Capítulo Vinte e Três - O Novo Herói

No dia seguinte de tarde Harry fugiu da confusão de comemorações de última hora e planos de reconstrução para Godric's Hollow e roubou Gina da sala comunal, pretendia ir com ela até Hogsmeade para comprar um anel de noivado, depois pediria a mão dela de forma apropriada ao Sr. e Sra. Weasley e, é claro, Rony. Só de pensar em enfrentar o amigo tremia, não seria fácil convencê-lo mas pediria ajuda a Hermione para isso.

Saiu com Gina pela rua, as pessoas estavam alegres e risonhas, cumprimentavam os dois enquanto andavam tranqüilamente de mãos dadas. Harry parou em frente a mesma joalheria em que havia comprado o colar em forma de coração que dera à ela no Natal do ano anterior, Gina olhou a vitrine, encantada, e ele entrou na loja.

- Boa tarde - disse ao vendedor, que sorriu ao reconhecer o menino que sobreviveu.

- Olá, Sr. Potter - ele olhou para Gina, que parecia uma criança em uma loja de brinquedos, Harry sorriu.

- Gina, venha conhecer o Sr. Ouribrilhos - a garota se aproximou dos dois, entrelaçando a mão na de Harry.

- Boa tarde - disse, esticando a mão direita para o velho ourives. Ele sorriu.

- Essa é a minha noiva, Sr. Ouribrilhos, Virgínia Weasley - disse, pela primeira vez, orgulhoso. O velhinho sorriu para a menina, que corou.

- Então era para ela aquele coração de ouro que me encomendou certa vez? - Harry sorriu, admirado.

- O senhor se lembra? - Gina também se surpreendeu.

- Eu me lembro de cada jóia que faço e vendo Sr. Potter. Creio que o senhor e a futura Sra. Potter aqui queiram ver as alianças. Com licença, vou buscá-las - o coração de Gina disparou. Ela olhou para Harry.

- "Sra. Potter"! - disse, admirada. - Ainda não tinha pensado nisso - ele sorriu.

- Soa perfeito para mim - disse no ouvido dela enquanto o ourives retornava com o mostruário de anéis. Ele abriu o pano de veludo azul marinho e mostrou os diversos anéis, encantados ou não, para o jovem casal. Gina estava fascinada por todos mas Harry não parecia satisfeito com nenhum.

- Sr. Ouribrilhos, eu gostaria de algo único, como a minha Gina é para mim - a menina ficou roxa. O velhinho deu um sorriso.

- Entendo. Já sei o que vai agradar ao senhor, Sr. Potter - Gina apertou a mão de Harry quando o ourives foi até o interior da loja.

- Harry, não precisa - agora estava se preocupando.

- Eu já disse Gina, quero fazer as coisas direitinho - ela sacudiu a cabeça, concordando, resignada. O velhinho voltou com uma caixinha de veludo preto nas mãos.

- Eu acho que seria esse - abriu a caixinha, revelando o anel de ouro branco maciço e sete brilhantes encravados, o maior, no meio, era imenso. Gina deu um gritinho e levou a mão à boca. Harry sorriu, satisfeito, ao ver a reação da garota.

- Definitivamente é esse Sr. Ouribrilhos. Nem precisa embrulhar - Harry sentenciou, colocando alguns galeões encima do balcão.

- Excelente escolha! Sr. Potter, Sra. Potter - disse, alegre, recolhendo as moedas de ouro que eram apenas dez por cento do valor do anel. Gina sacudiu a cabeça, saindo do transe eufórico.

- Harry, deve ser uma fortuna - ele riu.

- Não importa - disse, terminando de pagar ao Sr. Ouribrilhos os dois mil galeões de ouro com um vale nominal à loja, assinado por ele, a ser descontado depois em Gringotes. Gina arregalou os olhos enquanto saíam da loja, após se despedirem e agradecerem ao velho ourives.

- Harry, foi muito caro. Você não devia... - disse enquanto ele colocava o perfeito círculo de ouro maciço no dedo dela, o diamante maior decompunha a luz do sol nas sete cores do arco-íris. Ele sorriu para ela de volta enquanto fechavam a porta da loja.

