Capítulo Vinte e Quatro - O Crepúsculo da Tríade
Gina estava apavorada. Tinha acabado de acordar e constatar que agora não passava de uma refém nas mãos do inimigo. Sabia que dentro de pouco tempo Harry provavelmente estaria ali, sabia que ele devia saber onde estava. Ele nunca blefaria com a vida dela e isso era o que mais temia. Não queria que ele se arriscasse sozinho, que morresse por ela.
Estava em uma cela escura, as paredes eram feitas de pedra, lisas e cobertas por um limo esverdeado. O cheiro de podre lhe embrulhava o estômago mas ela não tinha mais o que vomitar, não comia há bem mais de vinte e quatro horas. Estava com muita sede, medo e dores pelo corpo todo.
De repente percebeu que não estava sozinha. Mesmo no escuro identificou aqueles olhos frios, vermelhos, oblíquos como os de uma serpente. Tremeu, sentindo o sangue gelar nas veias. Tom Riddle estava ali, bem diante dela:
- Virgínia! - falou em um tom monótono. - É realmente uma pena vê-la nessas condições, tão lastimáveis. Você podia ter se juntado a mim antes, seria bem mais fácil. Ainda está em tempo...
- Nunca! - respondeu com a voz trêmula. - Eu nunca passaria para o seu lado, sua cobra traiçoeira - continuou com os punhos cerrados. Ele sorriu e prosseguiu com a voz sibilante, em tom debochado.
- Eu imaginei Virgínia! Sua lealdade pertence ao pirralho estúpido Harry Potter... - terminou, fazendo uma voz infantil.
- Como você ousa abrir essa sua boca imunda para dizer o nome dele? - disse, tentando firmar a voz. - Você não é digno de pronunciar esse nome.
- Valente hein? Dessa forma será ainda mais divertido... Ao menos para mim pequena - olhou penetrantemente nos olhos da menina, que se encheram d'água.
- Eu não tenho medo de você - mentiu. - Você pode fazer o que quiser comigo. Me matar até mesmo... - mas foi interrompida.
- Não! Você não teme por você minha criança! Teme por ele... - os olhos vermelhos se encheram de satisfação. - E quem falou em matar? Há formas mais prolongadas de entretenimento minha cara. Eu posso fazer com que a "brincadeira" dure muito, muito tempo. Fique à vontade para gritar. Ninguém poderá ouvir os seus gritos... - falava de forma divertida. - Você imploraria pelo final... - sorriu. - Seria muito ilustrativo para meus Comensais. E um bom treinamento para o que vamos fazer com o seu precioso Harry Potter.
- Não - disse com a voz trêmula. - Você nunca vai pegar o Harry. Ele... Ele... - ela mal era capaz de formular completamente as frases. Ele deu uma gargalhada aguda e sinistra e se aproximou, olhando-a nos olhos.
- Minha querida, o mais irônico é que ele faria qualquer estupidez para tê- la de volta - disse, segurando-a pelo queixo, machucando-a com as unhas. - Até mesmo aparecer aqui sozinho o pequeno idiota viria para recuperar você. Você é preciosa para ele Virgínia... - sabia que Voldemort tinha razão. Ela mesma iria onde quer que fosse se Harry estivesse com problemas.
"Não. Dumbledore não permitiria que ele fizesse isso. Nem Sirius", pensou, tentando se acalmar. Mas sabia que regras, ordens e proibições nunca foram capazes de impedir Harry Potter de se envolver em qualquer tipo de apuros.
- É claro que nós podemos poupá-la se estiver disposta a colaborar... - ele olhou agudamente para ela.
- Nunca! - respondeu, crispando os lábios.
- Eu esperava por isso. Mas podemos te obrigar de outra forma...
Ela começou a pensar nas maneiras que teria de obrigá-la. Sabia que Harry podia suportar a Maldição Imperius com alguma facilidade. Já tinha explicado a ela como fazia. Em teoria bastava ter uma grande força de vontade e se concentrar. Ela começou a se concentrar num único pensamento: Não deixar Você-Sabe-Quem chegar a Harry através dela. Mas Tom pareceu ler seus pensamentos.
- Minha cara, nós não vamos utilizar a Maldição Imperius em você. Isso seria muito pouco original. E você tem que fazer o que eu quero por livre e espontânea vontade. Há outras formas de fazê-la cooperar. Tragam o garoto aqui... - ordenou para dois Comensais da Morte cobertos por capas pretas que o aguardavam do lado de fora.
Dentro de poucos minutos entraram na cela arrastando alguém desacordado. Gina ainda não podia reconhecer quem era no escuro.
- [i]Enervate[/i] - Voldemort disse, apontando a varinha para a pessoa no chão, que começou a se mexer. Gina então pôde ver quem era.
- Rony! Não! Como? - estava surpresa e preocupada.
- Gina, você está bem? - ele tentou alcançar a irmã mas foi impedido. Era como se as pernas não o pudessem obedecer.
- Bem, agora que virou oficialmente uma reunião de família podemos recomeçar a nossa conversa - disse Voldemort calmamente. - Como você vê, Virgínia, seu querido irmãozinho é a garantia da sua cooperação voluntária. Foi muito fácil trazê-lo. Bastou ameaçá-lo de matar aquela namoradinha sangue-ruim dele... - Tom fez uma expressão de repulsa. - Hermione está aqui também? - Gina perguntou, estava cada vez mais apavorada.
- Não criança. Eu não sujei minhas mãos com ela. Não foi preciso perder tempo com isso. Ele foi estúpido o suficiente de acreditar na minha ameaça. E agora vamos ao que interessa. Você vai me passar todos seus poderes mágicos. Vai me devolver o que é meu por direito... - sorriu maldosamente.
- Não Gina! Não faça isso - gritou Rony. - Se você fizer isso vai virar uma trouxa comum. E ele vai se tornar ainda mais poderoso.
- Cale-se garoto idiota - ele se voltou novamente para a menina. - Se você não fizer por espontânea vontade não funciona. Seu irmãozinho aqui vai servir para te dar encorajamento. - virou-se então para Rony, apontando a varinha e sussurrou: - [i]Crucio[/i]! - o menino berrou, contorcendo-se.
Sentia a pele sendo arrancada, queimada. Era como se milhares de facas perfurassem seu corpo. Como se estivesse sendo desmembrado vivo. Gina fechou os olhos, horrorizada. Não suportava ver o irmão daquele jeito. Continuava ouvindo os seus gritos e a respiração ofegante e ruidosa. Finalmente se manifestou, com a voz embargada.
- Pare! Por favor... - Voldemort cessou o feitiço com um gesto. Rony tentou se recompor.
- E então Virgínia? Você vai passar seus poderes para mim? - perguntou de forma inquisidora.
- Não Gina, não! Não se... Incomode comigo. - Rony falou com dificuldade. Mal podia acreditar no que dizia mas a preocupação com a irmã caçula era bem maior do que o seu senso de auto-preservação naquele momento.
- Ron, eu não posso... Você é meu irmão... Eu te amo... - disse com os olhos cheios de lágrimas. Voltou-se então para Voldemort. - Eu farei o que você quiser mas só se o mandar de volta para casa. Eu te dou a minha palavra mas ele tem que estar fora daqui, em segurança - ela olhou para o irmão, praticamente desacordado, e abaixou a cabeça, derrotada.
