Capítulo Oito – O Benefício da Dúvida

Como em todos os anos, a Cerimônia de Seleção precedeu o discurso inaugural de Dumbledore. Depois do último aluno novo ser selecionado para a Sonserina o diretor pediu silêncio geral. Harry fingiu não notar o incômodo olhar de Draco Malfoy na direção de Gina. Mas Rony ainda estava bastante irritado com o sonserino.

- Eu juro. Se aquele panaca continuar encarando a gente eu vou arrancar os olhos dele com o meu canivete e usar como bola de "Gulbe" – Mione deu uma gargalhada.

- É gude, senhor "assustadoramente ameaçador". Eu te expliquei nas férias... E silêncio, Ron, Dumbledore quer falar – disse, repousando o indicador sobre os lábios. O namorado se calou, totalmente contrariado.

- Meus caros alunos e professores, sinto muita alegria em receber mais uma nova turma... – encarou os alunos mais jovens. – Mas também me entristece as circunstâncias em que nos encontramos. É, realmente estamos em guerra... – houve um silêncio geral. – Alguns de nossos alunos tinham parentes em Zhita. E eu sinto muito. Vocês têm a minha solidariedade e de Hogwarts...

Harry olhou em volta e identificou alguns colegas de olhos marejados, provavelmente parentes dos bruxos dizimados na Ilha. Crispou os punhos sob a mesa. Gina percebeu e apoiou a mão na perna dele.

– Creio que de uma forma ou de outra todos foram atingidos pela brutalidade de um novo tipo de ataque – fez uma pausa solene. – Mas nós não fecharemos os olhos às adversidades. Aprenderemos com elas ao invés disso. E, a partir delas, traçaremos novas estratégias – olhou para Harry e Gina instintivamente entrelaçou a mão na sua. Os olhinhos azuis de Dumbledore cintilaram e ele prosseguiu. – Nós não poderíamos imaginar o que o Lord das Trevas faria mas ele usou uma arma trouxa contra aquela Ilha. É verdade. Não foi apenas magia que ele lançou mão para destruir o vilarejo bruxo – o burburinho foi grande mas a voz do diretor se sobrepôs. – Por isso teremos um novo esquema este ano. O currículo foi excepcionalmente alterado. Não teremos nenhuma prova este ano. Os NOM's e os NIEMs estão cancelados.

Houve gritinhos e aplausos de comemoração. Hermione sentiu um bolo na garganta se formar e teve vontade de chorar, afundando o rosto nas mãos.

– Silêncio – o diretor pediu. – Espero que entendam a gravidade dessa medida e da situação – os alunos se calaram. – As disciplinas terão aulas predominantemente práticas e vocês receberão conceitos por sua participação e cooperação com colegas e professores. Não pensem que não serão avaliados. Os alunos do sexto e sétimo anos estudarão sempre juntos durante as práticas, bem como quarto e quinto e segundo e terceiro. Apenas os novatos terão aulas separadas. Afinal, ainda precisam adquirir os conceitos básicos... - Gina ficou animada, teria aula junto com Harry e os outros. - Além do que já foi dito devo avisar que a disciplina Defesa Contra as Artes da Trevas não será mais ministrada pela nossa querida Arabella Figg – os sonserinos, entre eles Draco, abriram sorrisos satisfeitos mas a decepção foi geral, todos ficaram desapontados com a notícia. – Mas nossa querida professora coordenará a matéria. Essa disciplina será inteiramente prática e contará não com um mas cinco novos professores – os alunos entraram em total rebuliço mas o diretor não pediu licença, apenas começou a anunciar os novos professores que, um a um, foram tomando seus lugares na mesa. – Fleur Delacour.

A descendente de veelas e entrou no Salão Principal se requebrando. Foi acompanhada por olhares masculinos hipnotizados até sentar em seu lugar à mesa dos professores. Hermione deu um forte pisão no pé de Rony mas ele não estava com a expressão abobalhada por causa de Fleur, sim por causa dos outros dois professores.

- Ai! Mione – reclamou, ofendido, e indicou com a cabeça o verdadeiro motivo de seu queixo estar caído. Ao mesmo tempo, Dumbledore anunciou os dois professores novos.

