Quando os primeiros raios de sol da manhã de domingo atingiram o quarto Harry despertou. Olhou no relógio de Hermione. Eram seis horas da manhã. Ele e Gina teriam que correr para os dormitórios se não quisessem que alguém descobrisse que tinham dormido fora aquela noite. Observou a garota dormindo por um minuto, encantado com a delicadeza dela, mas acabou por chamá-la.
- Gi... – roçou os lábios no ouvido dela, que se coçou. Ele riu e fez de novo, para provocá-la. Gina abriu os olhos.
- Olá você – ela disse com a voz mole e sonolenta. – Bom dia – espreguiçou-se do lado dele, abraçando-o. Ele olhou dentro dos olhos semiabertos dela por algum tempo.
- Temos que levantar. Ou podem dar pela nossa falta lá embaixo – Harry jogou as pernas para fora da cama e ela suspirou.
- Só mais alguns minutos – disse, suplicante, puxando-o pelo pijama. Ele deitou de novo ao seu lado.
- E quem pode resistir a você pedindo desse jeito? – segurou o rosto dela próximo do seu e beijou-lhe com delicadeza.
Foi o suficiente para que ela enlaçasse o seu pescoço, aprofundando ainda mais o beijo. Ela entreabriu os lábios e puxou Harry para mais perto de si. Colocou a mão sobre o peito dele e fez com que se deitasse de costas, ficando sentada por cima das suas pernas. Harry sentou e a abraçou forte, deslizando a mão nas pernas dela por baixo da camisola até a sua cintura, segurando-a pelo quadril. Gina deixou escapar um gemido baixinho quando ele subia uma das mãos por dentro do fino tecido. As bocas se procuraram seguidas vezes, famintas uma da outra. Mantinham os olhos fechados. Então Gina abriu os olhos, encontrando os de Harry, preenchidos de amor e desejo. Tirou com cuidado os óculos dele, colocando-os sobre a mesinha de cabeceira. Foi quando ela viu o relógio.
- Harry – sobressaltou-se, pulando do colo dele para o chão. - São seis e cinco da manhã. Em poucos minutos todos estarão acordados. E vão dar pela nossa falta – Harry respirou fundo, tentando oxigenar o cérebro.
- Eu tentei te dizer isso há pouco – olhou para ela, que abaixou os olhos e corou. Ele puxou o lençol e se cobriu, absolutamente sem graça.
- Eu estava dormindo ainda - ela justificou. - Demoro um pouco para "funcionar" normalmente – ele riu.
- Então vá na frente. Estou enfrentando problemas semelhantes aqui, se é que me entende – ela corou ainda mais.
- Mas e essa bagunça? – ele sacudiu a cabeça.
- Não se preocupe – respondeu, tateando a mesinha e recolocando os óculos, depois de limpar o embaçado das lentes no lençol. - Eu arrumo. Estou com a capa aqui e não vou deixar que me vejam. Desça e durma mais um pouco. Ou finja. Eu te vejo às oito horas na mesa do café – Gina concordou com um aceno e já ia saindo do quarto quando voltou e deu-lhe mais um beijo rápido.
- Eu te amo – disse, sorridente, e saiu correndo.
- Eu também – ele deixou a frase no ar enquanto ela saía porta afora. Olhou em volta e riu da própria falta de sorte, deixando-se cair de costas na cama desarrumada.
Quando ela entrou no Salão Principal ele já a estava esperando. Ambos um pouco abatidos pelas poucas horas de sono. Assim que ela se sentou ao lado dele os dois ficaram sérios, tentando disfarçar que tinham dormido juntos.
- Bom dia – ela falou para despistar, já que Neville estava sentado próximo a eles.
Harry apertou os lábios, tentando não rir, mas antes que conseguisse responder ao "bom dia" de Gina os dois já estavam tendo uma enorme crise de risos. Neville não entendeu nada e afastou o seu prato de cereais para perto de Dino e Simas, provocando ainda mais risos no casal.
Antes que os alunos se levantassem Madame Hooch ficou de pé e todos fizeram silêncio. Imaginavam que seriam notícias sobre quadribol e estavam absolutamente corretos. A professora pigarreou e abriu um largo sorriso.
