Sirius acordou tarde, desceu as escadas para tomar o café. Allana ainda estava na cozinha, arrumando a bagunça do dia anterior, enfeitiçando a louça para que se lavasse sozinha. Chegou na ponta dos pés e a abraçou por trás, segurando-a pela cintura. Deu um beijo delicado em seu pescoço.
- Bom dia meu amor! - disse, sorridente.
- Boa tarde, você quer dizer... - implicou.
- Onde estão as crianças? - perguntou, ignorando convenientemente o comentário dela.
- Sua filha finalmente cansou de mamar e me deu um descanso. Está dormindo. Já o seu fi... - ela hesitou mas prosseguiu ao ver que Sirius não tinha se aborrecido. - Seu filho está lá em cima. Emburrado - completou enquanto colocava mel nas panquecas do marido.
- Emburrado? Harry? Por quê? - perguntou, curioso. Ela se sentou ao seu lado enquanto Sirius se deliciava com o café da manhã.
- Ele está chateado. Hoje é o aniversário de um ano de namoro dele. Queria fazer algo especial para Gina, você sabe como são os jovens... - suspirou.
- Harry é romântico. Quem diria? - Sirius riu.
- Eu diria. Ele é igual ao pai dele. Mas é tímido, não deixa transparecer... - Allana deu de ombros e Sirius tomou as mãos dela nas suas.
Ela sorriu, levantou-se e voltou a fazer com que os talheres formassem uma fila na pia. Sirius ergueu as sobrancelhas. Tinha tido uma idéia mas preferiu não comentar com a esposa, para que ela não se preocupasse. Ele engoliu o fim do café e deu um beijo rápido em Allana.
- Eu vou lá falar com ele. O café estava delicioso, obrigado. Já desço para te ajudar com a arrumação do nosso "castelo" minha princesa - ela riu.
- Acho bom, "príncipe encantado". Só não demore ou eu vou acabar te transformando em sapo. Eu não sou um elfo doméstico viu? - ele deu uma gargalhada, e subiu as escadas rapidamente.
Sirius parou em frente à porta do afilhado e sorriu ao ver a plaquinha bruxa escrito "Harry Potter", um bonequinho na vassoura perseguia um mimi-pomo de um lado para o outro. Ele bateu na porta.
- Pode entrar - a voz de Harry soou abafada e monótona. Sirius abriu a porta.- Ah! É você Sirius? - disse, desanimado. O padrinho fechou a porta, certificando-se de que a esposa estava ainda no andar de baixo.
- Prazer em vê-lo também Harry - respondeu, brincando. - Então? É hoje o grande dia? - perguntou, piscando para o afilhado. Harry manteve a expressão desanimada e fez que sim com a cabeça.
- Allana te contou né? Gina me mandou uma coruja, perguntando o que faríamos para comemorar mas eu ainda não tive coragem de responder dizendo que, provavelmente, nada de interessante... - Sirius sacudiu a cabeça e sentou-se na beirada da cama do rapaz.
- Nada passa por mim nessa casa - Harry não conteve o riso. - Pelo visto - emendou - você gostaria de proporcionar algo inesquecível à ela... - Harry deu de ombros. Sabia que não havia grandes opções, ou ia até a casa dela ou vice-versa. Disse apenas o que tinha em mente.
- Eu gostaria de poder levá-la para um passeio. Mas não é muito romântico pegar dois ônibus e o metrô para jantar fora - suspirou. - Eu poderia ir com ela de vassoura - riu. - Mas suponho que expor o mundo bruxo para atender aos meus caprichos românticos esteja fora de cogitação - Sirius sacudiu a cabeça, concordando.
- De fato, não é uma boa idéia. Mas por outro lado... - Harry ergueu a cabeça, estudando a expressão do padrinho. - Eu estou aqui para isso. Dar as grandes idéias – o rapaz franziu a testa e abriu um enorme sorriso quando viu Sirius tirar do bolso uma pequena chave prateada.
- Isso é... O que eu penso que é? - perguntou, hesitante.