- Você merece muito mais - respondeu, satisfeito, inclinando-se para beijá-la, foi quando algo estranho aconteceu.

Uma sombra encobriu a rua. A princípio pensaram que se tratasse de uma nuvem ou algum pássaro. Mas não. Era um enorme dragão negro, que após cuspir uma imensa rajada de fogo, dispersando as pessoas, deu um vôo rasante sobre os dois e arrancou Gina bruscamente das suas mãos, queimando o braço direito de Harry. Ele gritou, desesperado. O anel de diamantes caiu no chão, rolando pelas pedras do calçamento da rua, fazendo um barulho metálico.

- Não! Gina! – ele gritou e ela também, de susto, medo e dor, pelas garras escuras que a tinham arranhado na cintura.

Harry tentou correr atrás dela mas não havia como. Apenas viu quando o Comensal que montava o dragão negro sorriu. E reconheceu o homem, pelo olhar frio e cinzento. Era Lúcio Malfoy.

Sentiu o coração vir à boca. Abaixou no chão, pegou o anel e correu. Correu como nunca tinha corrido pelas ruas de Hogsmeade, que agora estavam no mais perfeito caos. Entrou em Hogwarts correndo e foi direto à sala de Dumbledore. Disse a senha especial da Ordem da Fênix e entrou, desesperado. O diretor estava sentado à sua mesa, atendendo Moody, e olhou fixamente para Harry, que tinha lágrimas rolando pela face.

- Professor - disse com dificuldade. Soluçava, desesperado. Nem tinha reparado na grave queimadura em seu braço. - Um Comensal... Lúcio... Ele... Ele - o diretor olhou gravemente para ele. Moody tentou colocá-lo sentada mas não conseguiu. Harry andava de um lado para o outro. Passou a mão pelo cabelo.

- Se acalme Harry - o diretor disse pausadamente. Harry respirou fundo. Andou até a estante e retirou do suporte a espada de Godric Gryffindor, e brandindo-a no ar, fez um ruído característico, deslocando o ar com a lâmina afiada que havia sido reforjada após o incidente em Godric's Hollow.

- Professor, eu vou matar Lúcio Malfoy. Vou atravessá-lo com a espada e cortá-lo ao meio. Ele acabou de me roubar Gina - respirou fundo antes de continuar. - De roubar Gina, montado num Rabo-Córneo Húngaro. Ele atacou Hogsmeade - Moody arregalou os olhos mas Dumbledore permaneceu com a mesma calma de antes, como se fosse feito de pedra.

- Harry, eu suponho que esteja muito nervoso para raciocinar ou veria que não está em condições de fazer absolutamente nada com o seu braço direito nessas condições - Harry olhou para o braço. A camisa e as vestes estavam totalmente queimadas e bolhas emergiam na superfície da pele queimada. Sacudiu a cabeça negativamente. - Além do mais, agora teremos que reunir toda a Ordem e descobrir o que está realmente acontecendo, assim resolveremos como vamos resgatar a Srta. Weasley - Moody olhou pela janela e arregalou os olhos.

- Alvo, venha ver isso, por Merlin - Dumbledore se adiantou até a janela e viu no céu, até onde a vista alcançava, diversas Marcas Negras. Uma surgindo após a outra, como se fossem elos numa corrente sinistra.

Voldemort não estava destruído. Harry olhou para o céu e a cicatriz queimou de uma forma enlouquecedora, então caiu para trás, sendo amparado por Moody.

- Leve-o à enfermaria, Alastor. A guerra acabou mas Voldemort não. Agora será o momento decisivo - completou firmemente.

Harry foi levado até a enfermaria, onde sua queimadura começou imediatamente a ser curada, emplastrada por uma pomada fabricada por Madame Pomfrey à base de prata. Ela lhe aplicou o curativo e deu-lhe uma poção para dor, para que dormisse. O rapaz dormiu instantaneamente, embora se debatesse na cama ainda.

Gina estava em uma sala escura, abafada. Tossiu algumas vezes, alisou a lateral do corpo, arranhada pelas garras cruéis e afiadas do Rabo-Córneo. Tentou ficar de pé, mas não conseguiu. A dor das escoriações era insuportável. Também se sentia tonta e nauseada.

