Parecia que suas pálpebras tinham acabado de se fechar quando ele foi molestado.
- Chamem Smith... – respondeu com a voz enrolada. – Deixem-me dormir...
Sons de risos abafados chegaram à sua parte consciente. O intrigante é que não eram os risos dos aurores. Abriu de má-vontade os olhos. Viu um borrão ao seu lado e focalizou-o com os óculos.
- Algum problema, querida? – Elenna estava sentada na cama com as mãos nas costas. Tinha os olhos fechados e forçou um sorriso.
- Não encontrei Smith. Você terá que resolver, Potter... Ai... – a voz falhou e ela respirou rápido antes de continuar. Harry segurou-a pelos ombros. – Acho que começou... As dores vieram a tarde toda... Ai.... Eu não dei importância... Andei quilômetros dentro de casa... Aaii... Estava tão preocupada com você...
Ele arregalou os olhos. Seu cérebro funcionava a cem bilhões de impulsos nervosos por milésimo de segundo e não sabia o que fazer.
- C-c-calma, meu amor. E-e-eu estou aqui com você... Nossa, isso foi horrível! – Elenna riu e olhou-o. O jovem distinguiu confiança e amor na expressão dela, que transformou-se numa careta e mais um suspiro de dor. Ela precisava dele; e ele faria o melhor. – Incomoda se você deitar? É recomendável... Assim... Vou chamar Winky e Dobby, está bem?
Harry disparou escada a baixo, amaldiçoando o minuto em que concordara com Elenna em realizar o parto em casa. Ela não queria nem ouvir falar em maternidade e ele deixou. Agora que a hora chegara, receava não ter sido a escolha sensata. E se acontecesse alguma coisa errada?
- Não quero vocês comigo hoje! – falou alto para espantar os pensamentos ruins.
Os elfos ficaram eufóricos e subiram a escada feito raios para ajudar a senhora. Harry encaminhou-se à lareira. Em quinze minutos, seus amigos tomaram conta da casa e ele pôde voltar para o quarto.
Uma fragrância suave e fresca vinha do cômodo, onde várias mulheres ajeitavam tudo. Hermione dava instruções aos elfos, Hannah conjurava toalhas esterilizadas, Molly e Gina conversavam com a medi-bruxa que acompanhara a gravidez.
Elenna estava sentada na cabeceira da cama, jogando folhas numa bacia de água quente. A intervalos regulares, um tremor sacudia seu corpo e ela fechava os olhos, respirava fundo e voltava a atenção para as folhas.
Harry sentou-se e pegou sua mão. Ela deu-lhe um sorriso e apertou a mão dele.
- 'Athelas'. – explicou, mostrando uma folhinha de verso prateado. – A infusão acalma os sentidos e é curativa. A sarça-sagrada – ela apontou um maço de talos compridos no criado-mudo. - é para banhar o bebê.
- Avalon. – ela assentiu.
Uma nova onda de contrações varreu seu corpo. Harry engoliu em seco, amparando-a. Elenna inspirou, procurando o vapor, contendo um grito. "Merlin, por que tem que ser assim?", lamentou, assistindo a mulher abrir os olhos, voltando-se séria para ele.
Ele segurou-lhe delicadamente o rosto e encostou os lábios na bochecha dela.
– Amo você. – declarou, a voz rouca pouco mais que um sussurro.
- Também amo você... Fique tranqüilo... Vamos nos sair bem... AAAHH!
A Sra. Weasley aproximou-se com a medi-bruxa.
- Harry, querido. Acho que esta é a sua deixa. – disse, empurrando o rapaz. Ele ouviu outro grito e viu a esposa cercada antes de baterem a porta na sua cara.
- Vamos. Agora é com elas. – Rony aparecia do nada e o levava para baixo.
- Então, como ela está?
- A Senhora do Lago enviou Athelas, Timoth.
- A medi-bruxa é competente, Potter?
- Foi Elenna quem a escolheu, Snape.
- Vai correr tudo bem, Harry. Passei por isso seis vezes.
- Como o senhor agüentou, Sr. Weasley?
- A pergunta é: como a "Sra." Weasley agüentou!
- Sirius! – Jasmin e Ângela vinham da cozinha trazendo café e torradas.
