Capítulo Vinte - O Final Das Trevas

Harry retornou ao campo de batalha para encontrar um cenário irreconhecível. Várias das armas criadas pelos gêmeos Weasley estavam dispostas sobre a mesa e eram divididas igualmente entre os aurores, alguns astrônomos estudaram o alinhamento dos astros e previram que o eclipse ocorreria exatamente às cinco e dez da tarde.

Entrou numa das maiores cabanas montadas ao longo de uma linha na retaguarda, procurava por Sirius mas não foi o padrinho que encontrou refastelado em uma das camas de lona.

- Malfoy? - arregalou os olhos. - O que você está fazendo aqui? - o loiro deu um sorriso sarcástico.

- Também fico feliz em ver você, Potter. Embora tenha quase achado que não voltaríamos a vê-lo aqui e...

- Eu fui ver a Gina se quer mesmo saber. Mas não creio que te deva nenhuma explicação - o outro deu uma risada.

- Ah! Não Potter, creio que você deva. Bem, não a mim, mas ao grande cachorrão, sabe? Ele ficou furioso com a sua demora. Pensei até em me oferecer para brincar de jogar o pauzinho para ele apanhar, o que acha? Pra relaxar... Mas o velho lobo do mar conseguiu acalmá-lo com um pouco de vinho, ou era alguma poção do professor Snape? Eu não estou bem certo disso - Harry ia abria a boca para responder mas foi interrompido por Sirius, que entrou na barraca, furioso.

- Você demorou muito, garoto. Quer me matar de preocupação? Precisa ter mais responsabilidade Harry...

- Sirius, eu...

- Humpft! Não importa agora, Dumbledore mandou eu entregar as armas de vocês - Harry franziu a testa.

- Armas? Mas eu pensei que...

- Ora Harry, você pensou que as invenções dos garotos Weasley não seriam usadas por nós?

- Não. Eu pensei que Draco não fosse lutar - o loiro bufou.

- Potter, eu não sei se você é realmente burro ou se faz isso só pra me irritar. Você acha que eu ficaria naquele castelo mofado e perder toda a diversão? - Harry ignorou o comentário do outro rapaz e esperou uma resposta de Sirius.

- Draco se ofereceu, Harry. Ele luta muito bem e já provou mais de uma vez ser fiel à nossa causa, nada mais justo que também receba um suprimento de armas - Sirius tirou de dentro de uma sacola uma espada embainhada e um bastão.

- Podia ter dormido sem essa hein super-Potter? - Harry deu um muxoxo e ficou atento ao que o padrinho fazia.

- Tome Harry, Dumbledore mandou te entregar. Você vai empunhá-la. De novo... - entregou a espada a Harry. - Malfoy - atirou o bastão na direção de Draco.

- Hey! Alguém ouviu falar em direitos iguais por aqui? Por que ele ganha uma espada e eu um bastão? - Harry sorriu.

- Não é qualquer espada Malfoy - retirou a lâmina da bainha e mostrou ao outro o nome de Godric Gryffindor gravado. Draco fez uma careta.

- Eu sinceramente gostaria de reclamar com que fez essa "divisão igualitária" das armas. Potter ganha uma espada e eu ganho o quê? O palito de dentes do Hagrid... Muito justo - Sirius trocou um olhar com o afilhado.

- Estejam prontos e me encontrem na linha de frente - disse antes de se retirar. Harry olhou para Draco.

- Parece que seremos uma dupla imbatível Potter - implicou.

- Eu não acredito que vamos lutar lado a lado mas se vamos fazer isso mesmo é melhor que um não se intrometa no caminho do outro, ok?

- Isso é uma ameaça?

- Não Malfoy. Não é. Isso é apenas o mais lógico a se fazer. Ouça, na hora que a coisa toda começar você e eu sabemos atrás de quem Voldemort vai estar. Você não vai querer arriscar o seu lindo pescocinho para me salvar e eu dispenso a sua ajuda de qualquer forma. Então? Temos um acordo? - Draco deu de ombros.

- Como você preferir. Eu vou estar ocupado demais mesmo descobrindo como essa porcaria de bastão pode ser útil...

Em poucos minutos os dois estavam ao lado de Sirius e Remo, o campo apinhado de aurores e alunos sob comando de ambos, os membros da Ordem se dividiam em unidades, cada uma responsável por um grupo. Harry olhou para o lado e viu alguns colegas, rostos conhecidos mas que não sabia o nome. Sentiu o sangue gelar quando a sombra começou a encobrir o sol.

