Música: Monte Castelo – Legião Urbana
"Ninguém me disse que seria fácil. Tenho a sensação ao mesmo tempo estonteante e terrível de que uma vida depende de mim. Uma vida que veio através do meu ser – 'hröa' (corpo) e 'fëa' (espírito) – para conhecer a alegria e a tristeza deste mundo. E eu a amo. Amo-a desesperada e tranqüilamente. É esse sentimento que tentam entender e canalizar os druidas e as sacerdotisas de Avalon? Ou o que os Elfos sentiam em seus espíritos por toda a Terra? Um amor que comprime e conforta nossos corações..."
O movimento do marido virando-se na cama acordou-a do torpor em que mergulhara enquanto amamentava a filha. Elanor sugava sem pressa o leite, observando atenta o rosto da mãe.
- Você não está mais resplandecente. – ela murmurou, sorrindo. - Seu 'fëa' assentou aí dentro afinal. Já se passaram quatro meses, não é? Os corpos mortais quase não os comportam... – calou-se, mordendo o lábio, repreendendo-se em seguida. - O que estou fazendo? Estes são assuntos para outra ocasião, minha florzinha... O que faremos para o papai de aniversário? Talvez deixá-lo dormir o dia inteiro?...
Elenna olhou novamente para o lado. Harry dormia pesado, a respiração lenta e compassada. Nem acordara com o choro da nenê. Tinha passado o dia entretendo as visitas. Quando todos se foram, ele desabou.
"Há alguns anos", ela pensava ao passar a mão livre pelo rosto dele, "riria de quem me dissesse que amaria tanto um homem. Nem em sonhos imaginei prender-me por vontade a alguém, no entanto, aqui estou, satisfeita. A felicidade é tão simples de perceber e tão difícil de conquistar."
- Temia que você chegasse a outra conclusão. – Harry assustou-a, abrindo preguiçoso os olhos e sentado-se. – Devia ter me chamado. Posso e quero ajudar; e você precisa descansar.
- Eu teria que agir neste caso, Sr. Potter. – Elenna sorriu ao ser acomodada nos braços dele. - Sua filha estava faminta. E você também está exausto. Morgana e Gawen não o largaram o dia inteiro.
- A mistura Rony-Hermione é altamente explosiva. – ele concluiu, olhando para a nenê. – Ela está quase dormindo.
- Se quiser, pode levá-la para o berço.
- Venha, princesa.
Elanor choramingou e esperneou no colo do pai. Harry não se intimidou. Limpou a garganta e entoou uma das músicas que cantava para ela desde antes do nascimento. Apesar de desafinado, (e dos protestos zombeteiros) produzia na filha um efeito calmante impressionante. Aninhada no colo, ela dormiu rápido. Ele colocou-a no berço ao lado da cama e voltou, desta vez para acolher a esposa nos braços.
- Sabe a vantagem desse emprego?
- Acordar cinco vezes por noite?
- Ser abraçado e desejado por duas mulheres lindas!
- Ah, pelo Merlin! Eu sou obrigada a ouvir isso? – ela encarou-o com expressão de incredulidade, mas apertou o corpo contra o dele.
Elenna sentia a mão quente de Harry alcançando-lhe a nuca e os lábios dele subindo pelo pescoço, orelha e chegando à boca. Um arrepio percorreu-lhe a coluna enquanto era beijada ardentemente. Soltou um muxuxo de desagrado quando ele parou. Ao abrir os olhos, que ela fechara sem perceber, encontrou um sorriso de triunfo.
- O que foi que eu disse?
Ele, por sua vez, viu sua mulher mostrar-lhe a língua, sorrir sapeca e aconchegar-se ao seu corpo para supostamente dormir. Antes, porém, ela encheu o tórax e a barriga dele de cócegas, ocasionando uma noite mal-dormida e um conseqüente acordar tardio.
Por esse motivo, eles não perceberam que alguém não autorizado surgiu na lareira e vasculhou a casa, desaparecendo ao ouvir os ruídos de Dobby na cozinha.
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Gina Weasley observava o namorado preparar o café da manhã. Ele estava terminando de servir o mingau de aveia (ela ainda achava difícil acreditar que ele gostasse de mingau. Simplesmente não combinava.), arrumando as torradas numa cesta, ajeitando tudo na bandeja onde já se encontravam as xícaras, o bule de chá e o de leite e trazendo tudo para a mesa. Pôs-se, então, a dispor tudo nos lugares adequados, sentou em frente a ela, encarou-a e abriu o primeiro sorriso do dia.
- Bom dia, Virgínia.
- Você me surpreende, sabia? – ela disse numa expressão embasbacada e divertida, sem saber que um certo amigo falava o mesmo para a esposa constantemente. – Não conhecia seus dotes culinários!
- Digamos que eu tive que me 'virar' por um tempo. Experimente. Garanto que não é tão horrível quanto parece.
Ela olhou desconfiada para a massa cinzenta e encaroçada no prato e quase desistiu. Só a cara dele, suplicante, a fez erguer a colher e colocar a papa na boca. Surpresa!
- Hum! É bom! – exclamou, abastecendo a colher com avidez. – Vou contratá-lo como meu cozinheiro particular, Malfoy.
Draco apenas sacudiu a cabeça e sorriu levemente, começando a salpicar o mingau de pedacinhos de torrada.
