Música: The Old Ways - Loreenna
O Beco Diagonal estava curiosamente calmo naquela manhã de sábado,o que, na verdade, era bastante comum, dada a época do ano. As compras para Hogwarts, obviamente, cessaram com a partida dos alunos (três semanas antes) e as famílias evitavam gastos por um ou dois meses. Elenna esquecera esse detalhe, portanto achou curioso ver o maior centro de consumo bruxo ("Inglês! Nenhum rivaliza com o de Ancara!") com parcos freqüentadores.
Era a primeira vez que saíam com a filha para fazer compras pois não achavam seguro nem conveniente levá-la novinha demais. Harry propôs pedir uma escolta ao Ministério, por precaução. Elenna entendia o cuidado do marido, mas queria um dia 'família' e convenceu-o de que dariam conta de qualquer contratempo. Ao encontrar o lugar tranqüilo, ele relaxou.
Na entrada do Caldeirão Furado, encontraram Holm, filho do velho Tom, que assumira o negócio após a aposentadoria do pai.
- É uma honra recebê-los, Sr. e Sra. Potter! – ele fez uma mesura exagerada, chamando atenção sobre o casal. – E vejo que trouxeram a pequena Srta. Potter. Por favor, fiquem à vontade.
- Como vai, Holm? – Elenna perguntou educadamente. – O velho Tom continua querendo plantar mandrágoras para exposições?
- Sim, senhora. Ele está decidido a levá-las à Hogsmeade este ano. Gostariam de uma mesa perto da lareira?
- Obrigado, Holman. – Harry sempre era formal com ele. Desaprovava a maneira extravagante do estalajadeiro. – Estamos procurando... – dizia enquanto vasculhava o bar com o olhar. – Ah, ali estão. Obrigado.
Esperavam pelos três Rony, Gina, Morgana e Gawen, os gêmeos de seis anos – ruivos como o pai, porém com os olhos castanhos e o cabelo cheio da mãe.
- Elanor! – a garota pulou da cadeira, seguida pelo irmão, e correu para o carrinho conduzido por um feitiço de empurrar feito por Harry. A nenê ainda era fascinante para ela.
Gawen jogou-se no pescoço de Harry. Enchia o peito ao informar que o apanhador da seleção era seu padrinho.
A verdade é que o Sr. Potter não conseguiu largar de vez o Quadribol e tinha sido escalado para os Jogos Mágicos da Noruega, ainda no ano anterior, tendo licença especial de oito meses para treinar. Nem é preciso acrescentar que a Inglaterra foi campeã, não é?
- Tio Harry! Como vão os treinos? Tem pego muitos bruxos maus? A Elanor está dando muito trabalho? A mamãe falou que vocês estão ocupados com ela e não podem nos visitar! – Gawen metralhou, num fôlego só.
- Calma, rapaz! – exclamou o alvo do bombardeio. – Não estou treinando, só jogo em momentos especiais. Os bruxos maus andam bem escondidos e não tenho visto nenhum. Se você vir, me avise, ok? E a Elanor até que é boazinha...!
- Ei, vocês dois querem monopolizar os Potter? – Rony e Gina se aproximavam. – Olá, Harry, Elenna.
- Oi, Gina. – ela ouviu em uníssono. – Oi, Rony.
- Olá, pessoal. Tudo bem? Onde está a minha afilhada?
Morgana brincava com Elanor. Rony abaixou-se sobre o carrinho. Um par de olhos verdes brilhou de contentamento e a nenê ofereceu os bracinhos. Ele tinha muito jeito com crianças. Nas reuniões de família, os filhos e sobrinhos exigiam sua presença nas travessuras.
- Nossa, como você cresceu, Pinguinho! – admirou enquanto a pegava no colo e fazia graça para uma sorridente Elanor.
