entender como eu sabia seu nome se nunca havíamos nos visto antes.
Uma voz conhecida veio.
"Omi, que falta de educação... Ajude a moça a se levantar. Não vai deixar uma dama estirada na rua desse jeito vai?".
Aquele comentário não poderia ter vindo de outra pessoa se não o playboy. O que estava acontecendo?
"Eu devo estar sonhando e ainda não acordei...", pensei eu enquanto o loirinho me ajudava, inevitavelmente o fitei com olhos admirados sem me importar que isso o estava deixando ainda mais intrigado.
Logo depois se aprozimou mais um rosto conhecido, o jogador chegou como um foguete querendo se inteirar da estranha comoção que se iniciava na frente do koneko, nesse minuto minha cabeça girou como um liquidificador desgovernado. O que estaria eu fazendo estirada na calçada enfrente ao koneko?
"O que está acontecendo aqui?", indagou o moreno bastante curioso.
"Essa menina estava caída na porta da loja, Ken-kun", respondeu o loirinho aos seu amigo.
"Menina?", eu pensei, já fazia tempo que não passava por uma situação assim, eu já havia dado boas risadas quando as pessoas julgavam-me mais nova do que eu realmente era pela minha aparência. Pensei em dizer isso a eles, mas por hora achei melhor não dizer nada.
"Mesmo? E você está bem agora?", me perguntou ele se aproximando um pouco mais.
A única coisa que consegui responder foi um "sim, estou" quase inaudível, já fora um milagre eu conseguir dizer qualquer coisa do jeito que minha mente estava aturdida com aquilo. Como não ficar se de repente eu estava ali diante daqueles três Weiss? Três? Sim, ainda faltava um deles... Nessa hora eu olhei para o lado e me deparei com o ruivo, ele não me sorriu, nem disse nada, apenas me olhava com seu olhar impassível. Na verdade eu não esperava nada diferente vindo dele. Mas aqueles olhos violetas me encarando tão friamente me fizeram crer que se aquilo era um sonho, então era o sonho mais realista que eu já havia tido em minha vida.
Eu dei dois passos em direção da rua, mas alguém segurou minha mão, me virei e me deparei novamente com os olhos azuis tão graciosos.
"Aonde você vai?", ele perguntou.
"Vou embora", respondi quase que instantaneamente. Embora? Embora para onde? Por mais que eu quisesse ir para algum lugar não sabia para onde ir.
"Espera um pouco" ele continuou "você ainda parece meio pálida, não quer entrar um pouco, beber um pouco de água?".
Eu fiquei olhando para ele novamente, atraída por aquele sorriso tão doce, feito coelho hipnotizado pela serpente. A minha vida toda eu havia feito questão de advertir o quanto o olhar de Omi era perigoso e agora parecia que eu estava sendo vitima da minha própria advertência.
"Qual é o seu nome?".
A pergunta do loirinho me tirou do estranho transe, meus lábios quase balbuciaram Suryia Tsukiyono, mas então me lembrei que não teria como explicar o porque do Tsukiyono em meu sobrenome, achei melhor omitir isso também.
"Suryia...", eu respondi.
"Bem, Suryia-san... Então vamos entrar um pouco, tomar um café...", interferiu Yohji praticamente me arrastando pra dentro da loja. Eu encarei Aya nesse instante, esperei que ele dissesse alguma coisa, que me mandasse embora, mas estranhamente ele não disse nada, me encarou de volta sem mudar de expressão, virou-se de costas e caminhou de volta para loja.
Depois de algumas horas de conversa parecia que eu já os conhecia fazia muito tempo, bem, eu realmente os conhecia, mas eles me pareceram bastante receptivos a alguém que eles nunca haviam visto na vida, exceto Aya que continuava a me olhar do mesmo jeito que da primeira vez, conhecendo o ruivo como eu conhecia, porque eu devia me importar com isso?