- Feito.
Antes que Rony pudesse dizer qualquer outra coisa Voldemort conjurou uma cortina de fogo e, envolvendo-o em uma nuvem de pó de Flu, enviou-o à Toca.
- Agora, Virgínia, sua parte do acordo. Vamos, eu preciso que me passe os seus poderes. Você vai segurar a ponta da sua varinha e eu o cabo. E vai dizer: Transferitus! - a menina obedeceu.
Tão logo disse as palavras centelhas douradas foram subindo em espirais da ponta dos seus pés e descendo do alto da sua cabeça, percorrendo seu braço direito, até a sua mão, e passaram pela varinha, entrando pela mão de Voldemort. Quando tudo acabou ele entregou a varinha na mão dela e ordenou:
- Agora diga qualquer encantamento. Um bem simples. Vamos garota estúpida - Gina esticou a varinha.
- [i]Lumus[/i]!
Nada aconteceu. Disse outras duas vezes e nada. Gina era uma trouxa e a sua varinha era tão útil a ela quanto um palito de sorvete. Começou a chorar. Voldemort riu, triunfante.
- Agora, eu só preciso que o grande herói chegue e... - nem terminou a frase. - Eu estou aqui Voldemort - Harry tinha acabado de aparecer. O fogo que Voldemort tinha conjurado para que Rony voltasse tinha sido a porta de entrada para ele chegar até ali, via Flu. - Deixe-a em paz, seu covarde cretino - disse firmemente.
Harry tinha ficado n'A Toca, sozinho com Hermione, aguardando que os bruxos da Ordem da Fênix, guiados por Snape e Draco, resgatassem Gina na mansão Malfoy. Ele viu quando o ponteiro do relógio Weasley com o nome de Rony girou de "perigo mortal", onde também apontava o de Gina, para "viajando" e logo depois para "em casa". Ele e Mione foram os únicos a receberem Rony quando caiu, desacordado, no meio da sala de estar, saindo da lareira. Mione ficou desesperada e abraçou o menino enquanto Harry pensava sobre o que poderia ter acontecido. Finalmente teve uma idéia.
- Mione, cuida dele. Meu momento chegou - imaginou que o amigo tinha estado no esconderijo de Voldemort e tinha escapado. Mione tentou protestar.
- Harry, isso é loucura. É suicídio. Deixa o resto da Ordem cuidar disso - disse enquanto tentava fazer com que Rony acordasse.
- Mione, Gina está precisando de ajuda. Eu posso sentir o desespero dela. Dumbledore disse que quando chegasse a hora seria inevitável fugir. Que o que quer que fosse me alcançaria. E sabia o que uma ordem direta significava para mim, ou seja, nada. Eu não posso imaginar algo mais significativo do que isso... - Hermione olhou, desconfiada, para a luz verde bruxuleante das chamas.
- Você sabe que [u]ele[/u] vai estar lá, não é Harry? - o amigo sacudiu a cabeça afirmativamente. - Mas não devíamos esperar o Rony acordar... Sabe... - ela hesitou. - Para sabermos se a Gina está... Ainda está... - ela não conseguia concluir.
As lágrimas caíam pesadas sobre o peito de Rony, que ainda jazia desmaiado em seu colo. Nesse momento o ponteiro com o nome de Gina começou a girar sem parar, parecia não encontrar uma posição. Os dois amigos se entreolharam, assustados. - Harry, você acha que isso significa que... - ela abafou um soluço.
Harry tinha os olhos repletos de lágrimas, não conseguia mais sentir a presença de Gina. Mas preferiu pensar que o relógio havia enguiçado ou não tinha uma posição para especificar o que Gina estava passando e que ela, naquele momento, não estava mais conseguindo lhe enviar o que sentia. Do que simplesmente concluir que aquilo significava que ela não estava mais viva.
- Não Mione. Eu não acho. Eu não posso achar uma coisa dessas - disse, tentando tranqüilizar a amiga e a si mesmo.
- Mas você vai... - não conseguiu completar a frase.
Harry suspirou fundo e passou a mão delicadamente no rosto da amiga. Deu- lhe um terno beijo na testa e colocou a própria mão sobre a dela, que repousava no ombro de Rony.
- Você é minha melhor amiga e minha irmã. E eu te amo muito. E ao Rony também - disse com carinho. Mione tentou esboçar um sorriso. - Se ela estiver... - não pôde concluir, a voz estava embargada. - Eu a trarei de volta comigo - completou, erguendo a cabeça. - Se não... - ele deu uma pausa, olhando para o ponteiro do relógio, ainda errante, e se virou para a chama que ainda ardia na lareira. - Eu talvez prefira não voltar Hermione. Eu sei que você entende o que eu quero dizer... - disse, sério, e, dando um olhar significativo para os dois amigos, entrou nas chamas, decidido a ajudar Gina. Hermione chorou, abraçada ao namorado, que permanecia desmaiado.
É claro que Voldemort sabia que isso aconteceria, senão não teria enviado Rony de volta para casa. Tinha sido tudo parte do plano. Assim que Harry passou pelas chamas elas se extinguiram, impedindo que retornasse. Voldemort sorriu, satisfeito.
- Eu estava imaginando quanto tempo o famoso Harry Potter demoraria a chegar até aqui... - Harry agora olhava para Gina, que tinha o rosto lavado de lágrimas. - Gina, você está bem? - ela era a sua única preocupação, queria checar se estava ferida.
- Harry! Você não devia ter vindo... - ela disse com um fio de voz, a cabeça ainda baixa.
- É claro que poderia estar bem melhor... - Voldemort sibilou em resposta e riu. - Sua namoradinha é uma trouxa imunda agora, Potter - Harry se espantou.
- Impossível! Não tem como um bruxo se tornar trouxa. Você está mentindo... - novamente ele deu a gargalhada aguda e fria.
- Há encantamentos desconhecidos, antigos, magia negra poderosa. Conheço feitiços antigos seu pirralho estúpido... - a voz saía como um sibilo ofendido. - Pergunte a ela Potter! Se você não acredita...
- Gina? - olhou para ela, que ergueu o rosto. Tinha tristeza nos olhos.
- É verdade... - disse, abaixando a cabeça, envergonhada. - Eu tive que fazer isso ou ele ia matar o Rony. Sinto muito... Eu... - de repente não conseguiu mais falar, a voz estava embargada demais para isso. Ele entendeu por que o ponteiro d'A Toca ficou rodando sem parar. Gina não era mais bruxa e o relógio não poderia localizar trouxas.
- Silêncio, sangue-ruim imunda - Voldemort conjurou cordas e uma mordaça. Agora ela estava totalmente imobilizada. Harry olhou enfurecido para ele.
- Deixe-a ir Voldemort. Ela não tem nada a ver com isso. Isso é entre nós dois. Sempre foi entre nós dois... - falou com voz firme.
- Tecnicamente sim Potter - Tom debochou. - Mas não. Ela ainda vai ser útil. Agora, por que você não me entrega a sua varinha? [i]Expelliarmus[/i]! A varinha de Harry foi parar nas mãos dele. O garoto tinha corrido e agora estava agachado, junto a Gina, tentando livrá-la das cordas. Conseguiu ao menos, tirar a mordaça.