- A senhorita não vai falar comigo? – Morgana ouviu a pergunta, ergueu os olhos para a madrinha e viu uma piscadela de Elenna, que acariciava seus cabelos. – Como está se saindo com esse dois? – apontou para Rony e Gawen.
- Eles se comportam! – Morgana respondeu, sorrindo. – Mamãe está conseguindo vir todos os dias para casa. Ela queria vir, mais tinha exames para corrigir. A tia Gina está de férias e fica com a gente durante o dia.
- Que bom, querida. Mione deve estar tendo muito trabalho este ano. Ela está sentindo-se bem?
- Está. – a garotinha assentiu. - Só reclama que está cansada.
- Não é para menos! – Elenna riu. – Que tal seguirmos nossa jornada? – indagou aos outros.
Harry encolheu o carrinho e guardou-o no bolso pois Rony negou-se a entregar Elanor. Gawen continuava agarrado ao padrinho, falando sem parar. Elenna segurou a mão de Morgana e Gina acompanhou-as na entrada do Beco.
Do fundo do bar, duas figuras levantaram-se e os seguiram sem ser vistos.
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O jovem não parava de se virar durante o sono. A cama velha rangia um pouco toda vez que ele colocava o peso do lado esquerdo, o que o irritava profundamente e o impedia de ter um descanso decente.
A pensão não era o que se poderia chamar de "confortável", com seus móveis carcomidos e enferrujados, o cheiro de mofo do colchão e a cara pouco acolhedora do dono, mas ele não se importara. Afinal, aquele era o último lugar onde pensariam em procurá-lo, exatamente como no passado. Como estava no mundo trouxa, não podia usar magia para melhorar as acomodações.
Contudo, não era o barulho da cama que o inquietava naquela noite. Eram os ecos na sua mente.
"Você é um imprestável! Tem medo do que, moleque?"
"Ensinarei você a obedecer. Imperio!"
"Rasteje, seu verme. Você merece isso. Você nos traiu."
"Implore por sua vida."
"Crucio!"
"Crucio!"
"Você nunca será um Malfoy!"
Em imagens difusas de comensais, Lúcio, ele próprio, feitiços, raios e gritos, Draco revivia passagens nada alegres de sua vida. Queria despertar, mas, por alguma razão que ele não entendia, não conseguia acordar.
"Eu não quero! Vocês não podem me obrigar!"
"Me tirem daqui! Eu vou matar todos eles..."
"Não ousem tocar em mim!"
"Eu tenho direito de escolher."
"Você é um desertor covarde! E vai se arrepender!"
Lágrimas se formavam por baixo das pálpebras, mas não chegavam a cair. Ainda era muito difícil chorar. Ele nunca chorara na vida. Era uma demonstração de fraqueza, e ele não era um fraco. Ele era Draco Malfoy.
Com esse pensamento, abriu os olhos e percebeu que era dia, o quarto estava todo desarrumado, parara de chover e alguém esmurrava a porta. Isto era incomum. O proprietário só cobraria o aluguel dali há oito dias, e ele não tinha qualquer tipo de relação com os outros inquilinos.
Cautelosamente, Draco levantou-se e caminhou até a mesa. Antes que pudesse pegar a varinha, uma explosão silenciosa fez a porta voar pelos ares. Uma figura baixa e encapuzada entrou e parou diante dele.
- Então, pensou que não descobriríamos?
Draco encarava o vulto sem expressão.
- Vejo falhas na sua educação. Você deve responder quando alguém fala com você. – Draco continuou olhando friamente a pessoa. De súbito avançou, fazendo o estranho recuar.
- O que você quer? Já não fiz o serviço sujo de vocês? Me deixem em paz. – a voz dele tão pouco evidenciava uma possível pulsação acelerada.
- Sim, você fez. E fez muito bem, diga-se de passagem. – o tom sarcástico o deixou irritado. Ele estreitou os olhos, esperando o que viria. – Sua colocação era perfeita demais para se desprezar. E aposto que você gostou, não? Revê-la após tantos anos... – o estranho riu baixinho. Draco quase arrancou a cabeça dele fora. - Ainda que fosse dormindo com outro...
