Música: Metal Contra as Nuvens – Legião Urbana
As semanas passavam lentas em Avalon. Em poucos dias, as três estavam integradas à vida na Ilha Sagrada, onde cada um tinha tarefas a executar para a continuidade da comunidade.
Fiavam, cerziam, aparavam as cercas-vivas, colhiam frutas, pegavam água no poço e, o mais importante, assistiam às aulas. Algumas vezes, recorriam às varinhas para realizar esses pequenos trabalhos, mas na maior parte do tempo preferiam mexer os corpos.
Demorava anos para tornar-se sacerdotisa ou druida. Anos de trabalho duro e dedicação. Era um ensino diferente de Hogwarts. Não haviam livros ou professores renomados. Ali aprendia-se pelo exemplo e pela vontade, em interação com as forças da Grande Deusa.
Elas não teriam os crescentes tatuados na testa, mas Dian achava que seria bom que alguns bruxos vissem o trabalho feito em Avalon e conhecimento era sempre útil.
Os homens sim, estavam passando por um treinamento intensivo.
Oengus era um homem alto e magro, cujos cabelos trançados eram totalmente brancos e a barba onde amarrava tiras pretas chegava à cintura. Seus olhos negros eram espertos e ele não perdia nada do que acontecia à sua volta. Draco achava que ele não tomava banho com freqüência, mas guardou essa impressão.
Exigia disciplina de seus alunos, impondo-lhes um ritmo exaustivo de aprendizado. Os jovens druidas diziam que era o mais rigoroso líder desde muitos séculos.
"Que sorte tivemos, não?!" Rony pensava enquanto tentava prestar atenção às arengas de Oengus sobre Astrologia.
Harry estava inquieto. Comunicara-se com Elenna algumas vezes durante a noite, falando sobre as coisas que vinha descobrindo, mas queria estar ao lado dela, pois sentia que ela não estava tranqüila.
Uma vez, levaram-no a uma caverna e lhe mostraram dezenas de pergaminhos de pele de carneiro conservados em vidros lacrados com cera de abelha. Abrindo alguns ele viu mapas de terras desaparecidas e uma escrita que assemelhava-se à que vira nos livros da esposa.
Ficou particularmente agitado quando ela lhe contou que Elanor dissera a primeira palavra.
- Até para alguém com sangue élfico ela foi apressada, querido. – Elenna dizia em seu corpo diáfano, caminhando com ele no Círculo Sagrado à luz das estrelas. – Ela apontou para você quando o vimos de relance esta tarde e murmurou 'papai'.
- Será que Oengus me deixaria vê-la? – ele perguntou, ansioso.
- Oengus talvez permita, mas Dian não. Ela ficou furiosa quando descobriu que você e Rony tinham ultrapassado os limites. – Elenna sorriu para acalmá-lo. – Logo acabará.
Mas não acabava. Se havia uma coisa que deixava Harry Potter furioso, era proibi-lo de agir. E, afinal de contas, que mal faria ver a filha e a mulher?
Com esse pensamento, ele vagueou pelo bosque de carvalho e freixo. Distanciou-se de propósito de Rony, que nesse dia tinha descoberto o envolvimento de Draco e Gina e praguejava sem parar, tentando imaginar mil maneiras de acabar com o loiro atrevido.
Deliberadamente, deixou-se invadir o território das sacerdotisas, saindo perto do caminho para o Poço Sagrado. Estava pensando em como encontraria Elenna quando ouviu um barulho. Rápido, escondeu-se nos arbustos de bétulas na saída do bosque.
Imediatamente, dois vultos passaram correndo e ele reconheceu um deles porque, em toda Avalon, só havia um loiro.
Malfoy empunhava a varinha e ameaçava um homem que vestia a túnica azul dos druidas. Gritava com ele, até que ambos pararam e o estranho voltou-se. Arregalou os olhos ao ver Harry saindo dos arbustos e aproximando-se do outro.
"O que você está fazendo aqui?" transmitiu.
