Capítulo 5: Anjos caídos
O Beco Diagonal nunca estivera tão cheio de aurores como naquela tarde. Nem na época de Voldemort viu-se tantas figuras com o distintivo do ministério ou da Federação perambulando, averiguando, questionando, examinando e rastreando.
Num canto da agência de intercâmbio bruxo dos Srs. Finnigan e Thomas, dois homens extremamente parecidos consolavam a Elfa. Assim que Harry chegou, Elenna atirou-se nos braços dele e não disse uma palavra. Timoth juntou-se a eles, mas não havia realmente o que dizer. Então ele ficou calado.
- Sshhh... Pronto, meu amor. Eu estou aqui com você. – Harry consolava baixinho, passando a mão pelos cabelos longos dela, sabendo que era o tom e não o conteúdo das palavras que chegariam à sua consciência. – Vai ficar tudo bem... Sshhh... Nós vamos encontrá-la... – mas ele mesmo tinha lágrimas nos olhos.
Sirius e Ângela surgiram no balcão, chamando-o com um sinal. Cuidadosamente, ele tirou-a do abraço.
- Fique um instante com Tim, ok? Eu já volto. – e entregou-a ao pai.
- Nenhuma pista, Harry. – Sirius informou. – Eles aparataram e desaparataram várias vezes. Não dá para saber onde ela está.
- Imaginava isso. – o jovem passou a mão pelos cabelos, nervoso. – Ainda não acredito que tenha acontecido. Pensei que esse pesadelo tivesse acabado.
- Harry, nós vamos encontrá-los. – o padrinho segurou-o pelos ombros. – Confie. Eles não podem desaparecer como fumaça.
- É a minha filha, Sirius. – murmurou Harry, evitando olhar o outro. - Não é um auror ou um bruxo adulto. É uma criança de seis meses... A minha princesa...
- Eu sei. – Sirius abraçou o afilhado. – Mas ela é 'sua' filha; e filha de Elenna. Ela é forte. E não vamos demorar a resgatá-la.
- Como Elenna está? – Ângela perguntou, apontando a amiga.
- Em choque. – Harry respondeu, saindo do abraço. – Não diz uma palavra desde que Rony e eu as encontramos.
- É melhor levá-la para casa.
- Já tentei, Ângela. Timoth tentou. Ela não quer. Pedi a Snape que trouxesse uma poção calmante. Ele deve estar chegando.
- Enviei mensagens à Irlanda. Hannah e Fabian começarão uma investigação lá e na Escócia. Siegfried mobilizou os aurores da Federação.
- É o primeiro ataque desde o fim da guerra. – Sirius dizia, procurando argumentos para encorajar. – Se os detivermos agora, com força total, não terão tempo de se reerguer. Eles não estão organizados.
- Estão sim. – Harry contradisse. – Se os rastreadores de Remo não conseguiram localizar Chang e Malfoy, eles estão organizados. Mas nós precisamos encontrá-los. – ele engoliu em seco. – Simplesmente precisamos.
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De Hartswood, subúrbio de Londres, para Cirencester. Chave de portal em forma de meia suja em uma lavanderia para Lincoln. Pó de flú para Oxford. Chave em forma de lista telefônica para Bristol. Portsmouth. De lá para a França: Calais, Lens, Reims, Chartres, Orleans, Versalles, Lisieux, Cherbourg. De volta para a Grã-Bretanha: Plymouth. Pó de flú numa casa abandonada para Nottingham.
A partir daí, Draco não foi mais informado das cidades usadas para despistar os rastreadores do ministério.
Foram necessárias sete horas para que Chang se sentisse segura. "Pode ser porque ela esteja exausta.", ponderou ao ver a bruxa atirar-se numa poltrona da aconchegante sala. Ela deixou a criança cair displicentemente no sofá à sua frente. Elanor fez um barulho mole e abafado e choramingou um pouco.
"Ela deve estar com fome e tonta com o feitiço.", ele pensou, sentando ao lado da nenê, não lhe lançando senão um olhar indiferente.
- Por que você a trouxe? – indagou à mulher, enquanto examinava a sala. Nada extraordinário: sofás, aparadores, a lareira por onde entraram, uma porta de vidro abrindo-se para o jardim. Notou os retratos. Apareciam orientais em todos e ele deduziu que fosse a casa dela. Estava tudo empoeirado. – Por que você a trouxe? – repetiu lenta e venenosamente. Detestava ser ignorado.
