Harry colocou Hermione no sofá da sala comunal, Gina a fez levitar e começou a guiá-la para a enfermaria. Rony fez menção de ajudar mas Harry o deteve, pedindo que fosse chamar a professora McGonagall para ver a amiga. Gina segurou a mão de Mione e ficou sentada ao lado dela, Harry andava de um lado para o outro, extremamente preocupado com os Granger. Poucos minutos se passaram até que a diretora da Grifinória entrasse pela porta, seguida de perto por Rony. Ela examinou a garota, deu um sorriso aliviado, vendo o atendimento rápido de Madame Pomfrey.
- Ela está apenas em choque emocional. Mas está bem Minerva – abriu um pequeno frasco do qual um forte cheiro exalou e aproximou do rosto da garota, que abriu os olhos imediatamente.
Hermione olhou em volta. Harry, Gina, Rony, a enfermeira e a professora de Transfiguração a observavam atentamente. Antes que alguém perguntasse algo ela respirou fundo e começou a falar.
- Eu estava na biblioteca quando a professora McGonagall veio falar comigo. Ela tinha nas mãos um pergaminho. Era um comunicado de St. Mungus dizendo que meus pais tinham sido atacados enquanto faziam compras de Natal no Beco Diagonal e estavam internados lá. Eu não sei o que deu em mim. Larguei o pergaminho sobre a mesa e saí correndo. Eu não estava no meu juízo perfeito. Quando eu pensei no que tinha acontecido meu primeiro impulso foi correr até eles... – disse, envergonhada da sua impulsividade. Harry trocou um olhar com a professora, que sorriu.
- Querida, não precisa se envergonhar. Você ficou nervosa. É natural. Mas saiba que o Dumbledore recebeu a mesma comunicação e entrou em contato com o diretor do hospital. Seus pais estão passando muito bem, apenas abalados, é claro. Mas estão bem... – Gina apertou a mão de Mione.
- O que aconteceu com eles, professora? – Harry perguntou baixinho. Hermione ergueu o rosto pálido para ouvir a resposta.
- Não é a hora de falar sobre isso, Sr. Potter. O que importa é que estão bem. E lhes vai ser dada oportunidade de apagarem o fato da memória, tão logo tenham prestado um depoimento ao Ministério da Magia. Alastor está cuidando disso...
Rony engoliu em seco. Tinha acabado de chegar na biblioteca quando Hermione saiu correndo aos prantos, deixando a diretora para trás. Também tinha lido o pergaminho, que agora estava em seu bolso.
- Aqui está – ele colocou a carta sobre a cama. – Isso é seu, desculpe por ter lido mas me pareceu ser algo importante... Foi inevitável que eu lesse – ela não o encarou nos olhos mas meneou a cabeça em agradecimento. Rony não ficou muito feliz com a reação mas pelo menos não tinha sido ignorado.
- Agora vocês devem deixar a senhorita Granger descansar um pouco. Voltem para a sala comunal. Está tarde – ela se virou para Hermione. - Amanhã você poderá visitar os seus pais, querida. Alvo já deu a autorização.
- Obrigada professora – Hermione disse com a voz mais calma.
Os três saíram da enfermaria bastante consternados. Caminharam em silêncio até o retrato da Mulher Gorda. Gina sussurrou a senha e os garotos entraram logo atrás. Alguns dos colegas de turma ainda estavam de pé, esperando por notícias.
Neville se aproximou dos três com o olhar muito triste. Já havia praticamente perdido os pais e estava preocupado que a amiga tivesse o mesmo destino. Harry respirou fundo e começou a dar notícias.
- Bem, os Granger foram atacados no Beco Diagonal enquanto faziam compras de Natal mas estão passando bem – olhou para Neville, que acenou com a cabeça, aliviado.
- E Hermione? – Lilá perguntou timidamente. Gina se virou para ela e respondeu calmamente.
- Ela está abalada, é claro. Vai passar a noite na enfermaria mas está bem – olhou a expressão aturdida e assustada dos amigos e abaixou a cabeça. Harry segurou sua mão com mais força. Rony ergueu o rosto e encarou os colegas de turma.