- Guilherme e Carlos Weasley – os dois irmãos mais velhos de Rony entraram no Salão e ocuparam os seus lugares. Estavam corados como dois tomates maduros mas ainda assim trocaram olhares e sorrisos carinhosos com os irmãos caçulas.

- Será que a mamãe sabe disso? – Gina perguntou ao irmão. Rony deu de ombros. Ainda estava bastante curioso para saber quem seriam os dois professores restantes.

- Olhem lá – Mione apontou para a ante-sala dos professores. – É o professor Lupin – Harry se virou no banco para ver melhor.

- Remo Lupin – uma salva de palmas recepcionou a entrada deste. Harry acenou com a cabeça, orgulhoso por ver o quanto o antigo professor ainda era querido.

Por fim, Dumbledore esticou a mão e apontou para o último professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Gina arregalou os olhos e cravou as unhas nos joelhos de Harry. Ela e Mione trocaram olhares de incredulidade e a garota sentiu os doces e bolos de caldeirão que tinha comido no trem revirarem em seu estômago.

- Cho Chang – Dumbledore anunciou a garota, que deu um sorrisinho vitorioso em direção à mesa da Grifinória, sentando-se ao lado de Fleur.

- Não acredito que essa Jezebel vai dar aulas para nós. O conselho acadêmico deve ter enlouquecido. Do que essazinha aí pode dar aulas? Como ser cretino? Temos que fazer alguma coisa. Um protesto... – Rony achou graça.

- Mione, não vai ficar nada bem a Monitora Chefe liderar a derrubada de um professor – ela fingiu que não ouviu.

- Sério, o que ela pode ensinar que nós já não... – disse um pouco mais alto.

- Shhh! – Neville pediu silêncio. – O diretor vai explicar o que cada uma vai ensinar, Hermione.

- "timo – Gina disse sem emoção. Percebeu por um instante um olhar furtivo de Draco em sua direção mas estava muito ocupada ficando nervosa e enjoada por ter Cho como professora naquele momento para ter qualquer reação.

- A Srta. Chang ministrará aulas de Artes Marciais. Nosso querido professor Lupin irá, com a ajuda dos professores de "Trato das Criaturas Mágicas", dar aulas de "caça" – Harry riu por dentro. Ninguém melhor do que um lobisomem para isso. – Guilherme e Carlos Weasley ensinarão "luta", o manejo de arco e flecha e bastão. A Srta. Delacour demonstrará como se usa uma espada – houve uma empolgação geral mas Gina estava completamente tensa. Cho olhava para ela e sorria cinicamente, enquanto Harry tentava acalmá-la.

- Não a encare Gina. É isso que ela quer, afetar você. Ignore-a, meu amor – disse, colocando a mão em sua cintura e puxando-a mais para perto de si.

- Ela não pode apenas admitir graciosamente que perdeu você para mim? – Harry riu.

- E perdeu feio. Feio mesmo... – sussurrou em seu ouvido. – Eu sou todo seu – ela corou e sorriu. O plano de animá-la estava funcionando.

- É mesmo? – ela sussurrou maliciosamente de volta. Ele ia responder mas foi repentinamente interrompido.

- Que comece o banquete – Dumbledore disse batendo palmas. As travessas se encheram das mais deliciosas iguarias. Cho observou irritada os cochichos e risadinhas entre Harry e Gina.

- Todo meu? – ele riu e deu um beijo de leve nela.

- To-di-nho... – disse, olhando dentro dos olhos dela, que sentiu as bochechas arderem novamente, mas ainda assim completou.

- Eu vou cobrar uma prova disso depois, você sabe... - foi a vez de ele corar.

- Eu contava que dissesse isso. Vai ser um imenso prazer servi-la, Srta. Weasley – fez uma reverência e os dois riram.

Enquanto os dois cochichavam Rony e Hermione haviam iniciado uma séria discussão sobre veelas.

- São os cabelos delas, eu acho – Rony tentava explicar. – Elas os sacodem demais. É isso, definitivamente – Mione cruzou os braços.

- Ora, francamente Rony Weasley. Emília Bulstrode sacode aquele cabelo dela e não atrai ninguém. A não ser que exista algum garoto aqui aficcionado por caspa – Harry e Gina acharam graça.