- Brincando de casinha, Potter! – Malfoy estava furioso, apontando a varinha para o homem. – Vim procurar Gina e tentar fugir do seu amiguinho chato quando vi esse sujeito saindo de uma cabana com uma trouxa.
- E isso é motivo para persegui-lo? Ele nem deve entender o que você diz.
- Você é um idiota crédulo. Olhe para a trouxa!
Harry apertou os olhos e conseguiu ver. Aguçou os sentidos e teve certeza. Remexeu no bolso e puxou a varinha. Draco riu.
- Finalmente. – disse, sarcástico.
- Solte-a. – Harry nem ouviu a provocação. A varinha tremia em sua mão.
- Um movimento e eu tornarei seu pesadelo realidade, garoto. – ameaçou o outro, com a voz fria. Harry reconheceu um dos alunos de Oengus, mas custava a acreditar.
- É uma transfiguração. – decidiu, mostrando para Draco em sua mente o que descobrira na mente do outro. – Ele é um impostor.
- Pelo menos para alguma coisa serviu o seu caso com a Elfa, hein?! O que vamos fazer?
- Derrotá-lo. – falou simplesmente, procurando esconder o medo que sentia.
A ação foi rápida, mas eles pouco se lembraram dela por dias. Feitiços foram lançados, facas foram puxadas, hematomas infligidos, sangue derramado.
Foi uma luta feroz porque, quando as mulheres chegaram, o aprendiz estava morto, Draco desacordado e Harry estava visivelmente em choque, com os braços e as vestes encharcados de sangue.
Mais tarde, Draco disse recordar-se de que Harry atacara o estudante e ele.
Harry não se lembrava de nada. Ficou perturbado quando Elenna encarou-o por longo tempo, baixou os olhos e afastou-se sem dizer nada.
Dian e Oengus declararam que o caso seria julgado tão logo terminasse a festa de iniciação.
O bruxo sabia que sua falta fora imperdoável e não encontrava defesa. Achou profundamente constrangedor ter as serpentes tatuadas em seus pulsos, mas Oengus dissera que ele tinha o direito, mesmo que fosse morrer no dia seguinte.
Na realidade, estava proibido do convívio com os outros rapazes e eles estavam proibidos de lhe dirigir a palavra. Rony falava com ele à escondidas e Malfoy, na manhã da festa, aproximou-se para dizer que não entendera nada, mas tinha a impressão de que algo estava errado.
Harry cometera um erro terrível. Sabia que ia morrer. Havia matado um candidato a druida e, tão logo os rituais de iniciação terminassem, ele teria uma morte cruel.
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A festa durou toda noite e o dia seguinte. Todos os sacerdotes da Antiga Religião, os hóspedes e os habitantes das ilhotas de Avalon dançavam, cantavam, bebiam e se divertiam. Toda iniciação era uma celebração porque significava que mais um soldado entrava nas fileiras dos mistérios milenares das florestas sagradas de carvalho e freixo e do Poço Sagrado. Significava que a magia dos Círculos de Pedra não estava definitivamente afogada nas brumas.
Os nove rapazes eram o centro de onde a energia emanava em ondas, desde o cume do Tor, banhando toda a terra e a água. Ficaram seis semanas tendo exclusivamente a companhia dos druidas. Depois de terem as serpentes tatuadas nos pulsos na Ilha do Dragão, eles foram levados ao Círculo para ouvir histórias de glórias passadas.
Pela primeira vez, Rony e Draco tinham a mesma opinião sobre algum assunto, embora o loiro não a tenha exposto, como fez o ruivo.
- Bem, eu sei que isso deve ser importante, - ele sussurrou, olhando em volta para as pessoas pulando em volta das fogueiras. – me sinto lisonjeado e tudo mais; mas não vejo a utilidade prática.
Draco, que estava sentado do outro lado de Harry, ofereceu seu sorriso de desdém habitual.
- Por que não estou admirado com sua confissão, Weasley? Com a subnutrição por falta de comida, seu cérebro devia ter se atrofiado.