- Muito bem, vocês sabem que estou me dedicando bastante ao primeiro ano. Por isso, infelizmente, não poderei administrar o torneio de quadribol esse ano – uma série de reclamações, gemidos e até xingamentos foram ouvidos no Salão. A professora deu alguns segundos antes de continuar. – No entanto – todos se viraram para ela – sei o quanto o torneio é importante para vocês. Por isso tomei a liberdade de convidar uma outra pessoa para coordenar o campeonato – apontou para a entrada do Salão Principal e quando os alunos viram quem era o convidado especial não tardaram a bater palmas e assoviar.
- Olívio – Harry exclamou, sorridente. O ex-capitão da Grifinória acenou para os amigos.
- Que maravilha – Gina disse, sorrindo. O rapaz foi acompanhado por palmas, apertos de mão e tapinhas nas costas até se sentar à mesa dos professores, ao lado da professora de vôo. A professora McGonagall abraçou o ex-aluno, emocionada.
- Olívio Wood cuidará do campeonato, que deve começar ainda em novembro – uma salva de palmas preencheu o Salão.
- Que pena que Rony e Mione perderam essa – Simas lamentou, virando para os outros.
- Quem disse? – a garota cutucou os amigos.
- Mione? Vocês já voltaram? – Gina perguntou, confusa.
- É, com todo esse barulho e as atenções voltadas para o Olívio ninguém percebeu a nossa "entrada triunfal" pelos fundos do Salão – Gina passou os olhos pela mesa da Sonserina e viu que Draco já estava sentado ao lado de Crabbe e Goyle, com uma expressão enojada para o ex-Capitão da Grifinória. Ela se voltou para o irmão.
- Como foi o Halloween? – Rony estava mal humorado e carrancudo.
- Não sei. E o seu? Como foi? – ele perguntou, ainda sem falar ou encarar Harry, que estava achando o comportamento do amigo particularmente estranho mas ainda não tinha comentado.
- Uma droga – disse significativamente, olhando para Hermione, que franziu a testa em total surpresa.
- Uma droga? Como assim? – ela olhou Harry de modo questionador e sinalizou para Gina, que respondeu negativamente com a cabeça. Mione fez uma expressão desanimada, entendendo o que tinha acontecido.
- Snape me fez cumprir detenção ontem à noite. Eu até me machuquei arrancando sujeira das carteiras – ergueu a mãe enfaixada para os amigos. – Já a Gina teve a tarde inteira ocupada por dúvidas de Herbologia de Neville. Ainda nem tivemos tempo de terminar os deveres atrasados – Hermione fez uma careta quanto à última frase do amigo mas Rony pareceu subitamente melhorar o humor.
- Bem, bom saber disso – deixou escapar. Mione o repreendeu com o olhar e ele disfarçou. – Que o Olívio está de volta, vocês entenderam, né? – Gina torceu os lábios para a amiga, que deu de ombros. – Espero que o machucado não o atrapalhe de pegar o pomo, parceiro – Rony achou por bem acrescentar.
- E vocês, o que fizeram ontem? – Harry perguntou curioso, mudando de assunto. Mione riu.
- Andamos como bruxos pelas ruas e ameaçamos os trouxas caso não nos dessem doces – Neville arregalou os olhos e até mesmo Gina ficou surpresa. Harry deu uma gargalhada.
- E-e o Ministério da Ma-Magia sa-sabe disso? – Neville perguntou, preocupado. Rony deu um tapa na própria testa, achando graça do amigo ser tão tapado.
- É uma brincadeira, Nev – Mione explicou. – No Halloween, crianças e jovens trouxas se fantasiam do que quiserem e saem batendo de porta em porta dizendo "doces ou travessuras". Eu estava brincando... – o garoto melhorou a expressão mas ainda pareceu desconfiado. Gina riu. Ergueu os olhos e Draco sinalizou que tinha algo para falar com ela. Harry percebeu.
- Eu acho que seu "amigo" quer te contar as novidades de casa, Gina – cochichou e ela acenou.
