Titulo: Dúvidas, Sonhos...Realidade
Autora: Suryia Tsukiyono
Classificação: shounen ai, angst, self insertion
Pares: Aya Omi?
Dúvidas, Sonhos... Realidade
Por Suryia Tsukiyono
Parte II
Já havia se passado algumas semanas e eu ainda não havia conseguido sair daquele...sonho? Eu nem ao menos sabia se aquilo era realmente um sonho. Eu estava deitada na cama que me foi cedida, pensando em quantas coisas eu pude observar em todos aqueles dias. Eu fiz algumas anotações em um caderno que eu havia pedido a Omi, foi engraçado ver a confusão nos olhos do menino com o meu pedido, naturalmente ele devia estar pensando para que eu o queria. Eu continuei a escrever até que o som da campainha desviou minha atenção. Quem poderia ser àquela hora da noite?
"Manx...", deduzi em voz alta. Sai do quarto e esperei que a ruiva entrasse. Fiquei parada no alto da escada até que todos descessem a sala de missões. Então era isso, os Weiss teriam uma missão. Eu fiquei escondida apenas escutando enquanto as informações eram passadas. Pelo que pude entender a missão seria na noite do dia seguinte, pois Omi ainda precisava levantar algumas informações.
Depois que a missão foi passada e que um clima bastante pesado se instalou entre eles foi Aya quem quebrou o silencio surpreendendo a todos.
"Manx... eu tenho mais uma coisa para falar e é bom aproveitar que todos estão reunidos aqui", disse o líder exigindo a atenção dos demais presentes. "É sobre a garota que está aqui".
"Aya-kun...", protestou Omi como se soubesse o que o ruivo tinha em mente.
"Não podemos mantê-la aqui. Como vamos explicar quando tivermos uma missão como essa?", ele continuou decidido.
"Não precisam me explicar nada", eu disse descendo as escadas o que deixou todos ainda muito mais surpresos. "Eu já sei de tudo".
"Ken, seu idiota! Porque não fechou a porta?", o espadachim recriminou furioso ao se lembrar que Ken havia sido o ultimo a entrar na sala.
"Não é culpa dele. Eu já sabia de tudo antes", eu retruquei, não podia permitir que o jogador levasse a culpa daquilo.
"O que você pensa que sabe?", me perguntou Aya bastante contrariado.
"Sei que vocês são assassinos contratados e que eliminam criminosos", disse calmamente como se aquilo não me surpreendesse nenhum pouco.
Eles se entreolharam e com olhos incrédulos o loirinho me perguntou. "Mas como você podia saber antes?".
"Bom... Aya não se preocupa em esconder a sua katana e não precisa ser um grande especialista para saber que ela foi usada muitas vezes, não parece uma espada nova e... Omi, me desculpa, mas eu tenho o costume de apagar os históricos das consultas a internet e... eu acabei vendo algumas das consultas que você tinha feito... mas não foi com intenção de bisbilhotar. Alem de que eu também achei as luvas de Yohji sujas de sangue na lavanderia", fui contando bem devagar. "Não precisa ser nem um gênio para saber o que vocês fazem depois disso tudo, basta ser um bom observador".
Eu não disse a eles que conhecia tantos detalhes, pois jamais conseguiria explicar tudo. Preferi me limitar àquilo que eu podia explicar com o que havia visto todos aqueles dias.
"Mas essa agora...", sussurrou Ken levando as mãos à cabeça, ele parecia bastante preocupado.
"Vocês não precisam se preocupar comigo, na verdade eu... não acho que vocês são melhores ou piores por isso. E também... eu não vou contar nada a ninguém, mesmo porque ninguém acreditaria mesmo e... eu não tenho motivos para fazer isso", eu continuei.
Um silêncio atordoante dominou a sala. Aya passou por mim feito um foguete e subiu as escadas correndo.
"Aya-kun!!", chamou o chibi subindo atrás do ruivo. Logo apenas Manx e eu estávamos sozinhas na sala.
"Menina, você é muito esperta mesmo. Enxergou o que muitos não enxergariam e ainda tirou o Aya do sério", comentou a secretaria da kritiker
"Acho melhor deixar eles se entenderem agora, eu vou para meu quarto", respondi sorrindo, quando eu já ia subir as escadas decidi voltar. "ahn.. Manx, é assim que a chamam, não é? Alguém já lhe disse que usar meias com sandálias está fora de moda?", finalmente fui subindo as escadas. "Ah! E também acho que você deveria mudar de cabeleireiro".
"Cabeleireiro? Mas o que tem de errado com o meu cabelo?", perguntava-se a ruiva surpresa quando eu finalmente deixei a sala.
