Capítulo Dezoito - Noite Infeliz

A antevéspera de Natal chegou rápido. Os dias que se seguiram foram agradáveis, Rony e Hermione pareciam estar nas nuvens e o bom humor de ambos, que era uma raridade, se tornou constante. Era muito melhor os dois juntos novamente, não só para eles como para todos os amigos e colegas, até mesmo os bagunceiros apostadores de corridas nos corredores eram ignorados pela chefe dos monitores, que ria por qualquer motivo.

Um dos garotos do segundo ano se animou na corrida e derrubou o professor Snape mas saiu correndo antes que o diretor da Sonserina pudesse identificá-lo.

- Merlin, bendito seja! Eu realmente adoro esse clima de lua de mel em que vocês estão - Gina deixou escapar o pensamento, implicando com Rony, que simplesmente se virou para ela e respondeu com categoria.

- É, maninha, mas pelo menos eu não fico deixando ninguém ansioso - ela corou na mesma hora.

- Hey... - Harry protestou. - Também não é assim - Hermione deu uma risada. - Mione, até você? Você sabe que não temos tido tempo e...

- Potter - a voz anasalada de Snape interrompeu a discussão dos quatro, que se viraram para o professor de Poções.

- Sim professor? – respondeu, desanimado.

- Não foi culpa do Harry, professor. Eu deveria ter repreendido o menino que derrubou o senhor - Snape ergueu uma sobrancelha e encarou Hermione com desdém.

- Garota, na verdade esse não era o assunto. Mas de qualquer forma, menos vinte pontos para a Grifinória - Rony e Gina se entreolharam, indignados.

- Mas professor, o garoto era da Lufa-Lufa - Gina retrucou.

- É professor, nós vimos e... - Snape poderia perfurar aço com o olhar que lançou a Rony.

- Vocês dois, Weasley, querem fazer o favor de calar a boca? Menos dez pontos pela impertinência - pela irritação do professor Harry torceu para que nenhum dos amigos tentasse ajudá-lo mais no que quer que fosse que o professor quisesse com ele. - Reunião. Agora. Na sala do diretor - disse em tom superior, deixando os quatro para trás.

Eles ficaram curiosos mas não puderam deixar de rir do seboso professor, esfregando as costas e mancando pelo tombo.

- Isso realmente deve ter doído - Mione disse, sorrindo.

- Ele não pode reclamar de não ter as costas quentes - Rony emendou e os quatro riram alto.

- É melhor você ir vê o que é, Harry - Gina disse, cortando um pouco o clima de brincadeira. O namorado concordou e depois de dar um beijo de leve na testa dela seguiu pelo mesmo caminho que o professor de Poções tinha feito.

Harry entrou na sala mas para sua surpresa não estavam todos os membros da Ordem. Apenas Dumbledore olhava para fora da janela, pensativo.

- Ainda não começou, professor? - o diretor apertou os olhos e demorou a responder.

- Temo que já tenha acabado, Harry - o rapaz franziu a testa.

- Mas o professor Snape me disse que teria reunião com a Ordem aqui, na sua sala - Dumbledore faiscou os olhos azuis na direção do rapaz.

- Não Harry. O que ele disse, se ele realmente seguiu as instruções que lhe dei, e conhecendo Severo sei que seguiu, foi que você tinha que vir a reunião em meu gabinete - Harry concordou.

- Então, foi o que eu disse - o diretor sorriu.

- Não meu rapaz. A sua reunião não é com a Ordem e sim comigo - Harry arregalou os olhos. - Sente-se. Não vou lhe oferecer biscoitos como Minerva costuma fazer. A não ser que esteja com fome - o rapaz negou. Dumbledore deu a volta e sentou à sua frente. - Eu não vou me ater a rodeios pois eles não evitariam a realidade que tenho que lhe informar - Harry suspirou.

- Quem está morto, diretor? Não diga que é o Sirius. Eu não sei se suportaria uma segunda vez - ele parou. - Não, se fosse Snape estaria mais bem humorado. Meu Deus! - ficou de pé. - Foi Arabella? - o diretor ergueu uma das mãos para acalmá-lo.

- Não Harry, ninguém está morto... Ainda – acrescentou, sombrio. - Mas temo que é chegada hora de nos resguardarmos que nada possa acontecer com aqueles que amamos.

- O que houve, professor?

- Vítor Krum nos informou alguns passos que os Comensais pretender dar a seguir. E isso nos levou a uma decisão importante - ele fez uma pausa grave, encarando os olhos verdes cheios de determinação. - Nós contra-atacaremos dessa vez - o rapaz ficou novamente de pé.