- Cale a sua maldita boca! – dardejou, entredentes. Estava tremendo de raiva.
A figura o observou por um instante.
- Ora, o que aconteceu com o inabalável Malfoy?
Sem pensar, Draco atirou-se sobre o estranho, apertando-lhe o pescoço. O outro não foi pego de surpresa e logo apontava a varinha para ele. De má vontade, o loiro afrouxou as mãos.
- Eu vim aqui para convocá-lo. Eu e você temos uma missão.
- Não me inclua em seus planos mirabolantes. – a voz fria e arrastada voltara. - Vocês não podem fazer nada que me obrigue a fazer o que quer que seja. Eu nem posso mais usar a lareira autorizada.
- Tolo! Você vai cooperar. Sabemos que eles vão sair hoje, sabemos onde vão. É uma chance única de pegá-lo. Não preciso de um espião. Quero um ladrão. E você vai porque você sabe o que faremos se não for. Ela não está protegida agora. Será muito fácil capturá-la e, antes de matá-la, dizer que Draco Malfoy é um traidor.
- EU-NÃO-SOU-TRAIDOR! – ele gritou.
- Você sabe que eu não blefo, Malfoy! – a figura pegou a varinha da mesa e virou-se. – Espero você lá fora. Não demore.
Assim que se viu sozinho, Draco caiu na cama, a cabeça apoiada nas mãos.
"Como eu me livro disso?"
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Duas crianças reclamando de sede, um bebê chorando de fome e quatro adultos mal-humorados. Esse era o saldo de três horas andando pelas lojas da 'entrada' do Beco. Os homens reclamavam que as mulheres perdiam tempo demais olhando vitrines de roupas. As mulheres retrucavam que os homens eram impacientes e que só pensavam em si.
Quando Elanor começou a chorar muito, decidiram que era hora de parar. Dirigiram-se à sorveteria de Florean Fortescue e sentaram-se numa mesa um pouco escondida. Pediram sucos, sanduíches, sorvete e docinhos de hortelã para as crianças.
Elenna, sem se incomodar com possíveis olhares escandalizados ("Isso é o fim dos tempos!", comentava um par de senhoras sentadas ali perto. "Não existe mais moral nesta terra!"), abriu a parte de cima do vestido e aninhou a filha. Ela realmente precisava ser alimentada. Harry, num gesto de proteção, chegou a cadeira para perto, abraçando os ombros da esposa.
- Acho que devemos nos separar, se não vão acabar nos matando – opinou Rony.
- Concordo. Vocês podem ir à Artigos de Qualidade para Quadribol e onde mais quiserem. – Gina dizia, comendo seu sorvete de pistache.
- E vocês podem ir até a Madame Malkin e numa loja nova: "Tudo para fazer um bruxo feliz"! – o irmão implicou. Estava lambuzado do sorvete dos filhos, que ele tentava surrupiar.
- E nós? – os dois perguntaram, as bocas cheias de docinhos de hortelã.
- O que vocês querem fazer? – perguntou Elenna. – Ver as últimas novidades do Quadribol ou ficar olhando eu e a tia Gina escolhendo roupas durante uma hora?
Harry riu.
- Que propaganda você faz dos seus programas, hein?! Assim até Elanor fica entediada.
Os gêmeos pensaram durante talvez três segundos.
- Quadribol!
- Então, senhores, tomem conta deles. – Gina recomendou. – Nos encontramos aqui em duas hora, certo?
- Vamos, meninos! – Rony levantou-se, seguido dos filhos. – Você também, Harry. Deixa de ser coruja, cara!
- Como se 'você' não fosse, Rony. – o amigo rebateu. – Espera um minuto aí. – e voltou-se para Elenna. – Você quer que eu fique? – perguntou, olhando para a filha, que retribuía o olhar. Ele não gostava de deixar a mulher cuidando sozinha da bebê.