- Você não pensa a mesma coisa quando se agarra com a minha irmã, Malfoy! – Rony ainda não engolira o romance dos dois.
- Se não pararem, eu levanto e deixo vocês se matarem. – Harry sibilou. – Precisamos mostrar respeito, Rony. Eles estão nos ajudando da melhor maneira que conhecem. Não estamos em condições de rejeitar.
- Se ao menos os 'Malfoy' não fossem tão estúpidos, eu não precisaria usar essas serpentes azuis estranhas!
- Eu gostei delas. – Hermione falou, chegando por trás das cadeiras deles, junto com Gina e Elenna. Estavam vestidas de branco, com guirlandas de flores e canecas de bebida aromática. À luz do fogo, assemelhavam-se a espíritos calorosos. Pareciam imponentes e ardentes. – Você fica um charme tatuado, Ronald Weasley! – a cara dele ficou da cor dos cabelos.
- Trouxemos isso. – Gina estendeu a caneca para o namorado. – As sacerdotisas explicaram que faz parte da cerimônia. Para liberar os sentidos.
- Parece que eles estão hipnotizados, garotas. – Elenna sorriu, ao notar as idênticas expressões abobalhadas deles. – Nós não estamos tão irresistíveis assim, estamos?
- Vocês não precisam mais ficar sentados. – Mione explicou, puxando Rony. - Podem andar por aí. Vem, Rony. Tem umas pessoas que você precisa conhecer. – e saiu arrastando o marido.
- Virgínia, você vem comigo. – Draco ergueu-se e pegou a ruiva no colo. Ela riu envergonhada ("Draco, me ponha no chão! Agora!"). – E não se atreva a reclamar. – sumiram
- Elenna, eu... – Harry aproximou-se com cautela. Não sabia se isso era uma trégua.
- Não, Harry. – ela recuou. - Estou aqui para auxiliá-lo durante as cerimônias, mas ainda não é o momento de perdoar.
- Me deixe explicar! – tentou controlar a raiva na voz. "Nem você me ouve?"
- Gostou das serpentes? – ela apontou as tatuagens.
- Não mude de assunto, Elenna.
- Você não entende, não é? – estava cansada de explicar. – Não posso perdoá-lo. Você violou solo sagrado. Agrediu um druida... Talvez seja melhor eu chamar uma sacerdotisa para servi-lo.
- Nós brigamos demais. – ele disse, encarando-a para ver a reação surpresa dela. - Demais para o meu gosto.
- Sim. E as brigas estão piores a cada dia, pelos motivos errados.
- Você... você não me ama mais? – ela notou uma dose grande de temor na pergunta.
- Há um certo tempo você não teria dúvidas. – uma imitação de sorriso formou-se em seus lábios.
- Então por que não me deixa...? Você sabe o que mais quero nesse momento, sei que você quer também. Passamos todas essas semanas sem nos falar, sem nos ver. Quero você nos meus braços.
- Sim. Como eu desejo estar sentindo o seu cheiro e ouvindo seu coração, seus planos, suas provocações! Você está aqui, Harry. – bateu com o punho no meio do peito.
- Elenna...
- Mas eu só cederei quando puder perdoá-lo. Se você quiser a minha companhia terá que aceitar.
- Traga uma sacerdotisa. – ele a enfrentou. De nenhuma forma manteria a sanidade tendo-a por perto naquela ocasião. – Traga qualquer uma. – respondeu dando-lhe as costas e caminhando para a fogueira.
N/A: Eu queria apenas agradecer ao Paulinho, ao Heron e à Ju por terem escrito e-mails tão gentis sobre a fic. Sem eles, eu estaria com bem menos entusiasmo para escrever. À Samhain pela exigência de atualizações. (.. rsrsrs!!) E também à Sabrina e à Vanessa, amigas de sempre. Beijos, muitos beijos, pessoal!!
Próximos capítulos bastante românticos, para não perder o hábito... rsrsrs!!!