- Eu vou falar com ele – sussurrou no ouvido de Harry. - Encontro vocês na biblioteca depois, para adiantarmos os deveres atrasados – disse em tom casual - Mione bufou em represália aos três estarem devendo em algumas matérias mas disfarçou o descontentamento.
Os quatro se levantaram e Gina atrasou o passo, esperando que Draco a alcançasse. O loiro disse qualquer coisa para os colegas enquanto se levantava e todos ouviram a mesa da Sonserina explodir em gargalhadas. Harry caminhou na frente, já começando a se aborrecer. Ele viu, com o canto dos olhos, ao virar o corredor, quando Draco segurou o braço de Gina e a puxou para dentro de uma das salas vazias. Um grupinho de sonserinos passou por eles rindo.
- Vocês acham mesmo que o Malfoy vai roubar a namoradinha de certas pessoas? – disseram alto, para que Harry ouvisse.
O grifinório apenas fingiu não ouvir o comentário. Rony e Hermione não deram uma palavra sequer, limitaram-se a dar de ombros e suportar o silêncio do amigo até entrarem na biblioteca.
- Ai, Draco, você me machucou – Gina reclamou, alisando o braço enquanto Draco fechava a porta atrás de si.
- E você esperava o que de mim, Weasley? Delicadeza? – ela franziu a testa.
- Weasley? – deu uma pausa. Draco cruzou os braços. – Posso saber o motivo de todo esse súbito "cavalheirismo", Malfoy? – enfatizou propositadamente a última palavra. Draco riu maldosamente.
- Bem, enquanto o seu Halloween envolveu doces, Potter e os lençóis imundos da sangue ruim – fez uma careta de nojo - o meu foi um inferno – continuou. - Obrigado por perguntar, a propósito – Gina ficou indignada.
- Como é? Com que direito você fala assim comigo? Eu não devo satisfações a você – vociferou. - E se quer mesmo saber, garanto que o meu Halloween foi muito pior do que o seu – Draco ensaiou um comentário sobre a possível performance de Harry mas Gina o cortou imediatamente. – E antes que diga qualquer coisa ofensiva e eu me arrependa seriamente por ter voltado a ser sua amiga devo dizer que passar a tarde inteira refazendo os deveres de Herbologia do Neville e a noite quase toda esperando o Harry voltar de uma detenção absurdamente injusta do professor Snape não me deixaram de muito bom humor – o sonserino sorriu.
- Depois me lembre de congratular o panaca rolha de poço do Longbottom e o professor Snape também – Gina se aborreceu e se encaminhou para a porta.
- Hey, hey... Você vai sair já? – ela rolou os olhos para cima.
- Vou. Eu realmente não sei onde estava com a cabeça quando aceitei isso. Não vejo propósito em deixar você encher a minha paciência. Eu tenho mais o que fazer. Meu namorado está me esperando – ele foi até a porta e a segurou pelos ombros.
- Ouch! Você venceu – fez uma expressão teatral de dor. - Está bem, ruiva, eu vou direto ao ponto – disse, retirando o pergaminho das vestes e o entregando para Gina.
- O que é isso? – perguntou, examinando o desenho dos dois lados da moeda, demarcados com o carvão.
- É o desenho de uma jóia que pensei em te dar de aniversário. Não é linda? – debochou. – O que você acha que é, ruiva? É uma moeda. E esta caveirinha simpática aqui é a Marca Negra. Já ouviu falar? – Gina se irritou.
- Para o seu governo eu já vi a Marca Negra no céu. Durante a Copa de Quadribol. Eu estava lá, se você não se lembra – Draco riu.
- É verdade. Eu não tinha notado você em meio a todos aqueles insignificantes ruivos pobretões – ela ignorou o comentário.
- A minha pergunta, e você a entendeu muito bem, é o que é isso? Você sabe o que é? – ele torceu os lábios.
- Não. Eu penso que pode ser dinheiro de Você-Sabe-Quem. Veja bem, se você é mau, louco, poderoso, e quer dominar o mundo deve ter moeda própria. Eu teria... – Gina franziu a testa.
- Tenho que mostrar isso ao Harry – guardou a folha no bolso.