Eu deitei em minha cama pensando no confronto que havia acontecido momentos antes. Aya estava furioso, Ken preocupado, Omi não podia estar mais perdido e Yohji... esse nem se quer teve coragem de comentar qualquer coisa. Porém agora eu não podia fazer mais nada. Peguei na cabeceira da cama o caderno que havia sido meu confidente naqueles últimos dias, não sabia porque, mas estava pensando muito na tal missão que aconteceria na noite seguinte.
"E essa missão agora... não sei porque, mas não gosto disso...", eu pensava enquanto escrevia. "Bem que essa missão podia simplesmente ser cancelada", Não demorou muito até que eu adormecesse sobre as páginas do pequeno caderno.
Ao cair a noite da referida missão, eu pude perceber que o silêncio que reinava na casa só podia significar que eles estavam se preparando, achei mais prudente não sair mais do quarto até que eles tivessem saído, mas quando o telefone tocou me senti tentada a ir até o corredor. Pude ouvir claramente quando Omi atendeu o telefonema de Manx.
"Como assim a missão foi cancelada?!", disse o loirinho ainda embasbacado pelo noticia. "Tudo bem, eu entendi".
Voltei para o quarto correndo, sorrindo feito uma idiota. Eu havia pensando tanto que a missão podia ser cancelada que até havia escrito isso em meu caderno. Foi então que um estalo bateu em minha mente. Corri até a cabeceira e comecei a ler exatamente o que eu havia escrito ali naquelas paginas e finalmente eu consegui entender. Eu havia escrito o que eu desejava que acontecesse e realmente aconteceu. Não podia ser verdade, mas por um momento tudo parecia tão lógico. Eu era a autora daquela história e isso significava que eu poderia mudar o rumo dos acontecimentos com um simples pedaço de papel.
"Céus, eu devo estar louca", sussurrei sentando na cama. De repente era como se eu houvesse saltado do livro de 'Alice no País das Maravilhas' para o filme 'A História Sem Fim'. Eu estava completamente perplexa com minha mais recente descoberta.
Mas será que eu era mesmo capaz de fazer aquilo? Mudar as coisas apenas com a força de um papel e caneta? Eu só sabia que ainda teria muitas chances para comprovar se aquilo era verdade.
Nos dias que se seguiram tudo corria normalmente, parecia que todos já haviam esquecido aquele episodio sobre as missões, todos menos eu que continuava insistindo em querer comprovar aquela minha suspeita, que eu podia realmente controlar o rumo daquela história e eu já havia conseguido constatar isso em pequenas coisas, pelo menos eu sabia que não estava ficando louca, bem, se estava aquele não era um dos sintomas.
Omi e eu estávamos sentados no computador, realmente gostávamos de fazer aquilo e ultimamente isso se tornara muito freqüente. Yohji até comentou comigo que Omi parecia muito contente afinal ele não teve muita companhia nos últimos anos. Eu desci para tomar água quando percebi que tentar vencer o loirinho naqueles jogos de raciocínio era praticamente impossível, digamos que cálculos e matemática nunca foram o meu forte. Quando cheguei a cozinha o jovem atleta estava sentado a mesa, quieto, tinha o olhar um pouco distante. Parei na porta e fiquei a observa-lo por longos instantes, achei que estava na hora de tentar fazer alguma coisa por Ken. Sentei a mesa de frente para ele e sorri, ele me sorriu de volta, mas eu ainda podia perceber a nuvem de tristeza por trás dos olhos do moreno.
"No que você estava pensando?", perguntei. "Minha avó sempre dizia que cabeça vazia é a oficina do diabo".
Parecendo sair um pouco daquela tristeza Ken sorriu abertamente achando aquilo um pouco engraçado. "Eu não estava pensando nada demais, só algumas lembranças, algumas situações que sempre se repetem e sempre dói".
Era claro que eu sabia perfeitamente a que o moreninho se referia e me senti muito tentada a escrever o que eu gostaria de mudar para que o jogador não sofresse tanto, mas cheguei a conclusão que eu não devia fazer isso. Mudar o rumo dos acontecimentos era uma coisa, mas mexer diretamente na personalidade deles eu não podia, pelo menos não desse jeito.
"Você já parou para pensar que as situações sempre se repetem porque você sempre age do mesmo jeito? Se você não age diferente você acaba sempre cometendo os mesmos erros e o pior é quando agente não enxerga isso pode estar condenado a sofrer pelo resto da vida", eu lhe disse. Talvez eu não pudesse muda-lo, mas poderia aconselha-lo.
Ken me encarou fixamente nessa hora como se de repente minhas palavras houvessem se transformado na coisa mais interessante de todos os tempos.
"Compare com uma doença, a catapora por exemplo. Quando você tem a doença pela primeira vez é porque seu corpo foi enganado, ele não desconfiava que aquilo podia ser nocivo, mas depois que ele percebe isso e elimina a doença sei corpo cria o que chamam de imunidade, dificilmente você terá aquela doença novamente, isso porque o seu corpo já conhece bem o que ela é capaz de fazer. É claro que algumas vezes isso pode falhar, mas essa é a ordem natural das coisas. Então se assim é a natureza eu não vejo porque não usarmos isso em nossa vida, com as pessoas que nos rodeiam", eu continuei explicando.