- Com medo garota? - uma voz asquerosa falou com ela no escuro. Gina se assustou, tentando aprumar-se para ver da onde vinha a voz.

- Que-quem está aí? - gaguejou nervosa. Um homem alto e forte, de feições finas, usando um capote negro, apresentou-se para ela. Ela se encolheu no canto da parede de pedra.

- Está com medo - afirmou, satisfeito, aproximando-se dela. - Isso é ótimo. Eu gosto disso. Torna tudo tão mais divertido - Gina ficou de pé, com custo, encostando-se ainda mais na parede. O homem avançou para ela bruscamente, fazendo com que ficasse encurralada.

- Não... Não me toque - disse, implorante, vendo o olhar maldoso que o homem lhe lançava. Ele segurou o queixo dela com força.

- Eu vou fazer o que eu quiser aqui garota. Como eu quiser e quantas vezes eu quiser - disse, aproximando a boca da dela, lambendo seu pescoço e parte da bochecha. Ela se virou, enojada, e cuspiu no rosto dele. Ele lhe deu um tapa estalado no rosto, que a fez cair no chão. Gina olhou para cima, atordoada, viu que o homem se aproximava ameaçadoramente agora. Ela fechou os olhos e soluçou baixinho. Mas, de repente ouviu uma voz familiar.

- Deixe-a em paz McNair - o homem se virou na direção da voz e Gina abriu os olhos, encontrando, para sua alegria, os familiares olhos cinzentos de Draco Malfoy. Sorriu, mesmo sentindo uma dor tremenda. O rosto queimava pelo tapa. O maxilar parecia estar quebrado.

- Eu não obedeço ordens suas moleque - disse, desdenhoso. Draco porém apontou a varinha para ele e proferiu o feitiço com toda calma.

- Estupore - o homem caiu desacordado no chão. Ele foi até Gina. - Enervate - um jorro de luz da sua varinha fez com que a menina se sentisse bem melhor.

- Draco? - ela disse, surpresa. - O que você está fazendo aqui?

- Essa é a minha casa, Gina. E só eu posso entrar aqui para salvar você - a garota sacudiu a cabeça. - Vamos, logo isso aqui vai estar fervilhando de abutres como esse aí - ele a guiou até o lado de fora da casa, estuporando mais dois Comensais. - Vamos, depressa - disse com firmeza, puxando-a pela mão. Deu a volta na casa, e encontrou sua vassoura, encostada no muro. Montou e esticou a mão para Gina.  - Suba, temos que sair daqui o mais rápido possível - a garota não hesitou e subiu junto com ele, sentando na frente do loiro. Ele deu um impulso e em minutos já não era possível enxergar qualquer sinal da mansão Malfoy. - Agora você está segura - ele disse, abraçando a menina com um dos braços. Ela sorriu, aliviada, encostando-se nele. Draco colou o rosto no dela, exalando o perfume dos cabelos ruivos soltos. - Eu amo você, Gina. Eu nunca vou deixar você sozinha. Nunca - ela sorriu.

- Eu também te amo, Draco – disse, virando o rosto aos poucos, timidamente encontrando os lábios entreabertos do garoto, num beijo apaixonado, cada vez mais ardente.

Pousaram em uma clareira. Não conseguiam parar de se beijar. Draco arrancou a própria camisa e afundou o rosto no pescoço dela, provocando gargalhadas na menina enquanto abria, desajeitado, os botões do vestido dela, revelando as marcas feitas pelas garras do dragão.

- Eu te amo - ela repetia entre risadas histéricas. Ele a apertava contra si. Já não dava para identificar onde começava um e acabava o outro. - Eu quero ficar para sempre com você. Você não me deixaria lá, naquele inferno, para morrer, como fez Harry Potter - disse com amargura e ódio na voz.

Os olhos dela cintilaram e tudo pareceu ficar congelado no tempo e no espaço. As pupilas se dilataram de tal forma que o tom castanho claro ficou completamente negro. O céu se refletiu ali e o dia se transformou em noite em um segundo, deixando as estrelas brilharem como minúsculos pontinhos, refletidos nos olhos fixos dela.