- Mas estamos prontos para isso? - perguntou, sem questionar a decisão.

- No momento não. Mas até a noite de Natal sim - Harry passou a mão pelos cabelos, preocupado.

- Isso é amanhã... O que vai acontecer, professor? - temia a resposta.

- Tudo indica que ataques coordenados, em vários pontos da cidade. É só o que sabemos. Sei que os alunos ficarão seguros aqui na escola mas precisamos proteger o mundo lá fora. Não sabemos exatamente onde e como serão esses ataques mas acontecerão na noite de Natal. Vítor ouviu Nott comentar sobre a operação Noite Infeliz - Harry pareceu anestesiado.

- E o que exatamente nós faremos, professor?

- Bem, é por isso que eu o chamei. Eu estive preparando vocês para a luta durante o ano inteiro...

- Eu quero Gina, Hermione e Rony fora dela - interrompeu o diretor. - Eu não posso me preocupar com eles e comigo. Seria humanamente impossível - o diretor sorriu.

- Eu imaginei que diria isso, Harry, mas você não me deixou terminar. Quando eu disse que havia preparado os nossos alunos para a luta não estava querendo dizer essa luta. Eu estava querendo dizer a grande batalha. Aquela da qual nenhum de nós poderá se esconder ou estar protegido - o rapaz olhou para o diretor de forma angustiada. - Mas essa, infelizmente, não saberemos quando será, não poderemos nos preparar suficientemente... Mas vamos esperar que seja o bastante...

- O que vamos fazer?

- Bem, conforme eu esperava que exigisse, tomei precauções para que a Srta. Weasley faça companhia à sua madrinha na noite de Natal. A sua casa ainda é um dos lugares mais seguros para se ficar e ambas farão o Natal da outra mais suportável sem você e Sirius por perto - Harry pareceu aprovar a idéia. - Não será difícil recrutar a Srta. Granger para acompanhar os pais dela na enfermaria de St. Mungus, ainda estão em recuperação e me parece que ela gostaria de ter com eles durante o Natal. Quanto ao Sr. Weasley... - Harry suspirou.

- Se nem mesmo o senhor descobriu um modo de afastá-lo da luta eu posso sugerir que o mande mas que o coloque sob comando de seus irmãos, dessa forma tenho certeza de que ele ficará mais do que seguro - o diretor sorriu.

- É uma excelente idéia, Harry. E você...

- Eu quero estar ao lado de Sirius. Ao lado de cada membro da Ordem, como meu pai deveria estar - Dumbledore assentiu.

- Novamente eu previ que fosse pedir isso.

- E...?

- E você novamente será atendido - Harry sacudiu a cabeça.

- Quando partimos? E para onde iremos?

- Partiremos hoje à noite, ao pôr do sol. Você terá esse tempo para explicar ou não o que acontecerá para os seus amigos. Vamos ficar na sua antiga casa em Godric's Hollow. Temos a desconfiança que haverá pelo menos um ataque no vilarejo. Alguns aurores ficarão espalhados em Hogsmeade, próximo ao Caldeirão Furado, no centro de Londres e mesmo em Surrey, próximo à sua antiga casa. Não sabemos ao certo que tipo de alvo será escolhido por isso nos precaveremos. Há algumas chaves de portal exclusivamente preparadas para cada membro da Ordem, caso necessite voltar a Hogwarts imediatamente. Não sabemos o que enfrentaremos ainda mas que precisamos estar prontos para o pior...

Harry respirou fundo. A guerra estava começando a estender os dedos para alcançá-lo. As risadas e a felicidade que o tinham ocupado pela manhã estavam sendo esmagadas pelas mãos frias do medo e da dúvida.

- Isso significa...

- Que talvez nada aconteça mas talvez nem todos possam estar vivos até o ano novo - Harry engoliu em seco. Com certeza pouparia Gina e Hermione dessa parte. Se possível Rony também.

- Eu posso ir agora? - perguntou, determinado. O diretor assentiu.

- Sim. E, Harry... - ele chamou antes que saísse. O rapaz o encarou, sério. - Você está cada vez mais parecido com Tiago. Ele e Lílian teriam orgulho do filho que tiveram...

- Obrigado, professor. Isso significa muito para mim.

Assim que Harry entrou pelo retrato da Mulher Gorda os olhos de Gina, Hermione e Rony se fixaram no garoto. Ele indicou o andar de cima e os quatro foram até o quarto de Hermione.