- Também, com aquela cara de trasgo. Não dá para saber se ela está jogando charme ou chamando para briga. O fato é que homens gostam de cabelos, não é mesmo Harry? – perguntou para o amigo que, ao ver a expressão ameaçadora de Hermione, de braços cruzados, não conseguiu responder nada.

- Bem... – foi salvo pelo gongo. Remo Lupin passou por ele e, colocando a mão em seu ombro, indicou que o seguisse. Começaria a segunda reunião da Ordem da Fênix. Harry pediu licença e saiu da mesa. Gina acompanhou o namorado se afastar com os olhos. Então se voltou para Rony e Hermione.

- Eu ainda acho que você vai acabar mudando a sua opinião sobre a Fleur, Mione. Ela é parte veela e isso é estranho mas ela foi sempre uma boa amiga – Hermione franziu a testa.

- Viu só, amorzinho? – Rony tentou ajudar mas foi devidamente ignorado.

- Está bem Gina. Vamos ver – respondeu sem animação, vendo um dos garotos do terceiro ano tropeçar e cair no chão depois de Fleur jogar os cabelos para trás.

Enquanto isso a Ordem da Fênix já estava toda reunida na sala de Dumbledore. Harry e Remo foram os últimos a chegar e sentaram-se à mesa.

- Muito bem meus caros, conforme combinado aqui estamos reunidos novamente. Gostaria, como já devem imaginar, de saber o que conseguimos de novidades. Mundungo? – passou a palavra ao chefe de polícia.

- E-eu ma-mandei que fo-fosse investigado o roubo do-do elemento "D". Há uma pe-pessoa da minha confiança fa-fazendo isso na Bulgária. É alguém i-isento de su-suspeitas mas me pe-pediu que ainda não di-dissesse seu no-nome aqui. Ele va-vai me dar no-notícias quando descobrir algo so-sobre o cientista de-desaparecido – Dumbledore pareceu satisfeito. – E e-estamos com um e-esquema de se-segurança re-reforçado. Graças ao e-empenho do Mi-Ministério. O-obrigado pelos re-recursos e pe-pessoal, Mo-moody – o ministro acenou.

- Alguém mais, boas notícias? – Remo ergueu a mão.

- Bem, fui até Hogsmeade e falei com os gêmeos Weasley – Snape deu um muxoxo baixo. – Ficaram bastante surpresos com a natureza do nosso pedido mas prometeram tentar algumas invenções. Tentarão alguns experimentos e me chamarão quando tiverem alguma coisa que sirva para nós pronta – todos acenaram. Harry ficou particularmente orgulhosos dos amigos.

- Então não tem nada de concreto ainda. Humpft. Por que será que isso não me espanta? – Severo zombou.

- Suponho então que você tenha, Snape... – Sirius implicou.

- É verdade. Você ficou incumbido de nos sugerir um novo espião. Alguém de confiança, capaz de conseguir informações sobre os inimigos – Arabella lembrou.

- De-de ce-certo não co-conseguiu – Mundungo lamentou sinceramente. Snape olhou de esguelha para Harry e sorriu triunfante, virando o rosto aos poucos.

- Na verdade... – pigarreou um pouco. Todos se voltaram para ele surpresos e espantados. Harry franziu a testa.

- Não me diga que arrumou alguém, Severo... – Moody pareceu animado.

- Bem, na verdade, depois do papelão que o nosso colega fez indo atrás de Pettigrew, estragando completamente meu disfarce – achou por bem acrescentar. – Pois bem. Achei que seria difícil encontrar um substituto à altura mas então, quando vi a interação da pequena Srta. Weasley com o jovem Sr. Malfoy no Beco Diagonal eu mudei de idéia... – deu um sorrisinho malicioso.

- Está insinuando o quê? Gina não tem nada a ver com ele e... – Harry elevou o tom de voz e protestou, levantando-se da cadeira, mas foi contido por Sirius.

- Não se esqueça de que eu sou seu professor, Potter. Se não fosse um membro desta Ordem com certeza perderia pontos para a sua casa e pegaria uma detenção também – Harry bufou.