- Por favor. Precisamos ficar calmos agora. Hermione vai precisar de todo o nosso apoio. Então não vamos ficar enchendo ela de perguntas amanhã quando voltar. Ela provavelmente vai conversar com todos e explicar o que houve. Agora eu sugiro que a gente vá dormir. Amanhã tem aula e Snape não vai aliviar a Grifinória caso fiquemos dormindo pelos cantos da masmorra – Harry achou muito coerente da parte de Rony e logo os curiosos haviam se dispersado para os dormitórios.
Ficaram os três sentados no sofá em frente à lareira, olhando-se em silêncio. Por fim Rony acabou falando de novo, com a mesma firmeza de antes.
- Não adianta nada a gente ficar aqui feito uns panacas. Com pena dos Granger. A gente precisa fazer alguma coisa. Descobrir quem fez isso com os pais dela. Quem está querendo atingir trouxas assim, em plena liquidação de Natal, tem que ser muito audacioso – Harry torceu os lábios.
- Não dá para termos idéia de quem planejou o ataque, Rony. Eu não sei se você já parou para pensar mas estamos sem nenhum espião agora – Gina abaixou a cabeça.
- Tudo por que eu fui estúpida demais para acreditar no Draco...
- Hey! Não fale assim, está bem? – Harry a aconchegou contra o próprio peito. – O importante é que você está bem...
- É. Isso é verdade Harry. Mas ainda seria muito bom se tivéssemos algum espião do lado inimigo. Assim a gente poderia saber quem foi o desgraçado que fez isso com os pais da Mione. E quem sabe saber o que estão tramando – Harry e Gina concordaram.
- Mas quem poderia fazer isso para a Ordem e não levantar nenhuma suspeita? – Gina perguntou mas os dois meninos deram de ombros.
Ficaram mais algum tempo especulando o que poderia ser feito antes de irem se deitar. Gina sabia que não adiantava nem tentar voltar para o quarto de Hermione. Ela e Harry agora estavam mais preocupados com Rony e a amiga do que com a resolução de sua vida amorosa. Então mais uma vez foram dormir e tentar se conformar com o adiamento de seus planos. Mas enquanto dormiam outros eventos estavam em curso.
- Como assim o ataque não funcionou? – o rapaz perguntou, revoltado. – Eu disse onde estariam os malditos trouxas, não disse? Tenho culpa da falta de competência dos seus lacaios idiotas? – o outro homem riu.
- Eu gosto da sua audácia. Da sua energia. É bom ter sangue novo entre nós...
- Eu deveria ficar orgulhoso agora? – o homem ficou sério.
- Não exagere garoto. Audácia é algo que me agrada mas insubordinação não – o rapaz deu um passo à frente.
- Então precisa começar a contratar alguém qualificado para esse tipo de serviço. Se fosse eu os dois estariam mortos e não protegidos agora por um esquema de segurança digno de Hogwarts e pior, com capacidade de reconhecer seus atacantes – o homem sacudiu a cabeça.
- Ainda não entendo como não morreram. Trouxas não sabem nada sobre contra-feitiços. Eles teriam que ter tomado alguma poção profilática antes. Seria o único jeito de não estarem mortos agora... – o rapaz continuou impassível.
- Não me interessa como escaparam. A questão é que eu cumpri o que prometi. Eu disse onde estariam os pais da garota, não disse? – perguntou, irritado. - Agora quando eu posso receber a Marca Negra? – Rabicho sorriu.
- Logo, Sr. Krum. Logo...
De manhã, antes do café da manhã, Hermione foi acordada por um burburinho na enfermaria. Madame Pomfrey andava de um lado para o outro e a professora McGonagall parecia bastante ansiosa.
- Eu ainda acho que não é uma boa idéia que a Srta. Granger seja escoltada até St. Mungus por esse rapaz – Hermione esfregou os olhos. Quem a escoltaria afinal?
Uma sombra alta e esguia passou por trás do biombo que separava a cama dela da outra.
- Bom dia Hermionini – a garota arregalou os olhos.
- Vítor? – o rosto do rapaz formou um sorriso. – O que você está fazendo aqui? – ele pareceu constrangido.
- Bem, eu estou feliz em vê-la bem Hermionini – ela ficou sem graça mas continuou com as sobrancelhas levantadas, surpresa.