- É. É a chave da minha moto voadora. Mas se a Lana souber sua irmã vai ficar órfã. Ela não gostava que eu voasse por aí. Imagina se soubesse que estou emprestando pra você - Harry continuou a sorrir mas estava confuso.
- É perfeito mas você esqueceu que eu não tenho licença para guiar - o padrinho deu uma gargalhada.
- E você acha que eu tenho? - perguntou, divertido. Harry ficou ainda mais confuso. - Harry, isso é um objeto trouxa modificado e, portanto, ilegal - Harry parecia surpreso. - Portanto você não precisa de licença, não seria possível obtê-la. Só precisa disso - entregou um cartão em branco na mão de Harry. O garoto virou os dois lados, examinando-o. Não havia nada escrito.
- O que é isso, Sirius? - o padrinho piscou um olho para ele.
- Uma jogada de mestre. Foi idéia do Remo. É a licença para você dirigir a minha "gracinha" - Harry revirou de novo o pequeno cartão nas mãos, sem compreender.
- Mas não tem nada aqui. Absolutamente nada - Sirius riu.
- Tem certeza? Harry, posso ver a sua licença por favor? - Harry esticou o cartão para o padrinho mas Sirius não a pegou. - Olhe de novo - disse calmamente, com um sorriso satisfeito nos lábios.
Harry arregalou os olhos. Agora, no pequeno papel tinha todos seus dados: foto, nome completo, data de nascimento, número do seguro social. Até o tipo sangüíneo. Ficou abismado.
- Ele se transforma na licença de quem o está segurando. Basta que alguém peça os documentos. É ativado por voz - Harry abriu um sorriso mas ainda tinha um pequeno problema.
- Sirius, eu aprecio o que você está tentando fazer mas eu não sei realmente dirigir. Não quero causar um acidente - o padrinho deu uma leve batidinha no ombro dele.
- Isso mostra que tem juízo Harry. Estava certo em te emprestar a "belezinha". Fique calmo. É mais simples do que voar na sua Firebolt, é só mais pesada e maior que uma vassoura mas a forma de voar é a mesma. E quando está na estrada é automática. Só não voe na cidade. Isso é arriscado. Quando estiver chegando em Ottery St. Catchpole pode decolar, para fazer uma chegada triunfal e impressionar sua garota - disse, cutucando Harry, que corou como um Weasley coraria. - Agora... Harry... - mudou o tom da conversa e pigarreou. Abaixou a cabeça, completamente sem jeito. Era definitivamente a primeira vez que ele via o padrinho assim. - Tem algo que você queira me perguntar, sabe? - Harry franziu a testa, sem entender. Sirius tentou ser mais claro. - Sabe, conversa de homens... - Harry arregalou os olhos e engoliu em seco.
"Eu não posso acreditar que ele vá falar sobre esse assunto comigo", pensou.
- Sobre... "Aquele" assunto? - disse, constrangido. Sirius parecia ainda mais desconfortável.
- É... Sabe, existem certas coisas, as verdades da vida, da onde nós viemos, a ordem natural das coisas... - não estava encontrando um jeito de falar.
Harry estava sentindo tanta vergonha que desejava que um raio caísse e o fulminasse ali mesmo. "Eu não estou ouvindo isso", tentava se convencer. Resolveu então pôr um fim na conversa.
- Sirius, eu aprecio o que você está tentando fazer mas é um pouco tarde para isso e ... - disse, procurando não ofender o padrinho. Sirius arregalou os olhos.
- Tarde? Como assim, tarde? O quão tarde? Harry Potter, o senhor sabe quantos anos tem? E, por Merlin, a Gina... Ela é uma menina. Vocês são duas crianças. E... Deus do céu. Não deixe o Rony saber disso ou você será um homem morto - completou, por via das dúvidas.
Harry rezou para que um buraco se abrisse no chão e o engolisse. Tentou interromper o discurso do padrinho mas estava difícil.
- Sirius... - disse, nervoso.
- E isso traz certas responsabilidades também. Fora que os Weasley confiam em você... - Harry aumentou o tom.