- Explique-se Severo – Dumbledore disse calmamente. Snape se virou cinicamente para o diretor.

- A pequena Srta. Weasley, que por um acaso é a namoradinha do Potter, é amiga de Draco Malfoy, diretor – não houve grande surpresa.

- E daí Snape? Desde quando isso torna a garota uma candidata a ser a nossa espiã? – Sirius estava visivelmente irritado.

- Olhe o quadro todo, Black. E não apenas detalhes isolados – Sirius fez uma careta de nojo. - Virgínia Weasley é amiga de Draco Malfoy mas o rapaz nutre bem mais do que amizade por ela... – Sirius se levantou.

- E você quer dizer o que com isso, Snape? – foi a vez de ele ser contido por Remo. Harry tinha uma raiva crescente acumulando dentro de si. Podia ouvir um leve zumbido nos ouvidos agora.

- Bem, simplesmente que a Srta. Weasley poderia muito bem usar o seu "encanto pessoal", por assim dizer, e conseguir informações preciosas sobre o que os inimigos estão tramando, através de Draco – Harry sacudiu a cabeça e esfregou os olhos. O zumbido aumentou e o lustre da sala deu uma leve sacudida. Snape estava começando a ultrapassar os limites da paciência de Harry. - É claro que teríamos que simular um rompimento entre o casal de "pombinhos". E a garota, obviamente, teria que passar a namorar Draco...

Harry, Sirius e Remo arregalaram os olhos. Não acreditavam na proposta de Snape. O lustre sacudiu violentamente.

– Mas creio que isso não seja um problema para a pequena Srta. Weasley. Poderíamos oferecer uma recompensa em galeões pelos servicinhos prestados.

Harry deu um soco na mesa, os pequenos cristais do lustre explodiram e caíram como purpurina sobre eles. Então o rapaz se projetou sobre a mesa e apontou o dedo na direção do professor de Poções ameaçadoramente.

- Fale dela assim de novo e eu juro que me esqueço de que é um professor, me esqueço que faço parte da Ordem, que é um Comensal da Morte, e parto a sua cara sebosa e nariguda ao meio. Mesmo que por isso me expulsem da Ordem, de Hogwarts e do mundo bruxo – disse aos berros.

Snape não demonstrou qualquer reação e nenhum assombro. Sacudiu os cacos de vidro dos ombros apenas. Sirius colocou a mão no ombro esquerdo de Harry, Remo fez o mesmo do lado direito. Dumbledore ficou em silêncio. A barba branca estava coberta de pequenos caquinhos de vidro colorido.

- Pare de descontar as suas frustrações amorosas em Harry, Snape. Só porque Lílian não te deu a menor chance você quer arranjar um jeito de destruir a felicidade de Harry? Para se vingar de Tiago. Porque Lílian só tinha olhos para o pai do garoto? Muito maduro da sua parte... – Sirius retrucou.

- Severo... – Dumbledore disse pausadamente. – Antes que a minha sala precise de novas paredes também sugiro que se explique melhor...

- Diretor, dei uma sugestão apenas... – justificou-se, cínico. – Mas eu imaginei que a idéia seria descartada, que Potter não aceitaria se sacrificar assim - Harry rolou os olhos para cima. – Por isso pensei em uma segunda opção. Posso? – Dumbledore assentiu. - A menina Weasley é amiga de Draco. Isso é fato. Poderia conseguir informações dele se utilizando disso...

- Duas coisas sobre amizade Snape: amigos não traem amigos. E muito menos os usam em joguinhos... Dumbledore, eu não sei por que estamos ouvindo isso – Remo reclamou.

- Mas a garota poderia...

- Pare de ofendê-la – Harry cortou o professor de Poções. – Pare de falar como se conhecesse a Gina. Você não conhece o caráter dela. Ela nunca faria nada de errado, é incapaz de enganar – irritou-se.

- Ela não precisa necessariamente enganar, Harry – Arabella disse de repente, surpreendendo a todos, que se voltaram para ela. Os cabelos estavam cobertos de vidro também e parecia que ela tinha uma névoa de purpurina sobre eles. – Sempre existe a opção de pedir "por favor", não é mesmo?

- O que quer dizer, Bella? – Moody perguntou.

