Tol Eressëa era a ilha onde se refugiaram os Elfos que retornaram das Terras Mortais. Ficava ao sul do litoral de Valinor, abaixo da cidade élfica de Tirion, porta de entrada para o Reino Abençoado.
As construções lembravam a Harry a cidade branca onde vira a mãe de Elenna, mas eram mais antigas e muito mais belas ao olhar. E o poder que ele sentia vindo da ilha o fez recuar da proa para o lado da esposa.
O porto estava apinhado de gente curiosa para ver o desembarque de tripulantes tão incomuns. Quando o navio cisne lançou âncora na baía, os bruxos puderam captar os olhos penetrantes, as mentes ágeis e os rostos mais belos e espantosos que poderiam conceber. Se acreditassem em céu, estariam em presença de anjos. Terríveis e maravilhosos anjos.
- Não temam. – disse calmamente Elladan. – Lá estão nosso pai Elrond, a Senhora Galadriel e o Senhor Celeborn.
- E próximo a ele o Senhor dos Elfos de Tirion, Finarfin. – completou Elrohir, e Harry viu uma ruga na testa do parente de Elenna. – Os Valar não se atrasam.
O tom preocupado fez os dedos de Elenna apertarem os de Harry. Elanor mexia-se inquieta em seus braços, querendo ver tudo e voltando-se assustada para os gêmeos.
"Desde a infância desejei vir a este lugar", ela transmitiu ao marido. "Meu coração deveria estar exultando, mas meu espírito antevê uma sombra, querido."
Harry pegou a filha no colo e ela abraçou-lhe o pescoço, escondendo o rosto. Mesmo assim, o bruxo conseguiu passar o braço livre pelos ombros da Elfa.
"Elanor está assustada."
- Elenna, é melhor que desçamos primeiro. – Elrohir falou. – Talvez os planos tenham sido alterados.
- Por favor, esperem nosso retorno e tranqüilizem-se. Vocês estão sob nossa proteção. – Elladan pousou a mão nos ombros deles e afastou-se.
Um bote foi baixado com os gêmeos, enquanto o navio atracava lentamente no cais, guiado pela magia do lugar. Os quatro correram para a amurada e viram o encontro deles com o grupo destacado da multidão, formado por seis Elfos.
- Enfim, parece que não deveríamos ter vindo. – Draco deixou escapar, ao interpretar como censura os gestos duros que recepcionaram os irmãos.
- Ainda não sabemos de nada, Draco. – Elenna retrucou. – É melhor esperar do que tecer teorias.
- Mas não podemos negar, Elenna, que aquilo não são boas-vindas. – Gina apontou para a cena de uma suposta discussão. O grupo destacado parecia ter se dividido: de um lado Galadriel, Elrond e seus filhos; do outro, Finarfin, Celeborn e os outros Senhores Élficos.
A meio-elfo apenas suspirou, voltando-se para o tombadilho. Harry caminhava devagar, consolando a pequena Elanor.
- O que foi, minha princesa?... Não precisa ficar assim... Papai está aqui... Que tal se a gente fosse lá em cima, hein?!
Ele lançou um olhar de dúvida e preocupação para a mulher. Elenna aproximou-se e tentou pegar a filha, mas a menina segurava firme o pescoço do pai.
"Você sabe o que está causando isso?"
- Não, querido. – Harry notou que ela não o encarou ao responder. – Elanor, meu amorzinho, venha com a mamãe... – depois de alguns minutos, a garotinha afrouxou o abraço no pai, para em seguida atirar-se nos braços da mãe.
"Vou tentar fazê-la dormir."
- Ei, Potter. – Harry ia seguindo as duas para a cabine quando Malfoy o alcançou. – Algo errado?
- Você se importa? – o olhar de incredulidade de Harry chegava a ser divertido, pensou Draco. Ele revirou os olhos.
- Não, dei-me ao trabalho de perguntar para fazer o diário de bordo. Francamente, vocês da Grifinória...
- Não estamos mais em Hogwarts, Malfoy. – o moreno cortou, sem paciência para provocações.
O loiro contraiu um lado da boca e um sorriso de desdém formou-se.
- Você não sabe o que há de errado. Gina e eu vimos a cena da pequena.
Harry suspirou, desarmando-se.
- Não, não sei. De repente, ela ficou assustada, paralisada de medo. Elenna vai tentar acalmá-la.
- Também ficamos receosos, Harry. – Gina juntou-se aos dois. – Meu palpite é que nos metemos em algo grande demais.
- Será que conseguiríamos virar esse barco e voltar?
- Você sabe navegar, Malfoy? – o loiro só fitou-o com o olhar vazio. – Pelo jeito, só Elfos conseguem manobrar o navio.
- Como fomos estúpidos! Estamos nas mãos deles agora!
- Sim, Gina. – ele passou as mãos pelos cabelos, nervoso. – Temos que esperar.