Chang suspirou, parecendo não estar a fim de conversa. Revirou os olhos e encarou o bruxo.
- Eu me queimei ao tocar o pingente. Não consegui pegá-lo.
- Agora todos os malditos aurores do país estarão no nosso encalço. Certamente você pensou nisso, não é mesmo, Comensal da Morte?! – ele arrastou as sílabas das últimas palavras.
- Os panacas demorarão pelo menos 24 horas para encontrar este lugar.
- Se eu fosse você não confiaria. Todos devem saber onde a família Chang morava. Potter não é nenhum débil. Você está com a filha dele.
- Eu disse que eles encontrarão o lugar, mas nós não estaremos aqui.
Elanor moveu as pernas e choramingou novamente.
- Ela morrerá se não for alimentada.
- O estorvo, você quer dizer? – a voz dela adquiriu um tom sarcástico que fez o sangue de Draco subir. – Desde quando você se importa?
- E ouvi que você era inteligente. Francamente... Se a menina morrer, como você vai transportar o tal pingente?
Chang repuxou um canto da boca, à guisa de sorriso.
- Ela não vai morrer. Pelo menos por enquanto. Tenho uma idéia de como Lúcio pode utilizá-la. – ela explicou. Levantou-se e acrescentou, antes de desaparecer: - Vou me recompor. Não adianta tentar fugir. Há anos só eu entro e saio desta casa. E eu ainda estou com a sua varinha.
Logo que ela desapareceu, Draco rodeou o aposento e os demais do andar térreo, buscando uma brecha. Todas as possíveis saídas tinham feitiços Aniquiladores e Trancadores.
Ele ouviu um choro fraco e aproximou-se para avaliar o bebê. "Por que ela não conseguiu tocar no pingente? Algum feitiço anti-roubo ou protetor... Como eles podem usar crianças?", pensava, "Não devo esquecer que um dia também não me importei. Virgínia me fez ver que não valia à pena... Ela viu. Será que me perdoará?"
Elanor abriu os intensos olhos verdes, fazendo o cérebro de Draco trazer Harry Potter à tona. Ela moveu-se chorosa e encarou o adulto. Ele estendeu a mão e a tocou. Estava fria.
"Deve ter perdido energia nessa aparatação em cadeia. Se eu sinto-me cansado..."
- Verei se arrumo algum alimento para você, pequena. – ele surpreendeu-se num tom carinhoso para a nenê que nem conhecia. Mas os olhos dela... Tinham um calor... Ele se viu tirando a capa e cobrindo-a.
Examinou a cozinha, que ficava ao lado da sala, descobrindo que Chang deveria morar ali a maior parte do tempo, apesar de tudo parecer abandonado, pois os armários estavam abastecidos. Encontrou leite e pão velho. Esquentou o leite e levou com o pão de volta. Tentou molhar o pão e dá-lo para ela, mas Elanor engasgava. A solução foi Draco pegá-la no colo. Ela se aquecia à medida que chupava o leite do pão e aninhava-se mais a ele.
A nenê causava uma sensação estranha. Não conseguia largá-la ou parar de preocupar-se com ela. Era como se ele fosse agora responsável pela filha da Elfa. O mais estranho, na opinião de Draco, era ele não se importar com isso. Aceitou de bom grado cuidar de quem sorria daquele jeito para ele, tentando alcançar seus cabelos, que caíam abaixo da orelha.
- Eu disse que ela não morreria. – Chang olhava divertida a cena do loiro ninando a criança. – Se você não descansou perdeu a chance. Temos que partir. Venha e, já que está tão íntimo, traga-a. Não suporto sequer chegar perto.
- Por que? Ela te faz lembrar que você poderia ser mãe dos filhos dele? – ele provocou. A bruxa fingiu não ouvir. Atravessou a sala e jogou pó de flú na lareira. Draco seguiu-a, apertando Elanor contra o peito.
Continua...
N/A: Queria agradecer a todos quem têm enviado comentários! É muito gratificante saber que tem gente lendo e curtindo toda essa maluquice aqui... rsrsrs!!! E, se tem alguém que não mandou e-mail, ta esperando o que?... Não percam o próximo capítulo, hein!!