- Que amigos de verdade fazem favores. E que se realmente são amigos Draco faria qualquer coisa por ela, se ela pedisse... – Harry pensou um pouco.

- Não. É muito arriscado. Ele poderia fazer exatamente o contrário e acabar levando informações nossas para o pai. Eu não quero que Gina corra riscos.

- Entendo o seu ponto de vista, Harry, mas se eu bem conheço Lúcio Malfoy ele não é o que podemos chamar de um pai zeloso e cativante. Acho mais fácil que a lealdade de Draco esteja com Gina – Sirius argumentou. – E, depois, não vamos contar tudo a ele, Aluado. Apenas o necessário. Acho que talvez esteja na hora de darmos o benefício da dúvida ao rapaz – completou, para a surpresa de Harry. – Eu teria tido uma vida melhor se tivesse recebido esse benefício – lamentou-se.

- Mas não podemos arriscar, Almofadinhas – Remo acrescentou ainda segurando Harry, que estava visivelmente preocupado.

- Eu penso que a idéia é falha – Harry se sentiu aliviado ao ouvir as palavras de Dumbledore – mas é a única que temos e, precisaremos usá-la, é de suma importância que possamos saber o que Você-Sabe-Quem está tramando. E quem sabe será bom para o Sr. Malfoy poder escolher um lado nesta guerra? – o sorriso de Harry murchou.

- Mas é arriscado para a garota, diretor – Remo ainda contra-argumentou. Os olhos de Dumbledore brilharam.

- Não se o jovem Malfoy souber que é arriscado... – Arabella estranhou.

- Você quer dizer o que com isso, Alvo?

- Bella, o rapaz deve ser precisamente informado por Virgínia Weasley que se ele revelar qualquer coisa ao pai estará colocando a vida dela em risco. Em momento algum ela deve mencionar a Ordem ou Harry. Apenas colocar a vida nas mãos dele. E cá entre nós, isso é muita coisa – ele sorriu, satisfeito. – Às vezes é preciso olhar apenas os detalhes, não o quadro todo – acrescentou, piscando para Sirius. Harry se afundou, desanimado, na cadeira. - Quem deve conversar com ela é você, Harry. E dê-lhe a opção de recusar – o diretor acrescentou.

- Ela nunca diria não para mim, professor – respondeu, ainda mais desanimado.

- Muito bem. Então lhe diga para dar a mesma opção de recusa ao Sr. Malfoy. Peça-lhe que conte os eventos ocorridos em Beauxbatons. Libere-a para exagerar ao máximo os riscos que corre. Ela deve deixar bem claro que a sua vida foi ameaçada ano passado, na explosão de seu antigo dormitório na França.

Harry engoliu em seco. Era estranho ouvir o diretor dar instruções tão claras, falando tão calmamente sobre o perigo que Gina havia corrido. E grande parte desse perigo, sabia, ela corria apenas por ser a pessoa que ele, Harry Potter, mais amava no mundo inteiro.

- E o que ela não deve falar, professor? – perguntou mecanicamente.

- Ela não deve falar nada sobre a Ordem. Mas deve omitir, não mentir. Ela deve deixar bem claro que sabe das atividades do Malfoy pai mas mostrar que não há interesse algum em denunciá-lo, prendê-lo, ou algo assim. Ela deve se ater a informações. Se há algo estranho acontecendo na mansão Malfoy...

- Mas co-como Draco po-poderá saber esta-tando aqui em Hogwarts, diretor? – Mundungo finalmente se manifestou.

- Boa pergunta, Mundungo – o diretor sorriu. – Mas algo me diz que a vaidade e orgulho que Lúcio tem do próprio sangue virão bem a calhar e permitirão que Draco se comunique mais freqüentemente com o pai, na qualidade de um sucessor interessado em continuar seu trabalho. Deve ser permitido que ele se comunique com o pai através da lareira, ou mesmo por cartas. Garanto que Lúcio ficará muito satisfeito com o interesse do filho em seus assuntos – deu uma pausa. – E vidente que o jovem Sr. Malfoy deverá dar informações inúteis e vagas sobre o que está acontecendo em Hogwarts, o orgulho do pai não permitirá que veja a verdadeira intenção do rapaz. O sangue é algo que Lúcio faz questão de colocar em primeiro lugar. Compreenderam? – todos acenaram. - Então eu creio que a reunião esteja encerrada. A não ser que alguém tenha mais alguma coisa a acrescentar... – não houve nenhuma manifestação. – Então muito obrigado meus caros. E boa sorte. Mundungo, estou muito satisfeito com o seu trabalho com os trouxas – acrescentou antes que o chefe de polícia fosse embora.