"Como ele mudou! Eu gostaria de saber 'o que' o mudou! Quantas armadilhas ele armou, qual nojento era em Hogwarts?! Mal acreditei quando o encontrei em Estocolmo, perdido e sozinho."
- Virgínia?! – ele chamou, preocupado. – Algo errado?
Gina percebeu que estivera encarando-o e desviou a vista para o prato.
- Não! – apressou-se a dizer. – Não há nada errado. Apenas... é que... – levantou os olhos e encontrou os dele. – Draco, posso fazer uma pergunta?
- Você não precisa da minha permissão para nada.
- Muito bem... Quero saber se você está feliz. Isto é, se você é feliz.
- Por que isso agora? – Draco assustou-se. – Onde pretende chegar?
- Estamos juntos há algum tempo e nunca vi você vivo. Quero dizer, você nunca parece realmente vivo, entende? Insistiu para voltarmos para a Inglaterra, conseguiu reaver alguns bens da sua família, trabalha no Gringotes. No inicio, até pensei que você reagiria, mas, de uns meses para cá, você caiu de novo. Se fechou novamente para mim.
Draco ouviu-a com uma expressão neutra que a irritou, entretanto, Gina conseguiu manter a voz normal e os olhos grudados nos dele.
- Sei que não estou sendo a melhor das companhias, Virgínia. – ele começou, sem emoção. – Compreendo que você precise de alguém alegre e saltitante e, lamento informar, jamais fui ou pretendo algum dia ser essa pessoa.
- Não, você nunca foi extrovertido, mas havia vida dentro de você, Draco. Mesmo direcionada para o lugar errado, sua força era grande o suficiente para rivalizar com Harry e comandar a Sonserina inteira. Quando viemos morar aqui, vi o qual forte você é, superando todas as desconfianças, recomeçando sua vida, só q...
- Olhe, - ele se levantou e estancou ao lado dela. – esse discurso todo é para me chutar, não é? Pare de florear tudo, Virgínia. – ela notou tristeza na voz dele. – Já esperava por isso, afinal eu não sou bom o suficiente para a famosa auror da Federação Européia, amiga dos mocinhos. Como eu, o sujo e arrogante Draco Malfoy, pude cogitar ter alguma proximidade com você?
Draco saiu apressado da cozinha, atravessou o corredor, entrou no quarto, abriu o guarda-roupa, tirou uma maleta e começou a enchê-la violentamente de roupas.
"Perdi. Eu sempre perco, por que não me habituei? Acabei de perder o único acontecimento bom na minha maldita vida! Ah, Virgínia! Por que me dei conta de você só no fim? Talvez seja melhor você longe, agora que quebrei minha promessa. Eles não poderiam usá-la para..."
- Eu prefiro o outro Malfoy. – Gina parou decidida no portal. – Você não é Draco Malfoy; é um impostor covarde. – ele continuou arrumando a bagagem sem erguer os olhos para ela. – O legítimo Draco Malfoy tem orgulho de si mesmo, sai de situações difíceis com maestria, enfrenta a tudo e a todos para ter o que quer.
- Você está sonhando. – a voz arrastada acentuou-se. – Você idealizou essa pessoa. – ele fechou a maleta e olhou para a namorada. – Draco Malfoy 'aproveitava' as oportunidades. Agora elas extinguiram-se para ele. – Gina viu tanta tristeza nos olhos dele que teve vontade de pegá-lo no colo, mas conteve seu impulso. As palavras seguintes a fizeram ter vontade de esmurrá-lo. – E, analisando o meu histórico, nunca fiz nada de que pudesse me orgulhar.
Gina trancou a porta e posicionou-se na frente dele sem perceber. Ela estava furiosa e falou alto demais para o gosto de Draco.
- Pois eu acho que é saudável alguém sentir orgulho de ter dado a volta por cima, de conseguir limpar o nome, de arrumar um emprego decente! A pessoa devia se orgulhar por fazer outra rir com as historias da escola, de fazer a outra sentir-se importante e necessária! Uma pessoa que transmite confiança com toda razão se sentiria orgulhosa! Alguém que sorri como você sorri, Draco, ao vencer mais um obstáculo, é um idiota se não se orgulha de si próprio!
- E o que você quer? – ele gritou, descontrolado, agarrando os braços dela. – Se o seu 'pai' tivesse usado você para os fins sórdidos dele, se todos lhe virassem as costas, se fosse torturada e perseguida como uma peste pelos 'amigos' do seu bondoso pai e tivesse que sobreviver miseravelmente; o que você faria, Virgínia? E quando você acha que enfim encontrou um porto é expulso dele também?! Me diga! – Draco percebeu que a apertava e sacudia e soltou-a bruscamente. Pegou a maleta, alcançou a porta. – Desculpe. Não desejava machucá-la. – murmurou, antes de sair.
Gina nem reparou nas manchas vermelhas. Seu olhar seguiu Draco até a saída tempestuosa e fixou-se na porta enquanto as lágrimas desciam livres e silenciosas.
"Por que a felicidade é tão difícil?", pensou ao deitar-se na cama encolhida.
N/A: Agora teremos um pouco da ação. Não percam! Há, e reviews, please! Agradeço à Yellowred por estar acompanhando (viu, eu consegui uma história onde o Draco não disputa com o Harry... rsrsrs!), à Carol, à Micaela e à Sabrina pelos elogios! Valeu, gente!!!... rsrs!!