Eu disse a eles que não lembrava do que havia acontecido, que não lembrava de nada que não fosse o meu nome, acho que comovido pela situação Omi insistiu para que eu ficasse com eles um tempo, pude compreender perfeitamente a atitude dele, afinal ele melhor que ninguém sabia o quando é difícil a vida de uma pessoa sem passado, obviamente que eu não gostei de ter que mentir para ele, mas no momento eu não poderia dizer outra coisa que não isso. Então eu me acomodei no quarto de hóspedes, porque eu nunca havia imaginado antes que numa casa tão grande como aquela provavelmente teriam um quarto de hóspedes? Naquela noite eu fiquei pensando que de repente eu me sentia como Alice no país das maravilhas, num mundo não de tantas maravilhas nem tão desconhecido, mas ainda assim era como Alice... Procurei dormir o quanto antes, talvez quando acordasse no dia seguinte eu estivesse novamente em minha cama. Procurei mais uma vez o sono assim como Alice em busca do caminho que pudesse leva-la para casa.
Quando no dia seguinte abri meus olhos tive a mesma sensação de estar em um lugar estranho. Aquele não era meu quarto e nem a minha cama.
"Merda, então eu não estava sonhando?", eu me perguntei enquanto levantava da cama. "Mas como pode isso?", respirei fundo e já ia sair do quarto quando me lembrei que estava vestindo um dos pijamas de Omi, obviamente que foi o que me serviu melhor devido ao tamanho. Eu me troquei e desci, quando cheguei a loja os três rapazes mais velhos estavam trabalhando, Omi devia estar na escola.
"Bom dia", eu disse sentando-me em uma cadeira ao canto, ficaria apenas a observa-los.
"Bom dia, Suryia-san", me respondeu o jogador animado "Se sente melhor hoje?".
"Sim, muito obrigado", retribuí a gentileza com um sorriso.
Yohji também me sorriu, mas logo um bando de garotas o distraiu perguntando um monte de coisas sobre qual flor combinava melhor com isso ou aquilo.
"Bando de histéricas", eu apenas pensei enquanto continuava sentada no meu canto.
Apenas Aya não havia me cumprimentado e eu podia sentir que ele me lançava o mesmo olhar desde a hora em que eu havia chegado lá, ele não parecia muito feliz com a minha presença.
"Não liga, ele é assim com todo mundo mesmo", sussurrou Yohji quando passou por mim, eu apenas assenti com a cabeça e continuei a observar o espadachim, isso pareceu irrita-lo ainda mais.
Aya estava fazendo um arranjo de flores, eu devo admitir que ele era muito habilidoso com aquilo. Mas alguma coisa me parecia estranha.
"Fica melhor se você fizer desse jeito", eu me levantei e fui até ele ajeitando algumas rosas.
"E como você pode saber que assim fica melhor?", ele me perguntou sem nenhuma delicadeza.
"Simples... porque eu sou mulher e sei exatamente o que eu gostaria de ganhar", respondi olhando nos olhos dele.
Ken se aproximou, não sei se ele estava querendo saber até onde minha conversa com Aya iria, creio que ele pensou não ser uma boa idéia me deixar falando com o espadachim por muito tempo.
"Ela está certa, Aya. Acho que desse jeito fica mesmo melhor", disse o moreno verificando o arranjo, "Ela pode saber o que as meninas gostam".
"Que ótimo, acho que podemos aumentar as vendas da loja com isso", comentou o loiro com um sorriso maroto.
Aya não disse nada, apenas continuou o arranjo, mas continuou a fazer da mesma forma que eu havia sugerido. Eu sorri.
O dia foi cheio, muito trabalho, muitas meninas chatas, mas tudo correu normalmente. Logo Omi apareceu na porta com seu sorriso, havia chegado da escola, ele era tão adorável fazendo isso que tive que me controlar pra não sorrir de volta mais que o normal. O Loirinho se juntou a nós no que restava do dia de trabalho e sem que eu entendesse porque ele sempre me dava toda a atenção e me pedia para opinar sobre um arranjo tal, ou dizer o melhor presente para se dar em tal situação. Não que eu entendesse alguma coisa de flores, mas sensibilidade e romantismos são coisas que não fogem a minha natureza.