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Eles perderam a noção de quanto tempo ficaram esperando. No final, tinham certeza de ter assistido vários pôr e nascer do sol. Gina gravara claramente duas noites repletas de estrelas e constelações estranhas. Draco jurou que foram oito noites, porque se recordava de que os alimentos foram enviados oito vezes para eles. Harry preferiu não contar. Estava impaciente com a inércia, mas os gêmeos haviam mandado mensagens para que eles não saíssem no navio.
Também estava preocupado com o comportamento da filha. Elanor parecia vítima de um feitiço paralisante. Ficava muito quieta nas peles e tinha um terror irracional de ficar sozinha. Chorava e exigia que o pai ou a mãe ficasse com ela. Quando deitava-se com a filha, ela pregava os grandes olhos verdes em seu rosto, como se quisesse decorá-lo.
Elenna nada dizia. Ele suspeitava de que ela soubesse a razão do estado da nenê, mas ela negava-se a conversar sobre o assunto.
O clima no navio não estava dos melhores quando os gêmeos retornaram, numa manhã de céu claro. Vinham acompanhados pelo grupo que os recebera no porto, todos montados em pêlo em palafrins elegantes.
Chamaram os bruxos do cais, que encontrava-se como havia estado durante o tempo em que permaneceram lá: deserto. A voz límpida de Elladan alcançou a cabine e logo surgiram os quatro pares de olhos. O Elfo sorriu brevemente, à guisa de cumprimento.
- Caros amigos, aqui estamos para resolver nossa questão. – fez um gesto para os outros e três se aproximaram: Elrond, Galadriel e Finarfin.
Os viajantes ficaram positivamente impressionados ao observá-los de perto.
Elrond era uma versão mais sábia e poderosa dos gêmeos. Ao mesmo tempo sério e bondoso era seu rosto. Seus olhos brilhavam como uma noite estrelada, seus cabelos longos negros estavam trançados.
Galadriel e Finarfin tinham expressões semelhantes, mas seus cabelos eram dourados e resplandecentes como deve ter sido o Sol nos primeiros dias do mundo, e seus olhos eram de um profundo azul, como as águas de uma lagoa nas montanhas. A pele deles brilhava, emanando uma energia quase insuportável aos olhos humanos.
- Filhos dos Homens, vocês desobedeceram a proibição que pesa sobre sua raça. – Finarfin começou a dizer em élfico e Elenna, ajudada pelos gêmeos, começou uma tradução desajeitada. – Os Mares Divisores não podem ser transpostos por seres mortais.
Elrond olhou-os dentro dos olhos.
- Mas vemos que eles ignoravam essa proibição, Senhor. Foram chamados aqui por meus filhos.
- E você, Elrond, já foi censurado por agir tão levianamente.
- Pai, - Galadriel falou e Elenna, que se interessara por ela desde o primeiro instante, surpreendeu-se com a voz firme e clara de sua ancestral. – nós, Exilados, amamos a Terra, mesmo que agora estejamos distantes. Concordamos em arriscar. Nosso trabalho não pode ser em vão.
- Você, filha do meu sangue, também foi repreendida. Deveriam saber que nada escapa aos Valar.
- Então, Senhor de Tirion, por que não os deixamos partir com as bênçãos dos Poderes de Valinor? Eles vieram em paz.
- Porque existe o preço. Discutimos até a exaustão. A coragem de virem até aqui sem permissão é desesperada e reconheço que merece atenção, mas não podemos dar as costas para as leis que nos regem.
- Eles podem estar dispostos a pagar, meu pai.
Draco e Harry não estavam gostando de ter suas vidas discutidas assim, como se eles não estivessem ali, por isso disseram ao mesmo tempo, em alto e bom som:
- Nós decidiremos se aceitamos ou não.
Gina estava tão embevecida com as vozes melódicas que o som dos dois gritando pareceu vidro arranhado aos seus ouvidos. Elenna tentou consertar a situação:
- Por favor, Senhores, queremos saber quais termos são esses. Ficaria mais fácil decidirmos... Nós poderemos partir livres caso não aceitemos?
- Sim. – respondeu a Elfa. – A arma que querem permanecerá aqui e vocês retornarão em segurança.
- Então, acredito que agora seja hora de sabermos.
- Uma vida em troca de ajuda. – disse o Senhor Elfo da bela Tirion e Elenna traduziu para eles.
Na proa do navio, os mortais ficaram imóveis, fitando com olhares vazios os únicos que poderiam salvá-los.
N/A: Bem, mocinhas e mocinhos, estamos chegando ao final... rs! Sim, este é o penúltimo capítulo da fic. Desculpem a demora em atualizar, mas é que eu estive ocupada demais e com a minha tendinite latejando ultimamente... rs!! Coisas da idade!
Mas, contem-me, como foi ver Valinor? Eu sempre fico preocupada que esteja sendo difícil encaixar Elfos na história de Harry Potter, mas é irresistível. Acho que a maioria de vocês já assistiu aos filmes e deve lembrar-se de um ou outro nome...
Queria agradecer demais à Sabrina, que tem sido uma grande amiga e uma excelente leitora... rsrs! E a Simone, pelo comentário. Valeu garotas!
O próximo pode demorar um pouquinho, mas vai ser curto e direto.
Até lá!