- Sente-se aqui, Harry. – convidou Remo. – Você está horrível.
- Ainda não entendo por que ela não quis um hospital!
- Elenna tem regras próprias. – Fabian juntou-se aos dois. – E imagine a multidão de repórteres de plantão na porta da maternidade!
Harry tentou rir, sem sucesso. Sentia dor por todo o corpo. À medida que o corpo de Elenna sofria o dele reagia também. Não era a dor lancinante que os raros gritos (ela não era escandalosa, como toda Elfa que se preze.) denunciavam. Era diferente, mas incomodava.
- Daria qualquer coisa para estar no lugar dela.
Jamais soube quanto tempo ficou ali, o pensamento voando para o andar de cima, transmitindo força a ela. Esfregava as mãos, nervoso. Percebia as pessoas vindo falar com ele, animando-o, mas de pouco adiantava. Então, uma voz, que ele julgou ser de Mione, o sacudiu.
- Vá conhecer seu bebê, Harry.
Ordem recebida, atropelou quem estava ao pé da escada, desculpando-se desajeitado. Parou na porta do quarto e recuperou o fôlego antes de entrar.
Na penumbra, o bruxo viu a esposa com um embrulhinho que se mexia no colo. Engoliu em seco.
- Veja, o papai chegou, meu amorzinho.
- Vocês estão bem? – ele aproximou-se, carinhoso, para abraçar e beijar Elenna.
- Sim... Cansadas e felizes... – a mulher dizia as palavras pausadamente. - É uma menina, querido... Não é linda?
Do meio da trouxa, surgiu uma minúscula mão envolta em luz dourada, em seguida olhinhos verde-vivo piscaram abaixo de pelinhos pretos que cobriam a cabeça.
- Maravilhosa! – ela observou o rosto do marido iluminar-se ao contemplar a nenê.
- Tome, segure-a... Com cuidado.
Harry tinha medo de respirar e machucá-la.
- Ela é tão pequena e frágil. – não conseguia parar de olhá-la. Estava enfeitiçado. – Como vamos chamá-la? Decidimos que veríamos como ela seria antes, não foi? E então?
- Deixo para você escolher.
- Não. Você é a mãe.
- E você é o pai!
- Ok... Hum... O brilho dourado com certeza é o espírito dela?! – Elenna assentiu. - Que dia é hoje? Vinte e dois de março... Primavera... Você escolheu um excelente dia para chegar, não?... Que tal... Hum... Que tal Elanor?
- Elanor? A flor dourada de Lórien. Um nome élfico.
- Exatamente! Elanor Hunter Potter. O que você acha, princesa? – a nenê bocejou. – Ela gosta.
- Eu também. Você sabe que são as minhas favoritas.
- Então, bem-vinda, pequena Elanor.
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"Draco,
estou na casa dos Potter. Rony e Mione brigaram de novo. Não me espere.
Gina."
- Típico.
Foi o que Draco disse ao ver o bilhete flutuando em frente a porta do quarto. Sentia-se moído como se tivesse ficado no caminho de uma manada de veelas raivosas. Seu estado de espírito não era, portanto, dos mais agradáveis.
Caminhara até o amanhecer pelas ruas desertas do subúrbio de York. A primavera recente não dissipara por completo os ventos frios do leste e do norte. As ruas estavam molhadas e escuras. As estrelas quase invisíveis e a lua crescente suscitavam um ambiente melancólico – conjunto favorável a pensamentos soturnos.
- Parece que não tenho como escapar. – resmungava baixinho, enquanto esforçava-se para manter distância de casa. Seus pés não obedeceram e ele se viu parado em frente à sóbria construção, sem os confortos da Mansão Malfoy. Quem se importava? Não ele. – Fui apanhado na ratoeira, pelos próprios ratos.
Sua andança não clareou as idéias. Sequer decidiu se deveria alertá-la. Uma parte dele ficou aliviada com o adiamento da decisão. "Ela tem o direito de se defender!", a outra recriminou. Contudo, Draco atravessou a porta, atirou-se na cama e praticamente desmaiou.
N/A: Esqueci de avisar no capítulo anterior que às vezes vou colocar nomes de músicas no início dos capítulos. São apenas sugestões de trilhas que achei legais, ok? Até a próxima!!