- Afinal, o que era? - Rony perguntou, ansioso. Harry torceu os lábios. Pensou por alguns instantes e finalmente respondeu.

- O diretor precisa que façamos algumas coisas para ele - os outros três ficaram surpresos.

- E o que eu poderia fazer por Dumbledore? Ou pela Ordem da Fênix, Harry? - Gina perguntou, intrigada.

- Bem, eu prefiro dizer que você faria por mim: cuidar de Allana e Lílian, por exemplo, na noite de Natal...

- Mas vamos passar o Natal todos juntos n'A Toca - Rony retrucou. - Ou não vamos mais?

- Pela expressão dele creio que qualquer plano que tínhamos para o Natal está cancelado, Ron - Hermione concluiu logicamente. - Estou certa, Harry? - ele sentiu o olhar apreensivo de Gina cruzar com o seu e abaixou os olhos.

- Sim, Mione, você está.

- Mas vamos estar juntos? Nós quatro, quero dizer - Gina ainda tentou mas sem esperança de uma resposta positiva. Harry passou a mão pelo rosto dela.

- Não meu amor. Não estaremos juntos - ela abaixou a cabeça. - Mas você e Hermione serão muito importantes - Hermione olhou para ele, depois para Rony.

- Por que eu tenho a impressão de que você está tentando nos tirar da ação?

- Porque ele está. E eu concordo plenamente. Também quero as duas seguras e fora do que quer que for feito pela Ordem da Fênix no Natal. Não é, cara? - Rony tentou buscar a cumplicidade do amigo mas a resposta deixou claro que não só as meninas estavam excluídas da ação.

- É mais ou menos isso, Rony - Hermione deu uma risada abafada.

- Pelo jeito não são só as meninas que serão deixadas de fora, Ron...

- Não é isso - Harry tentou justificar. - Dumbledore conta que Gina e Allana fiquem juntas, já que eu e Sirius não poderemos estar com elas. E que Hermione faça companhia aos pais. E o Rony...

- Rony... - Hermione queria que Harry prosseguisse.

- Rony vai estar comigo - o ruivo encheu o peito de orgulho. - Sob comando dos seus irmãos - o sorriso morreu no rosto do rapaz.

- Hey! Eles vão me colocar para engraxar os sapatos debaixo de uma cama. Eu não vou poder participar de nada.

- E nem correr risco de vida, não é, Harry? Isso vai ser algo que só você poderá fazer, não é? - Gina disse, os olhos preenchidos de dor e medo. Harry tentou se aproximar dela mas a menina virou as costas e saiu correndo porta afora. Tentou seguí-la mas ela se trancou no dormitório do sexto ano. Quando ele voltou para o quarto de Hermione ela e Rony o encaravam com a mesma expressão sentida no rosto.

- Nem adianta me olhar assim, eu concordo com a Gina - Hermione falou, sem encará-lo, virando-lhe as costas.

- Pode deixar que não atrapalharemos. Não vamos nos arriscar por você, como fizemos todos esses anos. Dessa vez você vai estar completamente sozinho - Rony disse, sério, antes de fechar a porta, deixando um Harry melancólico do lado de fora.

"Pelo menos estarão seguros", pensou antes de se encaminhar para seu dormitório e arrumar as coisas para a partida.

O sol já estava quase se pondo quando bateu a última vez na porta de Gina. Novamente nenhuma resposta.

- Gina - ele começou, baixinho. Encostou a testa na porta dela, numa tentativa de que a voz passasse melhor pela madeira. - Eu estou indo - nada. - Eu espero que fique bem - o silêncio foi a resposta que obteve.

A garota estava do outro lado, encostada também na porta. Se não fosse o obstáculo sólido ambos estariam quase com os narizes se tocando. Harry fechou os olhos, colocando uma das mãos na porta. Ele se concentrou ao máximo no amor que sentia por Gina, imaginou um enorme muro cercando seus pensamentos. Então fez algo arriscado mas que precisava desesperadamente fazer. Enviou a ela um pensamento. Era o Natal do ano anterior. Gina, Harry, Rony e Hermione patinavam sobre o lago congelado.

"Gina estava obtendo maiores progressos. Como ela era leve Harry patinava atrás dela, apoiando-a com uma mão de cada lado da sua cintura. A princípio ela patinava de braços abertos, para tentar manter o equilíbrio, mas depois fazia isso por pura diversão.

'Parece que estou voando, Harry', ela sorria, sentindo o vento passar por entre os cabelos soltos.