- Harry! Me desculpe! Eu não queria... - chorava, encostada nele. Ele a tinha entre os braços agora.
- Shhh! Está tudo bem, eu estou aqui, estou aqui... Estamos juntos agora. Vai dar tudo certo. Dumbledore está vindo para cá com o resto da Ordem... - sussurrou, tentando convencer a ela e a si mesmo do que dizia.
- Que cena tocante... E patética! Sinto em separá-los - Voldemort disse em tom de escárnio. – [i]Sepparate[/i]! - Gina foi violentamente arrancada dele e Harry foi lançado na parede a uma distância enorme da onde estavam, batendo de costas. O anel de diamantes cintilou no pescoço, chamando a atenção de Voldemort.
- Harry - Gina gritou apavorada. - Não o machuque seu monstro - disse, entre soluços.
- Eu tinha ordenado silêncio a você, garota, mas acho que vai ser mais interessante que você possa... Gritar à vontade. - seus olhos lançaram um brilho maldoso a Harry, que agora tentava se levantar. Fazia um esforço enorme para respirar, provavelmente tinha fraturado uma ou duas costelas. Parecia que tinha sido atropelado por um trasgo. Cuspiu uma pequena quantidade de sangue. Mal conseguia falar.
- Toque... Ne...la e você vai se arre...pender de ter nasci...do Voldemort. - estava de pé novamente. Mas não conseguia se mexer, estava como que colado à parede atrás dele.
- Bem, eu não vou propriamente tocá-la, ela é uma sangue-ruim agora e isso seria muito repugnante... Mas será interessante mesmo assim - Harry agora tentava avançar de qualquer forma mas parecia que as pernas eram feitas de chumbo, coladas no chão. Voldemort se virou para Gina. Retirou as cordas com um aceno. A menina estava caída no chão. Ele a ergueu no ar, com um movimento de varinha. Levitou-a até estar a centímetros de Harry, frente a frente com ele. Estavam tão próximos que ele podia ver o medo estampado nos olhos dela. As pupilas estavam tão dilatadas que o olho parecia negro. Mesmo assim não conseguiam se tocar.
- Potter! Agora você vai me passar todos os seus poderes e se juntar à sua namoradinha, ou devo dizer noivinha - completou, arrancando o colar do pescoço de Harry com um aceno da varinha -, ao clube dos trouxas.
- Não Harry. Se você fizer isso ele vai estar com todos os poderes de volta, mais forte do que nunca... - o garoto estava sério e mantinha os olhos fixos em Voldemort, que ria enquanto falava.
- É essa a idéia Virgínia... - disse, examinando o anel. - Mas por outro lado, como ele pode se recusar... - apontou a varinha para Gina e esmagou o anel nas mãos, passando assim, sua mensagem. – [i]Crucio[/i] - disse calmamente enquanto soprava o pó do anel para longe.
A menina caiu no chão, gritando de dor, encolhendo-se. Sentia o corpo arrebentado, violado, como se todos os órgãos estivessem implodindo. A pele queimava, parecia que estava sendo rasgada ao meio. Os ossos estavam sendo quebrados. Era como se estivesse sendo moída viva. Quase desejava morrer para que aquilo terminasse. Harry sabia muito bem qual era a sensação da Maldição Cruciatus.
- Eu vou te matar por isso seu covarde desgraçado! SOLTA ELA! SOLTA! - viu Voldemort erguê-la no ar, ainda mantendo o feitiço. Tom trouxe a menina para bem perto de si, segurando o rosto dela, pálido, contorcido pela dor, com força. Harry olhava para os lados, tentava pensar em algo que pudesse tirá-los dali. - Sabe, Potter, ela pode não resistir por muito tempo... - via que Gina agora chorava e não conseguia mais respirar direito. E havia sangue em suas roupas. Muito sangue - Já vi homens muito fortes e bruxos poderosos sucumbirem com apenas alguns minutos disso...
- PARE! - gritou finalmente. - Eu faço o que você quiser - disse, vendo a blusa branca de Gina se tingir cada vez mais de vermelho. Continuou em tom baixo. - Apenas... PARE... De torturá-la desse jeito - Voldemort sorriu.
- Era isso o que eu esperava de você, garoto. Assim é que eu gosto. Obediência - riu baixinho, algo como um sibilo ansioso e ofegante. – [i]Finite Incatatem[/i] - Gina tombou, ainda tonta, aos pés dele. Harry pôde se mexer nesse momento e correu até ela.
Tinha o rosto sujo de sangue. Tinha mordido os lábios, em meio à dor, e Harry agora limpava o sangue escorrido com a manga das vestes, pressionando para estancar. Gina ainda estava um pouco zonza mas conseguiu falar.
- Não faça... O que ele... Pede Harry. Por... Favor... - estava voltando a si. Harry a segurava, sem saber direito o que fazer. Então novamente foi arrancada dele.
- Chega de enrolação seu moleque! Eu estou perdendo a paciência - disse, apontando novamente a varinha para Gina. - Não creio que ela sobreviva à tortura novamente. [i]Cruci[/i]...
- NÃO. Chega - Harry gritou. - Eu te dou os meus poderes, só... Não... Machuque mais ela, está bem? - Voldemort deu uma gargalhada sinistra.
- Eu sabia que você não me decepcionaria. Seus patéticos sentimentos o traíram. Eu não vou mais torturá-la. Ela já serviu ao seu propósito. Agora passe seus poderes mágicos para mim de uma vez - disse, ansioso.
Novamente entregou a ponta da varinha de Harry para o garoto e segurou o cabo. Mandou o rapaz dizer o encantamento. E em poucos segundos absorveu todos os poderes dele. Quando terminou simplesmente empurrou Harry com força para o chão, o rapaz rapidamente se arrastou até Gina. Harry Potter agora era um trouxa comum, como outro qualquer.
Um vento gelado correu pela cela, envolvendo Voldemort. O cheiro de podre parecia aumentar a cada instante. E, de repente, era como se o teto da cela estivesse enfeitiçado, tomado de nuvens negras de tempestade. Harry e Gina viam o clarão de raios verdes, riscando a sala em que estavam, enquanto as fagulhas percorriam todo o corpo de Voldemort. As nuvens carregadas respingavam um líquido escuro e viscoso, mistura de lodo e lama, pela sala.
- Finalmente! Posso sentir o poder total! Circulando nas minhas veias! Depois de todos esses anos sem parte deles. Agora ninguém mais vai me impedir - Harry abraçava Gina com força agora. A menina chorava desesperada.
- Meu Deus, Harry. Você não devia ter feito isso. Ele é louco, nada vai poder impedi-lo de destruir o mundo... - disse alto mas era difícil escutar com todo o barulho.
- Eu não podia deixá-lo machucar você, Gina - então Voldemort se voltou novamente para eles.
- Agora, Virgínia, o que eu vou fazer com você? Imagine as possibilidades... - disse, olhando para a garota com um brilho perverso no olhar. Harry olhou para ele, espantado, e fez menção de se levantar.