- SIRIUS! - disse com firmeza. O padrinho se virou para ele. - Não é tão tarde assim quanto você pensa. Eu só quis dizer que não preciso conversar sobre isso... Ainda - achou por bem acrescentar.
- Ah! - Sirius riu sem graça. - Eu pensei que... Bom, deixa para lá - suspirou, aliviado, mas olhou a expressão assustada de Harry e mudou o tom. - Me desculpe. Eu comecei a soar como um velho rabugento agora. Então eu vou lhe dar um verdadeiro conselho de pai: trate-a como uma princesa, Harry. Mulheres são delicadas e sensíveis, por mais fortes e independentes que sejam ou pareçam. Mas não a faça parecer incapaz ou a diminua. Elas odeiam realmente isso. São flores, embora possam ter espinhos em grande parte do tempo. Acima de tudo, respeite-a como pessoa. Não faça nada precipitado, que possa magoá-la ou fazê-la se arrepender depois. E, quando chegar o momento, deixe seu amor por ela explodir. Você saberá exatamente o que fazer, como tocar o corpo, o coração e a alma dela - ele olhou atentamente para o afilhado, que prestava atenção agora, fascinado. - Você está com a mesma expressão que eu tinha quando o seu pai me disse essas mesmas palavras - Harry se espantou.
- Meu pai? - perguntou, curioso, Sirius riu.
- É, seu pai. Ele me disse isso quando comecei a namorar a Allana. Ele já namorava a sua mãe há mais tempo. Foi um dos melhores conselhos que alguém já me deu. Tenho orgulho em poder passá-lo a você - Harry abraçou o padrinho.
- Obrigado Sirius. Significou muito para mim - ele acrescentou.
- Eu sei. Para mim também, fi... - ele travou ao ver a expressão desconcertada do afilhado. - Harry... - emendou, afagando os cabelos do rapaz.
Harry se sentiu estranho por quase ter sido chamado de filho por ele. Mas Sirius fingiu não perceber. Levantou-se e, deixando a chave na mão de Harry, dirigiu-se à porta. Antes de sair o afilhado o chamou.
- Sirius? - disse, sério. O padrinho se voltou para ele. - Me dá só um tempo, sabe? Para eu poder me acostumar. É tudo muito novo para mim. Eu nunca tinha tido uma família de verdade... - tentou se justificar. Sirius caminhou até ele com uma expressão comovida.
- Eu sei Harry. Não precisa se justificar, leve o tempo que quiser. Ninguém aqui tem a pretensão de substituir Tiago e Lílian. Até porque eles são insubstituíveis, acredite. Nós só queremos que você saiba que o amamos muito, da mesma forma que amamos a pequena Lílian. Nós vimos você nascer, batizamos, vimos você dar o primeiro passo, dizer a primeira palavra. Nós sempre o consideramos como um filho. É que às vezes é impossível não expressar isso dessa forma - disse calmamente.
Harry sacudiu a cabeça, compreendendo o que o padrinho queria dizer.
- Eu também amo muito vocês dois. E Lílian - disse, sorrindo. Sirius deu um tapinha nas suas costas.
- Deixa eu ir ou sua madrinha me enviará para o canil público, para eu virar sabão. Ela espera que eu a ajude na arrumação. E juízo, hein? Cuidado com a minha "queridinha" - disse, referindo-se à moto, e saiu do quarto.
Harry riu e guardou a chave e a licença forjada no bolso. Agora poderia escrever uma coruja a Gina e, depois, decidiria onde levaria a namorada.
"Gina,
Me espere na varanda. Chego às 18:00. Tenho uma grande surpresa para você!
Com todo o meu amor!
H.P."
Prendeu a carta na pata de Edwiges, que levantou vôo, satisfeita. Adorava entregar cartas n'A Toca, e receber migalhas dos quitutes Weasley.
Assim que a coruja branca entregou a carta Gina começou a se arrumar. Percy, que ainda estava de férias no Ministério, achou engraçado a antecedência e o entusiasmo com que a irmã se aprontava.
- Aonde você vai, Gina? - tentou obter alguma resposta mas ela corria de um lado para o outro, arrumando os cabelos e procurando roupas para experimentar.