Permaneceram patinando desse jeito por um bom tempo, até a menina pegar o jeito. Depois Harry deu um giro nela, virando-a de frente para si. Agora patinava de costas, olhando para o namorado.

'Esse é um dos melhores natais, Harry', ela disse, quase gritando.

'É o melhor', ele disse, convicto, levantando a menina do chão subitamente e a rodando, até os dois caírem no chão, rindo muito."

As cenas passaram em um flash da mente de Harry para a dela, que se assustou. Ele não fazia isso há muito tempo. E gina temia agora que ele novamente se tornasse agressivo com ela. Mas de alguma forma Harry havia conseguido bloquear Voldemort dessa vez.

- Ainda estou aqui - ele disse, tranqüilizando-a. - Quero que pense no Natal passado e sonhe com natais felizes no futuro. Eu vou te dar todos eles. Eu prometo. Eu te amo - silêncio. Gina chorava do outro lado do obstáculo de madeira. Harry se afastou da porta, desanimado, mas com um clique se abriu.

Ela estava parada à sua frente, os olhos cheios de água. Ele olhou para ela, incerto de que Gina não estivesse braba pelo que havia acabado de fazer mas ela respondeu ficando na ponta dos pés e o abraçando com toda a força que podia.

- Tenha um feliz Natal também Harry - ela olhou dentro dos olhos verdes e o fez rever os dois juntos na cama de Hermione. Depois avançou os pensamentos para uma parte desconhecida, uma parte que apenas ela havia imaginado, na qual conseguiam consumar o que ela havia planejado para aquela noite. Harry engoliu em seco. - Volte para mim - ela sussurrou no ouvido dele antes de beijá-lo na boca, certa de que as imagens que havia enviado seriam um argumento suficientemente bom para convencê-lo disso.

Rony e Hermione acabaram descendo e se despediram na sala comunal. No dia seguinte ela iria para St. Mungus e Gina para a casa de Harry. Depois de se despedir foi a parte difícil. Hermione e ela se sentaram no sofá e ficaram cabisbaixas, até que decidiram dormir ou simplesmente deitar na cama, como opção ao torpor que as invadia.

No dia seguinte pela manhã, depois de Hermione partir para o hospital, Gina foi caminhar pelos corredores. Ela iria para a casa de Allana na hora do almoço e queria matar o tempo. Andava cabisbaixa, de repente caiu sentada, havia batido o alto da cabeça em outro aluno cabisbaixo.

- Draco, ai... - disse, sentada no chão, esfregando o galo que ameaçava se formar.

- Droga, ruiva, não dá pra se transferir inteligência assim não. Se queria uma amostra dos meus pensamentos íntimos era só me pedir, não tentar extraí-los literalmente. Cabeça dura você - ela fechou a cara e ele estendeu a mão para que Gina levantasse. - Anda, deixa eu rebocar a sua carcaça desse chão frio - ela recusou a mão estendida.

- Obrigada, posso me levantar sozinha - ele soltou um muxoxo.

- Ruiva, você me deixa intrigado - elevou as sobrancelhas enquanto Gina se escorava na parede e ficava de pé.

- Isso é um fato histórico. Alguma coisa te intriga? - debochou; Draco cruzou os braços.

- Intriga. E muito. Intriga o fato de você sempre descontar as suas frustrações com o quatro-olhos em mim e ao mesmo tempo de vez em quando vir toda chorosa se consolar comigo - Gina ficou furiosa.

- Parabéns Malfoy. Você acabou de descobrir a utilidade dos amigos. Me espanta que você tenha deduzido sozinho, já que não tem nenhum além de mim. E para seu governo eu tenho descontado as minhas frustrações nele - Draco não gostou nem um pouco do comentário agressivo.

- Você se sairia melhor se as descontasse com ele. Ou melhor, comigo - Gina corou de raiva.

- Malfoy, eu realmente não estou para brincadeiras. Estou prestes a ter o pior Natal da minha vida e... - Draco riu, debochado.

- Ironia ou não, nisso nós somos dois, minha cara Weasley - ela se lembrou subitamente de que o amigo era agora um paria, deserdado por Lúcio, passaria o Natal sozinho em Hogwarts. Sentiu-se culpada. - Mas espere, eu nunca tive nenhum Natal digno do adjetivo bom. Eram pelo menos fartos - ponderou em voz alta. Gina estava arrependida.

- Draco, eu não queria... - o rapaz deu de ombros.