Harry acordou sobressaltado, ofegante. Estava na enfermaria de Hogwarts, banhado em suor, e tinha tido o pior pesadelo da sua vida inteira. Colocou a mão no peito, refazendo o compasso da respiração, o coração batia acelerado. Arrancou a atadura do braço, verificando que já estava bom, vestiu-se e saiu da enfermaria o mais rápido que pôde.

A única coisa boa daquilo tudo era que agora sabia onde Gina estava. Estava na mansão Malfoy e, mesmo sabendo que parte do que viu era um pesadelo, sabia que somente um Malfoy poderia entrar lá com facilidade.

Então, abrindo mão do seu orgulho, Harry tomou uma decisão. Sabia o que deveria fazer. Foi correndo até a entrada das masmorras e esperou. Ficou de pé, andando de um lado por outro por um bom tempo, até que se cansou e sentou junto a uma desgastada estátua de pedra. Quando já estava desanimado ouviu o ruído da entrada do salão comunal da Sonserina se abrindo. Ergueu a cabeça e encontrou exatamente quem estava procurando.

- Perdido, Potter? - Draco perguntou em tom desdenhoso.

- Não Malfoy. Eu estava esperando por você - disse, desanimado mas com muita educação.

- Por mim? Você não deveria estar esperando pelos seus amiguinhos estúpidos ou pela namoradinha ruiva? - disse a última parte com rancor e ciúme. Harry suspirou.

- Então você ainda não sabe? - perguntou com uma expressão indecifrável. - Não devem ter dito nada para não alarmar os alunos... - concluiu em seguida.

- O que eu ainda não sei Potter? - perguntou, irritado.

- Eles a levaram, Malfoy - Harry disse subitamente. Draco franziu a testa.

- Como? Quem foi levado? - já sabia a resposta mas não queria acreditar.

- Gina. Gina está nas mãos dos Comensais agora, nas mãos de Voldemort - engoliu em seco. Cada vez que repetia isso era como se estivessem arrancando seu coração com um ferro em brasa. Draco apertou os olhos.

- Como isso aconteceu Potter? Voldemort está destruído, acabado, virou pó. O seu padrinho-cachorro mesmo contou...

- Ele não está destruído... Não acabou... Gina foi levada - Harry balbuciou as palavras, que saíam de sua boca sem que conseguisse expressar nenhum sentimento. Sentia-se morto e exausto.

- Como assim foi levada? - Draco gritou, projetando-se para Harry e agarrando o garoto pelo colarinho. Harry se espantou com a atitude. O sonserino encostou o rapaz contra a parede fria das masmorras mas o outro não ofereceu qualquer resistência. Estava se sentindo vazio e infeliz demais para isso. - Como você deixou que a levassem, seu idiota inútil? Quem a levou? Você deveria tomar conta dela - Draco disse enquanto apertava ainda mais o pescoço de Harry.

Nesse instante o grifinório teve um flash do momento em que estava com Gina, passeando calmamente pelas ruas de Hogsmeade. Via o sorriso dela ao contemplar a vitrine da "Ouribrilhos Joalheria", onde tinha acabado de comprar um anel de noivado. Os cabelos refletindo vários tons de vermelho ao sol. Podia ouvir a voz dela, risadinhas de contentamento ecoando ao longe, como se estivesse sozinho e perdido no fundo de um lago profundo e escuro: "...Sra. Potter..." "...Harry, foi muito caro...". As imagens cessaram da sua mente e Harry, acordando do estado de transe, finalmente se desvencilhou de Draco, segurando-o com força pelo punho, impedindo-o de estrangulá-lo.

- VOCÊ ME OUVIU? QUEM A LEVOU POTTER? E PARA ONDE? - perguntou de novo, gritando diante da expressão perdida e vaga do outro menino. Harry agora parecia decidido e furioso.

- Eu esperava que você me dissesse isso Malfoy - disse com raiva no olhar. Draco sacudiu a cabeça.

- E como eu saberia? Eu não sou mais um estúpido espião, lembra-se? - perguntou, aborrecido.

- Foi seu pai. Ele a tirou de mim. Ele a levou embora. Ele... - Harry tentava se controlar ao máximo. Sentia que a qualquer momento poderia romper em lágrimas de dor é ódio. - Se ele encostar em um só fio de cabelo dela... - continuou, os punhos cerrados, mas o outro menino o interrompeu, dando um soco violento na parede.

