Capítulo Onze - Halloween Dos Infernos

Harry abriu os olhos e sorriu. Como todas as manhãs de Halloween em Hogwarts a atmosfera era agradável e o cheirinho de abóbora no ar denunciava uma grande festa à noite. Os corredores estavam enfeitados e os alunos animados.

Desceu as escadas correndo e encontrou Gina e Hermione cochichando. As duas deram algumas risadinhas e estavam coradas. Imaginou que ele e Rony eram o assunto da vez.

- Bom dia – tocou de leve os lábios de Gina e sorriu para a amiga.

- Bom dia Harry. Estávamos falando de quadribol – disfarçou pessimamente.

- Sei. Imagino que sim – Gina tossiu algumas vezes, sem graça.

- Na verdade, por falar em quadribol, o que vamos fazer esse ano? Estamos com um time desfalcado. Os alunos franceses se foram e... – Harry respirou fundo, totalmente desanimado.

- É verdade, Gina, ainda não pensei nisso – deixou-se cair no sofá.

- Ainda não pensou em quê? – Rony perguntou em meio a um bocejo.

- Quadribol. Grifinória. Estamos perdidos – resumiu. Rony torceu os lábios.

- É verdade, companheiro, estamos ferrados – Mione franziu a testa.

- Talvez não tenha o campeonato esse ano, por conta de todas essas aulas práticas...

- Pode ser, Mione, mas o quadribol ainda é o esporte preferido de todos. Acho difícil que cancelem o campeonato – Gina argumentou.

- E depois, com o nosso apanhador aqui – Rony bateu no ombro de Harry –, temos pelo menos 150 pontos garantidos para a Grifinória a cada jogo. É a nossa melhor chance de vencermos a Copa das Casas – os quatro riram.

Conversaram animadamente sobre o time e o que poderiam fazer, quem poderiam escalar. Simas participou da conversa também. Mione se limitou a fazer uma expressão de levemente interessada no assunto enquanto refazia os problemas de lógica do livro que tinha ganhado de Rony.

- Sinceramente. Eu não entendo como você consegue – Rony resmungou para ela, que sorriu, fingiu estar distraída.

Como era sábado não teriam aulas e poderiam passar o dia juntos. Porém, antes que os alunos começassem a sair do Salão Principal, a professora McGonagall pediu a atenção de todos.

- Um minuto, por favor – todos os rostos do Salão se viraram curiosos para a mulher. – Diferente dos outros anos, o diretor me pediu para informar que os alunos que quiserem passar o final de semana de Halloween em suas casas deverão se apresentar pontualmente ao meio dia nos jardins, para tomarem as carruagens – ela sorriu. Alguns alunos se mostraram interessados, outros deram de ombros e continuaram com suas conversas paralelas.

Gina espichou o pescoço e trocou um olhar com Draco, por cima dos ombros de Harry. O rapaz acenou a cabeça para ela e fez uma careta desgostosa, indicando que teria o desprazer de ir para casa. Ela concordou silenciosamente, fazendo uma nota mental para agradecê-lo depois.

- E então? Nós vamos ou ficamos? – Rony perguntou, mudando de assunto, colocando a mão sobre a folha que Hermione lia.

- Vamos – ela respondeu sem emoção, cutucando o dedo dele com a pena para resolver mais uma vez um dos problemas de lógica.

- Você adorou mesmo esse livro – Mione riu.

- Cada vez que eu resolvo eu tiro uma das pistas. É um ótimo treino – sorriu, satisfeita com a própria capacidade.

- Faço idéia – Rony fez uma expressão desgostosa e se virou para Harry e Gina. - E vocês dois? Ficam ou não ficam? – os dois se entreolharam.

- Ficamos? – Harry respondeu com uma pergunta para Gina, que corou um pouco.

- Ficamos? – ela respondeu do mesmo modo, deixando o irmão confuso. – Ficamos – olhou decidida para Harry e depois para Rony. – Ficamos. Definitivamente precisamos ficar – ficou com as bochechas rubras ao dizer isso. Rony ficou incomodado.

- Talvez devêssemos ficar. E fazer companhia para os dois, Mione – argumentou. Hermione deu uma piscadela para Gina.

- Não, Rony Weasley. Nós dois vamos.

Os garotos não sabiam mas Hermione já sabia que haveria a possibilidade de passar o final de semana fora e era exatamente sobre isso que ela e Gina conversaram antes do café. Havia combinado tirar Rony de perto, dando um pouco mais de privacidade ao outro casal.

