Capítulo 6:                            Na virada da maré

O diminuto escritório do segundo andar da residência dos Potter precisaria ser, no mínimo, três metros maior para comportar as pessoas que se apertavam lá dentro. Um tronquilho teria dificuldade de mover-se ali, com gente sentada até nas janelas. Eram alguns dos amigos que tomavam parte no resgate da filha de Elenna e Harry. Já fazia três dias que ela desaparecera. Eles encontravam os esconderijos usados pelos seqüestradores vazios. Às vezes, com minutos de atraso.

Remo e Fabian perceberam a existência de uma regularidade e um limite nos esconderijos. Por isso, da última vez quase os alcançaram. A fogueira na clareira ao norte de Alba estava quente e a comida fora deixada para trás.

Os pais ficavam particularmente aliviados quando encontravam algum pão úmido de leite ou metade de uma fruta amassada. Sabiam, ao tocá-los, que a filha estava viva.

Harry e Elenna não dormiam desde o seqüestro. Na verdade, nenhum dos envolvidos descansava muito. Após o susto, iniciaram um processo de investigação sistemática que estava deixando todos cansados e irritadiços. Sirius, vendo a bomba prestes a estourar, propôs ouvirem a teoria dos aurores da Federação.

- Eles têm um círculo de lugares que podem usar. – Remo explicava didaticamente. – Fabian e eu observamos que quando estão na França, por exemplo, seguem a mesma escala de cidades. Como uma espécie de arco indo de norte a sul, e vice-versa. – Um mapa, que os trouxas chamariam holográfico (inventado por Elenna a partir da caixa musical), surgiu no meio da platéia.

- Na Grã-Bretanha, a freqüência é mais incerta. – continuou Fabian. – Ainda não descobrimos uma lógica.

- Talvez ela não exista, Fastred. – dardejou Harry. Ele estava uma pilha há horas. Tinha certeza que os pegaria na floresta.

- Harry, querido, vamos ouvir. – pediu a Sra. Weasley, sentada ao lado do rapaz.

- A boa notícia – Fabian não deu importância à interrupção. – é que a Federação mobilizou equipes para essas cidades. Siegfried enviou-me uma mensagem. Se eles não estiverem lá, estarão aqui e não vemos como poderão escapar da Inglaterra.

- É uma questão de tempo, então? Estão presos dentro da própria teia?

- Sim, Rony. Precisamos apenas estar atentos. – Sirius começou a expor seu plano. – Podemos colocar duplas nos locais certos e esp... – um burburinho no corredor o interrompeu. Ele franziu a testa. Era Dobby.

- Senhor não pode entrar. Senhor não bem-vindo. Meste Potter não gosta. – ele guinchava com dificuldade, tentando segurar algo, ou alguém.

- Parem os dois, senhores. Não devem invadir a casa de gente decente. – Winky protestou, a voz trêmula.

Hermione abriu a porta.

- Não acredito! – os olhos abriram-se de espanto e as mãos taparam a boca. Ouviram passos apressados.

Todos levantaram e saíram apressados. Pararam abruptamente no quarto de Elanor e sacaram as varinhas. Os elfos domésticos se abaixaram, esgueirando-se para fora.

Os grupos antagônicos analisaram-se. Tinham aparências terríveis: olheiras fundas, olhos vermelhos e brilhantes, palidez, lábios crispados e visivelmente precisavam de uma refeição.

Em toda a cena, o que chamou a atenção de Elenna foi a reação de Gina. Ela não tirava os olhos de Malfoy. O aspecto dele era o pior ali, exceto o dela própria e de Harry. Mas não era motivo para a atenção excessiva, era? "Cuidarei disso no devido tempo" decidiu, voltando a observar o fardo que o bruxo trazia nos braços.

- O que significa isso? – perguntou Harry ao lado dela, apontando a varinha para Chang. A bruxa mirava todos com superioridade e desdém. – Vocês não têm autorização para entrar nesta casa.

- Cale a boca, Potter! – Draco exclamou na voz de tédio habitual. – Você não moveu céus e terras para nos encontrar? Pois bem, aqui estamos.

- Duvido que vocês tenham vindo em rendição, Malfoy. – Timoth devolveu na mesma voz fria. – Isso é mais um truque.

Elanor começou a se mexer nos braços de Draco. Elenna deu um passo, engolindo em seco. A nenê tentava pegar os cabelos do bruxo, como acostumara-se a fazer.

- Agora não, pequena. – ele murmurou, olhando para ela. Os olhos de Gina brilharam. Aos outros, a demonstração de afeto não surtiu efeito, ou antes causou desconfiança. Draco pareceu não se importar. – Você não queria sua preciosa 'filhinha'? Aqui a tem. – disse lentamente, encarando Harry em desafio.

- Seu traidor miserável! – Chang sibilou, apertando a varinha que mantinha nas costas de Draco desde que atravessara a lareira.

Quem se adiantou foi Elenna. Em dois passos alcançou Malfoy e arrebatou a filha.

Sem que a meio-elfo tivesse chance de reagir, a bruxa arrancou Elanor dos seus braços, puxou o cordão de prata, reprimindo um urro de dor. Em seguida, apontou a varinha para a nenê e a lançou janela à fora. Sem hesitar, Timoth pulou atrás da neta.

- NÃO!! – Harry gritou, lembrando-se do sonho que tivera em Hogwarts, num distante Dia dos Namorados: Chang e Malfoy arrancando a filha da mãe.

A confusão que se seguiu permitiu a Cho Chang escapar do quarto e, empurrando os elfos escada abaixo, desaparecer pela lareira. Alguns se jogaram em cima de Draco, imobilizando-o no chão ("Será que os idiotas não perceberam que estou desarmado?"). Outros correram para a janela e viram Tim planando com a nenê, a mão espalmada com os anéis de 'mithril', a prata verdadeira dos Elfos, pousando suavemente e entrando na casa.

Antes de correr para a filha, Elenna, recuperando o autocontrole, virou-se para o amontoado de homens que mantinham Malfoy preso. Ele sangrava pelo nariz e por uma fenda na testa.

- Harry, Sirius, Fabian, Rony, Remo. Por favor, deixem alguém limpá-lo e levem-no para a cozinha. – Quando eles fizeram caras de dúvida, ela sorriu e procurou pelo aposento. – Gina pode fazer isso. Ela tem curso de socorro emergencial, não?

N/A: A caixa musical é uma invenção que aparece na fic anterior. Para resumir seu funcionamento: é uma espécie de penseira que guarda as lembranças de apresentações musicais que Elenna já presenciou. As imagens aparecem como um cinema em 3D.

No próximo capítulo, algumas explicações para toda essa confusão.