- Fique sentado Potter - Harry tombou no chão com um simples gesto de Voldemort. O vento fazia com que os cabelos vermelhos de Gina voassem como chamas vivas. E as roupas deles estavam impregnadas do lodo fedorento que emanava das nuvens. - Você disse que não ia mais torturá-la - Harry gritou, desesperado, em meio ao barulho ensurdecedor.Voldemort riu com vontade.
- E você acreditou seu moleque? Típico de um grifinório... Criaturinhas de palavra vocês são! E de coragem... - riu agudamente. - Mas você esqueceu que eu fui um sonserino... - fez uma expressão de deboche. - Você acha que eu já me vinguei o bastante? Está muito enganado. Você me roubou anos da minha existência seu pirralho inútil. E essa garota idiota também atrapalhou os meus planos - continuava encarando Gina. - Mas não se preocupe, eu não vou mais torturá-la... - Harry ergueu o olhar e olhou dele para Gina. - Vou matá-la! Na sua frente e você não vai poder fazer nada. Eu quero ver você sofrendo com a sensação de impotência... Assim você vai saber como eu me senti todos esses anos. Quando você e essa imprestável me roubaram partes dos meus poderes... - prosseguiu, rancoroso. - Quando tudo acabar quero ver você implorar para eu te matar e farei isso lentamente - Harry olhou com ódio para ele e se colocou na frente de Gina.
- Se você encostar nela de novo eu te mato. Com as minhas próprias mãos, trouxas ou não. Eu juro - Gina agora tinha as mãos unidas às dele, com força. Não conseguia dizer uma palavra, estava congelada de medo. - Você vai ter que me matar primeiro Voldemort - disse de forma desafiadora.
- É mesmo garoto? - respondeu enquanto erguia a varinha na direção de Gina. - Não concordo. Você não está em posição de exigir nada mas eu posso providenciar isso para você depois. Embora eu deva avisar que pode demorar horas, dias... - sorriu perversamente. - Eu quero que você a assista morrer antes disso. Mas serei breve com ela. Ela afinal serviu bem ao meu eu de dezesseis anos...
Com um gesto de varinha Voldemort imobilizou Harry e Gina ficou totalmente indefesa. Ele se virou para ela, Harry acompanhou o gesto apenas com o olhar. Gina olhou dentro dos olhos do garoto, como que se despedindo. - Eu te amo - ele leu os lábios dela, que não emitiram nenhum som sequer. Harry arregalou os olhos, em pânico. Não conseguiu dizer uma só palavra. Sabia que o "eu te amo" dela significava adeus naquele momento.
- [i]Avada Kedavra[/i]! - um jorro de luz verde saiu da ponta da varinha de Voldemort, atingindo a menina em cheio no peito. Gina caiu lentamente, inerte, no chão de pedra.
Harry não podia acreditar. "É ISSO? Acabou tudo?", pensou intimamente. Sentiu como se uma espada tivesse atravessado o seu corpo inteiro. Era como se tivesse caído em uma banheira de gelo. Seu corpo todo formigava de dor e desespero. A sensação que tinha era que alguém acabava de enfiar a mão em seu peito, arrancado o coração e o esmagado, ainda batendo, com a sola dos sapatos. O estômago se revirou e o enjôo era tanto que mal conseguia segurar a ânsia de vômito. Foi então liberado do feitiço de contenção.
- Não! Gina! - ele pôde mover os lábios e liberar o grito desesperado que tinha guardado dentro de si. Correu até ela instintivamente e, chorando, levantou o rosto da menina. Voldemort gargalhava. As risadas sinistras ecoando na sala escura.
- Acabou Harry Potter! Agora é sua vez de sofrer, seu fedelho insuportável... - Harry estava alheio a tudo.
- Gina, eu te amo. Não. Por favor não... - sussurrou, abraçado à menina, da mesma forma que havia feito na Câmara Secreta. Tom continuava a rir, cada vez mais. Harry se virou para ele, ainda segurando a menina. - Seu maldito, isso não vai ficar assim. Eu vou acabar com você e... - disse entre dentes mas foi interrompido por Gina, que deu um grande bocejo.
Harry se surpreendeu. Gina não estava morta, parecia que havia estado apenas dormindo. O feitiço não tinha surtido efeito algum, a não ser o de derrubá-la no chão e talvez nocauteá-la um pouco. Ela abriu os olhos lentamente e sorriu para ele. Simplesmente como se tivesse acabado de acordar de um sonho bom. E ele pôde perceber que Gina parecia estar se iluminando aos poucos.
Uma luz prateada, como uma estrela, parecia vir de dentro dela, crescia, irradiando-se por todo o corpo da garota. Os olhos castanhos pareciam emitir a luz de toda uma galáxia. Ele via, hipnotizado, milhares de pontinhos brilhantes girando depressa na íris castanha e na pupila dela. Nesse momento ela encostou os seus lábios nos dele, de levinho, e a luz se transferiu do seu corpo, passando para o dele agora. Sentia uma brisa morna e revigorante o envolver. Toda a dor que sentia foi sumindo.
Voldemort olhava espantado para a cena, proferiu o "Avada Kedavra" diversas vezes na direção deles mas não surtiu efeito algum. Então a luz, após passar por todo o corpo dele, cessou. Harry teve certeza, na mesma hora que a mágica tinha retornado a ele e a ela também. Os dois não eram mais trouxas, eram bruxos novamente. As varinhas dos dois voaram bruscamente para suas mãos, com se tivessem feito um feitiço convocatório. Ficaram de pé, frente a frente com Voldemort. Gina entrelaçou forte a sua mão na de Harry e virou-se para o Lord das Trevas, quando finalmente disse algo.
- Olhe para nós dois agora Tom! Juntos. Nada pôde e nem pode nos separar. Nossa aliança é mais forte que você... - Voldemort tinha surpresa e ódio estampados no rosto.
Continuava a dizer "Avada Kedavra" várias vezes, sacudindo a varinha, sem sucesso. Custava a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. O feitiço "pipocava" e se perdia no ar, parecendo Fogos Filibusteiro verdes. Como se Gina e Harry estivessem atrás de um campo de força invisível.
- Você ainda não entendeu Tom. Certas coisas são indestrutíveis, mais poderosas que qualquer feitiço...
Conforme as palavras saíam da sua boca, ecoando nas paredes de pedra da masmorra da mansão Malfoy, Voldemort estremecia. As nuvens negras do teto desapareceram, dando lugar a um céu estrelado, como o do Salão Principal de Hogwarts. No chão, o pó do anel destruído rodopiava, formando um pequeno turbilhão enquanto o anel era completamente refeito e voltava, sozinho, ao dedo de Gina.
- Como o amor Tom! Esse sentimento que você nunca entendeu. Sua mãe não teve a chance de te ensinar. E você não aprendeu de outra forma. Nunca teve dentro de si e sempre desprezou... - ele começava a se encolher num canto, agachado no chão, as mãos nos ouvidos. Não queria ouvir o que ela dizia. - Você nunca experimentou o amor Tom. Mas foi sempre ele o seu adversário, seu maior desafio. Foi ele que te derrotou há dezessete anos atrás. Seu único medo. E vai ser ele sua perdição. Novamente. Dessa vez para sempre. - então começou a tremer e a chorar. Saía uma fumaça esverdeada dele.