- Mas... – Rony ficou vermelho e cruzou os braços. Estava decidido. Harry segurou a mão da namorada debaixo da mesa e deu um apertão significativo.

Meio dia em ponto os alunos que iriam para casa se reuniram do lado de fora. A professora McGonagall e o professor Snape, que estava irritadíssimo, ajudaram a organizá-los eu duas filas e assim lotaram, uma a uma, as carruagens.

- Silêncio, seus insolentes – Snape resmungava enquanto colocava um grupo de lufa-lufas na última carruagem. Acenou com a cabeça para Draco, que não fingiu estar satisfeito em ir para casa. Gina se despediu do amigo com um olhar discreto. Então se virou para o irmão, abraçando-o.

- Juízo – ele recomendou, fazendo-a rir.

- Harry vai cuidar de mim – Rony deu uma olhada mal humorada para o amigo, que mantinha a mão na cintura da irmã.

- É, eu imagino que ele vai sim – cruzou os braços. Hermione tomou a frente e abraçou a amiga.

- Espero que ele cuide sim. E muito – as duas riram.

As carruagens partiram, levantando um pouco de poeira. Os alunos que ficaram, a grande maioria, voltaram para suas atividades de lazer. Seria um final de semana cheio de diversão. Harry entrelaçou a mão na de Gina e ela sorriu.

- Agora nós dois – ele disse maliciosamente.

- Nós dois o quê, senhor Potter? – ela respondeu, controlando uma risadinha nervosa que teimava em querer sair.

- Enfim sós? Ou isso é muito clichê para você, senhorita Weasley? – parou e se virou para ela.

- Não. Não é nada clichê – beijou-lhe os lábios de levinho, ficando na pontinha dos pés. Depois continuaram o caminho até o castelo. Os dois passaram por Snape e o professor de Poções se sentiu terrivelmente incomodado com a felicidade do casal.

- Potter! – o professor chamou Harry com uma expressão de pura maldade. O rapaz caminhou de mãos dadas com Gina até Snape.

- Sim? – perguntou em tom despreocupado. Snape deu um risinho debochado.

- Acho que hoje depois do jantar vai ser uma ótima oportunidade para a sua detenção – Harry arregalou os olhos.

- Detenção? Como assim? O que eu fiz? – Gina apertou a mão na dele.

- Ora, Potter. Seu comportamento na reunião foi condenável. Não pense que esqueci que é um aluno – o punho do rapaz se crispou.

- Isso faz mais de um mês, professor Snape – Gina tentou justificar com a voz miúda. Snape a olhou com desaprovação.

- Quer se juntar ao senhor Potter, senhorita Weasley? – ela sacudiu negativamente a cabeça, abaixando-a. – "timo. Menos dez pontos para a Grifinória. Podem ir – observou os dois se afastarem, agora cabisbaixos e desanimados. Aquilo fez seu dia se alegrar. - Lembre-se, Potter – fez questão de gritar. – Depois do jantar de Halloween. Masmorras – Harry acenou com a cabeça. Gina torceu os lábios, mordendo nervosamente o inferior.

Os dois subiram em silêncio até o castelo. Harry estava furioso, Gina também, mas ambos preferiram não entrar em atrito com o professor de Poções. Corriam o risco de perder o domingo juntos e ainda mais pontos para a Grifinória.

- Eu pensei que passaríamos bastante tempo juntos. Mas pelo jeito nossos planos foram por água abaixo – Harry lamentou.

- Ainda temos amanhã, meu amor – Gina tentou animá-lo. – E isso também... – ela riu, enquanto balançava uma pequena chave dourada para Harry. Ele apertou os olhos.

- Isso é o que eu penso que isso é? – ela corou.

- É sim. É a chave do quarto da Hermione. Por que você acha que estávamos rindo tanto quando você desceu as escadas essa manhã? – ele deu um largo sorriso.

- Você é um diabinho ruivo mesmo – fez cócegas nela, que riu.

- Uma garota faz o que pode, Harry...

- Eu vou te mostrar o que eu posso também – sorriu maliciosamente e beijou seus lábios com vontade. - Nós vamos até lá agora? – perguntou, ansioso. Gina abriu a boca para responder mas foi interrompida por Neville.