- Deixa para lá, ruiva, eu até já me acostumei. Me diverte ver você mudar as bochechas de vermelho raivoso para escarlate envergonhado, como agora - disse, tocando a curva do rosto de Gina com a ponta do dedo. - Me diverte ter uma amiga - ela se esforçou e sorriu. - Embora se você quisesse nós dois bem que podíamos...

- Draco! - ele riu.

- Eu sei. Eu sei. Toda essa coisa de "Eu amo o Potter" fede. Poderíamos nos divertir muito essa noite - Gina rolou os olhos para cima e tapou os ouvidos.

- Você já acabou de falar besteiras? - ele apertou um lábio contra o outro.

- Na verdade não - Gina se retraiu mas ele emendou. - Mas vou abrir uma exceção para você, ruiva. Considere meu presente de Natal, já que agora estou pobre e... Hey! Agora temos isso em comum também - ela não pode evitar de rir.

- Só você para me fazer rir numa hora dessas, Draco - ele deu um sorriso maroto.

- Eu poderia fazer você sentir coisas muito mais interessantes, ruiva - ela deu um tapa na testa do amigo.

- Por Merlin! Você é impagável. Você não consegue mesmo se controlar - ele riu.

- É incontrolável, inerente à minha vontade. Não posso evitar de exalar todo esse meu ar irresistível intoxicante – disse, antes de Gina tapar sua com a mão.

- Chega de bobagens - ele riu e ela puxou a mão, encarando-o demoradamente, com carinho. - Obrigada por me fazer rir - disse finalmente. - Eu te desejo um feliz Natal de qualquer forma - Draco se viu novamente enlaçado por um abraço meigo, amigo e seguro e sentiu o peito se encher do mais puro espírito natalino. Pela primeira vez na sua vida sentiu que teria um feliz Natal.

Ao contrário de Draco, os outros estavam tendo o pior Natal de suas vidas. Mione estava dividindo com os pais a ceia natalina mais insossa da sua vida. Comida de hospital bruxo era tão ou igualmente horrível quanto a de qualquer outro hospital. De qualquer forma ficava feliz pela quase plena recuperação dos dois e durante o dia recebeu a visita de Neville, que tinha ido ver os próprios pais em uma ala reservada.

Gina e Allana passaram algum tempo dando banho em Lílian e se divertindo com as gracinhas que a neném fazia, rasgando todos os presentes que estavam debaixo da árvore. Depois que a menina dormiu as duas se serviram de um jantar comum, já que não havia sentido assarem um peru inteiro para apenas duas pessoas, brindaram com uma taça de vinho à meia-noite, desejando boa sorte àqueles que lutariam no dia seguinte, incluindo Sirius e Harry. Na hora de deitar Gina se encaminhou para o quarto de Lílian mas Allana lhe abriu a porta do quarto de Harry.

- Ele me pediu que insistisse que você dormisse aqui - justificou, apontando para o interior do quarto escuro. Gina trocou um olhar com a outra mulher. - Eu sei que não vai te fazer sentir menos saudade, Gina, mas ajuda... - a menina forçou um sorriso.

- Obrigada Allana... E boa noite. Se precisar de alguma ajuda com a Lili... - ela esticou o pescoço na direção do quarto da filha.

- Que nada. Aquela ali agora só acorda amanhã, para abrir o resto dos presentes que conseguimos salvar... Boa noite - despediu, deixando Gina parada em frente à porta entreaberta de Harry.

"Como eu gostaria de encontrá-lo aqui dentro, seguro e dormindo", pensou antes de fechar a porta atrás de si. O cheiro dele estava impregnado em cada parte, cada molécula de ar. Assustadoramente ela se viu engolfada por minúsculas partículas de "Harry Potter". Ela podia senti-lo sobre a própria pele, um leve perfume almiscarado. Abriu a janela e olhou o céu estrelado, respirou fundo o ar da noite, apenas para descobrir se era sonho ou estava mesmo sendo invadida pela presença dele. Teve vontade de gritar, de chamar o nome dele, mas sabia que Harry não poderia ouvi-la. Talvez pudesse senti-la da mesma forma que ela podia fazer com ele mas no momento o que mais a estava preocupando era o medo de perdê-lo.

Deitou-se na cama dele e se aconchegou com o travesseiro fofo e macio. Fechou os olhos e dormiu instantaneamente. Sonhou a noite inteira com os natais perfeitos que ele havia prometido no futuro.