"Como assim? O que você quer dizer exatamente?", me perguntou Ken um pouco confuso.
"Bem, eu... eu estou falando das pessoas, Ken-san", eu respondi. "Não estou dizendo que você deve simplesmente pensar que todas as pessoas são como uma doença contagiosa, e nem para que você desconfie totalmente de cada uma delas, só estou dizendo que você tem que ser mais atento. Por exemplo, quando somos crianças o corpo inexperiente fica mais propenso a ter diversas doenças, mas quando crescemos ele vai se tornando mais resistente, desconfiado e com isso se defende muito melhor, claro que mesmo assim ele ainda fica doente por varias vezes, mas os estragos são bem menores, entende?".
"Sim, eu entendo. Não devia acreditar em tudo tão facilmente. Mas é tão difícil ser diferente. Merda!", ele se levantou e deu soco na mesa querendo descarregar aquela ansiedade.
"E desde quando as coisas foram fáceis para você?".
Ele sentou-se novamente e ficou olhando para mim um pouco curioso.
"Você fala como se soubesse de tudo o que eu passei", o jogador comentou.
"Não é muito difícil perceber que as coisas não foram fáceis para você, do contrario por que você seria um assassino hoje?".
"Você tem razão. Eu só não sei no que e em que confiar, daí quando eu vejo... já é tarde demais", me respondeu um tanto frustrado.
"Eu sei que é um pouco difícil, mas as vezes as aparências enganam mesmo. Quer um exemplo de uma pessoas confiável apesar de fazer de tudo para se mostrar o contrário? O Yohji."
"O Yohji? Você só pode estar brincando", ele me retrucou rindo.
"Não, eu estou falando muito sério. Yohji faz de tudo para parecer aquele sujeito irresponsável e que só quer curtir a vida, mas você já o viu fazendo algo que pudesse prejudicar seriamente a algum de vocês? Ele parece não levar as coisas a sério quando está numa missão?".
"Não...", murmurou o moreno em voz baixa.
"Então, apesar de não parecer o Yohji é uma pessoa muito confiável quando se trata das pessoas que são importantes para ele".
"É acho que você está certa mesmo. Mas eu nunca tinha olhado o Yohji por esse lado".
"As coisas e as pessoas podem ter muitos lados, Ken-san. Depende muito de que ponto de vista que você as olha. E melhor ainda se você souber se aproveitar disso".
"Eu não sei como fazer para aprender a ver as coisas desse jeito que você falou", Ken parecia meio decepcionado, obviamente que isso devia ser uma coisa muito difícil para alguém que havia sido como ele a vida toda.
"Hun... você pode começar com o Yohji, você pode descobrir muitas coisas que não sabe sobre ele, basta ter mais atenção", eu sugeri sorrindo. Não pensei que seria tão fácil chegar ao ponto onde eu queria desde o inicio.
Nesse instante Omi se aproximou e ficou olhando um tempo para nós. Talvez tentando adivinhar o que nós tanto conversávamos ali.
"Você ainda vai demorar?", o loirinho me perguntou calmamente.
"Não, eu já terminei. Vamos, eu quero te mostrar uma coisa no computador", eu respondi puxando-o pela mão.
"E o que você estava fazendo, demorou tanto?", insistiu o menino, talvez por que imaginasse que a conversa não era assim tão sem importância pelo tempo que ela demorou.
"Nada", eu disse parando no meio da escada. "Estava apenas fazendo uma coisa que o autor da série já deveria ter feito há muito tempo".
"Do que você está falando?", a confusão no rosto do chibi se evidenciava cada vez mais.
"Deixa para lá...", eu sorri quando um certo pensamento me ocorreu. Será que Koyasu me mataria pelo que eu estava fazendo? Sinceramente?...Eu duvido.
Quando finalmente eu me recolhi ao meu quarto, meus pensamentos não paravam de fervilhar. Eu já havia tentando escrever no caderno simplesmente me retirando da história, mas isso era a única coisa que eu não conseguia, eu não sabia porque, eu só sabia que precisa sair depressa daquele conto de Alice no país das maravilhas, ou logo me veria comparando o Omi com o coelho do 'estou atrasado', o Yohji com o chapeleiro maluco, ou o Aya... bem... esse seria a rainha de copas? Até que não soava nada mal ver o Aya gritando 'Cortem a cabeça' no lugar de 'Shineeeee'. Deus, era melhor eu parar com isso e começar a dormir, pois se havia um jeito de fazer tudo voltar a ser como era antes, mais cedo ou mais tarde eu iria descobrir, enquanto isso eu poderia desfrutar da companhia dos quatro rapazes.
Continua...
Suryia Tsukiyono / Setembro de 2003