- Eu mesmo acabo com ele, maldito - Harry se espantou com a atitude de Draco. Os dois se entreolharam e entenderam que aquele deveria ser um momento de trégua. - Eu realmente odeio você, Potter. Mas odeio Lúcio muito mais agora e isso é o que me importa - disse de um modo que soou bem sincero. - Entenda bem - completou com o mesmo tom implicante de sempre. - Aquela ruiva é a única pessoa no mundo que se importa comigo. A única coisa boa que me aconteceu na vida. E não aconteceu para mim pois ela nem ao menos me pertence - disse a última frase baixo mas Harry ouviu claramente.

- Não, ela não pertence a você - disse sério, puxando de dentro da camisa a mesma corrente de ouro que um dia tinha servido para guardar uma mecha de cabelo ruivo dela, na qual agora pendia o aro perfeito de ouro maciço e diamantes. Draco olhou espantado para o brilho do anel no pescoço de Harry. - Mas eu suponho que você a ame como se pertencesse, Malfoy. Que a ame como eu amo - continuou, fazendo um esforço enorme para manter a calma. Draco estudou a expressão dele por alguns instantes.

- O que você espera que eu faça, Potter? - perguntou, desconfiado. - O herói aqui é você, não eu. Eu deveria ser o inimigo, lembra? - disse, ressentido.

- Eu não me esqueço disso, Malfoy. Mas não é por mim que eu peço. É por ela. Pela Gina. Eu sei que vocês são amigos. Ela confia em você, embora eu não. Ela acredita em você. Acredita que você pode ser mais do que é, que você pode ser um novo herói - disse, ansioso.

- Você pede? - Draco perguntou desdenhoso. Harry sacudiu a cabeça. - Então você deveria usar a palavrinha mágica. Ou aqueles trouxas não o educaram como uma pessoa civilizada? - foi a vez de Harry perder a paciência. Ele atirou Draco na parede oposta com um safanão.

- Enquanto você discute os meus modos Gina pode estar sendo torturada. Gina pode estar... - travou por alguns instantes, apertando o pescoço do outro rapaz. – Morta – disse, a voz miúda e os olhos cerrados.

Não podia cogitar aquela hipótese mas sabia que era uma possibilidade, ou pior, uma probabilidade. Sua única esperança da menina ainda estar viva era que Voldemort achasse mais conveniente que a assistisse morrer do que simplesmente enviar pedaços dela a ele pelo correio-coruja. Mas, mesmo assim, temia os horrores que o Lord das Trevas poderia fazer com Gina. Horrores que a manteriam viva e sofrendo por muito tempo até que alguém pudesse salvá-la. Horrores que poderia fazer com que desejasse estar morta ou mesmo que a matassem por dentro. Ele bateu mais uma vez as costas de Draco contra a parede.

- O que você quer, seu maldito? Que eu implore? - Harry disse, olhando para o garoto. Os olhos verdes suplicantes foram baixando até estarem na altura da cintura de Draco Malfoy, enquanto era solto. Harry estava de joelhos agora. Exatamente aos pés do outro garoto. - Então eu imploro - agora as lágrimas de desespero escorriam livres pela face rubra de ódio. Draco olhou profundamente dentro dos olhos de Harry e viu a tormenta que se formava no verde tempestuoso daquele olhar.

- Está bem Potter - disse, sério. Não tinha sido, afinal, nada divertido ver o menino que sobreviveu ajoelhado aos seus pés, a despeito de tudo que acreditava. - Levante-se - prosseguiu, irritado. - Essa posição não combina com você - completou, sem acreditar no que dizia. Harry levantou e disse a ele o que sabia, de modo prático.

- Ela está na sua casa. Em algum lugar. Eu acho que no subsolo, pois não há janelas e ela se sente sufocada. Ela está com muito medo... E dor - disse com pesar na voz. Draco franziu a testa para ele.