- Não! Não! Pare! - disse com uma voz miúda.
Cobriu-se com a capa preta que usava e começou a queimar. O corpo todo parecia estar sendo consumido de dentro para fora. Estava em brasa. Quando Gina e Harry, ainda de mãos dadas, se aproximaram, não restava mais nada, tinha evaporado completamente. Não restavam uma só cinza para contar a história. Era o fim de Voldemort, o fim do bruxo mais temido de todos os tempos, o final das trevas. Estava tudo terminado. Harry abraçou a menina, mantendo-a apertada a ele por um momento, e então perguntou, curioso.
- Como você fez isso Gina? Você não tinha poderes, era uma trouxa comum. Estava sem mágica alguma... - ela sorriu, como se a resposta parecesse muito óbvia.
- Não fui eu Harry. Foi você... - disse, apontando para ele, que se espantou.
- E-eu? Como eu poderia? Eu estava tão trouxa quanto você - ela sorriu para ele.
- De certa forma... Foi você... Sua mágica... Foi você, em mim... Dentro de mim - ele ainda não tinha entendido. Franziu a testa, divertido. Ela conduziu a mão dele até o próprio ventre. - Fomos [u]nós[/u] Harry! Fomos nós dois, juntos... Nossa mágica... - ele olhou para a barriga dela e depois seus olhos, procurando confirmar se tinha entendido direito mesmo o que queria dizer. Ela sorria ternamente.
- Gina, você quer dizer... Como... Digo, você tem mesmo certeza? - lembrava agora do sonho que tinha tido na noite em que haviam feito amor pela primeira vez e no do ano anterior.
- Sim Harry. Eu tenho certeza, eu senti. Eu posso sentir uma parte sua viva, crescendo dentro de mim - agora olhava para ele com um brilho imenso nos olhos castanhos.
- Eu não sei se entendi direito. Isso quer dizer... - ele concluía, devagar.
- É exatamente o que você entendeu meu amor. Isso quer dizer que eu estou esperando um filho seu. Você vai ser pai Harry Potter. Nós vamos ter um bebê - disse calmamente.
Ele mal podia crer, não cabia em si de tanta felicidade. Os olhos verdes se encheram de uma luz inigualável. Ajoelhou-se no chão e beijou, delicadamente, a barriga de Gina, abraçado à sua cintura. Ela olhava para baixo e fazia carinho nos cabelos negros dele, comovida enquanto a testa dele repousava delicadamente sobre seu umbigo. Pôde perceber então que estava chorando e abaixou para poder ficar na altura dele.
- Obrigado - disse finalmente, olhando nos olhos dela. - Por me fazer o homem mais feliz do mundo - Eu vou passar a nossa vida inteira tentando fazer o mesmo com você, para compensar - ela também tinha lágrimas nos olhos agora.
- Você já fez isso Harry Potter. Há dois anos, naquela enfermaria - disse, feliz. E então o beijou apaixonadamente.
Ficaram de pé, lentamente, de mãos dadas, e Harry a levantou do chão, segurando-a no colo, sem parar o beijo. Nesse momento Sirius entrou correndo na sala, seguido por Remo, Dumbledore, Moody e Mundungo Fletcher, todos guiados por Snape e Draco, de varinhas em punho.
- Hum-hum! - ouviram um pigarro e pararam de se beijar. Era Sirius.
- Que cena edificante! Acho que não poderia imaginar algo assim nem em meus piores pesadelos. Imaginava encontrar Potter dilacerado mas isso é traumatizante. Vou querer um feitiço para apagar a minha memória depois - disse Malfoy, de modo cínico.
- Tudo bem com vocês garotos? - Remo perguntou desconcertado.
- Não poderia estar melhor - respondeu Harry, olhando nos olhos azuis brilhantes de Dumbledore.
- E Vo-Vo-Você-Sabe-Quem? - indagou Mundungo.
- Destruído - Gina respondeu.
- Para sempre? - Moody falava agora, o olho mágico rodando em todas as direções.
- Eu creio que sim. Eu pude sentir a Marca Negra se apagando no meu braço ainda há pouco - disse Snape. - E todos os Comensais fugiram. Só quero que vocês me expliquem como foi que isso aconteceu... - voltou-se para Harry e Gina agora.
Os dois se entreolharam, ainda estavam um tanto quanto apreensivos. Não sabiam como contar para os adultos o que tinha acontecido. Era tudo muito íntimo e novo. Mas Dumbledore percebeu que a resposta era um assunto delicado e intercedeu:
- Severo, meus caros, vamos sair daqui primeiro. Não vamos bombardear os garotos com perguntas. Eles devem descansar agora. Precisam de cuidados médicos, talvez um bom de chocolate quente. Depois tudo será explicado. Creio que os Weasley, a Srta. Granger e todos os outros estejam ansiosos para revê-los - então se retiraram dali.
Harry e Gina, de mãos dadas, se olhavam com cumplicidade, ansiosos. Sabiam que teriam agora um novo desafio pela frente: contar para todos, principalmente para Rony Weasley, que se casariam e que já tinham um bebê devidamente encomendado à caminho. Gina agora, mesmo que ninguém mais além de Harry soubesse, preparava cuidadosamente, dentro de si, a pequena Hannah Weasley Potter.
Gina estava apavorada. Tinha acabado de acordar e constatar que agora não passava de uma refém nas mãos do inimigo. Sabia que dentro de pouco tempo Harry provavelmente estaria ali, sabia que ele devia saber onde estava. Ele nunca blefaria com a vida dela e isso era o que mais temia. Não queria que ele se arriscasse sozinho, que morresse por ela.
Estava em uma cela escura, as paredes eram feitas de pedra, lisas e cobertas por um limo esverdeado. O cheiro de podre lhe embrulhava o estômago mas ela não tinha mais o que vomitar, não comia há bem mais de vinte e quatro horas. Estava com muita sede, medo e dores pelo corpo todo.
De repente percebeu que não estava sozinha. Mesmo no escuro identificou aqueles olhos frios, vermelhos, oblíquos como os de uma serpente. Tremeu, sentindo o sangue gelar nas veias. Tom Riddle estava ali, bem diante dela:
- Virgínia! - falou em um tom monótono. - É realmente uma pena vê-la nessas condições, tão lastimáveis. Você podia ter se juntado a mim antes, seria bem mais fácil. Ainda está em tempo...
- Nunca! - respondeu com a voz trêmula. - Eu nunca passaria para o seu lado, sua cobra traiçoeira - continuou com os punhos cerrados. Ele sorriu e prosseguiu com a voz sibilante, em tom debochado.
- Eu imaginei Virgínia! Sua lealdade pertence ao pirralho estúpido Harry Potter... - terminou, fazendo uma voz infantil.
- Como você ousa abrir essa sua boca imunda para dizer o nome dele? - disse, tentando firmar a voz. - Você não é digno de pronunciar esse nome.
- Valente hein? Dessa forma será ainda mais divertido... Ao menos para mim pequena - olhou penetrantemente nos olhos da menina, que se encheram d'água.