- Um-um-muito obrigado Du-dumbledore – corou e gaguejou mais do que nunca. Arabella sorriu. Harry saiu pensativo da sala. Sirius o alcançou com alguns passos, deixando Lupin um pouco para trás.

- Harry, fique tranqüilo. Malfoy não faria nada que pudesse magoar a Gina – colocou a mão sobre o ombro do afilhado.

- Até por que ele já fez isso, Sirius – lamentou-se. O padrinho se surpreendeu.

- Como assim?

- Eu e ele duelamos no trem e...

- Harry! – recriminou-o mas o rapaz ignorou.

- A questão, Sirius, é que ele usou a Gina para me atingir – completou, constrangido.

- Como?

- Ele a beijou, à força – respondeu desanimado. – Gina ficou furiosa e magoada com ele - o padrinho ficou surpreso.

- Então eles não são mais amigos? Você deveria ter dito isso na reunião, porque isso muda tudo e...

- Vão fazer as pazes, Sirius.

- Como é que você pode saber disso?

- Porque eu sugeri isso a ela. E se soubesse do risco que ela iria correr por ser amiga dele teria ficado calado.

- Onde você estava com a cabeça?

- Nela. Sempre nela. Eu sugeri isso pensando no quanto ela sofreria perdendo um amigo. Eu não quero que ela perca nada – o padrinho sorriu.

- Você está cada vez mais parecido com o seu pai. Ele fez a mesma coisa. Sugeriu que sua mãe continuasse amiga do Seboso depois de... – ele calou a boca.

- Eu sei Sirius. Eu sei que a minha mãe chegou a namorar Snape – fez uma careta. – Eu sei que a coisa entre eles não ficou no nível platônico – Sirius deu um sorriso sem graça.

- Mesmo assim, você foi nobre como Tiago, Harry. E desprendido também. E sabendo como vocês, Potter, podem ser ciumentos, fico realmente orgulhoso – completou, bagunçando ainda mais os cabelos do afilhado. – Se algum dia precisar de vidro moído sei a quem pedir...

- Nem me fale... – os dois riram.

- Bem, então boa sorte na sua conversa com ela. Tomara que Gina consiga convencer Malfoy a ajudar.

- É, tomara... Dê lembranças a Allana e mande um beijo para Lili.

Já era tarde quando Harry entrou na Sala Comunal. Rony, Hermione e Gina ainda estavam esperando por ele. Tinham separado alguns pedaços de frango empanado e dois bolos de caldeirão, que estavam sobre a mesa. Hermione e Rony se escoravam um no outro. Apenas Gina ainda andava de um lado para o outro.

- Assim você vai furar o chão, ou quase – ela sorriu.

- Como você demorou – correu até ele e o abraçou forte. Olhando por alguns segundos dentro dos olhos verdes e desanimados. - O que foi? – perguntou num sussurro. Ele sinalizou que já explicaria.

- É verdade Harry – Rony se espreguiçou, limpando discretamente um pouco de baba que havia deixado escorrer nos cabelos de Hermione. – Já estamos morrendo de sono aqui.

- É. Gina já aqueceu esses pedaços de frango dez vezes. Devem estar torrados a essa altura... – Mione bocejou e coçou a cabeça, dando-se conta que ainda restava um pouco de "baba" Weasley nos cabelos, limpou a mão nas vestes de Rony. – Isso é seu... – sussurrou para o namorado, que corou.

- E o que tem demais? É só baba... – resmungou baixinho. Os outros ignoraram.

- Me desculpem a demora – Harry sentou à mesa e segurou os pedaços de frango empanado. – Obrigado por guardarem comida para mim mas realmente estou sem fome – deu um olhar significativo para Gina, que se aproximou.