Rony, por sua vez, estava irritado. "Não sou nenhum beb", era a frase que repetia a cada investida sua que era reprimida. Havia sido recusado sob o comando de Sirius, depois Remo, e por fim até mesmo Percy mandou que ficasse junto à mãe, sob comando de Mundungo. "Mas Mundungo está proibido de atacar. A Ordem dele é organizar uma retirada ordenada a qualquer momento". De certa forma a idéia era exatamente essa e Rony se sentiu ofendido em sua capacidade de agir mas Harry não estava acessível para ouvir os lamentos do amigo.

Harry estava ao lado de Sirius, no mais absoluto silêncio. Ele podia ver a pupila do padrinho dilatada, à espreita de qualquer sinal incomum, o olhar agudo, as narinas abrindo e fechando. "Será que Sirius pode farejar na forma humana?", ele se perguntou mas logo o pensamento foi dissolvido por um franzir de testa do padrinho.

- O que foi? - Harry sussurrou inconscientemente.

- Shhh! - Sirius gesticulou. - Vem vindo alguém aí... - Harry apertou os olhos. O escuro e a ansiedade faziam com que as pupilas dilatadas enegrescessem o verde dos olhos do rapaz.

Ao seu lado, alinhados perfeitamente, sabia que estavam Remo e, mais adiante, Percy. Cada um com alguns aurores jovens em seus comandos. Um minuto quase eterno se passou e puderam ver do que se tratava a movimentação estranha à frente.

Era uma espécie de trenó, puxado por lobos feitos de fumaça cinzenta, tinham os olhos vermelhos, como pequenas chamas de velas. Puxavam alguém. Harry segurou a varinha entre os dedos com força. Trocou um breve olhar com o padrinho e esperaram. Quando os cães estavam muito próximos se dissolveram, como derretidos sobre a neve, agora sulcada de pegadas idênticas. Sirius sinalizou para Remo, que sacudiu a cabeça. Os extintos animais de ambos diziam que os cães, ou o que quer que fossem aquelas criaturas fantasmagóricas, tinham realmente desaparecido. Sirius fechou os olhos.

- Fique aqui Harry - disse antes de se transformar no cão negro. Saiu do esconderijo e foi ver o que os animais estavam puxando.

O focinho escuro arrastava na neve, coberta de pegadas, e Snuffles foi facilmente guiado pelo seu faro até o fardo da matilha de lobos sinistros. Sirius assumiu a forma humana em segundos e se abaixou. Horrorizado, ergueu a mão, dando sinal de que era seguro se aproximarem.

Havia uma carta sobre o fardo, fardo que era, nada mais nada menos que o corpo de Vítor Krum.

A confusão entre os aurores foi imensa. Todos queriam saber o conteúdo da carta e estavam horrorizados com o assassinato do rapaz. Sirius, Remo e Dumbledore ficaram algumas horas em reunião com os outros aurores. Snape levou o corpo do rapaz para a Bulgária, após constatar que a causa da morte havia sido suicídio. O garoto ingeriu uma pequena quantidade de veneno que mantinha sempre escondida em uma cápsula na boca. Provavelmente havia sido descoberto e seria torturado para contar o que sabia, por isso havia optado por matar qualquer possibilidade de descoberta de planos da Ordem junto consigo. "Garoto fiel", foi o que Snape pensou ao examinar o corpo sem vida. Hematomas arroxeados pelo corpo e a pele do pulso cortada por cordas. Mais nada atestava a sua captura covarde pelo lado inimigo.

Assim que a reunião acabou Harry se aproximou dos três. Queria saber o conteúdo da carta mas se sentia péssimo por Krum, péssimo por tudo. Não conseguia evitar de pensar sobre a possibilidade de outro jovem ou ele mesmo estar naquela situação, a face pálida, o olhar vazio e perdido no nada, o corpo frio e sem vida. Lembrou-se de Gina no seu quinto ano e sentiu o sangue gelar ao imaginá-la morta. Era um pensamento inconcebível.

Sirius foi o primeiro a se voltar para ele, parecia furioso. Dumbledore e Remo estavam mais centrados.

- O que dizia a carta, professor? - Harry se dirigiu ao diretor, que tinha a expressão grave porém serena.

- A carta dizia que a nossa verdadeira preocupação será o ano novo. Especificamente o eclipse que ocorrerá no final da tarde do dia primeiro, Harry - o rapaz ergueu as sobrancelhas.

- Como assim? - virou-se para Sirius.

- A carta dizia: "Uma noite sem dia, um novo mundo, um novo mestre, um novo ano" - as palavras saíram monotonamente de sua boca.