Ela subiu as escadas sem sequer ouvir o irmão. Molly sorriu e respondeu.
- Ela vai sair com Harry. É o aniversário de namoro deles. Fazem um ano hoje - Percy abaixou a cabeça. A mãe entendeu o motivo da tristeza.
- Já faz mais de um ano que ela se foi mamãe. E ainda dói... - disse, os olhos rasos de lágrimas. Ela se aproximou delicadamente.
- Vai doer sempre querido. Às vezes mais ou menos. Mas você precisa se perdoar. Penélope não gostaria que você perdesse a vida também - ele deu de ombros. - Você é jovem. Está de férias e não fez nada de divertido. Nem um passeio. Nadinha - o rapaz sacudia a cabeça. - Filho, você nunca vai esquecer a Penny mas não se esqueça de viver - ele respirou fundo. Sabia que a mãe estava certa.
- Está bem mamãe. Eu vou até Hogsmeade amanhã. Vou dar um passeio - Molly sorriu.
- Assim está melhor. Aproveite e dê uma olhadinha na loja dos seus irmãos. É uma beleza. Eu e seu pai fomos até lá outro dia. Precisava ver a cara daqueles dois traquinas quando nos viram - Percy sorriu. - Eles pensaram que eu não tinha como me informar.
No fim da tarde Gina já estava pronta. Deixou os cabelos soltos. Molly usou um dos feitiços cosméticos de Hermione para cacheá-los. Coloriu as unhas de prateado também. Escolheu uma blusa branca colada ao corpo, com um ousado decote em "V", e uma saia preta, longa e esvoaçante. Resolveu levar um casaco, também preto, caso esfriasse. No pescoço pendia o coração de ouro com a foto de Harry.
Às 17h50 ela já estava sentada na escadaria da varanda, esperando por Harry. Molly olhou pela janela e abriu um sorriso ao ver que sua garotinha tinha crescido. As estrelas começaram a aparecer no céu. O sol já tinha se posto e Gina estava cada vez mais ansiosa. Ela olhava para o céu, admirando a beleza da noite, quando algo chamou a sua atenção.
Parecia uma estrela cadente mas foi aumentando aos poucos, aproximando-se. A luz era cada vez mais forte e parecia estar vindo em sua direção. Ela ficou de pé. Começou a escutar um ronco de motor, depois uma buzina. Levou um grande susto ao identificar Harry dirigindo a moto voadora de Sirius. Ele pousou a moto e a guiou devagarinho até a ponta do último degrau da varanda d'A Toca, onde Gina estava de pé. Usava uma calça preta e uma jaqueta jeans por cima de uma camisa branca. Ela estava impressionada, tinha conseguido fazer uma entrada realmente inesquecível.
- Você está lindo! - disse, boquiaberta, fazendo-o rir.
- Assim não vale. Você me roubou a frase. Mas tudo bem. Acho que acabei emprestando um pouco do charme de Sirius junto com essa geringonça - disse, apontando para a moto, a menina deu uma gargalhada.
- Mas Sirius é assim também? Convencido? - foi a vez de Harry rir. Molly colocou o rosto na janela.
- Boa noite Sra. Weasley - ela sorriu.
- Boa noite Harry. Vão logo queridos. Antes que Arthur chegue e queira dar uma voltinha na sua... Bem, na sua condução - os dois riram. - Cuidado! - achou por bem acrescentar. Harry sacudiu a cabeça.
- Pode deixar que eu tomo conta dela. Vamos? - disse, virando-se para Gina. - Sua mãe tem razão. Seu pai ia adorar esta "belezinha" aqui - ele riu, agora tinha falado exatamente como Sirius.
Gina sentou atrás dele, abraçando-o pela cintura. Ele ligou o motor e a moto andou alguns metros, depois decolou. Ele buzinou e os dois acenaram para Molly. Voaram sobre os campos desertos até quase os limites de Ottery St. Catchpole, quando Harry pousou a moto e pegou a estrada. Gina continuava abraçada a ele, encostada nele, curtindo cada minuto. Harry sorria. Imaginava que ela fosse gostar do que tinha preparado.