- Está quase na hora - Remo murmurou.

- Porcaria - Harry ouviu um lamento familiar e olhou para o lado.

- Rony? O que você faz aqui? - o ruivo riu.

- Você achou que eu ia te deixar aqui sozinho com Malfoy? - Harry abriu a boca para retrucar mas foi interrompido por um pigarro.

- Aham - os dois rapazes olharam para o lado mas foi Rony quem protestou primeiro.

- Hermione? Que droga você está fazendo aqui? - as orelhas dele ficaram púrpuras enquanto falava. A garota ergueu as sobrancelhas.

- Eu vim ajudar. De nada, a propósito...

- Você não devia estar aqui - Rony cruzou os braços.

- Nem você - respondeu, irritada, Harry olhou de um para o outro.

- Nenhum de vocês devia estar aqui. Eu não posso tomar conta de nós três...

- Harry - Hermione ia começar um discurso sobre direitos iguais mas foi cortada por um estrondo.

- Olhem - Rony apontou para o céu. Uma enorme marca negra encobria o eclipse, obscurecendo ainda mais o campo de batalha.

Em meio ao espanto alguns aurores caíram no chão, atacados por criaturas estranhas, sombrias e esfumaçadas. Rony puxou Hermione para o lado e a livrou do ataque de uma delas.

- Fiquem juntos - Remo gritou, Harry respirou fundo e se prontificou para atacar.

- O que são essas coisas? - Rony perguntou, amedrontado, vendo um auror enfrentar uma sem muito sucesso.

- Luminare! - Hermione apontou a varinha para a mesma criatura que havia tentado atacá-la anteriormente e ela se desfez. - São feitos de sombra, ataquem com luz - logo todos as estavam enfrentando da mesma forma que a garota.

- Bem pensado - Rony sorriu, repetindo o que ela havia feito e destruindo mais uma das criaturas sombrias.

Enquanto isso, do outro lado do campo de batalha, o grupo liderado por Moody não parecia estar tendo muito sucesso com os ataques.

- Mundungo, atrás de você - Moody avisou, vendo com o olho giratório uma das criaturas se aproximar do amigo.

- Protego - Mundungo gritou pouco depois de ser tocado pela criatura. O braço que a mão sombria havia tocado ficou completamente congelado e frio.

Ao final de meia hora havia alguns aurores severamente machucados mas as criaturas haviam sido derrotadas. Em conjunto, os aurores alinharam novamente as linhas de bruxos ao seu comando. O eclipse já havia passado mas a escuridão havia deixado um rastro de destruição em seu caminho.

A noite caiu finalmente e uma neblina cinzenta encobriu os campos de Godric's Hollow. Sirius e um grupo de aurores se dirigiram para frente e adentraram a neblina, para fazer um reconhecimento de campo.

- Isso não é natural - Hermione disse em um sussurro. Rony apertou a mão dela, nervoso.

- Eu não queria definitivamente que você estivesse aqui mas fico feliz que esteja - confessou, ela sorriu.

- Eu precisava estar junto de você, Ron...

- É. É melhor morrermos todos juntos... Pena que a Gina também não esteja e...

- Não fale besteiras, Rony, nenhum de vocês vai morrer - Harry passou pelos dois amigos, dirigindo-se à frente.

- Aonde você vai, Harry? - Hermione se soltou da mão do namorado e a colocou no ombro do amigo, que estava a apenas alguns passos da densa fumaça que se espalhava cada vez mais pelo campo, agora abafando um pouco as vozes em sussurros assustados.

- Eu vou fazer o que esperam que eu faça. Vou procurar Voldemort e acabar com isso de uma vez...

- Harry! Você enlouqueceu? Sirius ainda não voltou do reconhecimento de campo. Ele vai pirar se souber que você simplesmente resolveu fazer uma coisa dessas.

- Mas é o mais lógico a se fazer Mione - o garoto retrucou, ajustando os óculos no rosto e apertando os olhos em direção à fumaça incomum.

- O mais suicida, você quer dizer - Rony retrucou, aborrecido.

- Eu preferia heróico mas é o que eu vou fazer - respirou fundo.

- Nós vamos com você - Hermione e Rony se precipitaram para frente mas Harry foi mais rápido.

- Ah, mas não vão mesmo - respondeu, jogando a capa de invisibilidade por cima de si, ficando invisível.

- Isso não vale! Como vamos saber para onde você vai? - Hermione choramingou. - Odeio quando ele faz isso...