- Eu não tenho medo de você - mentiu. - Você pode fazer o que quiser comigo. Me matar até mesmo... - mas foi interrompida.
- Não! Você não teme por você minha criança! Teme por ele... - os olhos vermelhos se encheram de satisfação. - E quem falou em matar? Há formas mais prolongadas de entretenimento minha cara. Eu posso fazer com que a "brincadeira" dure muito, muito tempo. Fique à vontade para gritar. Ninguém poderá ouvir os seus gritos... - falava de forma divertida. - Você imploraria pelo final... - sorriu. - Seria muito ilustrativo para meus Comensais. E um bom treinamento para o que vamos fazer com o seu precioso Harry Potter.
- Não - disse com a voz trêmula. - Você nunca vai pegar o Harry. Ele... Ele... - ela mal era capaz de formular completamente as frases. Ele deu uma gargalhada aguda e sinistra e se aproximou, olhando-a nos olhos.
- Minha querida, o mais irônico é que ele faria qualquer estupidez para tê- la de volta - disse, segurando-a pelo queixo, machucando-a com as unhas. - Até mesmo aparecer aqui sozinho o pequeno idiota viria para recuperar você. Você é preciosa para ele Virgínia... - sabia que Voldemort tinha razão. Ela mesma iria onde quer que fosse se Harry estivesse com problemas.
"Não. Dumbledore não permitiria que ele fizesse isso. Nem Sirius", pensou, tentando se acalmar. Mas sabia que regras, ordens e proibições nunca foram capazes de impedir Harry Potter de se envolver em qualquer tipo de apuros.
- É claro que nós podemos poupá-la se estiver disposta a colaborar... - ele olhou agudamente para ela.
- Nunca! - respondeu, crispando os lábios.
- Eu esperava por isso. Mas podemos te obrigar de outra forma...
Ela começou a pensar nas maneiras que teria de obrigá-la. Sabia que Harry podia suportar a Maldição Imperius com alguma facilidade. Já tinha explicado a ela como fazia. Em teoria bastava ter uma grande força de vontade e se concentrar. Ela começou a se concentrar num único pensamento: Não deixar Você-Sabe-Quem chegar a Harry através dela. Mas Tom pareceu ler seus pensamentos.
- Minha cara, nós não vamos utilizar a Maldição Imperius em você. Isso seria muito pouco original. E você tem que fazer o que eu quero por livre e espontânea vontade. Há outras formas de fazê-la cooperar. Tragam o garoto aqui... - ordenou para dois Comensais da Morte cobertos por capas pretas que o aguardavam do lado de fora.
Dentro de poucos minutos entraram na cela arrastando alguém desacordado. Gina ainda não podia reconhecer quem era no escuro.
- [i]Enervate[/i] - Voldemort disse, apontando a varinha para a pessoa no chão, que começou a se mexer. Gina então pôde ver quem era.
- Rony! Não! Como? - estava surpresa e preocupada.
- Gina, você está bem? - ele tentou alcançar a irmã mas foi impedido. Era como se as pernas não o pudessem obedecer.
- Bem, agora que virou oficialmente uma reunião de família podemos recomeçar a nossa conversa - disse Voldemort calmamente. - Como você vê, Virgínia, seu querido irmãozinho é a garantia da sua cooperação voluntária. Foi muito fácil trazê-lo. Bastou ameaçá-lo de matar aquela namoradinha sangue-ruim dele... - Tom fez uma expressão de repulsa. - Hermione está aqui também? - Gina perguntou, estava cada vez mais apavorada.
- Não criança. Eu não sujei minhas mãos com ela. Não foi preciso perder tempo com isso. Ele foi estúpido o suficiente de acreditar na minha ameaça. E agora vamos ao que interessa. Você vai me passar todos seus poderes mágicos. Vai me devolver o que é meu por direito... - sorriu maldosamente.
- Não Gina! Não faça isso - gritou Rony. - Se você fizer isso vai virar uma trouxa comum. E ele vai se tornar ainda mais poderoso.
- Cale-se garoto idiota - ele se voltou novamente para a menina. - Se você não fizer por espontânea vontade não funciona. Seu irmãozinho aqui vai servir para te dar encorajamento. - virou-se então para Rony, apontando a varinha e sussurrou: - [i]Crucio[/i]! - o menino berrou, contorcendo-se.
Sentia a pele sendo arrancada, queimada. Era como se milhares de facas perfurassem seu corpo. Como se estivesse sendo desmembrado vivo. Gina fechou os olhos, horrorizada. Não suportava ver o irmão daquele jeito. Continuava ouvindo os seus gritos e a respiração ofegante e ruidosa. Finalmente se manifestou, com a voz embargada.
- Pare! Por favor... - Voldemort cessou o feitiço com um gesto. Rony tentou se recompor.
- E então Virgínia? Você vai passar seus poderes para mim? - perguntou de forma inquisidora.
- Não Gina, não! Não se... Incomode comigo. - Rony falou com dificuldade. Mal podia acreditar no que dizia mas a preocupação com a irmã caçula era bem maior do que o seu senso de auto-preservação naquele momento.
- Ron, eu não posso... Você é meu irmão... Eu te amo... - disse com os olhos cheios de lágrimas. Voltou-se então para Voldemort. - Eu farei o que você quiser mas só se o mandar de volta para casa. Eu te dou a minha palavra mas ele tem que estar fora daqui, em segurança - ela olhou para o irmão, praticamente desacordado, e abaixou a cabeça, derrotada.
- Feito.
Antes que Rony pudesse dizer qualquer outra coisa Voldemort conjurou uma cortina de fogo e, envolvendo-o em uma nuvem de pó de Flu, enviou-o à Toca.
- Agora, Virgínia, sua parte do acordo. Vamos, eu preciso que me passe os seus poderes. Você vai segurar a ponta da sua varinha e eu o cabo. E vai dizer: Transferitus! - a menina obedeceu.
Tão logo disse as palavras centelhas douradas foram subindo em espirais da ponta dos seus pés e descendo do alto da sua cabeça, percorrendo seu braço direito, até a sua mão, e passaram pela varinha, entrando pela mão de Voldemort. Quando tudo acabou ele entregou a varinha na mão dela e ordenou:
- Agora diga qualquer encantamento. Um bem simples. Vamos garota estúpida - Gina esticou a varinha.
- [i]Lumus[/i]!
Nada aconteceu. Disse outras duas vezes e nada. Gina era uma trouxa e a sua varinha era tão útil a ela quanto um palito de sorvete. Começou a chorar. Voldemort riu, triunfante.
- Agora, eu só preciso que o grande herói chegue e... - nem terminou a frase. - Eu estou aqui Voldemort - Harry tinha acabado de aparecer. O fogo que Voldemort tinha conjurado para que Rony voltasse tinha sido a porta de entrada para ele chegar até ali, via Flu. - Deixe-a em paz, seu covarde cretino - disse firmemente.
Harry tinha ficado n'A Toca, sozinho com Hermione, aguardando que os bruxos da Ordem da Fênix, guiados por Snape e Draco, resgatassem Gina na mansão Malfoy. Ele viu quando o ponteiro do relógio Weasley com o nome de Rony girou de "perigo mortal", onde também apontava o de Gina, para "viajando" e logo depois para "em casa". Ele e Mione foram os únicos a receberem Rony quando caiu, desacordado, no meio da sala de estar, saindo da lareira. Mione ficou desesperada e abraçou o menino enquanto Harry pensava sobre o que poderia ter acontecido. Finalmente teve uma idéia.
