Just Tell Me!

Capítulo 2

Passou-se quase um mês desde aquele dia em que Clark estivera pela última vez com Lex.

Clark estava no celeiro observando o pôr-do-sol quando ouviu passos. Alguém se aproximava... Pensou que poderia ser seu pai, mas o passos estavam leves demais.... Poderia ser Lana ou Chloe, mas nem por um momento imaginou que pudesse ser... Lex Luthor.

Lex se aproximou de Clark e olhou na mesma direção que ele para acompanhar o final do pôr-do-sol. Clark não disse nada... Nem mesmo ousou olha-lo mais por mais que um segundo.

"Achei que tivesse ido embora de Smallville...", Lex enfim disse sem mudar a direção do olhar..

"Pensei que você tivesse dito que não precisava...", Clark respondeu confuso.

"Sim, eu sei o que eu disse.... Não estou cobrando... Só estou comentando que pensei isso.... Você não sumiu apenas da mansão.... Ninguém mais te ver em parte alguma da cidade... Nem mesmo no Talon".

"Não tenho ânimo para deixar a fazenda...".

Lex deu uma pausa razoável e finalmente o olhou diretamente.

"Como explica o que aconteceu naquele dia? Disse que não tinha domínio sobre si próprio....".

"É verdade...".

"E por que isso aconteceu? Você se drogou?".

Clark já ia abrir a boca pra dizer que não, mas achou a idéia boa... Até por que tinha uma ponta de verdade nisso... Aquela pedra o dominava como uma droga.

"Foi isso.... Eu me droguei....".

"Eu imaginei. Não era realmente você ali.... Então não queria ter feito nada daquilo?".

Clark não respondeu.

"Por que se realmente for assim, posso esquecer o que houve...", Lex concluiu.

"Não, Lex.... É melhor as coisas ficarem como estão.".

"Por que? Apesar de tudo, gosto de você, Clark..... Gosto de ser seu amigo..... Se estava dominado, também não foi sua culpa. Eu tenho pensado muito...", ele parou de repente para continuar com um tom de voz bem mais baixo. "... sobre isso desde aquele dia....".

"Você não entende, Lex...", Clark balançou a cabeça negativamente. "Sim, eu estava drogado.... Mas já se perguntou por que eu me droguei?".

"Por que se drogou?", Lex perguntou automaticamente franzindo a testa.

"Por que........", Clark suspirou procurando forças do fundo de sua alma. "Por que em meu estado normal, eu nunca teria coragem de fazer o que fiz....", e baixou os olhos por corar completamente. "Mas... eu sentia um incontrolável desejo em fazer.... Nada do que eu disse era mentira, Lex.... Por isso é que acredito que as coisas devam continuar como estão...".

Lex calou-se. No fundo, ele sabia que Clark sentia algo sim... Ninguém faria ou diria aquilo tudo por fazer ou dizer.... Mesmo estando fora de si... E afinal? Não é quando estamos fora de nós que acabamos por revelar nossos segredos mais assombrosos?

"Foi algo que eu fiz?", Lex perguntou seriamente.

Clark só sorriu. Um sorriso que claramente demonstrava sua tristeza.

"Não foi culpa sua... Não foi culpa de ninguém...".

"Como.... Como é estar apaixonado por um homem... sendo homem?".

"Que pergunta.... Eu não sei.... Amor é amor...... É difícil considerar o sexo quando ele vem tão de frente como agora..... Mas confesso que no início foi estranho.".

"Estranho como?", Lex insistiu. Clark franziu a testa. Por que seria o interesse?

"Estranho........ Eu nunca tinha sentido isso antes... E no começo acreditei que tratava-se apenas de uma amizade muito especial....... Mas não sonhamos com os amigos e acordamos excitados no meio da noite, não é?".

"O que.... O que está sentindo agora com a minha presença?", Lex perguntou ainda sério.

"Você não vai querer saber..".

"É provável que não, mas diga mesmo assim".

"Quer saber mesmo, Lex? Estou sentindo vontade de tocar em você....... Deslizar meus dedos pelo seu rosto..... Sentir mais uma vez o gosto da....", e ele voltou a corar. "O seu gosto....".

Lex ficou calado ouvindo. Para surpresa de Clark, ele não mudou o semblante enquanto ouvia tais coisas....

"Lex, eu....", Clark ia dizer algo, mas Lex o interrompeu.

"Não diga mais nada, Clark!", disse o milionário com ar completamente autoritário.

Lex voltou-se para ele... Seus olhos procuraram os de Clark para ali penetrarem profundamente... Clark sentiu-se no meio de um tornado que era capaz arrastar tudo ao seu redor... Tudo, menos ele... Estava grudado ao chão, estático, preso, totalmente preso... Preso a tudo... Ao chão, ao tempo, ao amor, ao desejo, ao mundo... e aos olhos dele.... O que realmente haveria ali dentro? Queria ir até lá.. queria entrar e respirar aquele azul.... Azul como o céu, sim ali com certeza seria o céu e Clark não duvidava disso, mesmo que por vezes Lex os fizesse parecer com o sombrio inferno... Como agora...