- Usaram Vitor como mensageiro, Harry - Remo se pôs a explicar. - Sabiam que interceptaríamos a mensagem em algum lugar. Mandaram os lobos de fumaça propositalmente. Sabiam que se desfariam quando estivessem em presença de algum humano vivo - Harry ficou espantado mas sabia que o professor conhecia muito sobre as artes das trevas.

- Então queriam que lêssemos a carta? E se for uma armadilha? E se querem apenas nos enganar e nos desarmar até o ano novo e nos pegar de surpresa antes dele? - Sirius sorriu. Harry soube na hora que era essa a opinião do padrinho.

- Eu não disse? - Sirius cruzou os braços, como um garoto contrariado. Dumbledore ignorou e Remo deu um muxoxo.

- Pare de ser criança, Almofadinhas - Dumbledore tomou a frente das explicações enquanto pararam em meio aos aurores que andavam de um lado para o outro, organizando o futuro campo de batalha. - Voldemort tem uma grande certeza na sua vitória e na sua superioridade, por isso faz questão em nos dizer qual é o seu próximo passo, ele nos mostrou isso causando a morte do nosso último espião. O recado é maior do que a carta em si, ele quer dizer que não precisamos mais espionar, quer que saibamos exatamente quando vai agir. Sua autoconfiança reside na certeza da sua vitória, não importando o nosso contra-ataque, mostrou isso com a carta - Sirius sacudia a cabeça em desacordo.

- E o que vamos fazer até o ano novo? Esperar? - estava impaciente e agitado. Andava de um lado para o outro como um bicho enjaulado.

- De certa forma sim - Dumbledore mantinha a calma e a paciência. - Vamos nos organizar melhor. E estar preparados para qualquer coisa nesse tempo. Ficaremos aqui até que tudo esteja acabado, vamos concentrar os melhores de nós aqui - Harry abaixou a cabeça, sabia que seria difícil ficar longe de Gina tanto tempo.

- Sinto muito mas o Harry não vai ficar aqui, professor - Harry arregalou os olhos. - Eu não vou mais permitir que ele lute...

- Hey, eu não sou mais criança e... - o rapaz tentou protestar.

- Fique calado garoto. Você não sabe de nada. Eu jurei para o seu pai que protegeria você. Eu e Allana juramos. Não vou deixar você se machucar...

- Sirius, Harry já enfrentou Voldemort mais vezes do que qualquer um aqui - Remo chamou a atenção mas o amigo prosseguiu como um alucinado.

- Não, senhor, ele vai pra América. Eu vou mandar Harry junto com Allana e Lili. Vocês podem ficar na casa de uma prima de Arabella que também é bruxa e...

- Não - Harry protestou. - Eu não vou fug...

- SIRIUS! - Remo chamou a atenção dele. - Você está fora de si? – continuou, segurando o amigo pela gola das vestes.

- Me largue Aluado - empurrou o amigo para o lado. - Você diz isso por que não foi você quem o encontrou. Você não viu a expressão nos olhos dele. Ele era um garoto. Um garoto, por Merlin...

- Sirius, Vitor fez o que fez porque...

- Não. Tiago... Tiago era só um garoto - Harry assistia a cena, atônito, esperava que Dumbledore intercedesse, o padrinho tinha lágrimas nos olhos. - Eu preciso tirar o Harry dessa loucura. Se ele estiver longe...

- O mal se estenderá até ele, Sirius. Você sabe disso - Dumbledore falou finalmente. Remo e Harry se voltaram para o diretor. Sirius abaixou a cabeça. Chorava agora, deixou-se cair de joelhos no chão, vencido pelo inexorável.

- Nós vamos ficar aqui e lutar pelo que acreditamos. Pelo que Tiago acreditava - Remo disse solene. Harry estava boquiaberto.

- E quem vai me garantir que eu não vou ter que ver o meu filho saindo daqui dentro de um caixão como o pobre do garoto Krum? - Dumbledore olhou para aquele homem feito tomado pelo desespero e apenas estendeu a mão para que se levantasse.

- Nós vamos esperar que não haja mais nenhuma perda do nosso lado, Sirius, mas ninguém pode garantir algo assim para você. E Harry não estaria mais seguro longe de todos, muito pelo contrário. Nossa união fará a diferença nessa guerra... Pense bem sobre isso. Você sabe que tenho razão. Precisamos garantir um futuro para nosso mundo - Sirius concordou.

- Está bem, mas eu vou ficar de olho em Harry o tempo todo - Dumbledore sorriu.

- É claro que você vai...