- Só isso? Vou mostrar ao "Harry"? - imitou a voz fina da amiga. - Nada de "obrigado, Draco", "Você é um herói, Draco", "Magnífico, Draco", "Que bom que você arriscou a sua pele por isso, Draco"... – debochou, fazendo-a rir. - Aha! Fiz você rir – ele se vangloriou.
- Obrigada, Draco. Magnífico, fenomenal estupendo – disse em um tom jocoso. Ele riu também.
- Tem mais uma coisa, ruiva – disse antes que ela saísse. Gina se virou. - Ontem houve um jantar na Mansão. Havia muita gente lá. Gente influente, importante mesmo – ela se sentou em uma das mesas para ouvir.
- Alguém específico? – perguntou curiosa.
- Ah! Sim! Você-Sabe-Quem se sentou à minha esquerda e a Rainha da Inglaterra à minha direita. Eu não sabia para qual dos dois dava mais atenção ou qual deles era o mais velho e feio. Embora, eu deva dizer, para a minha surpresa, que Sua Majestade ainda tem alguns dentes – Gina ficou séria.
- Essa foi de péssimo gosto, Draco. Continue...
- A questão é que o imbecil do Krum estava lá. E Karkaroff também – Gina ficou surpresa.
- E o que eles foram fazer lá?
- Além de comer às nossas custas? Não sei. Só sei que o idiota mais velho ficou um bom tempo trancado na biblioteca, que por sinal foi onde encontrei a moeda. E o desmiolado do Krum me pareceu muito curioso para saber como estavam indo as coisas lá dentro. Depois os dois cochicharam como duas comadres – Gina suspirou.
- Que coisa estranha...
- É, e não para por aí. Lúcio e os amiguinhos estavam apreensivos quanto ao encontro de Karkaroff com um homem misterioso. E foi esse encontro que demorou horas na biblioteca – acrescentou, sentando-se em frente a Gina.
- E você não ficou sabendo quem era o homem misterioso?
- Não. Ao meu ver poderia ser até Você-Sabe-Quem mas eu não sei quem ele era – Gina ficou desanimada.
Os dois ainda passaram um bom tempo ali, tentando bolar algumas hipóteses. Draco repetiu a história diversas vezes e Gina refez várias perguntas, anotando algumas coisas de vez em quando ou repetindo para se certificar de que tinha mesmo entendido. Queria poder ter toda a conversa na ponta da língua quando fosse explicar para Harry.
Assim que acabou Gina foi correndo para a biblioteca. Estava muito atrasada e ainda tinha que terminar os deveres também. Encontrou Harry sentado lá. Estava visivelmente irritado e ignorou a presença dela a princípio. Gina começou a fazer sua tarefa, tentando disfarçar, mas depois ele ergueu a cabeça e a encarou. Olhava fixamente para ela, fuzilando-a, enquanto ela começava a escrever o pergaminho de um metro pedido pelo professor de Poções. Ele bufou uma ou duas vezes mas ela continuou a escrever, sem levantar os olhos e a cabeça, fingindo que não tinha percebido nada. Ainda não sabia o que dizer para ele.
O clima era tenso. Harry tentou voltar a se concentrar na leitura mas não conseguiu. Bateu o livro com força, chamando a atenção dela e de alguns colegas que estavam próximos. Gina ergueu o olhar e o acompanhou até que ele saísse, porta afora, da biblioteca. Suspirou, desanimada. A reação dele estava sendo a pior possível, e ainda nem tinha começado a se encontrar com Draco regularmente. Aquele tinha sido apenas o primeiro encontro. Gina enrolou o pergaminho. Mesmo que ainda faltasse alguns centímetros para terminar o dever não faria isso naquele momento. Nem que quisesse. Tinha perdido a concentração totalmente.
Guardou todos os livros e saiu apressada atrás dele. Só conseguiu alcançá-lo na entrada da sala comunal.
- Hey! – disse, colocando a mão sobre o ombro dele, que olhou meio atravessado para ela e entrou pelo buraco do retrato.