Lex então se aproximou mais de Clark. Um sutil sorriso surgiu em seus lábios... Era difícil imaginar o que estaria passando por sua cabeça, mas Clark não tinha frieza suficiente para pensar nisso agora... Ele estava tão perto.. Sua boca se aproximou perigosamente da de Clark que sentiu um desesperador arrepio por todo o corpo devido aquela proximidade.

"Lex.... ", Clark quis falar.

"Eu disse para não falar!", Lex o interrompeu mais uma vez e Clark pôde sentir o provocante aroma de chocolate que vinha de sua boca quando ele falou.

"Chocolate...", Clark falou com a respiração um tanto difícil.

Lex franziu a testa com a afirmação, mas logo entendeu do que Clark estava falando.

"Sim...", Lex concordou sem se afastar. "Chocolate quente.... Passei no Talon antes de vir para cá...".

A respiração de Clark tornara-se ainda mais difícil... Parecia que tudo dentro dele tudo ia explodir a qualquer momento. Era demais para ele sentir que Lex estava tão próximo....

"O que está sentindo agora, Clark?", Lex o interrogou mais uma vez. Apesar da situação convidativa, Lex falava com rispidez.

"Vontade de morrer...".

"De morrer?", Lex arqueou uma sobrancelha. "Por que?".

"Por que tudo está queimando...".

"Mas você não tem coragem de fazer o que sente vontade quando está sem sua droga.", Lex completou irônico.

"Por que faz isso? É uma espécie de castigo?".

Lex só sorriu e depois continuou....

"Olhe, mas não toque", ele começou a dizer. "Toque, mas não prove............ Prove, mas não engula..... Sabe o que essas sábias palavras significam, Clark? Você sabe?".

Clark continuou calado.

"Que ninguém pode ter tudo o que quer... Ninguém, nem mesmo você... Nem mesmo eu.... De muitas coisas até chegamos bem perto... Até sentimos o gosto...", e essa última frase, Lex falou com uma sensualidade tão única que Clark estremeceu. "Mas é só ilusão.... Ou melhor, desilusão....", arrematou.

Apesar do encanto de tê-lo tão próximo, Clark o olhava agora com uma certa expressão de medo.

"O que você quer, Lex? Por que veio aqui?".

"Vim aqui para entender.......... Entender o que acontece com você.... Entender como pode me desejar dessa maneira.... Você mal consegue respirar, Clark..".

"Quer saber Lex? Acho que no fundo, você está gostando de tudo isso... Parece um jogo, não?", Clark disse seriamente fixando seu olhar no de Lex.

Lex não gostou da maneira como Clark falara e muito menos de suas palavras e lançou-lhe um olhar mais frio que qualquer outro até agora.

"Seu desgraçado, filho da mãe!", Lex o pegou pela gola da camisa, apesar de ter consciência que não poderia com Clark caso ele decidisse investir, mas Lex sabia que ele não o faria.... "Não me ofenda ainda mais!".

"Está ofendido, Lex? Veio até aqui para se deixar ser ofendido com o meu amor?".

"Vim para tentar entender você... Mas percebo que foi inútil", Lex disse soltando Clark.

"E o que você deseja que eu faça? Que eu te pegue à força como naquele dia?".

Nesse instante, Lex fecha a mão e dá um murro com toda a sua força em Clark.

"Nunca mais fale assim comigo, Clark!!! Entendeu isso?!!!!", disse ele aos gritos ainda ofegante pelo esforço.

"Entendi....", Clark respondeu segurando o local do rosto em que Lex batera, apesar de não ser aquele o ponto que estava realmente doendo.

"Deixa eu ver isso... ", Lex disse um pouco mais ameno.

Mas Clark continuou no mesmo lugar e por isso Lex se aproximou dele de novo retirando a mão de Clark do local onde ele batera.

"Não tem nada aqui...", falou ele com descaso. "Devia estar pelo menos vermelho!".

"Vai embora, Lex", Clark pediu convicto. Lex o olhou e sentiu que o magoara de verdade.

"Quer que eu vá embora? Mas você não diz me "amar"? Estranho querer que eu vá embora...".

"Posso.... Posso deixar de sentir o que sinto se eu quiser.", Clark disse seguramente.... seguramente por fora... Mas incrédulo por dentro.

"E como se faz isso?", tal pergunta soou um tanto penosa aos olhos de Clark que não conseguiu entender bem o seu sentido.

"Não faço idéia.... Ainda..".

"Parece assustador....", Lex concluiu num de tom de voz menos agressivo.

Clark lançou-lhe um olhar confuso. Mesmo sem dizer nada, Lex com certeza compreendeu que Clark o questionava sobre sua última afirmação.

"Devo estar ficando louco..", Lex diz desviando do olhar de Clark.

"E por que?".

"Por que... não sou gay, mas não paro de pensar em tudo o que aconteceu aquele dia.", e Lex sentiu-se desconfortavelmente perdido por admitir tal fato num ímpeto.