- Como você pode saber dessas coisas? Ninguém sabe do labirinto subterrâneo da minha casa. Ninguém que não seja um Malfoy - rolou os olhos para cima. - Pensando bem, talvez Voldemort saiba - parou. Olhou atentamente para Harry. - E como você pode saber o que Gina está sentindo? - Harry deu de ombros.

- Eu apenas sei. A nossa ligação é muito forte. Cada vez mais... Eu só não sei por quanto tempo ela vai conseguir mantê-la e pedir ajuda. Nós podemos ver os pensamentos um do outro, sentir o que o outro está sentindo. Antes era preciso que nos tocássemos ou nos olhássemos nos olhos para que isso acontecesse mas agora é diferente, eu acho que deve ter aumentado porque nós dois dormi... - não completou a frase. Tinha pensado alto e falado mais do que devia. Draco soltou um muxoxo.

- Entendo - disse com uma ponta de inveja na voz. - Então você quer que eu vá até em casa. Dê uma passadinha por lá, veja como estão as coisas... Reabra a casa... Visite o papai e a mamãe. Tomar um chazinho talvez, um suquinho de abóboras - disse em tom debochado. - De repente eu aproveito para dar uma olhadinha em quem é o torturado do dia - completou a frase dando uma gargalhada. Harry franziu a testa, aborrecido. - Nem que eu quisesse Potter. As coisas não funcionam assim. Lúcio pode ser meu pai mas é, antes de tudo, um Malfoy. E os Malfoy não confiam em ninguém. Muito menos em outros Malfoy. Se ele foi louco o suficiente para usar a minha casa como esconderijo, mesmo estando lacrada pelo Ministério, é porque não vai ser nada fácil para qualquer um entrar lá. Aquilo ali deve estar uma fortaleza praticamente o forte Knox. Quem sabe com um exército e algumas bazucas - Harry sacudiu a cabeça, avaliando o que o outro rapaz havia dito.

- Tem razão - respirou fundo mas seu olhar se iluminou de novo. - Você não irá sozinho - disse prontamente, pensando em uma solução. - Venha comigo, Malfoy. Se você vai ajudar acho justo que tenha total apoio e cobertura. Se precisa de um exército eu vou te arrumar um...

  Harry foi com ele até a sala de Dumbledore e lá encontraram Sirius, Remo e Snape. O professor de Poções olhou com uma expressão curiosa para a estranha dupla que entrou na sala.

- O que o Sr. Malfoy está fazendo aqui, Potter? - Snape perguntou, aborrecido, já que a reunião deveria ser apenas para membros da Ordem da Fênix. Harry se dirigiu ao diretor.

- Eu tomei a liberdade de pedir a ajuda do Malfoy, professor. Eu sei onde Gina está e sei que ele pode ajudar a encontrá-la - Snape entortou a boca, duvidando do rapaz. Os olhos azuis de Dumbledore cintilaram.

- Como você sabe disso Harry? - Sirius perguntou, curioso, mas foi Draco quem respondeu.

- Eu ouvi comentários sobre um seqüestro enquanto ainda espionava mas não pareceu ter nenhuma importância até agora. Achava que era algo que Lúcio tinha inventado para despistar - continuou categoricamente. - Então agora, diante dos fatos, achei melhor contar sobre isso - Snape fez uma cara de desgosto. - Ao que tudo indica que a garota deve estar na masmorra da minha casa. É onde Lúcio gosta de manter os convidados de honra - disse com firmeza na voz. Remo acenou, demonstrando que havia acreditado nas intenções de Draco.

Harry lhe lançou um olhar agradecido por não ter exposto a intimidade dele e de Gina. Dumbledore pareceu satisfeito com a atitude do rapaz. Ele começaria a reunião, mesmo na presença de Draco, mas foi interrompido pela entrada súbita de Hermione e da professora McGonagall.

- Harry! - Mione se jogou chorando nos braços do amigo. Ele se assustou.

- O que houve? - disse, afastando-a um pouco, olhando nos olhos dela. Mas não precisou falar nada. - Rony? - perguntou, já com a certeza da resposta. A professora entregou uma carta nas mãos do diretor. Harry observou a expressão de Dumbledore mudar enquanto lia a carta.

- Bem, senhores, diante disso nossos planos vão ter que mudar - disse, sério, encarando Harry, que olhou preocupado para ele enquanto estendia a carta.