Gina o segurou firme pelo pulso e indicou com um olhar que era melhor parar com a infantilidade. Harry se deixou cair desanimadamente no sofá da sala comunal vazia. Suspirou e passou a mão pelos cabelos.
- O que você quer, Gina? – a garota ficou em silêncio por alguns segundos, estudando a expressão dele.
- Você sabe muito bem o que eu quero, Harry – respondeu seriamente. – Você precisa parar com essa besteira. Nós somos apenas bons amigos – ele olhou aborrecido para ela.
- Malfoy gosta de você mais do que como amiga – disse, tentando parecer casual.
- Eu sei disso – respondeu normalmente. Harry deu um muxoxo.
- Está vendo só? E você acha que eu devo me sentir como sabendo disso? – perguntou, chateado, ela franziu a testa.
- E você acha que o Draco se sente como? – Harry sentiu que poderia explodir com a pergunta. Como poderia estar mais preocupada com os sentimentos do outro garoto? De Draco Malfoy? Um Malfoy? - Você acha que vai ser fácil para ele passar tanto tempo sozinho comigo tendo a certeza de que não vai ter a mínima chance? Tendo a certeza de que estamos juntos e de que eu te amo mais do que tudo na vida?
Harry se levantou e caminhou até a janela, debruçando-se no peitoril. Olhou calado para o crepúsculo vermelho do lado de fora e suspirou.
- Não é bem isso que ele anda dizendo, Gina – disse finalmente, revelando o que o aborrecia. Ela se irritou com o comentário.
- Então você não confia em mim, Harry Potter? – perguntou, levantando com as duas mãos na cintura, as bochechas rubras como pimenta. Ele riria se ela não estivesse visivelmente ofendida.
- Não é isso. Eu só não gosto de saber que a mulher que eu amo vai passar horas do lado de alguém que eu detesto e que, por um acaso, essa mesma pessoa tem uma grave queda por ela. Alguém que já disse estar disposto a tudo para tirar você de mim – Gina deu um sorriso dessa vez. Andou até ele e passou a mão em seu rosto vermelho de raiva e ciúme.
- Harry! Que drama! Quem disse isso? – perguntou em um tom superior. Ele ficou emburrado e respondeu como uma criança contrariada.
- Foi ele. E os rapazes da Sonserina que andam com ele também – Gina ergueu as sobrancelhas para que prosseguisse. Harry sacudiu a cabeça, envergonhado. – Disseram coisas. E fizeram coisas também. Coisas que me irritaram. Coisas que estão me tirando do sério – disse, dando um soco na parede. Gina acompanhou a mudança de expressão dele.
- Que coisas, Harry? – ele hesitou a princípio mas, enfiando a mão no bolso, retirou um pedaço de papel dobrado. Estendeu a folha para ela. Gina desdobrou e viu um desenho. Era um trenó de natal, com o Papai Noel e as renas. Ela sorriu. Ele fez uma expressão de surpresa.
- Encontrei isso dentro do meu livro, quando voltei do banheiro. Isso não te aborrece? – perguntou, estranhando a reação da namorada. Ela deu de ombros.
- Por que aborreceria? – perguntou, mostrando o desenho para ele. – Eu adoro Natal e até que está bem desenhado, embora fora de época – ele deu um suspiro.
- Então dá uma olhada melhor no Rudolph – disse, apontando para a rena de nariz vermelho. Gina olhou fixo para o papel. – A testa dele, para ser mais exato... – a garota não conteve uma gargalhada. Na lateral da testa de Rudolph tinha uma pequena cicatriz em forma de raio desenhada, exatamente entre os chifres. Harry arrancou o papel das mãos dela. - Lacarnum Inflamare! – disse, queimando-o, já que não podia fazer o mesmo com os responsáveis. Gina olhou dentro dos olhos dele, para lhe transmitir confiança.
- Harry, isso é uma bobagem. Brincadeira de moleques. Não ligue para isso – disse, sorrindo. Ele resmungou.
- Não é você que tem que aturar os garotos cochichando, apontando e dizendo que eu vou me ausentar no Natal – Gina sacudiu a cabeça.