- Você está aqui por quê, Vítor? – a professora McGonagall se aproximou dos dois e respondeu a pergunta.
- Ele a conduzirá até St. Mungus, Srta. Granger. Ao que me parece o Sr. Krum aqui foi quem salvou seus pais do ataque, chegando precisamente na hora, e faz questão de levá-la para vê-los... – terminou com uma nota de desaprovação na voz. Hermione ainda estava um tanto quanto confusa.
- Mas como foi... Sabe, o ataque? – Krum abaixou a cabeça.
- Bem, eu prefiro conversar sobre isso mais tarde, quando estivermos na carruagem. Há muitas coisas que você vai saber sobre mim que a surpreenderão. Agora você precisa se arrumar, Hermionini, estamos atrasados para a visita – a garota acenou. – E ela não vai querer chegar na hora errada não é, professora? – McGonagal fez uma careta.
- Creio que não, Sr. Krum. Pelo visto o senhor tem o dom de estar na hora certa no lugar certo. Então creio que vá saber conduzi-la – disse antes de virar as costas. – Dê minhas lembranças aos seus pais, Srta. Granger – foi a última frase que pôde ser entendida. Depois murmurou algo que pareceu como: "Onde o Alvo está com a cabeça?" mas Hermione não pôde ter certeza.
Enquanto Hermione saía da enfermaria, acompanhada de perto por Krum, Rony descia as escadas correndo. Queria surpreendê-la ainda na ala hospitalar. Precisava falar o quanto estava preocupado com ela, com seus os pais, que haviam sempre sido muito simpáticos com ele, sobretudo dizer o quanto sentia sua falta. Mas assim que chegou foi pego de surpresa pelo que viu. Hermione andava lado a lado com Krum, que parecia muito solícito com a garota. Rony sentiu o estômago fisgar. O sorriso e as esperanças morreram em seu rosto de forma assustadora. Abaixou a cabeça e foi então que viu algo reluzente cair do bolso do ex-jogador de quadribol. A coisa caiu no tapete e rolou para o lado. Seguiu o objeto com os olhos. Quando o corredor estava vazio caminhou até onde o pequeno objeto estava caído.
Rony se abaixou e o ergueu contra a luz. Decididamente a coisa era pior do que imaginava. O que tinha acabado de cair do bolso de Vítor Krum era nada mais nada menos do que um Galeão Negro. Saiu correndo pelo corredor mas Hermione já tinha embarcado na carruagem quando chegou no andar de baixo. Ele correu até a sala dos professores. O coração estava quase saindo pela boca.
Por sorte a professora McGonagall ainda estava na sala, arrumando o material para a aula de Transfiguração daquela manhã. Rony não bateu na porta, o que causou espanto a ela.
- Sr. Weasley! Acho bom que o senhor tenha um bom motivo para invadir assim a sala dos professores ou serei obrigada a descontar alguns pontos de minha própria casa. E o senhor sabe o quanto isso me deixa furiosa, não sabe? – as orelhas vermelhas de Rony, o suor na testa e o semblante apavorado não deixavam dúvidas a professora de que tinha tido um bom motivo.
- Professora, Hermione está em perigo. Vítor Krum é um Co...
- Um Comensal da Morte? – perguntou, fechando a porta com um aceno de varinha. Rony abriu a boca e pareceu ter desarticulado esta do próprio queixo. - Nós sabemos disso, Sr. Weasley. Eu particularmente era contra algo assim. Um jovem é sempre um jovem. E o poder que pode ser oferecido a ele é imenso e eu sempre penso que é mais difícil corromper um adulto. Mas Alvo continua insistindo que o amor é incorrompível – Rony parecia que deixaria a mandíbula cair no chão a qualquer instante. – Sente-se, Sr. Weasley. Coma um biscoito – ela estendeu um prato vazio, que se encheu magicamente de cookies de chocolate. – O senhor está chocado? – Rony apertou um lábio contra o outro. - Bem, eu também fiquei. Mas o rapaz foi mesmo feito Comensal. Ontem à noite. Mas por outros motivos. Ele fez isso por amor – Rony não estava confortável com aquilo, gaguejou por alguns instantes e perguntou, depois de tentar articular as palavras corretamente.