- Algo me diz que essa é a intenção dele, Mione. Tudo bem amigo mas isso foi um golpe baixo - Rony resmungou. Harry sorriu debaixo da capa.

- Digam a Gina que estou fazendo isso por ela. Por nós - Harry disse rapidamente, antes de sumir na névoa cinzenta, deixando apenas as palavras no ar.

- Droga... Sirius vai nos matar - Hermione mordeu o lábio inferior.

- Devíamos seguí-lo.

- "timo, e nos perdermos também? Lembra quando a gente tentou fazer isso ano passado? Sem chance. Se ainda a Gina estivesse aqui... Temos que esperar Sirius voltar com os outros e contar a idéia genial do Harry. Senão ninguém vai saber onde ele está e nem a besteira que está tentando fazer...

- Tem razão. Droga. Porcaria de capa de invisibilidade...

Enquanto Harry adentrava cada vez mais na neblina seus olhos começaram a se acostumar. Ele não ousou erguer a varinha e iluminar o caminho, afinal tudo que podia ver era um mar cinzento à sua volta e estava preocupado demais em observar onde pisava. A espada, agora desembainhada, estava firmemente segura em sua mão direita. A varinha na esquerda, os nós dos dedos brancos de tanto que as apertava. Estava sozinho e enfrentaria como homem o que quer que estivesse escondido em meio à névoa.

Depois de algum tempo andando às cegas começou a avistar um vulto, parecia outra pessoa, ficou alerta. Quando se aproximou viu que era um rapaz da mesma idade que ele, um aluno também. Parecia perdido e assustado.

- Tem alguém aí? Drrrogra, porrr que eu fui me perrder dos outrrros? - resmungou em um carregado sotaque francês. Harry retirou a capa.

- Você está bem? - o garoto se assustou mas, reconhecendo Harry, respondeu.

- Sim, mas estou perrrdido do outrrros - Harry sacudiu a cabeça.

- Você precisa voltar. Siga em linha reta pelo caminho que eu vim e vai encontrar Rony Weasley e Hermione Granger - o outro rapaz sacudiu a cabeça.

- Se não se imporrrtar eu vou com você. Prrrefirrro do que me aventurrrar sozinho nessa neblina estrrranha - Harry bufou mas não havia muito que dizer. - Gerrard LeVille - ele se apresentou, esticando a mão.

- Harry...

- Potterrr. Eu sei quem é você - Harry deu um sorriso sem graça, guardou a capa e se pôs a andar lado a lado com o outro rapaz, ambos em silêncio. - Você acha que estamos perrrto de encontrrrar alguma coisa? - Gerrard perguntou, nervoso. Harry apertou os olhos.

- Shhh! - gesticulou, pedindo silêncio. - Acho que tem alguma coisa se mexendo ali na frente - lançou mão da capa e cobriu os dois.

Em pouco tempo passaram por eles uma horda de Comensais, armados não só de varinhas como também espadas, lanças, arcos e flechas. Alguns gigantes desertores os acompanhavam, lobisomens e até mesmo trasgos. Harry se encolheu e conseguiu desviar, sem ser visto, do batalhão de Voldemort, junto com Gerrard.

Quando a tropa passou finalmente os dois tiveram certeza de que estavam chegando bem perto de algo grande. Uma construção de pedra polida despontou à frente.

Ambos ouviam ao longe os gritos e barulhos da batalha. Sabiam que os aurores estavam enfrentando algo realmente assustador. Mas mesmo assim prosseguiram na direção da casa.

"Conheço esse lugar", Harry pensou, tentou se lembrar de algum sonho ou memória remota mas Gerrard atrapalhou sua linha de raciocínio, pensando alto.

- Esperrro que os outrrros estejam bem Arrry - disse baixinho, antes de engolir em seco. Apontou para a placa no portão de ferro retorcido da casa.

"Potter" dizia a placa enferrujada e chamuscada que balançava ao sabor do vento, pendurada na antiga caixa de correio, fazendo um rangido aflitivo. Harry estava voltando para casa finalmente, depois de quase dezessete anos.

"Muito irônico. Então era isso que Voldemort queria? Um novo confronto no mesmo cenário de antes."

Enquanto os dois se esgueiraram e passaram entre as grades retorcidas e cobertas de limo e musgo do portão os outros enfrentavam sérios problemas contra o exército negro de Voldemort.