- Harry Potter, não tem a menor possibilidade de alguém me separar de você. Eu te amo! Mais que tudo. Todo mundo que interessa sabe disso – estreitou mais o espaço entre os dois. – E depois... – disse, devagar e dengosa. – Só você me faz sentir assim... – completou. Ele olhou intrigado para ela.
- Assim como? – Gina sorriu e, pegando a mão dele, colocou-a em cima do seu coração. Harry sentiu as batidas fortes e aceleradas contra a própria palma. Ele riu.
- Viu só? Ele reconhece o dono – Harry sorriu, satisfeito, e escorregou a mão para as costas dela, abraçando-a forte.
- Me desculpe – murmurou, beijando o alto da sua cabeça. – É que são tantas coisas acontecendo que eu tenho medo de perder a única coisa certa da minha vida – ela ergueu a cabeça, ficando na pontinha dos pés, e procurou os lábios dele de olhos fechados. Ele deu um beijo doce e terno nela.
- Eu vou falar com o Draco. Ele vai parar de implicar com você – Harry a afastou e disse, com os olhos arregalados.
- Nem pense em fazer isso. Só vai tornar as coisas piores. Ele vai achar que eu sou um idiota de ter ficado tão abalado com as brincadeirinhas estúpidas dele – Gina deu um sorrisinho cínico.
- Coisa que o senhor, obviamente, não foi, né? Rudolph – acrescentou, correndo. Harry olhou de modo ameaçador para ela.
- É melhor que você não deixe eu te pegar, Gina, ou você vai sentir a vingança de uma rena enfurecida – Gina gargalhava enquanto ele a perseguia em volta do sofá.
- Não, não, não Harry – ela dizia enquanto corria. Afastou do sofá e correu para o lado oposto da entrada da sala comunal, dando um gritinho histérico. Harry pulou por cima de uma almofada, aos tropeços, e a alcançou rapidamente, imprensando-a contra a parede. Ela riu. - O que você vai fazer, Harry Potter? – perguntou, contendo um riso nervoso. Ele colocou os braços, apoiados na parede, um de cada lado dela, para que não escapasse.
- Você não imagina? Hum... – disse, afundando o rosto no vão entre o ombro e o pescoço dela, beijando-a devagarinho. – Que tal terminarmos o que começamos hoje de manhã? – sussurrou em seu ouvido. Gina tentou sair, estava fazendo cócegas, mas ele diminuiu o espaço, trazendo os braços para mais perto.
- Harry – sussurrou, virando os olhos enquanto ele mordiscava seu pescoço. – Você está maluco? – disse baixinho, quase sem conseguir se mexer.
- Estou. Por você... – respondeu num suspiro rouco, prendendo os braços dela sob os seus.
- Aqui não! – disse, dengosa. Ele olhou com os olhos febris para ela, quase suplicante.
- Onde então? – perguntou, ansioso. Ela correu os olhos pela parede, alcançando o andar de cima. Era hora do jantar e os dormitórios deviam estar vazios. Ela o empurrou, provocando-o, aproveitando que tinha se distraído, atento ao alvo do olhar dela, e correu escada acima. Ele riu maliciosamente e foi logo atrás.
Gina entrou no quarto dos meninos do sétimo ano. Harry a alcançou, segurando-a pela cintura, colando os lábios nos dela com vontade. Se agarraram desajeitadamente enquanto caminhavam pelo quarto, errando muitas vezes a boca um do outro e rindo bastante. Em segundos os dois se beijavam entusiasmadamente, deitados um por cima do outro, rolando na cama dele. Já estavam começando a se soltar, enfiados debaixo dos lençóis, cobertos até a cabeça, quando ouviram um barulho.
Gina sentou abruptamente na cama, abotoando os dois primeiros botões da própria blusa. Os cabelos ruivos estavam arrepiados como se tivesse levado um choque elétrico. Harry se ergueu em seguida. Os óculos embaçados, tortos no rosto, e uma marca arroxeada no pescoço.
- Harry! Gina! – uma voz conhecida gritou da escadaria.
- Rony! – os dois disseram juntos, virando-se um para o outro, percebendo o estado deplorável em que se encontravam. Ambos descabelados, vermelhos, suados, marcados, a cama desarrumada, as vestes em total desalinho.