- Não. Ficaremos bem, não é, princesa? Deixe o carrinho com Gina, por favor. Divirta-se. – Elenna despachou-o com um beijo.
- Harry é um pai cuidadoso. – comentou Gina, que assistira a cena toda. – Vocês tiveram muita sorte um com o outro. – completou, sorrindo tristemente.
Elenna observou a bruxa um instante. Gina afastara-se dela ao mudar para Elsinore com Siegfried Hayden – o que era compreensível pela distância e os estudos. Contudo, nada se comparava à barreira que ela criara em torno de si quando voltara. Além de distante, estava cada dia mais triste e melancólica. O fim do namoro com o dinamarquês não podia ser a causa, podia? Eles continuavam amigos...
- O meu caso com Harry vai além de sorte, Gina. – a meio-elfo respondeu, sorrindo para a ruiva. – É como se nos conhecêssemos desde o início dos tempos... Como se diz aqui?... Um encontro de almas... Acho que Rony e Mione também são...
- Bem mais tempestuosos, não é? – Gina sorriu de verdade.
- Sim. Como ela está? Vai trabalhar até quando?
- Você conhece Hermione. Na gravidez dos gêmeos, ela trabalhou até o oitavo mês. Quando Tuor nasceu também. Dessa vez não seria diferente.
- Eu também trabalharia, se Harry não ficasse tão preocupado e eu não quisesse estar à disposição de Elanor pelo menos um ano. Demoramos muito a conseguir essa baixinha aqui. Cheguei a pensar que nunca engravidaria.
- Lembro quando Tuor nasceu. Você ficou chateada. Mas aí está a princesa de vocês. Por isso Harry se preocupa tanto. – Elenna assentiu.
- Sua mãe ficou com o Tuor?
- Ficou. Ele é muito pequeno ainda. A gente não ia ter sossego com um bebê, uma criancinha de dois anos e dois pestinhas! E Siegfried está aí. Você sabe como ele é louco pelo afilhado.
- Sig? Por que não o trouxeram?
- Nós convidamos, mas é uma visita rápida. A Federação precisa de algumas informações do Ministério inglês e ele veio procurar papai. Antes do final da tarde, resolve tudo e volta para Estocolmo. – Elenna não notou traço de decepção. "Ela não me olha nos olhos e evita que eu a toque. O que tenta esconder?" – Você quer que eu arrume o carrinho? – a bruxa perguntou, vendo Elanor dormindo nos braços da mãe.
- Por favor. Acho que podemos ir, não é mesmo?
- Trapobelo, aí vamos nós! – Gina apressou-se a aumentar o carrinho e enfeitiçá-lo para flutuar a alguns centímetros do chão para não trepidar. Elenna acomodou a filha e a ruiva o empurrava pela rua.
As duas perambularam Beco abaixo. Entraram na Poções e Encantamentos e encomendaram unhas de dragão, pele de claberto e muco de verme-cego para uma receita expectorante da Sra. Weasley. Cumprimentaram o Sr. Olivaras na porta do Gringotes, conversando animado com Dóris Crockford.
Passando de relance por uma vitrine, vislumbraram um quadro onde Morgana flutuava com luzes violetas por toda sua volta, Gawen montado numa vassoura perseguindo a irmã e três homens – um ruivo, um bigodudo e um moreno – tentando fazê-los se comportar. Conseguiram não ser vistas, apesar das gargalhadas.
Conversavam amenidades. De vez em quando, surgiam períodos de um silêncio pesado, que gritava nos ouvidos de Gina. Não gostava dessa sensação, e não deveria sentir esse desconforto na presença de uma amiga, certo?
Elenna procurava transpor a barreira de Gina, mas ela se esquivava de toda tentativa. A meio-elfo forçou-se a permanecer longe de assuntos espinhosos, até que chegaram a Trapobelo e puseram-se a experimentar vestes da última moda.