- Mione, cuida dele. Meu momento chegou - imaginou que o amigo tinha estado no esconderijo de Voldemort e tinha escapado. Mione tentou protestar.
- Harry, isso é loucura. É suicídio. Deixa o resto da Ordem cuidar disso - disse enquanto tentava fazer com que Rony acordasse.
- Mione, Gina está precisando de ajuda. Eu posso sentir o desespero dela. Dumbledore disse que quando chegasse a hora seria inevitável fugir. Que o que quer que fosse me alcançaria. E sabia o que uma ordem direta significava para mim, ou seja, nada. Eu não posso imaginar algo mais significativo do que isso... - Hermione olhou, desconfiada, para a luz verde bruxuleante das chamas.
- Você sabe que [u]ele[/u] vai estar lá, não é Harry? - o amigo sacudiu a cabeça afirmativamente. - Mas não devíamos esperar o Rony acordar... Sabe... - ela hesitou. - Para sabermos se a Gina está... Ainda está... - ela não conseguia concluir.
As lágrimas caíam pesadas sobre o peito de Rony, que ainda jazia desmaiado em seu colo. Nesse momento o ponteiro com o nome de Gina começou a girar sem parar, parecia não encontrar uma posição. Os dois amigos se entreolharam, assustados. - Harry, você acha que isso significa que... - ela abafou um soluço.
Harry tinha os olhos repletos de lágrimas, não conseguia mais sentir a presença de Gina. Mas preferiu pensar que o relógio havia enguiçado ou não tinha uma posição para especificar o que Gina estava passando e que ela, naquele momento, não estava mais conseguindo lhe enviar o que sentia. Do que simplesmente concluir que aquilo significava que ela não estava mais viva.
- Não Mione. Eu não acho. Eu não posso achar uma coisa dessas - disse, tentando tranqüilizar a amiga e a si mesmo.
- Mas você vai... - não conseguiu completar a frase.
Harry suspirou fundo e passou a mão delicadamente no rosto da amiga. Deu- lhe um terno beijo na testa e colocou a própria mão sobre a dela, que repousava no ombro de Rony.
- Você é minha melhor amiga e minha irmã. E eu te amo muito. E ao Rony também - disse com carinho. Mione tentou esboçar um sorriso. - Se ela estiver... - não pôde concluir, a voz estava embargada. - Eu a trarei de volta comigo - completou, erguendo a cabeça. - Se não... - ele deu uma pausa, olhando para o ponteiro do relógio, ainda errante, e se virou para a chama que ainda ardia na lareira. - Eu talvez prefira não voltar Hermione. Eu sei que você entende o que eu quero dizer... - disse, sério, e, dando um olhar significativo para os dois amigos, entrou nas chamas, decidido a ajudar Gina. Hermione chorou, abraçada ao namorado, que permanecia desmaiado.
É claro que Voldemort sabia que isso aconteceria, senão não teria enviado Rony de volta para casa. Tinha sido tudo parte do plano. Assim que Harry passou pelas chamas elas se extinguiram, impedindo que retornasse. Voldemort sorriu, satisfeito.
- Eu estava imaginando quanto tempo o famoso Harry Potter demoraria a chegar até aqui... - Harry agora olhava para Gina, que tinha o rosto lavado de lágrimas. - Gina, você está bem? - ela era a sua única preocupação, queria checar se estava ferida.
- Harry! Você não devia ter vindo... - ela disse com um fio de voz, a cabeça ainda baixa.
- É claro que poderia estar bem melhor... - Voldemort sibilou em resposta e riu. - Sua namoradinha é uma trouxa imunda agora, Potter - Harry se espantou.
- Impossível! Não tem como um bruxo se tornar trouxa. Você está mentindo... - novamente ele deu a gargalhada aguda e fria.
- Há encantamentos desconhecidos, antigos, magia negra poderosa. Conheço feitiços antigos seu pirralho estúpido... - a voz saía como um sibilo ofendido. - Pergunte a ela Potter! Se você não acredita...
- Gina? - olhou para ela, que ergueu o rosto. Tinha tristeza nos olhos.
- É verdade... - disse, abaixando a cabeça, envergonhada. - Eu tive que fazer isso ou ele ia matar o Rony. Sinto muito... Eu... - de repente não conseguiu mais falar, a voz estava embargada demais para isso. Ele entendeu por que o ponteiro d'A Toca ficou rodando sem parar. Gina não era mais bruxa e o relógio não poderia localizar trouxas.
- Silêncio, sangue-ruim imunda - Voldemort conjurou cordas e uma mordaça. Agora ela estava totalmente imobilizada. Harry olhou enfurecido para ele.
- Deixe-a ir Voldemort. Ela não tem nada a ver com isso. Isso é entre nós dois. Sempre foi entre nós dois... - falou com voz firme.
- Tecnicamente sim Potter - Tom debochou. - Mas não. Ela ainda vai ser útil. Agora, por que você não me entrega a sua varinha? [i]Expelliarmus[/i]! A varinha de Harry foi parar nas mãos dele. O garoto tinha corrido e agora estava agachado, junto a Gina, tentando livrá-la das cordas. Conseguiu ao menos, tirar a mordaça.
- Harry! Me desculpe! Eu não queria... - chorava, encostada nele. Ele a tinha entre os braços agora.
- Shhh! Está tudo bem, eu estou aqui, estou aqui... Estamos juntos agora. Vai dar tudo certo. Dumbledore está vindo para cá com o resto da Ordem... - sussurrou, tentando convencer a ela e a si mesmo do que dizia.
- Que cena tocante... E patética! Sinto em separá-los - Voldemort disse em tom de escárnio. – [i]Sepparate[/i]! - Gina foi violentamente arrancada dele e Harry foi lançado na parede a uma distância enorme da onde estavam, batendo de costas. O anel de diamantes cintilou no pescoço, chamando a atenção de Voldemort.
- Harry - Gina gritou apavorada. - Não o machuque seu monstro - disse, entre soluços.
- Eu tinha ordenado silêncio a você, garota, mas acho que vai ser mais interessante que você possa... Gritar à vontade. - seus olhos lançaram um brilho maldoso a Harry, que agora tentava se levantar. Fazia um esforço enorme para respirar, provavelmente tinha fraturado uma ou duas costelas. Parecia que tinha sido atropelado por um trasgo. Cuspiu uma pequena quantidade de sangue. Mal conseguia falar.
- Toque... Ne...la e você vai se arre...pender de ter nasci...do Voldemort. - estava de pé novamente. Mas não conseguia se mexer, estava como que colado à parede atrás dele.
- Bem, eu não vou propriamente tocá-la, ela é uma sangue-ruim agora e isso seria muito repugnante... Mas será interessante mesmo assim - Harry agora tentava avançar de qualquer forma mas parecia que as pernas eram feitas de chumbo, coladas no chão. Voldemort se virou para Gina. Retirou as cordas com um aceno. A menina estava caída no chão. Ele a ergueu no ar, com um movimento de varinha. Levitou-a até estar a centímetros de Harry, frente a frente com ele. Estavam tão próximos que ele podia ver o medo estampado nos olhos dela. As pupilas estavam tão dilatadas que o olho parecia negro. Mesmo assim não conseguiam se tocar.