- Por Merlin, que droga! – Harry deu um soco no colchão. – Decididamente, acho que nunca vamos conseguir fazer isso em paz - resmungou, visivelmente frustrado. Gina arregalou os olhos, apavorada, ouvindo os passos do irmão na escada.
- Não podemos deixar que ele veja isso. Seria difícil explicar – murmurou, nervosa. Harry não teve dúvidas, pensando rápido, jogou a capa de invisibilidade de seu pai sobre a namorada e tentou se fazer mais apresentável. O amigo entrou no quarto na hora que ele desembaçava os óculos.
- Harry? – perguntou, espantado. – Que bagunça! Sua cama está um caos. Se os monitores fossem passar a visita nos quartos hoje você estaria perdido. Sorte que Mione, como chefe deles, sabe quando tem essas batidas. Se não fosse por isso nós estaríamos tendo problemas para dorm... – ele travou. Corou até as orelhas. Harry franziu a testa.
- Para o quê, Ron? – perguntou, preocupado. – Você e Mione estão em apuros? – Rony deu de ombros, desconcertado. Respirou pesadamente.
- Não. É uma coisa que eu quero te contar. Algo que eu já devia ter contado – parou, um pouco tímido. Gina imaginou o que o irmão ia dizer e saiu de fininho, encoberta pela capa. Harry estava curioso.
- O que é, Rony? – perguntou, ansioso.
- Sabe, eu? – Harry torceu os lábios e sacudiu afirmativamente a cabeça. – E a Mione? – o amigo ergueu as sobrancelhas. – Então, eu e a Mione. Entende... – gesticulou; Harry franziu a testa.
- Você e a Mione... – repetiu sem entender. Rony fez uma careta e disse rápido, de uma só vez fechando os olhos.
- Fomos eu e a Mione que invadimos a casa do Hagrid ano passado – Harry ficou de boca aberta.
- E por que vocês fariam uma coisa dessas, e... Ah! – concluiu no meio da frase. – Entendo. Por isso os estudos exaustivos e as escapulidas estratégicas – ele riu. - Mas você não precisava ter se aproveitado da ausência do Hagrid e invadido a casa dele, Rony – implicou. O ruivo corou e respondeu em seguida.
- Se eu me lembro bem você estava fazendo o mesmo – Harry ficou sem graça. – E Pior... Com a minha irm – disse, encostando o dedo, em acusação, no peito de Harry. – Por isso não te contei antes. Para não o encorajar a fazer o mesmo – o rapaz engoliu em seco.
- É... É... É... – gaguejou. – Mas nós não íamos, digo, nós não vamos... Sabe... Ainda não – ficou vermelho. - Droga, Rony, é mais difícil para eu falar sobre isso. Gina é sua irmã, por Merlin – Rony riu.
- E ela tem mais cinco irmãos. Mais velhos. Maiores – completou, rindo. Harry não estava achando graça nenhuma. – E você sabe, se fizer algo a Gina nós vamos caçá-lo até o fim do mundo e acabar com a sua raça e parecer que foi um acidente – Harry arregalou os olhos mas não conteve a risada quando percebeu que era brincadeira do amigo.
- Muito engraçado, Rony. Realmente apavorante – Rony fez uma cara de convencido enquanto se enfiava debaixo das cobertas.
- Eu sempre quis dizer isso - Harry deu uma gargalhada. - É, mas você quase acreditou – acrescentou com categoria. Harry sacudiu a cabeça.
- Mas Mione tem razão, suas orelhas – apontou para o amigo. - Elas o denunciaram. Continuaram brancas. Quando você está realmente furioso elas ficam púrpuras, como as da Gina – piscou para o amigo.
- É, você está descobrindo os segredos dos Weasley – respondeu, bocejando antes de virar para o lado e cair no sono. Harry riu com vontade enquanto arrumava a cama para poder dormir.
"Nem todos os segredos, Rony. Mas quem sabe um dia...", pensou enquanto se deitava, ainda decepcionado por mais uma tentativa fracassada.