- Gina, que bom que achei você. Olá Harry – disse, acanhado. – Gina, eu pensei se você poderia me ajudar com a lição de Herbologia. A professora Sprout me pediu uma pesquisa sobre fungos e larvas para repor a aula em que desmaiei e eu ainda não consegui terminar – choramingou. Gina olhou penalizada para o garoto. – Ela me sugeriu que pedisse ajuda a você. Afinal você é a melhor aluna dela e a mais interessada também – Gina ficou orgulhosa e Harry entendeu que não poderia passar a tarde com a namorada.

- Harry...

- Tudo bem meu amor. Nós nos vemos durante o jantar – disse enquanto deixava a namorada e o amigo para trás. "Nunca vi tanta coisa dar errado em um só dia. Que Halloween dos infernos", pensou.

Gina e Neville foram para a biblioteca, onde ficariam até a hora do jantar. Harry ficou um pouco desanimado mas deu algumas voltas de vassoura para espairecer.

Enquanto isso Rony e Hermione estavam aproveitando a tarde de Halloween para se divertirem nas ruas. Os dois estavam achando divertidíssimo estarem "fantasiados" de bruxos e andarem pelas ruas desse jeito.

- Eu não te disse que ia ser engraçado? – Mione disse segurando a sacola de doces de Megan, a filha de cinco anos de sua vizinha, enquanto a menina dizia "doces ou travessuras" para uma gentil senhora do final da rua. Ela e Rony haviam se oferecido para levar a menina para recolher doces na vizinhança.

- Olha, Hermione. Pirulitos de chocolate – a menina mostrou sorrindo. – Vem, Ronald. Vamos na próxima casa... – Mione riu, piscando para o namorado enquanto ele era rebocado pela garotinha.

- Ela adorou você mesmo – disse para Rony enquanto a menina recolhia algumas balas na sacola. – Só não fico com ciúmes porque isso significa que um dia será um ótimo pai – Rony ficou cheio de orgulho com o comentário da namorada.

- Minha nossa! Três bruxos? – a velhinha que morava na última casa visitada piscou para os três. Megan riu.

- Não senhora. Eles dois estão fantasiados. Eu é que sou mesmo uma bruxa de verdade – Megan "cochichou" em tom audível. A velhinha riu, como Rony e Hermione. Terminaram de recolher os doces e voltaram andando devagar para casa, enquanto se empanturravam de balas e chocolate.

O Halloween de todos estava sendo agradável, exceto, é claro, para Gina e Harry, além de Draco Malfoy. Lúcio estava organizando um jantar para os mais influentes bruxos que conhecia. Alguns haviam vindo de fora do país para o evento. Narcisa e as outras mulheres ostentavam jóias caríssimas e usavam belíssimos vestidos de noite. Todos os bruxos estavam usando as suas melhores vestes de gala e Draco estava particularmente enojado de tanta falsidade.

- Filho, esse é McNair – Draco acenou a cabeça e apertou a mão do bruxo.

- Eu já conhecia o senhor de vista – disse, educado. O outro bruxo sorriu.

- Seu pai me disse que terá um brilhante futuro pela frente, Draco – o rapaz se esforçou para esboçar algum orgulho em se tornar um assassino perverso.

- Sim, espero corresponder às expectativas para um Malfoy – Lúcio sorriu, satisfeito.

- Ah! Sim! Nós todos esperamos – disse um outro bruxo que se aproximou. Era um pouco mais baixo e corpulento. Draco o reconheceu como sendo Nott.

- Vá buscar um pouco de ponche Draco – Lúcio o dispensou. Ele ainda ouviu Nott comentar em voz baixa.

- Ele já chegou, Lúcio. Mando-o esperar na biblioteca? – Draco disfarçou.

- Sim. E quem o espera já está lá. Depois eu vou falar com ele. O rapaz veio junto?

- Veio sim. Está acomodado na sala de jantar – Lúcio sorriu.

- "timo. Isso vai ajudar a não levantar suspeitas. Foi bom que os dois viessem juntos e... – Draco não conseguiu mais ouvir, se insistisse ficaria óbvio demais. Então se afastou, tentando imaginar quem estaria esperando quem na biblioteca.

Caminhou até a sala de jantar e estranhou ao deparar com Vítor Krum, sentado em uma das cadeiras da enorme mesa. Caminhou até o rapaz e o cumprimentou com uma simples levantada de sobrancelhas.

"Que diabos esse panaca búlgaro está fazendo aqui?", pensou enquanto se sentava na cadeira em frente. Krum parecia quase tão deslocado quanto o próprio Draco, mordiscava um pedaço de pão com manteiga aromática e tremia as pernas nervosamente.