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- Você está demente. – a voz de Draco denunciava a irritação e o tédio crescente desde que saíram da pensão. – Nós dois definitivamente não conseguiremos lutar contra três aurores treinados. Qual a utilidade dessa idiotice?
- Onde você está vendo 'três' aurores, Malfoy? – a acompanhante sibilou. – Tem medo de Potter agora, é? – ela provocou, mas Draco nem ouviu.
Eles haviam seguido os Potter e Weasley por todo o Beco Diagonal, escondendo-se atrás de barris de olhos de libélula e fígado de grifo, entrando em lojas de corujas ou fingindo olhar vitrines. Draco fazia questão de utilizar todo o seu mau- -humor e caminhava um pouco atrás da mulher uma cabeça menor que ele. Seu coração descompassou ao descobrir que esperavam que ele espionasse e, pior, se opusesse a Virgínia.
- Droga! Malditos imbecis! Vadia! – ele murmurava, encostado na loja em frente à Sorveteria, esperando o grupo descansar. De onde estava, o bruxo podia ver o olhar vazio dela. "Virgínia... Será que você me perdoará um dia?"
- Olhe o respeito! – a mulher protestou. – Vê? Os dois saíram.
- Vamos atrás deles. – acendeu-se nele a esperança de que a contenda fosse apenas com Potter e Weasley.
- Não. – ela respondeu de má-vontade. – As duas vacas vão demorar muito? Merda!
- Olhe o respeito. – Draco a imitou, a voz fria como a morte. "Como ela ousa?"
- Cale a boca! – ela levantou o rosto para encará-lo, logo desviando o foco ao deparar-se com o olhar fulminante do loiro.
"Tenho que impedí-la. Essa maluca certamente tentará fazer alguma coisa com a Elfa. Virgínia tentará lutar. E essa desequilibrada não se furtaria a usar uma Crucio ou uma Avada Kedavra."
Acompanhar as mulheres mostrou-se complicado. As duas paravam a toda hora para olhar vitrines, entravam nas lojas e conversavam com conhecidos. Draco até reconheceu os donos de uma agência de turismo como dois ex-alunos da Grifinória. Temia que a qualquer momento fosse visto.
"Ainda não decidi se isso seria ruim. Ao menos não teria que me preocupar com ela. E essa insana não pára de agir como criminosa." observou consigo, vendo a maneira suspeita da mulher ao seu lado locomover-se, olhando para todos os lados, com o capuz para ajudar.
Quando elas entraram na Trapobelo, ele sentou-se na calçada ao lado, deixando a outra averiguar pela porta. Voltou apressada.
- Ou agimos agora ou desistimos!
- Fico satisfeito com a segunda opção. – Draco arrastava a voz, num tédio infinito. Nem dignou-se a olhá-la para responder.
- Faça como quiser, seu desgraçado! – ela perdeu, finalmente, a paciência, mas continuou sibilando. – Não venha dizer que não o avisei! – ela girou nos calcanhares e entrou na loja.
Draco apertou os olhos com as mãos, tentando decidir o que fazer. Subitamente pôs-se de pé. Ouvira um choro de criança.
"Oh, Merlin! A estúpida está atacando o bebê!"
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As duas bruxas de meia-idade que atendiam na Trapobelo ficaram encantadas com Elanor. A nenê entretinha-se fácil, balançando os bracinhos e piscando os enormes olhos verdes. Elenna observou-as fazendo gracejos para a filha e só a deixou aos cuidados delas por perceber que eram confiáveis. Dirigiu-se para o interior da loja com Gina. Estava preocupada com a amiga e aproveitaria a oportunidade de conversar com ela a sós.
O que a meio-elfo não percebeu é que atrás dela surgiram mais quatro freguesas que distraíram as vendedoras por um minuto. Quando Loreena, a mais nova, deu por si, o carrinho havia desaparecido. "A mãe deve tê-la levado." pensou, voltando sua atenção para a bruxinha que exigia vestes mais curtas para uma festa.