- O que aconteceu lá Harry? – perguntou, apreensiva, sabia que algo estava errado.

- Eu preciso pedir uma coisa a você. Mas é algo complicado... – os três se aproximaram mais, debruçando-se sobre a mesa.

- Por Merlin! Diga logo. Antes que eu tenha um troço aqui – Gina pediu, apertando a mão dele nervosamente.

- Está bem. Vamos nos sentar ali no sofá, é mais confortável. A conversa vai ser um pouco demorada...

Harry contou tudo aos três e explicou a Gina o que deveria falar para Draco. Rony achou que Harry deveria ter aproveitado a oportunidade para quebrar o nariz do professor de Poções, por ter ofendido Gina, mas a garota não tinha se incomodado muito com isso. Estava mais preocupada com a conversa que teria com o ex-amigo.

- Bem, é isso – finalizou. Gina estava pensativa. Harry se mantinha sentado na mesinha de centro, ao lado de Rony.

- Eu não acredito. Ele não é digno de confiança. É um Malfoy e agarrou a Gina sem nenhum problema. Dumbledore enlouqueceu? Sério, nem sabemos quantos anos o diretor tem. Ao meu ver deve estar tão caduco quanto "Urico, o esquisitão" – protestou.

- Shhh! – Mione repreendeu o namorado. – Pelo que Harry disse é a única opção da Ordem. Não deve haver muito mais a ser feito – justificou. Gina ainda estava em silêncio absoluto.

- Fale. Eu ainda não ouvi você falar nada sobre o assunto – ela suspirou.

- Eu não sei se ele vai aceitar isso, Harry – disse finalmente. Rony e Hermione se entreolharam, avaliaram a situação e Mione sinalizou discretamente para que deixassem os dois sozinhos.

- Eu acho melhor vocês conversarem agora – disse para os amigos.

- Vocês podem ficar – Gina acrescentou.

- Eu sei maninha. Mas é uma decisão que vocês dois podem tomar melhor sozinhos. E o "Rei da baba" aqui e sua "Rainha babada" estão com muito sono – deu um beijinho na testa da irmã e subiu as escadas, rebocado por Hermione.

Harry sorriu e quando os amigos já tinham sumido na curva da escada se virou para Gina.

- Você não precisa sequer falar com ele se não quiser – ela sacudiu a cabeça.

- Harry, é claro que eu vou fazer o que você me pediu – riu docemente para ele. – Isso não impede que eu fique preocupada com o que pode acontecer. Eu não sei se ele vai aceitar isso. É o pai dele e... – Harry passou a mão pelo rosto dela.

- Gina, você é importante para ele, não posso negar isso. Se deixar claro que a sua vida corre risco ele fará. Acredite em mim. Eu sou homem. Eu sei que ele fará – ela ficou constrangida.

- Eu me sinto estranha fazendo isso, Harry...

- Então não precisa fazer, se você vai se sentir mal meu amor – segurou a pontinha do queixo dela, que deteve a mão dele na sua, beijando-a antes.

- Não Harry. Não é por mim ou pelo Draco que me sinto estranha. É por você... Sabe, seu ciúme – ele riu.

- Nossa! Isso está virando uma preocupação coletiva. Sirius me disse o mesmo – ela respirou fundo. – Eu vou aprender a controlá-lo, Gina. Está melhor assim? – levantou da mesinha e ocupou o lugar que Mione estava no sofá, ao lado da namorada.

- Eu espero que sim. Depois de você ter explodido aquelas lemas do pântano eu me preocupo muito com isso – ele a puxou para perto de si.

- Eu vou me controlar. Eu confio em você. Eu te amo – ela o abraçou.

- Eu também – disse, sorrindo após uma pequena pausa.

- Bem, eu não vou mentir que vai ser todo um processo. Não vai ser um passeio no parque mas eu vou controlar o ciúme – ela riu.

- Bem, convencer o Draco vai ser tão difícil quanto isso – ele concordou.

Ficaram alguns minutos abraçados, apenas curtindo a presença um do outro. Levantaram de mãos dadas e foram dormir. Afinal, no dia seguinte teriam o primeiro dia de aulas, e muito trabalho pela frente.