"Como será que estão as coisas na biblioteca?" Draco não conseguia parar de pensar. "Será que o maldito Potter está sozinho com a ruiva agora?" era a segunda coisa que o estava perturbando. "Malditos Granger e Weasley. Por que tinham que deixar os dois lá sozinhos? Draco, pare de pensar em coisas estúpidas" se recompôs, enquanto olhava o lastimável estado do rapaz búlgaro à sua frente.

- Ainda está jogando? – perguntou para Vítor, para matar o tempo.

- Não. Eu sofri uma queda. Fui suspenso por um ano do time – Draco se esforçou para fazer uma expressão consternada com o problema do outro rapaz mas os dois estavam igualmente interessados na porta fechada da biblioteca.

Por debaixo da porta podiam ver a sombra de alguém andando de um lado para o outro. Draco disfarçou, pegando um pedaço de torrada e colocando uma generosa quantidade de caviar nela. Definitivamente tinha que descobrir quem estava lá dentro com o tal convidado misterioso.

- Muito bem. Tudo correu como planejado. O Mestre está começando a ficar satisfeito com seu trabalho. Talvez até o perdoe – Rabicho debochou do outro homem.

- Assim eu espero. Milorde deve estar ciente de que minha lealdade não vacilou, ainda que parecesse que eu... – Rabicho riu.

- Ainda que você seja um grande covarde? – esticou o braço que havia ganhado de Voldemort para o outro.

- O que é isso, Pedro? – arregalou os olhos. Pettigrew sorriu orgulhoso.

- Isso é um prêmio por lealdade, meu caro. Algo que se você souber fazer exatamente o que Milorde pede, também poderá apreciar – o homem não tirou os olhos do metal frio do novo braço de Rabicho.

- E o que você fez para ganhar tal "mimo", Pedro? – Rabicho se aborreceu com o comentário. Segurou um dos pesos de papel que estavam sobre a mesa e o esmigalhou entre os dedos. O homem se espantou.

- Não é um "mimo", meu caro. É uma arma. E eu saberei usá-la em nome da nossa causa. Sem pensar duas vezes... Agora me deixe dar a sua recompensa pelo serviço prestado.

O homem permaneceu de pé, observou quando Rabicho retirou das vestes uma pequena moeda. Ele apertou os olhos. A moeda era de um metal escuro, quase negro, e trazia dois desenhos: uma serpente cuspindo fogo de um lado e a Marca Negra em alto relevo do outro. Estava tão entretido que não percebeu que uma segunda moeda caiu no tapete e rolou para baixo da mesa do escritório.

- O que é isso? – Rabicho sorriu.

- Isso é um Galeão Negro. Forjado secretamente e que em breve será a moeda do novo mundo bruxo. Um mundo sem trouxas, sangue ruins e bruxos patéticos. É uma grande honra possuir um desses. E Milorde foi muito benevolente, tendo em vista o tamanho da sua traição – o homem se ofendeu mas tentou se conter devido aos seus antecedentes.

- Eu não traí o Mestre, eu apenas...

- Foi um grande covarde. Eu sei. Eu também vacilei mas tive a oportunidade de me provar. E me provei. E Milorde foi benevolente para comigo. Eu lhe dei carne e ele me deu metal em troca. E você foi audacioso conseguindo aquela "coisa" trouxa para destruirmos aquela ilha patética. Foi muito bom... Esperamos que continue fiel à nossa causa – o homem sacudiu a cabeça e guardou a moeda no bolso das vestes. - Agora vá. O jantar está a sua espera.

- Você não vem também, Pedro? – Rabicho sorriu.

- Não. Não ainda. Não quero participar dessas formalidades. Há muitas pessoas influentes aqui hoje. Aproveite a oportunidade – com isso desaparatou, deixando o outro homem um tanto confuso.

Draco olhou mais uma vez para a porta da biblioteca e viu a maçaneta rodar. Vítor disfarçou mas também estava atento. Lá de dentro viu sair Igor Karkaroff. O homem estava pálido como um papel e tão trêmulo que parecia que a qualquer momento desmaiaria.

Krum se levantou e foi ao encontro de Karkaroff. Os dois cochicharam por alguns minutos e se deu início ao jantar. Lúcio ordenou que fosse servida uma rodada de conhaque ao final e depois de uma deliciosa sobremesa os convidados começaram a se despedir. Draco observou os pais de pé, junto à porta de entrada, como finos anfitriões, então considerou aquela uma ótima oportunidade para ir até a biblioteca e ver se havia alguma pista.