"Omi-Kun, quem é essa aí? É sua namorada?", perguntou uma menina vestida de colegial enquanto me olhava do jeito mais hostil que ela era capaz. Eu juro que tive que me segurar para não rir compulsivamente, mas ai perceber a forma com que Omi se ruborizou pela pergunta achei melhor me manifestar.
"Eu não sou..." antes que eu pudesse terminar o jovem arqueiro me interrompeu.
"Ela é minha prima, uma prima distante", respondeu o menino sorrindo como se aquela fosse a verdade mais verdadeira que ele já houvesse sonhado em dizer...
Na hora eu não tive coragem de dizer nada. Eu sempre soube que Omi mentia muito bem, mas vê-lo fazer isso tão dissimuladamente me surpreendeu um pouco, mas valeu a pena só por ver como a expressão da menina mudou da água para o vinho quando Omi disse aquilo. Como era tola.
"Você não devia ter dito isso", reprovei quando eu e Omi nos afastamos dos clientes.
"O que você queria que eu dissesse? Alem do mais eu gostei disso, eu nunca tive uma prima mesmo", ele me respondeu sorrindo.
Ao ouvir aquilo meu coração quase se despedaçou... A súbita vontade que me ocorreu foi de sacudi-lo e dizer "Claro que teve!! A Ouka era sua prima!! Nunca foi sua irmã!!", mas como eu poderia dizer isso a ele? Como dizer.... "Omi, você não é filho do Takatori, você é filho do Pérsia... Porque diabos aqueles dois foram morrer sem te contar a verdade??!!" Eu não podia fazer isso.... mesmo porque ele não acreditaria. Então apenas sorri de volta e acho que pude me sentir um pouco como ele naquela hora, às vezes dissimular era realmente a melhor coisa a se fazer.
Nesse instante eu pude perceber que o ruivo nos olhava atentamente e seu olhar não era nada amigável. O que ele estava pensando que eu poderia fazer? Agarrar o menino? Não, essa nunca foi minha intenção. Compreendi que ainda faltava muito ao espadachim para conhecer as pessoas se essa idéia realmente lhe passou pela cabeça. Pensei em me afastar do loirinho, mas não o fiz estava curiosa para saber até onde aquilo iria.
Depois do jantar, Omi colocou seu prato na pia e disse que iria subir para fazer um trabalho de literatura, que segundo o menino era difícil e chato.
"Melhor eu começar logo isso, não gosto de fazer redação", me disse Omi com uma cara desanimada. "Nem sei sobre o que escrever".
"Posso ajudar você se quiser...", eu ofereci, desta vez com o mero intuito de ajuda-lo mesmo, afinal parecia que eu gostava muito mais de escrever do que ele.
"Pode mesmo? Que bom!", o rosto do pequeno loiro pareceu se iluminar de repente.
"Han.... Suryia-san, você tem certeza que quer ajuda-lo? A ensino da escola do Omi é um pouco puxado, pode ser um pouco complicado", me advertiu o jogador gentilmente.
Eu pensei um pouco tentando imaginar como dizer a eles que eu já estava na faculdade, mas isso de nada iria adiantar.
"Bom, eu posso tentar... e alem do mais, alguém se voluntária à essa tarefa?", eu questionei já sabendo muito bem a resposta.
Silencio absoluto.
"Nesse caso.... Vamos, Omi", eu disse me levantando. Nesse minuto eu notei que Aya me dirigia o mesmo olhar daquela tarde na floricultura quando eu conversava com Omi. Então eu olhei bem pra ele, no inicio era curiosidade, mas agora havia virado mesmo provocação da minha parte, não sei porque, mas parecia divertidamente perigoso fazer aquilo. Cheguei mais perto de Omi, eu sabia que Aya não estava gostando nenhum um pouco da situação. Mas se ele não estava mesmo gostando teria que vir me dizer isso pessoalmente.
Continua...
Suryia Tsukiyono/ Agosto de 2003
suryiachan@bol.com.br