Os dias se passaram monotonamente, pareciam se arrastar. As manhã eram preenchidas por aulas sobre poções, feitiços, encantamentos. Às tardes treinavam espada, arco e flecha, bastão. Era nesses momentos que Harry conseguia se sentir ainda em Hogwarts, principalmente quando treinava com Rony.

Os dois comentavam sobre a saudade das meninas e trocavam informações codificadas que chegavam por corujas especialmente preparadas para vôos de emergência. Sabiam que Hermione, Gina e Allana estavam bem. Os Granger agora estavam bem melhores e logo poderiam ir para casa. Ficariam sob os cuidados de Allana, assim ficariam juntos na casa de Harry. Isso era um alívio para o rapaz mas a saudade de Gina lhe cortava alma como uma espada em chamas. Precisava dela como o ar e estava ficando cada vez mais insuportável a sensação que nunca mais a veria de novo.

Então, na noite de ano novo, Harry se aproximou da fogueira na qual os aurores se reuniam em volta para se aquecer. Em volta estavam reunidos Sirius, Snape, Remo e, mais distante um pouco, Dumbledore, conversando com Moody.

- Sirius - Harry chamou a atenção do padrinho, que estranhou o fato de ele estar carregando sua vassoura.

- O que foi Harry? Está uma bela noite para voar mas não aconselho. Logo os fogos cobrirão todo o céu, nas comemorações de ano novo, você poderia se ferir - Harry sacudiu a cabeça.

- Eu sei disso e depois que eles explodirem o céu estará coberto de fumaça e a visão ficará dificultada - Sirius acenou, concordando.

- Então...

- Então é por isso mesmo que eu vou voar quando os fogos começarem, pra não atrair atenção. Assim, quando a fumaça encobrir o céu, eu já estarei longe e passarei despercebido pelos campos descobertos. Depois posso voar relativamente baixo, margeando as encostas e as florestas. Estarei em casa pouco depois de meia-noite - Sirius ficou boquiaberto.

- Como é? - Remo também se virou para ouvir o que o rapaz estava falando.

- O que você está me pedindo?

- Eu estou te informando que eu vou voar esta noite. Preciso ver a Gina. E vou vê-la, Sirius. E ninguém vai me impedir disso - o padrinho segurou a vassoura e puxou mas Harry fez força contra.

- Deixe o rapaz Sirius - Dumbledore intercedeu repentinamente.

- Mas professor... Ele quer que eu permita que ele se arrisque por aí sozinho, não há o menor cabimento nisso - o diretor sorriu.

- Eu sugiro que você parta ao começo dos fogos, Harry. O barulho e a fumaça disfarçarão você na noite clara - Dumbledore sugeriu exatamente o que Harry pensava em fazer.

- Eu não acredito que o senhor vai permitir que ele vá - Sirius franziu a testa e largou a vassoura, que Harry colocou de lado, fora do alcance do padrinho.

- Meu caro Sirius, a questão não é permitir. Harry já fez mais coisas proibidas do que eu fui capaz de descobrir, se não me falha a memória. E isso é algo que você deve entender muito bem, tendo sido um animago ilegal por tantos anos e fugindo de uma prisão como Azkaban - Sirius corou ligeiramente e Remo riu. - Simplesmente nós não vamos conseguir impedir esse rapazinho aqui de encontrar seu destino então não é melhor que ele faça isso da forma mais segura? - Sirius se deu por vencido, Harry abriu um sorriso.

- Obrigado professor.

- Se você deseja mesmo ir é melhor se preparar, vá até a clareira com Sirius. Assim que estourar a primeira fagulha no céu voe o mais rápido que puder - o diretor disse antes de se retirar para comer alguns marshmallows tostados. Remo apertou a mão de Harry e desejou boa sorte.

- Me faça apenas um favor? - Sirius disse antes de o afilhado montar na vassoura. - Não deixe que sua madrinha o veja. Ela me faria dormir no sofá o resto da vida por perder você de vista - Harry sorriu e concordou. Nesse exato momento explodiu o primeiro foguete no céu.

Era meia-noite. Ano novo. Harry tomou impulso e alcançou os céus. Voando alucinadamente rumo ao seu destino.

Gina terminou de cear com Allana e os Granger e deu boa noite, sentia-se triste e vazia. Sabia que o dia seguinte seria crucial para aqueles que estavam lutando. Subiu as escadas, cabisbaixa, sentia falta de Harry. Precisava dele como nunca. Abriu a porta do quarto dele e encontrou algo que quase a fez desmaiar.