Disfarçou e conseguiu se retirar da confusão de convidados. Esgueirou-se pelo corredor e entrou na biblioteca. Olhou as estantes e a mesa do pai. Nada de estranho ou incomum. Nenhum objeto que ele não estivesse acostumado.

"Droga, estou ficando maluco. É claro que não haveria nada aqui", pensou, olhando o chão, mas algo chamou sua atenção. Havia algo debaixo da mesa. No tapete.

Draco se abaixou e observou o Galeão Negro, na dúvida se deveria ou não o tocar. Parou por alguns segundos e testou o objeto, jogando um pedaço de pergaminho por cima deste. Como nada aconteceu decidiu que poderia segurá-lo. Virou a moeda dos dois lados e viu os dois símbolos. Deduziu ser algo de realmente suspeito. Ficou tentado a levar o objeto e mostrá-lo para Gina mas sabia que dariam pela falta de algo assim então teve uma idéia. Colocou a moeda sobre a mesa e rapidamente colocou um pedaço de pergaminho por cima. Foi até a lareira e, com uma pequena lasca de carvão, delineou todas as duas superfícies da moeda no pergaminho, dobrando-o e enfiando-o nas vestes. Colocou a moeda e o pedaço de carvão exatamente no mesmo lugar.

Algo o fez olhar para a porta e percebeu a maçaneta girando. Alguém entraria a qualquer segundo. Esticou a mão para a estante e pegou um livro, então deitou no sofá. O rosto pálido e sem expressão de sua mãe o fitou com espanto.

- Seu pai quer vê-lo – ela observou o livro nas mãos do filho: "Lâminas antigas: A arte de forjar metal em Espadas". Sorriu sombriamente. – É bom que se interesse por isso – disse sem emoção.

Draco levantou e recolocou o livro na estante. Narcisa esperou que ele saísse, então foi até o pé da mesa e recolheu a moeda do chão. "Pedro, seu idiota", pensou enquanto trancava a biblioteca.

Draco caminhou calmamente até o pai e viu quando a mãe discretamente guardou algo no bolso do casaco dele. Olhou seriamente para o pai, que parecia extremamente orgulhoso da noite perfeita.

- Onde estava?

- Estava na biblioteca, pai. Esses idiotas todos me cansaram. Francamente, se eu fosse o senhor não conseguiria suportar tamanhos tolos – Lúcio sorriu contente.

- Ainda é jovem. Um dia suportará coisas piores, filho. Eu tenho certeza que sim – Draco sorriu.

"Ele diz isso como se fosse uma coisa boa... Eu mereço", sacudiu a cabeça para o pai, que o dispensou com um olhar.

- Boa noite – disse para a mãe.

- Boa noite – os pais responderam mecanicamente. Draco subiu para os seus aposentos, torcendo para que o final de semana acabasse logo.

Em Hogwarts, o jantar de Halloween foi, como sempre, muito animado. Os fantasmas das casas fizeram performances assustadoras, sobrevoando por sobre os alunos do primeiro ano. Os outros riram bastante.

Harry já estava sentado quando Gina e Neville entraram pelo Salão. Ela ergueu o rosto para ele. Estava visivelmente exausta. Neville veio andando ao lado dela. Gina já estava irritada com o número de vezes que ele pediu desculpas e agradeceu.

- Obrigado de novo, viu Gi? – Neville disse, afastando-se. A ruiva forçou um sorriso.

- Tudo bem, Nev – bufou e rolou os olhos para cima. Apoiou a cabeça no ombro de Harry.

- Foi tão ruim assim? – perguntou, solidário.

- Bem, em uma escala de um a dez, com um sendo "chato" e dez sendo "socorro, vou me auto-estuporar", eu diria que foi onze – Harry riu. – Minha cabeça está explodindo – resmungou. – Eu tive que refazer todo o pergaminho porque o coitadinho do Neville tinha entendido que era sobre um tema mas era sobre outro completamente diferente. Aí já viu o trabalhão que me deu – Harry lhe massageou as têmporas e depois beijou o alto de sua cabeça.

Os dois jantaram e quando já estavam quase terminando o professor de Poções passou bem próximo a Harry e o cutucou no ombro.

- Depois do jantar. Masmorras – disse de costas, sem sequer olhar para o rapaz. Gina forçou um sorriso.

- Eu te espero – puxou a pequena chave dourada do pescoço. Ele olhou para o objeto e sorriu.