- A-amor? Po-por Hermione? Ele ama Hermione? – a professora sorriu.
- A Srta. Granger? – Rony sacudiu a cabeça, já com medo da resposta, mas a professora sorriu. - Não. Vítor Krum amava uma jovem muito bonita, Natasha Karkaroff, sobrinha de Igor Karkaroff. Mas ela faleceu no atentado àquela ilha, estava visitando alguns parentes no pequeno povoado bruxo em Zithri. E desde então ele vem tentando de todas as formas se infiltrar no lado inimigo. Ele e Igor. Mas como Karkaroff é desajeitado! É um Comensal que está à margem dos outros. Só serviu como alguém para indicar Vítor. E ele resolveu, principalmente após se machucar e não poder jogar mais quadribol, se infiltrar entre os Comensais. Ele é muito bom no que faz... – Rony estava impressionado. – Mas eu ainda acho que não é nada seguro um jovem movido a vingança. Nós sabemos o que isso fez com o pobre Sirius Black... – Rony acenou a cabeça. – Mas como o senhor descobriu, Sr. Weasley? – Rony estendeu a moeda negra. A professora a colocou sobre a mesa.
- Ele deixou cair – ela bufou.
- É desse tipo de coisa que eu estou falando. Jovens podem ser impulsivos em excesso. Tomarem conclusões e decisões erradas... – Rony abaixou a cabeça e disse timidamente.
- Mas também podem tomar as mais acertadas, professora – ficou vermelho. – Digo, eu não sei o que eu faria se fosse Herm... – McGonagall sorriu.
- Eu sei, Sr. Weasley. Eu sei disso... Agora o senhor deve ir ver o Sr. Potter. Ele deve estar preocupado. Ele e a sua irmã. Eu creio – sorriu de forma benevolente, estendendo mais um biscoito, antes de esvaziar o prato magicamente. - Vá. Há tempo de contar as novidades antes do café – completou, rindo. – E dez pontos para Grifinória pela sua coragem de tentar salvar a Srta. Granger de um perigo assim – Rony sorriu, sabia o que a professora estava querendo dizer.
Rony saiu da sala dos professores bem mais leve e logo estava frente a frente com Harry e Gina na mesa do café.
- Onde você estava, Ron? – a irmã perguntou, preocupada; ele sorriu.
- Bem, eu tenho novidades. Mas acho que devíamos conversar mais tarde. Podemos nos encontrar na cabana do Hagrid, antes do almoço? – Harry e Gina deram de ombros e concordaram.
Enquanto os três sofriam na aula de Snape, Hermione estava tendo uma conversa cheia de surpresas com Vítor Krum.
- Mas você é um Comensal agora? – ele sacudiu a cabeça afirmativamente.
- Sim – ele mostrou a Marca Negra no pulso. Hermione a examinou e o rapaz mordeu os lábios.
- Dói?
- Dói. Está ainda cicatrizando mas eu acho que vai doer para sempre, pelo menos aqui dentro – disse, colocando a mão sobre o coração. Ela ficou penalizada.
- Sinto muito pela Natasha – ele agradeceu.
- Eu sinto por seus pais também. Mas eu pelo menos pude fazer com que eles bebessem a poção profilática antes do ataque. Desculpe não ter podido impedir mas se eu fizesse isso seria descoberto e outras pessoas sofreriam as conseqüências – Hermione compreendeu.
- Eu sei. Eu realmente queria poder dizer algo para você mas não há nada que eu possa...
- É. Não há, Hermionini... Eu posso pelo menos te pedir um favor? – ela concordou. - Nunca deixe para resolver nada depois. Natasha e eu... – ele engoliu em seco. – Nós nos amávamos profundamente. Entenda bem isso. Mas...
- Vítor, se você não quiser contar...
- Não. Eu quero. Quando ela morreu nós estávamos brigados. Eu fiquei uma semana sem falar com ela e ela foi visitar os parentes. Se eu não tivesse sido tão estúpido com ela... Ela não estaria... – Hermione engoliu em seco.
- Você não sabe Vítor. De repente ela mesmo assim teria ido – ele sacudiu a cabeça.