- Fiquem juntos - Dumbledore gritou imediatamente quando a primeira horda de Comensais apontou em meio à neblina. O diretor ergueu a mão e emitiu um clarão enorme, que se espalhou pelo campo de batalha como uma onda circular, daquelas que se formam em águas paradas quando se joga uma pedra.

No mesmo instante a onda de luz se expandiu e limpou completamente a neblina, deixando a luz da lua cheia iluminar todo o campo de batalha. Alguns archotes tremulavam, dando uma luz fantasmagoricamente bruxuleante à batalha, uma mistura de prateado e dourado.

- Trasgos - um dos homens gritou antes de ser pisoteado e esmagado por um montanhês-adulto.

Rony engoliu em seco ao ver as entranhas do homem se espalharem pelo chão. Hermione soltou a mão dele ao ver o enorme bicho e se posicionou.

- Mione? - a garota subiu correndo em uma pedra alta, tirou de dentro das vestes a sua boleadeira e a girou com força sobre a cabeça. O barulho do couro rasgando o ar zuniu algumas vezes e ela lançou o instrumento no ar.

Certeiramente a boleadeira foi direto ao pescoço do bicho, apertando-o e o derrubando, inerte, no chão, antes de pisotear mais alguém. Hagrid ficaria orgulhoso.

- Isso é pela perseguição no banheiro das meninas, seu bicho feio e nojento - ela disse, furiosa. Rony sorriu e ela pulou da pedra no chão, lançando um feitiço luminoso em uma criatura sombria que ainda se mexia.

- Mulher, você é demais sabia? - Rony disse, boquiaberto. Ela sorriu.

- Eu sei - os dois correram de mãos dadas na direção dos outros.

Um lobisomem negro veio correndo na direção de um grupo de aurores. Espumava pela bocarra cheia de dentes afiados. Alguns enfrentavam o bicho com bastões e espadas mas não estavam obtendo muito sucesso. Estavam machucados e o máximo que haviam conseguido era evitar que o bicho os estraçalhassem por completo. Alguns já sangravam pelos arranhões provocados pelas garras enormes do animal. Remo viu o que estava acontecendo e correu na direção deles. Sirius, que estava terminando de estuporar um outro trasgo, seguiu o amigo.

- Aluado - gritou, no encalço do outro.

Remo segurou um medalhão de ouro em forma de sol que estava no seu pescoço e tirou-o com um puxão. Na mesma hora se transformou em lobisomem e pulou sobre o outro lobo, atracando-se ferozmente.

Sirius, que sabia o que o amigo faria, abaixou-se no chão, pegando de volta o medalhão e, voltando-se para os aurores, mandou que saíssem dali imediatamente.

Depois de duas patadas do outro lobo Remo facilmente lhe destroçou a garganta, rasgando-a em dois e, virando-se, então, para Sirius. O amigo jogou o medalhão na direção de Aluado, que avançava para matá-lo. No exato momento em que o medalhão foi seguro instintivamente pelo lobisomem Sirius se transformou no cão negro. Remo, com o simples toque no objeto, voltou à forma humana. Sirius fez o mesmo em seguida.

- Obrigado Almofadinhas - Remo disse, coberto de sangue do outro lobisomem, recolocando o medalhão no pescoço.

- De nada Aluado. Algo me disse que essa coisa teria o efeito inverso quando você colocasse as mãos nela.

- É um medalhão Hellium Solaris, ganhei do professor Dumbledore para lutar sob a lua cheia. Ele engana meu corpo, fazendo-o pensar que é dia claro, e impede a transformação. Você não precisava ter virado o cão negro...

- É, amigo, mas por via das dúvidas eu preferi quando vi sua expressão de simpatia - os dois riram e voltaram para perto dos outros.

No meio do caminho encontraram Rony e Hermione, estavam arranhados e sujos mas não estavam feridos.

- Onde está Harry? - Sirius perguntou, apreensivo. A garota encarou o chão.

- Ele fugiu de nós - Rony gritou, a voz abafada pelo barulho de bombas que iluminavam o céu de cores diversas. Eram as armas dos gêmeos sendo usadas.

- Como assim fugiu? - Sirius segurou Rony pela gola das vestes. Remo o fez soltar o garoto. Hermione tinha os olhos rasos de lágrimas.

- Ele usou a capa, Sirius. Foi atrás de Voldemort - Hermione explicou, acudindo Rony, que esfregou o pescoço.

- Droga. Pirralho teimoso... É tão difícil assim vocês segurarem ele, é? - Sirius olhou para os dois mas Hermione respondeu, irritada.