- Isso me encorajou – piscou para ela. - Vou tentar ser rápido – deu-lhe um leve beijo nos lábios e seguiu o professor Snape.

Harry encontrou o professor nas masmorras. Snape sorriu ao ver a expressão desanimada do garoto. Esticou uma pequena ferramenta para o rapaz. Harry arregalou os olhos.

- O que é isso, professor? – Snape apertou os olhinhos escuros.

- É um formão. Você vai utilizar isso para raspar das mesas e cadeiras os restos de poções secas e outras coisinhas que vocês, alunos, teimam em grudar no patrimônio da escola – Snape apontou um chiclete debaixo da sua mesa. Harry bufou.

- Tudo bem professor – começou a raspar mas Snape o interrompeu.

- Depois vai passar o lustra-móveis, é claro. O serviço deve ser impecável ou descontarei cinqüenta pontos da Grifinória – ele se espichou na cadeira, colocando os pés sobre a mesa, abriu o Semanário Bruxo dos Esportes e se deliciou ao ver Harry esfolar os dedos e suar como um louco enquanto raspava as sujeiras das carteiras e as jogava num balde. - Eu acho que tudo isso é tão desnecessário, Potter – o pior para Harry era escutar os comentários ácidos e venenosos do professor. – Se não tivesse me agredido não estaria aqui. E poderia estar usufruindo da companhia da sua namoradinha.

Harry ficou com raiva e passou o formão com tanta força na carteira que arrancou uma lasca, cortando profundamente a mão. Apontou a varinha para o machucado e conjurou algumas ataduras. Depois passaria na enfermaria e tomaria algo para a dor.

- Férula! – respirou fundo e continuou com a mão esquerda. Agora demoraria mais. Se o professor não estivesse sendo um perfeito idiota já poderia estar com Gina.

Algumas horas depois terminou de passar o lustra-móveis na última carteira. Seu corpo doía todo e sentia como se tivesse acabado de sofrer a Maldição Cruciatus. Snape sorriu ao fechar o jornal e ver o quanto o rapaz estava acabado.

- Muito bem Potter. Liberado. Pode ir agora – Harry espichou o corpo, tentando conferir se ainda tinha todas as vértebras no lugar. Parecia ter jogado uma partida de quadribol de dois meses de duração.

Encaminhou-se para fora das masmorras, subiu para a Torre da Grifinória o mais rápido que o corpo permitiu. Entrou no seu quarto, lavou-se depressa. Fechou as cortinas de sua cama, fazendo um gesto de silêncio para Edwiges, que estava acordada, olhando-o com olhos repressores e, cobrindo-se com a capa de invisibilidade, seguiu para o quarto reservado de Hermione, apanhando uma das flores de um vaso do corredor.

Abriu a porta. Havia uma tênue luz de velas iluminando o lugar. Harry sorriu. Tirou a capa de invisibilidade e a apoiou sobre a escrivaninha impecavelmente organizada de Hermione.

Gina havia preparado toda uma atmosfera romântica. Algumas velas já tinham derretido completamente mas a luz da lua, que entrava pela janela, deixava o quarto com um toque especial. O vento frio da noite balançava as cortinas. Aproximou-se da cama e viu que Gina dormia. Usava uma camisola cor de rosa com pequenas flores brancas. Ele sorriu ao ver o quão encolhida ela estava e fechou a janela devagar.

Ficou ainda alguns segundos a observando dormir. Então se sentou ao lado dela, sussurrando em seu ouvido.

- Cheguei minha princesa – passou a flor na bochecha dela devagar. Ela murmurou algo intelegível e abriu espaço para ele na cama. Harry deitou e a cobriu, entrando com ela debaixo das cobertas. Gina se ajeitou, rolando para o lado, e aconchegou-se no peito dele, passando a perna por cima da de Harry, enroscando-se nele.

- Hum... Que bom que você chegou. Esperei tanto – entreabriu os olhos castanhos e sorriu para Harry, passando a mão no rosto dele.

- Eu também esperei – beijou a mão dela, que repousava em seus lábios.

- Eu só vou dormir só um pouquinho – justificou-se, sonolenta. – Já, já eu acordo – completou, fechando os olhos. Harry riu e beijou seus lábios de levinho.

- Tudo bem meu amor. Eu também estou morto – afagou os cabelos dela com carinho e quando se deu conta já estava dormindo um sono profundo e extremamente necessário, abraçado a Gina.