- Mas agora eu vou passar o resto da minha vida na dúvida, Mionini. É disso que eu estou falando. Não deixe isso acontecer com você. Me prometa – ela encarou o chão e sacudiu a cabeça. Estavam chegando nas imediações do hospital agora e fariam o resto do caminho a pé.
Assim que Hermione entrou no quarto, após passar pelos dois aurores que guardavam a porta, foi recebida com muita alegria pelos pais. O Sr. Granger estava com uma faixa na cabeça, cobrindo um galo enorme, e a Sra. Granger tinha um tapa olho, protegendo um hematoma de cor azul.
- Querida! – a mãe a abraçou forte. Hermione tentou sorrir mas os olhos a denunciaram.
- Bonequinha, não fique triste. Estamos bem. Hoje à tarde o Ministro Moody virá nos ver... – o pai emendou em tom quase animado. Hermione se sentou no banco entre os dois e Vítor se retirou, deixando a família Granger a sós.
Os pais contaram como havia sido o ataque e que por sorte haviam tomado uma poção profilática quando pararam na casa de chás, antes de irem às compras. Hermione explicou que Vítor havia feito com que tomassem a poção para evitar que morressem. Os ingredientes amenizariam os efeitos do ataque, foram induzidos a isso. Os dois ainda estavam confusos, cansados e doloridos, mas escutaram a filha atentamente e contaram tudo que lembravam.
Quando a visita acabou Hermione estava se sentindo mais calma mas também triste, não queria que os pais tivessem passado por algo tão traumático. Vítor a conduziu de volta até a carruagem e depois se despediu.
- Você não vai voltar comigo? – ele sacudiu a cabeça.
- Não. Eu preciso encontrar Igor. Ele é muito enrolado, sem mim ele fica extremamente vulnerável – Hermione sorriu.
- Obrigada Vítor – ela deu um abraço no rapaz.
- De nada Her–mi-o-ni – ela riu.
- Hey, Vítor! Finalmente você acertou meu nome – os dois riram e ele acenou até que a carruagem estivesse longe o suficiente. Tinha muito que fazer ainda.
Antes de irem para o Salão Principal, para o almoço, Rony, Harry e Gina se reuniram na cabana de Hagrid. Lá, Rony contou tudo sobre Krum ser um Comensal, sobre a perda que havia sofrido no incidente na ilha de Zithri. Hagrid também ouviu atento ao que o ruivo contava. De vez em quando era interrompido por algumas exclamações de Gina.
- Coitado dele. E ainda por cima ficou impossibilitado de jogar – ela disse enquanto procurava a mão de Harry por baixo da mesa.
- Deve ter sido terrível para ele. Depois de tudo que aconteceu ainda ter forças para fazer tudo isso – Harry comentou enquanto apertava a mão de Gina de forma confortante entre as suas.
- Ouçam uma coisa meninos – Hagrid falou antes de jogar mais um biscoito para Canino, que estava tendo sérias dificuldades em roer os outros cinco que o meio gigante já havia atirado. – Às vezes o sofrimento assim torna a pessoa mais forte. Vejam por exemplo o que aconteceu comigo. Eu fui abandonado pela minha mãe, depois expulso injustamente da escola mas ainda assim... – ele fungou. – Ainda assim eu sou uma pessoa muito forte – fungou de novo. Harry e Rony se entreolharam e rolaram os olhos para cima.
- Rúbeo é forrrte, é apenas sensível demais não, é Rúbeo? – uma voz feminina interrompeu a conversa. Os meninos se viraram e se viram em frente a Madame Maxime. Ela sorriu para eles.
Os três se sentiram sobrando na sala do amigo. Despediram-se do casal de meio gigantes e saíram porta afora. Estavam famintos apesar do lanche oferecido por Hagrid, sentiam falta da comida de Vasta, que além de deliciosa era a única coisa passível de ser comida que já havia passado pela mesa do amigo gigante.
- Vocês acham que eles vão ficar bem? – Gina indagou em uma voz tímida.
- Quem? Os Granger? – Rony perguntou, curioso, enquanto jogava um dos biscoitos caseiros de Hagrid no lago e observava esse ricochetear como uma pedra na superfície da água.