Elanor estava quieta no carrinho, brincando com o cordão de prata que o pai lhe dera. Ela ficava horas admirando o jogo de cores que acontecia quando a luz passava pelo líquido transparente dentro do pingente. De vez em quando erguia-o para ver melhor. Foi assim que a mulher à porta viu o que procurava.
- Mais que providencial. – disse ela baixo, aproximando-se do carrinho. – Você aqui, sozinha. Que mãe desnaturada! Se 'eu' fosse sua mãe, você não sairia das minhas vistas, ainda mais com um tesouro tão raro. – Elanor viu um rosto contorcido em desprezo e ela não estava acostumada com isso. As pessoas que vira até aquele momento eram risonhas e brincavam com ela. A nenê se encolheu.
A mulher atraiu o carrinho para a entrada da loja com um feitiço convocatório, fora do campo visual das vendedoras. Elanor, ao não ouvir mais a voz da mãe, começou a chorar. A bruxa se descontrolou.
- Silêncio! – ela tapou a boca da nenê enquanto lutava para pegar o cordão. – AAAHH!!! Está queimando! – ela gritou quando tinha o pingente entre os dedos. "Não acredito que vou ter que levar esse trambolho!"
A ação durou menos de trinta segundos. Nesse espaço de tempo, Elenna e Gina vieram do fundo da loja, atendendo ao choro de Elanor; e Draco aparecia às suas costas. Rapidamente, ela pegou a nenê nos braços e virou-se para sair.
- Parado! – ela ouviu de dentro da loja a voz de Elenna. – Vire-se e devolva a criança. – quando a face da raptora tornou-se reconhecível, a meio-elfo engasgou. – Você...!
- Solte-a. Solte-a agora. – Draco sibilava, olhando com pesar para os olhos arregalados de Virgínia.
Tanto Elenna quanto Gina ficaram sem reação, olhando a dupla com Elanor.
- O que você está fazendo, Chang? – Elenna perguntou, dando um passo à frente. As outras ocupantes da loja esconderam-se atrás das aurores. – Você quer a mim. Solte-a e leve-me.
- Nem mais um passo ou este estorvo morre.
- Você a está sufocando. – Gina alertou, vendo a coloração vermelha da nenê.
Cho Chang olhou para Elanor e destapou a boca da criança. Imediatamente ouviu-se um berro.
- Quieta! – ela estapeou a nenê, que chorou mais alto. Elenna andou mais um passo. Gina a segurou pelo braço. Draco viu desespero e fúria nela. Pela primeira vez, sentiu pena da Elfa. Tirou a varinha da mão de Chang e apontou-a para Elanor.
- Tranquilum. – exclamou, depois de olhar para a ruiva. A nenê calou-se e fechou os olhos, mergulhando num sono pesado. Então, direcionou a varinha para Chang. Ela gargalhou.
- Vamos lá, Malfoy!... Minha varinha não funciona contra mim. – ele duvidou e tentou atingi-la com um feitiço paralisante. – Não fez nem cócegas! E agora vamos sair daqui. – e saiu correndo, Draco em seu encalço.
Um segundo depois, uma tigresa prateada e uma raposa vermelha pulavam de dentro da loja, perseguindo os dois. Como animais corriam mais, entretanto, tinham que desviar dos transeuntes do mesmo jeito (bruxos não se impressionavam tanto com animais selvagens. Na verdade, alguns comerciantes jogaram redes enfeitiçadas nelas. Pêlo de raposa vale muito, sem contar a pele rara da tigresa.).
Chang e Draco tiveram sorte de encontrar uma viela escura, e estarem em ótima forma para conseguir correr de dois predadores. Respiraram fundo e desaparataram. Elenna ainda pôde vê-los se esvaindo, levando sua filha.
Continua...