- Até parece que você não conhece o afilhado que tem - Remo deu de ombros e Sirius correu na direção em que o exército de Voldemort tinha vindo.

- "timo, agora o meu maior ferimento na batalha foi feito por um aliado - Rony mostrou a marca de dedos no pescoço para a namorada.

- Frula - ela apontou a varinha e uma faixa encobriu o machucado. - Bem melhor assim - disse, olhando na direção em que Sirius tinha corrido.

- O que você está pensando?

- Eu espero que Sirius e Remo encontrem Harry antes que encontre Voldemort. Ou pior, seja encontrado por ele - Rony engoliu em seco.

Enquanto isso Harry e Gerrard caminharam devagar pelos jardins soturnos e desertos daquela que fora a casa onde o primeiro nasceu. Várias moitas deformadas de hera e ervas daninhas misturadas tornavam o lugar ainda mais deprimente. Harry observou com tristeza um chafariz, que provavelmente devia ter sido muito bonito na época em que seus pais moraram ali, completamente tomado por musgo e um lodo fedorento. Prendeu a respiração e se encaminhou até a porta de entrada.

Sirius e Remo correram por entre a batalha, um dos lobisomens veio em cima dos dois mas antes que Remo pudesse repetir o seu feito Sirius disparou uma flecha na direção do bicho quando pulou, imediatamente apontando a varinha para a flecha em alta velocidade ainda no ar, antes de atingir o bicho.

- Argentum - a flecha se transformou em uma flecha de prata e atingiu em cheio o peito do animal, matando-o instantaneamente. Remo arregalou os olhos.

- Vire essa varinha para lá Almofadinhas. Onde aprendeu esse feitiço? - Sirius tomou fôlego antes de começar a correr.

- Onde você acha? Allana me fez aprender, caso precisasse pra usar em você - Remo começou a correr mas deu uma pequena parada.

- Hey! Depois eu vou querer tirar essa história a limpo. Cães e gatos... Humpft. Quem disse que eram animais de estimação só podia estar louco... - os dois continuaram a correr, desviando de duelos e atirando o que podiam em qualquer inimigo que viam pela frente.

As armas feitas pelos gêmeos Weasley eram um sucesso. As pílulas camaleônicas confundiam bem os adversários e vários estavam completamente imobilizados pelos feitiços curarizantes. Fred e Jorge lutavam lado alado, soprando bolinhas coloridas enfeitiçadas em várias direções.

- Quantos você já derrubou Jorge? - Fred perguntou antes de zunir uma magnética em um Comensal, fazendo-o ficar coberto de todos os objetos metálicos à sua volta e cair no chão, atingido por uma embaraçadora.

- Quatorze maninho. E você? - Fred deu de ombros.

- Você realmente contou? Qual é a graça disso? Eu perguntei por perguntar mas foram muitos. A graça é amontoá-los. Olhe - apontou para uma pequena montanha de homens, alguns desacordados, outros rijos como pedra, outros tontos de fazer dó, e a maioria coberta de peças metálicas. Jorge riu.

- O que acha de a gente testar o amarracarrão? Essa gente não tem mesmo para onde ir - o outro riu e os dois se encarregaram de amarrar muito bem os prisioneiros, retirando varinhas e possíveis armas e os entregando ao professor Snape, a quem estavam sob comando.

- Você viu a cara do sebosão Fred? - Jorge disse, rindo, antes de repor seu estoque de bolinhas coloridas.

- Vi sim. Mas você não viu o que eu fiz agora - Fred ergueu as sobrancelhas. Os dois voltaram os olhos para a barraca onde haviam acabado de deixar os prisioneiros e ouviram um grito do professor de Poções.

- Weasley idiotas - Snape saiu da tenda correndo. Jorge havia lançado uma Cortina de Fedor lá dentro e o professor não havia tomado o antídoto previamente. Saiu lacrimejando e amaldiçoando os dois, que voltaram ao campo de batalha gargalhando.

- Você acha que ele ficou muito irritado? - Fred perguntou, voltando para trás da pedra que estavam antes, mirando em inimigos.

- Não. Mas ele parecia um hipogrifo com hérnia quando o professor Dumbledore mandou que ficasse conosco aqui, na linha de fundo. No fundo ele sabe que seria o primeiro a ser rasgando em pedaços por ter traído os Comensais. Ele e Malfoy...

- Aliás, onde está o idiota do Malfoy? Ele também não ia ficar aqui?

- Não. O idiota do Malfoy ia lutar na linha de frente, sob o comando de Sirius...