"Harry,

Me desculpe eu não ter falado nada para você mas eu sabia que se eu falasse você tentaria me impedir e isso é algo que eu não poderia deixar. Sei que só você vai poder salvar a minha irmã. Mas Você-Sabe-Quem ameaçou matar a Mione caso eu não me entregasse. Recebi uma coruja me mandando ir até as ruínas da Casa dos Gritos. Quando você ler isso eu já estarei lá. Não posso deixar nada acontecer com Hermione. Eu não me perdoaria. Sei que você vai me entender. Diga a ela que eu a amo. Diga o mesmo aos meus pais e irmãos (incluo você entre eles).

Sinceramente,

Rony"

Harry sentiu como se tivesse levado um choque elétrico. O corpo todo formigou e achou que fosse desmaiar. Agora Voldemort não só estava em posse de Gina como também de Rony. Provavelmente queria torturá-lo, matando um a um, todos aqueles que mais amava. Abraçou Hermione com força na mesma hora, como se, a qualquer momento, a amiga também lhe pudesse ser arrancada. Draco assistiu a tudo sem demonstrar emoção.

- Afinal, você vão precisar de mim? - o diretor olhou severamente para ele e respondeu.

- Sim Sr. Malfoy, vamos sim. Harry - ele se virou para o garoto, que agora consolava e era consolado também por Hermione -, você irá para a casa dos Weasley. É seguro lá. Hermione pode ficar lá com você. Vocês aguardarão enquanto eu, Sirius, Remo, Severo, Mundungo e Alastor acompanhamos o Sr. Malfoy até a residência dele - Harry ensaiou protestar mas foi interrompido bruscamente. - Harry - Dumbledore nunca pareceu tão sério a respeito de algo. - Eu te proíbo, não como diretor e professor mas como líder da Ordem da Fênix, de fazer qualquer loucura. Você vai ficar n'A Toca. Isso não é um pedido. É um ordem direta - Harry sentiu o estômago doer.

Teria que ficar "preso" na segurança d'A Toca enquanto Gina e Rony corriam sérios riscos de vida, além de Sirius e todo o resto da Ordem. Sentiu com as mãos e os pés atados. Dumbledore amenizou a expressão para ele.

- Você tem que entender, Harry, que para tudo tem um momento certo. Quando chegar o seu momento você saberá. Será inevitável fugir. Ele te alcançará. E eu sei o que ordens diretas significam para você - Harry sacudiu a cabeça, concordando mas, mesmo assim, inconformado. Pelo menos teria a companhia de Mione.

Draco arregalou os olhos. Nunca tinha ouvido falar abertamente na Ordem da Fênix e agora estava curioso para saber como agiriam.

- No caminho nós explicamos tudo Sr. Malfoy, quando nos reunirmos com Mundungo e Alastor - disse Dumbledore, parecendo adivinhar o que Draco pensava. Foram saindo pela porta mas Harry se adiantou até Draco.

- Obrigado pela discrição - disse baixo, para que só o garoto ouvisse. Malfoy fez uma cara de desprezo para Harry.

- Eu fiz isso por ela, Potter, não por você - respondeu, ríspido, e saiu porta afora. Harry ainda gritou.

- Mas ainda assim você fez - disse em tom vitorioso. Harry então se virou para Hermione, que ainda chorava.

A professora McGonagall estava comovida mas tinha que enviá-los imediatamente à Toca. Ela pegou um jarro de Pó de Flu no armário de Dumbledore e os conduziu até a lareira. Em segundos os dois estavam na casa dos Weasley. Entreolharam-se, tristes, e foram até a cozinha. Hermione precisava de um copo d'água. Harry serviu duas taças, uma para ele e outra para ela, permaneceram em silêncio. Mione bebeu a água como alguém perdido em um deserto, de um gole só. Então largou o copo, que se partiu em mil pedaços, no chão, com expressão de horror.

- Harry - ela apontou para o relógio Weasley na parede.

Os ponteiros com os nomes de Rony e Gina apontavam para "em perigo mortal". Harry e Hermione se abraçaram, desesperados, e se deixaram cair em frente ao relógio. Agora só restava a eles aguardar.