Ela estava calada mas podia sentir sua ansiedade na respiração hesitante enquanto permanecia colada a ele. Até que não resistiu e perguntou.
- Harry, aonde estamos indo? - disse um pouco alto no ouvido dele.
- Você já vai saber... - respondeu quase gritando, por causa dos roncos da moto. - É uma surpresa!
Passaram pela orla de uma praia. Harry parou a moto em frente a uma casa que tinha vista para o mar. Ele a tinha levado para a praia de Camber.
- Chegamos! - disse, sorridente. Gina franziu a testa, sem saber onde estavam. - Vamos? - disse, pegando a menina pela mão e entrando no que ela descobriu ser um restaurante à beira mar.
Era um lugar romântico e aconchegante. Harry havia reservado por telefone uma mesa ao ar livre, no mirante do restaurante Green Owl, que estava decorado com flores do campo e lírios. A luz de velas e um violinista tocando uma suave melodia causaram o efeito que Harry pretendia em Gina. Ela estava absolutamente encantada.
- Harry, é a coisa mais romântica que você já fez. Que lindo! - disse, abraçando-o. Ele sorriu.
- Eu queria que o dia de hoje fosse especial - disse, orgulhoso do que tinha preparado.
A mesa era a única da varanda, o vento da praia brincava nos cabelos deles e sacudia as chamas das velas, criando uma atmosfera etérea e misteriosa. Ele puxou a cadeira para que ela se sentasse. Na mesma hora o garçom veio atendê-los. Trouxe o menu e a carta de vinhos mas Harry e Gina preferiram aceitar a sugestão do metre e pediram a especialidade da casa: lagostas. Escolheram um vinho branco suave e seco para acompanhar. Gina fez uma careta ao provar o primeiro gole e os seguintes. Os dois riram mas depois se acostumou e acabou apreciando.
A comida estava deliciosa, a sobremesa também. Gina pediu um Sherbert de Limão, o qual acabou por dividir com Harry, dando colheradas na boca do garoto. Ao final eles brindaram.
- Há um ano eu sou completo - ele disse, emocionado e satisfeito. Ela sorriu. - Que nós possamos repetir isso mais vezes...
- Parece até um sonho, Harry. Eu amei a surpresa - ela disse feliz.
- Eu posso passar a vida inteira surpreendendo você, Srta. Weasley - disse, tirando-a para dançar e causando-lhe espanto.
Ela se levantou e dançaram por algum tempo ao som de um violino romântico e sob as estrelas.
Gina dançava abraçada a ele, Harry estava tão pleno de felicidade que se sentia mais confiante e ousado para dançar. Rodopiou Gina em seus braços algumas vezes. Ela ria. Harry se divertia. Decididamente não estava acostumada a beber e era fraca demais para isso. Estava tontinha e com o riso frouxo, embriagada por conta do vinho e da felicidade.
Harry fez um discreto gesto ao garçom, que se afastou. Depois ajudou Gina a descer as escadas do mirante até a praia. Ela tirou os sapatos assim que pisou na areia macia. Não era a primeira vez que via o mar mas a primeira que pisava em uma praia. Harry ria enquanto ela corria na areia como uma garotinha travessa, para longe da varanda do restaurante.
As estrelas e o céu claro iluminavam o rosto dela e ele podia ver que estava com as bochechas coradas e suada pela correria. Ele ficou parado enquanto ela corria à sua volta, rindo sem parar, provocando-o, mostrando-lhe a língua.
- Me lembre de dar menos vinho para você da próxima vez mocinha - disse, zombando.
- Quem disse que estou bêbada por causa do vinho Sr. Potter? - ele tentou ficar sério mas estava difícil.
- Ah! Me desculpe Srta. Weasley. E do que exatamente a senhorita está embriagada? - perguntou, fazendo uma reverência, entre risadas. Gina se aproximou dele, tirou o casaco e jogou-o para o lado. Sussurrou em seu ouvido.