Draco não estava muito satisfeito, já havia batido em alguns inimigos mas não estava sendo muito agradável lutar na retaguarda do pelotão, comandado por Sirius. Ele se sentia um idiota brandindo o bastão contra um trasgo.

"O que eu vou fazer com isso? Espetá-lo, fazer o maior espetinho de carne da história?", pensou depois de estuporar o bicho finalmente. Largou o bastão no chão, substituindo-o por uma espada caída. Cortou a goela do animal e sorriu, satisfeito. Chutou uma pedra no meio do caminho e resolveu ir mais para frente, atrás de mais emoção.

Sirius correu até um ponto específico do campo de batalha, uma clareira escondida entre as árvores. Remo não tinha entendido o que estava fazendo até que viu o que estava ali escondido.

- Bicuço? Sirius, você ainda não libertou o pobrezinho? - perguntou enquanto os dois se curvavam para o hipogrifo e o montavam.

- Ele se apegou demais a mim Aluado. E, depois, eu sei que ele vai achar o rastro do Harry melhor que nós dois juntos.

Os dois alçaram vôo, logo Bicuço mergulhou por entre as árvores, avançando por cima do campo de batalha. Remo e Sirius viram vários focos de fumaça e feitiços ricocheteando, além do barulho de armas sendo brandidas. Em pouco tempo os dois estavam sobrevoando um terreno diferente. O jardim mal cuidado da antiga residência dos Potter. Sirius deu um suspiro.

- Ele encontrou a casa Aluado. Harry voltou para casa e não podia ter escolhido momento pior para isso - apontou o telhado, onde estava desenhada a fogo uma enorme serpente.

- Parece que ele tem visitas - Remo se lamentou. - E não é qualquer uma... - acrescentou enquanto Bicuço pousava silenciosamente no jardim desolado da antiga casa de Harry.

Harry e Gerrard estavam na porta principal da casa, decidindo se deveriam tentar forçar a entrada ou não. Por fim decidiram girar a maçaneta e tentar a sorte. Estava tudo muito fácil até o momento. O suor lhes escorria da testa mas não tiveram nenhuma dificuldade em abrir a porta. Estavam dentro da casa.

- Isso é muito estrranho Arry. Está fácil demais, não acha? - Harry entreabriu os lábios para responder mas na mesma hora a porta atrás deles sumiu. Estavam presos.

Uma gargalhada sibilante os fez olhar para frente novamente. Do lado de fora, Sirius e Remo tentavam encontrar uma brecha no feitiço que agora mantinha a casa sob uma espécie de campo de força impenetrável.

- Finalmente em casa pirralho insolente. Mas mamãe e papai não estão aqui para recebê-lo. Eu sou o que chega mais perto de um comitê de boas vindas - Voldemort disse, rindo, os olhos de serpente brilhavam de satisfação. Harry crispou o punho em volta da espada de Godric Gryffindor.

- Essa casa é minha Voldemort. Eu não tenho medo de você... - Gerrard começou a tremer.

- Ah, garoto... Você não tem medo mas terá. Antes de morrer você terá - o bruxo ergueu a sua varinha e apontou para a espada de Godric na mão de Harry. - Você terá a honra de morrer pelas mãos do herdeiro de Slytherin, do mesmo jeito que o dono dessa espada foi destruído.

Voldemort proferiu um feitiço e uma bola de fogo enorme foi em direção aos garotos. Sirius e Remo escutaram o barulho insuportável e se abaixaram. A casa inteira praticamente explodiu, o chão tremia, como se as entranhas da Terra estivessem revoltadas. Sabiam que aquilo seria o final das trevas. O fim de Voldemort.

Os dois se abrigaram até que todo o barulho e fogo cessassem. Vários estilhaços de pedra e ferro retorcido e queimado foram atirados a vários metros de distância. Uma nuvem de poeira e fumaça encobria o lugar agora.

Sirius ficou de pé e Remo fez o mesmo, sacudindo o pó e fuligem das vestes. Os dois se encaminharam para o que restava da construção, procuravam desesperadamente por Harry. Viram uma mancha no local onde Voldemort estivera, parecia que alguém havia se desintegrado completamente ali.

Caminharam por entre os escombros. De repente Sirius parou de andar. Virou o rosto para o amigo e abaixou a cabeça, desconsolado, ajoelhando no chão. Remo pôde ver, por trás do ombro de Sirius.

Harry. A espada de Godric partida ao meio nas mãos de um corpo completamente sem vida.