- Não, seu bobo. Hagrid e Madame Maxime. O clima me pareceu bastante quente lá dentro – Rony fez uma careta.
- Urgh! Dá pra imaginar isso? – Harry disse, olhando para os dois. Gina riu.
- Não dá. Mas se a gente sentir a terra tremer já sabemos o que foi que pode ter causado – Harry deu uma gargalhada e Rony corou.
- Virgínia Molly Weasley! – ela riu ainda mais e os três entraram no castelo.
Assim que sentaram à mesa deram pela falta de Hermione. Neville, que vinha chegando da sala comunal, informou aos amigos as últimas notícias da menina.
- Hermione já voltou do hospital. Ela parecia mais calma mas não estava muito bem. Subiu direto para o quarto – Rony levantou enquanto o amigo prosseguia. – Ela não deve almoçar, Harry... – a voz de Neville foi ficando para trás enquanto Rony se dirigia à porta. Gina cutucou o namorado e sorriu. Sabia o que o irmão estava pretendendo fazer.
- Tomara que dê tudo certo – ela sussurrou para Harry, que estava se servindo de purê de batatas.
Rony subiu as escadas para os dormitórios determinado. Sabia que talvez fosse tudo em vão mas deveria ao menos dizer a ela o quanto sentia pelos seus pais, por ter sido um idiota e por estar sofrendo um inferno sem ela na vida dele.
Bateu na porta, não houve resposta. Bateu mais uma, duas vezes. Nada. Decidiu empurrar a porta devagar. Hermione estava recostada na cama, encarando o teto. O olhar dela se moveu ligeiramente para baixo e encarou os olhos amedrontados do ex-namorado. Permaneceu calada. Rony coçou a cabeça, embaraçado pelo silêncio constrangedor que agora preenchia o quarto.
- Como eles estão? – perguntou após pensar dez vezes se deveria ou não falar alguma coisa. Hermione caminhou até ele.
Rony imaginou que seria o momento no qual ela o empurraria porta afora ou lançaria alguma azaração terrível e o expulsaria correndo dali mas o que ela fez o surpreendeu mais do que qualquer outra coisa. Hermione se aproximou dele calmamente, uma expressão indecifrável. Então, após ficar um minuto olhando dentro de seus olhos confusos, passou os dois braços por seu pescoço e o abraçou com toda a força que tinha. Rony foi surpreendido mas em um segundo estava retribuindo ao abraço, apertando-a com força pela cintura. Ele sentiu a respiração dela se aprofundar contra seu peito e as lágrimas da menina molharam a gola da sua camisa.
- Você está bem? – perguntou, dentro do abraço. Ela apenas sacudiu a cabeça.
- Aham – respondeu, rompendo o abraço e o encarando com os olhos úmidos. Parecia tão frágil e ao mesmo tempo muito decidida.
- Eu sinto muito – ele disse, sincero.
- Eu sei, Ron. Eu também sinto. Eu senti muito a falta do meu amigo – ele engoliu em seco.
- Do seu amigo? – ela sacudiu a cabeça. – Do seu amigo... – ele se lamentou. - Tudo bem. Eu entendo que você não queira mais... – Mione sorriu.
- Que eu não queira mais o quê, Ron?
- Eu pensei que... – ela manteve a postura expectante. – Que talvez se eu fosse... Se eu fosse mais...
- Mais?
- Mais maduro? – ela riu. – Compreensivo? Amigo? – ela acenou com a cabeça.
- Só isso? – ele engoliu em seco.
- E se também eu fosse menos...
- Menos?
- Menos ciumento? Idiota? Cabeça dura? Assim está bom para você? – ela apertou os lábios, segurando o riso.
- É um começo... Mas você pensou que se fosse tudo isso o que poderia acontecer? – ele respirou fundo antes de completar.
- Você talvez poderia, sabe, pensar com carinho sobre nós. Sobre nós dois, juntos de novo – Mione mordeu o lábio inferior.
- Na verdade, Rony, eu pensei muito sobre nós dois na viagem de volta. Eu conversei muito com o Vítor. Ele está passando por um momento muito delicado e difícil – Rony abaixou os olhos para o chão.