"Ah, isso.....", Clark sorriu.

"Não há motivos para rir, Clark!", Lex gritou demonstrando irritação. "Não sou gay, compreende?! Por que estou pensando naquele dia, então?".

"Sim, eu compreendo...", Clark falou levantando a mão para tocar o rosto de Lex, mas este mais uma vez desviou.

"Não me toque! Já disse! Não sou gay! Não me toque!".

"Não, Lex.... Você não é gay..... Você só está impressionado com tudo aquilo", Clark falou-lhe tentando passar calma ao amado amigo.

"É... Você está certo... Só estou impressionado.... Como faço pra deixar de estar impressionado, Clark?".

Clark teve vontade de responder que após ter se impressionado com Lex pela primeira vez, nunca mais deixou essa condição, mas ao invés disso, levantou mais uma vez a mão para tocar o rosto de Lex que surpreendentemente não se afastou dessa vez.

"Eu não gosto disso... ", Lex falou sem agitar-se ao sentir os dedos de Clark percorrerem seu rosto.

"Desculpe....", Clark lhe disse aproximando-se mais. Lex sentiu os olhos de Clark lhe implorarem por um sinal, mas ele concluiu resoluto que não o daria. "Afaste-se.... não vou pedir duas vezes".

"Então vai ficar calado? Que bom....", Clark disse sorrindo levemente.

"Clark, você não teria coragem......", Lex parecia assustado agora com a proximidade do outro.

"Tem razão....", Clark falou já sussurrando pela proximidade em que estavam. "Eu não teria coragem", ao dizer isso, cobriu os lábios de Lex com os seus e o beijou apaixonadamente.

Para sua surpresa, não houve luta dessa vez, nem ao menos uma tentativa de livrar-se.... Lex deixou-se beijar por livre e espontânea vontade. Clark, em sua surpreendente condição, tentou então passar naquele beijo todo o carinho, todo o amor que sentia por Lex. Quem sabe ele entendesse afinal? Ao soltar os lábios do outro, Clark deslizou por seu pescoço, acariciando com a língua toda a extensão ao redor da orelha de Lex para morder-lhe bem de leve o lóbulo ao final.

"Eu amo chocolate...", Clark murmurou já quase sem fala de tanta excitação.

"Não devíamos estar fazendo isso...", Lex respondeu também num sussurro.

"Então quer que eu pare?".

"Não....", Lex respondeu puxando Clark pelos cabelos para a sua frente. Os olhos mais uma vez se encontraram e dessa vez, foi Lex quem o beijou.... Um beijo demorado, sufocante. Clark foi tirando o casaco preto de Lex fazendo-o escorregar até o chão, depois começou a desabotoar a camisa branca que estava por baixo do casaco. Abriu-a só até a metade, deixando o peito de Lex parcialmente a mostra. Clark colocou as mãos por dentro da camisa semi-aberta para sentir melhor a maciez da pele do jovem Luthor.

Lex tentou conter, mas soltou um gemido ao sentir as mãos de Clark em contato com seu corpo.

"Você também está ardendo em desejo, não é Lex?".

Lex não concordou.... Mas também não discordou.... E afinal, não seria verdade que quem cala consente? Lex consentiu.... E sentiu...... Sentiu que nunca sentira tamanha leveza..... Sentiu que nunca se sentira tão bem... Tão feliz.... Por que sentia isso? Por que? E por que ele tinha que se incomodar com esses porquês? Mas ele se incomodava e parou com tudo bruscamente empurrando Clark para longe de si.

"Eu... Eu vou embora...", Lex falou enquanto apanhava rapidamente seu casaco do chão.

Clark balançou a cabeça confuso.

"Por que?", e o abraçou pelos ombros. "Não precisa ir.... Se não quiser..".

"Preciso.... Preciso por que tudo isso já foi longe demais.... Eu, Clark... Eu não sou.... gay....". Lex falou num tom bem mais perturbador que antes.

"Será que nós poderíamos esquecer essa palavra por pelo menos um momento?", Clark pediu serenamente. "Eu sinto que a denominação que é algo tão fútil te preocupa muito mais que o sentimento que é tão nobre...".

"Não tem medo do que os outros vão pensar de você?!", Lex perguntou apertando os olhos na direção de Clark.

"Que outros?".

"Os outros lá fora....! As pessoas que te cercam.... e me cercam...!".

"Pro inferno com eles!", Clark deu de ombros .

"Não posso mandar o mundo pro inferno por causa de um.....", Lex parou a frase.

"De um sentimento como o meu? É isso..?", Clark baixou a cabeça. "Então acho que é melhor que vá embora mesmo...".

"É... é melhor....", Lex estava terminando de abotoar sua camisa. Depois deu as costas e rapidamente foi embora dali sem olhar uma vez sequer para trás.

Clark acompanhou o outro partir apenas com os olhos, totalmente calado... Naquele instante, ele tentara resistir com todas as suas forças, mas mesmo assim, as desobedientes lágrimas romperam....

Continua....