- Eu só conto se você conseguir me pegar - disse, empurrando-o no chão, para ganhar tempo.
Harry ficou menos de um segundo sentado no chão e, jogando a própria jaqueta para trás, correu atrás dela. Ele a alcançou logo e, certificando-se de que não ia machucá-la, derrubou-a na areia, caindo deitado ao seu lado.
- Conte-me - disse calmamente. - Eu já te peguei - completou, virando o rosto para ela.
- Não! - ela ria. - Você me alcançou mas não me pegou - enfatizou.
Harry respirou fundo e rolou na areia. Num piscar de olhos estava deitado em cima dela. As duas pernas dela seguras entre as suas.
Gina riu. Debateu-se em vão. Ele segurou as duas mãos dela delicadamente, mantendo-as para cima. Os braços dele sobre os dela, prendendo-os. Ela ria cada vez mais, mexendo-se embaixo dele. Ele começou a se sentir inebriado pelo perfume dela.
- Conte - disse suplicante, a voz rouca ao pé do ouvido dela. Ela virou o rosto e respondeu olhando os olhos dele.
- Eu estou bêbada disso, de felicidade... De você... - completou.
Ele apanhou os lábios dela antes que o som das palavras terminasse de sair e beijou-a demoradamente. A respiração dela foi se tornando curta e pesada, como a dele. O beijo era cada vez mais intenso. Ele tinha liberado os braços dela, permitindo que o abraçasse. Harry percorria os contornos do corpo dela com as mãos trêmulas, acariciando-a por cima das roupas. Gina gemeu baixinho e rolou o corpo, ficando por cima dele. Tirou a blusa de uma só vez, ficando apenas com uma fina combinação de seda branca que permitia que visse nitidamente o desenho do corpo dela por debaixo. Ele olhou para ela, maravilhado.
- Você é linda! - disse, pensando alto.
- E sua... - respondeu, pegando a mão dele e conduzindo-a por baixo da combinação, para que a tocasse de verdade.
Ele engoliu em seco ao encostar a mão na pele fina e delicada.
A princípio Harry estava nervoso. A mão fria e tímida causava arrepios na garota. Mas subitamente ele se sentiu à vontade e o toque se tornou quente e provocante. Gina fechou os olhos, apurando o que sentia. Depois abriu o par de olhos castanhos, completamente afogueados, e se inclinou para o lado, puxando-o para cima dela. Harry nunca tinha ido tão longe nas carícias, deslizava a mão suavemente pela perna dela, por baixo da saia, e estava se sentindo excitado como em nenhuma outra vez.
- Gina... - ele murmurou enquanto ela também encontrava uma brecha em sua camisa e lhe acariciava as costas com as unhas.
- Harry... - disse em um suspiro.
Não precisou falar mais nada para que ele entendesse perfeitamente que ela queria ser dele, ali, naquele exato momento.
Ele a beijou devagar e cheio de desejo, sentindo a língua dela acariciar a sua, e quando estava prestes a tirar a própria blusa algo estranho aconteceu. Ele parou tudo, arregalou os olhos e caiu para o lado, levando a mão à testa. O rosto contorcido em uma expressão de dor. Gina se assustou e se voltou para ele.
- Harry, o que houve? - ele apertava a cicatriz, angustiado.
- Eu não sei...- respondeu com dificuldade para respirar.
Gina então se sentou para ajudá-lo. Mas subitamente deu um berro. Harry virou a cabeça na direção do horizonte, para o mar. E viu o que a tinha apavorado.
A maré tinha trazido para praia uma série de corpos desfigurados e, ao longe, dava para ver uma ilha que exalava uma fumaça verde fosforescente. No alto dela pairava a Marca Negra, identificando o responsável pelo crime.
Mesmo com dor Harry se levantou depressa, ajudou Gina a se recompor e correram de volta ao restaurante. Pagou a conta e nem esperou pelo troco. Acomodou Gina, que agora tremia e chorava, na garupa da moto e voou o mais depressa que pôde para longe dali, sem se preocupar se seriam vistos. Tinha que tirá-la dali o mais rápido possível.