- Eu sei. A professora McGonagall me falou sobre toda a história de vingança e Comensais, e sobre a morte da garota dele – Hermione se espantou.
- Como você sabia disso?
- Bem, ele deixou cair uma daquelas moedas pretas de Você-Sabe-Quem... E o resto foi questão de unir uma coisa a outra...
- Ah! Sim, então, como eu ia dizendo... Ele está passando por tudo isso sozinho. E está sofrendo muito por isso. Então ele me disse uma coisa, me fez prometer uma coisa para ele, me pediu por favor – Rony se encolheu. Imaginou o que Hermione falaria.
- Está bem, Hermione. Só não fale mais nada. Eu já entendi. Eu só não quero que você fale porque eu não vou suportar ouvir isso de você. De certa forma eu entendo e mereço. Eu sei o quanto eu fui idiota com ciúmes. A grosseria imperdoável que eu fiz com você... – a garota franziu a testa.
- Rony, deixa eu...
- Não precisa explicar. Nem se sinta mal. Eu mereço isso. Eu fui um canalha com você e...
- Rony? – ele ergueu o rosto vermelho para ela. Estava se controlando para não chorar.
- Mione, só me deixe ir, ser seu amigo de novo é maravilhoso mas eu não vou agüentar ouvir você dizendo que é só isso que poderemos ser de agora em diante – Hermione segurou o queixo dele entre as mãos.
- Oh, Deus! Ron! É isso que você achou que eu ia dizer? – ele não compreendeu.
- Na-não era isso? – ela sorriu.
- Não, não era – ele voltou à cor normal aos poucos. – O que Vítor me fez prometer é que eu jamais deixaria para fazer alguma coisa depois. Para que eu não me arrependesse depois que já fosse tarde demais – Rony sorriu.
- Foi um bom conselho esse – ela passou a mão pelo rosto dele.
- Eu também achei que foi – parou por alguns instantes, olhando para ele com carinho. Rony esperou um pouco, então falou com a voz suave.
- Hermione, você gostaria de ten...
- Gostaria. Eu gostaria de tentar de novo com você. Sempre... – o ruivo abriu um sorriso enorme.
- Isso significa que você me perdoa? – ela riu também de volta.
- Isso significa que eu te amo, seu bobo. Pra sempre... – Rony a segurou com força e a beijou de tal forma que a deixou sem ar.
Depois de perder o fôlego se separou dela e, estendendo um dos braços para baixo, ergueu-a no colo, passando a mão por baixo dos joelhos dela.
- Hermione, eu posso te fazer uma pergunta – disse enquanto a colocava deitada na cama. Ela respondeu afirmativamente entre gemidos baixinhos, provocados por carinhos estratégicos. - Você estava planejando isso?
- Isso o quê? – perguntou, parando de beijar o pescoço do namorado.
- Isso. Nós dois de volta. Em grande estilo... – Hermione franziu a testa e encarou o namorado, séria.
- Por que você está perguntando isso? – ele passou os olhos no quarto e se voltou para ela.
- A atmosfera criada aqui está romântica e totalmente propícia para isso – Hermione deu uma olhada em volta também e pareceu preocupada com a reação dele.
- Na verdade isso não era para você – Rony se apoiou nos braços e ergueu o rosto, tirando os lábios da orelha direita dela, encarando-a nos olhos.
- Como assim não era pra mim? – ela mordeu o lábio, nervosa.
- Na verdade não era para nenhum de nós dois – Rony franziu a testa e ela ficou ainda mais embaraçada. Tinha medo da reação dele.
- Mas como não era para nenhum de nós dois? Para quem seria todo esse clima de... – de repente ele entendeu. Hermione deu um sorriso amarelo. Rony parecia incrédulo. Parou por alguns segundos. Olhou para a namorada e sorriu maliciosamente.
- O que foi? – ela perguntou, curiosa, antes que ele encostasse os lábios nos dela. – O que você vai fazer?
- Nada. Mas me lembre de dizer pro Harry que eu finalmente entendi aquela história toda de ansiedade da Gina – os dois riram bastante antes de voltarem a se beijar com paixão. Estavam felizes por estarem juntos de novo. E queriam mostrar isso um para o outro.