- Potter! Agora você vai me passar todos os seus poderes e se juntar à sua namoradinha, ou devo dizer noivinha - completou, arrancando o colar do pescoço de Harry com um aceno da varinha -, ao clube dos trouxas.
- Não Harry. Se você fizer isso ele vai estar com todos os poderes de volta, mais forte do que nunca... - o garoto estava sério e mantinha os olhos fixos em Voldemort, que ria enquanto falava.
- É essa a idéia Virgínia... - disse, examinando o anel. - Mas por outro lado, como ele pode se recusar... - apontou a varinha para Gina e esmagou o anel nas mãos, passando assim, sua mensagem. – [i]Crucio[/i] - disse calmamente enquanto soprava o pó do anel para longe.
A menina caiu no chão, gritando de dor, encolhendo-se. Sentia o corpo arrebentado, violado, como se todos os órgãos estivessem implodindo. A pele queimava, parecia que estava sendo rasgada ao meio. Os ossos estavam sendo quebrados. Era como se estivesse sendo moída viva. Quase desejava morrer para que aquilo terminasse. Harry sabia muito bem qual era a sensação da Maldição Cruciatus.
- Eu vou te matar por isso seu covarde desgraçado! SOLTA ELA! SOLTA! - viu Voldemort erguê-la no ar, ainda mantendo o feitiço. Tom trouxe a menina para bem perto de si, segurando o rosto dela, pálido, contorcido pela dor, com força. Harry olhava para os lados, tentava pensar em algo que pudesse tirá-los dali. - Sabe, Potter, ela pode não resistir por muito tempo... - via que Gina agora chorava e não conseguia mais respirar direito. E havia sangue em suas roupas. Muito sangue - Já vi homens muito fortes e bruxos poderosos sucumbirem com apenas alguns minutos disso...
- PARE! - gritou finalmente. - Eu faço o que você quiser - disse, vendo a blusa branca de Gina se tingir cada vez mais de vermelho. Continuou em tom baixo. - Apenas... PARE... De torturá-la desse jeito - Voldemort sorriu.
- Era isso o que eu esperava de você, garoto. Assim é que eu gosto. Obediência - riu baixinho, algo como um sibilo ansioso e ofegante. – [i]Finite Incatatem[/i] - Gina tombou, ainda tonta, aos pés dele. Harry pôde se mexer nesse momento e correu até ela.
Tinha o rosto sujo de sangue. Tinha mordido os lábios, em meio à dor, e Harry agora limpava o sangue escorrido com a manga das vestes, pressionando para estancar. Gina ainda estava um pouco zonza mas conseguiu falar.
- Não faça... O que ele... Pede Harry. Por... Favor... - estava voltando a si. Harry a segurava, sem saber direito o que fazer. Então novamente foi arrancada dele.
- Chega de enrolação seu moleque! Eu estou perdendo a paciência - disse, apontando novamente a varinha para Gina. - Não creio que ela sobreviva à tortura novamente. [i]Cruci[/i]...
- NÃO. Chega - Harry gritou. - Eu te dou os meus poderes, só... Não... Machuque mais ela, está bem? - Voldemort deu uma gargalhada sinistra.
- Eu sabia que você não me decepcionaria. Seus patéticos sentimentos o traíram. Eu não vou mais torturá-la. Ela já serviu ao seu propósito. Agora passe seus poderes mágicos para mim de uma vez - disse, ansioso.
Novamente entregou a ponta da varinha de Harry para o garoto e segurou o cabo. Mandou o rapaz dizer o encantamento. E em poucos segundos absorveu todos os poderes dele. Quando terminou simplesmente empurrou Harry com força para o chão, o rapaz rapidamente se arrastou até Gina. Harry Potter agora era um trouxa comum, como outro qualquer.
Um vento gelado correu pela cela, envolvendo Voldemort. O cheiro de podre parecia aumentar a cada instante. E, de repente, era como se o teto da cela estivesse enfeitiçado, tomado de nuvens negras de tempestade. Harry e Gina viam o clarão de raios verdes, riscando a sala em que estavam, enquanto as fagulhas percorriam todo o corpo de Voldemort. As nuvens carregadas respingavam um líquido escuro e viscoso, mistura de lodo e lama, pela sala.
- Finalmente! Posso sentir o poder total! Circulando nas minhas veias! Depois de todos esses anos sem parte deles. Agora ninguém mais vai me impedir - Harry abraçava Gina com força agora. A menina chorava desesperada.
- Meu Deus, Harry. Você não devia ter feito isso. Ele é louco, nada vai poder impedi-lo de destruir o mundo... - disse alto mas era difícil escutar com todo o barulho.
- Eu não podia deixá-lo machucar você, Gina - então Voldemort se voltou novamente para eles.
- Agora, Virgínia, o que eu vou fazer com você? Imagine as possibilidades... - disse, olhando para a garota com um brilho perverso no olhar. Harry olhou para ele, espantado, e fez menção de se levantar.
- Fique sentado Potter - Harry tombou no chão com um simples gesto de Voldemort. O vento fazia com que os cabelos vermelhos de Gina voassem como chamas vivas. E as roupas deles estavam impregnadas do lodo fedorento que emanava das nuvens. - Você disse que não ia mais torturá-la - Harry gritou, desesperado, em meio ao barulho ensurdecedor.Voldemort riu com vontade.
- E você acreditou seu moleque? Típico de um grifinório... Criaturinhas de palavra vocês são! E de coragem... - riu agudamente. - Mas você esqueceu que eu fui um sonserino... - fez uma expressão de deboche. - Você acha que eu já me vinguei o bastante? Está muito enganado. Você me roubou anos da minha existência seu pirralho inútil. E essa garota idiota também atrapalhou os meus planos - continuava encarando Gina. - Mas não se preocupe, eu não vou mais torturá-la... - Harry ergueu o olhar e olhou dele para Gina. - Vou matá-la! Na sua frente e você não vai poder fazer nada. Eu quero ver você sofrendo com a sensação de impotência... Assim você vai saber como eu me senti todos esses anos. Quando você e essa imprestável me roubaram partes dos meus poderes... - prosseguiu, rancoroso. - Quando tudo acabar quero ver você implorar para eu te matar e farei isso lentamente - Harry olhou com ódio para ele e se colocou na frente de Gina.
- Se você encostar nela de novo eu te mato. Com as minhas próprias mãos, trouxas ou não. Eu juro - Gina agora tinha as mãos unidas às dele, com força. Não conseguia dizer uma palavra, estava congelada de medo. - Você vai ter que me matar primeiro Voldemort - disse de forma desafiadora.
- É mesmo garoto? - respondeu enquanto erguia a varinha na direção de Gina. - Não concordo. Você não está em posição de exigir nada mas eu posso providenciar isso para você depois. Embora eu deva avisar que pode demorar horas, dias... - sorriu perversamente. - Eu quero que você a assista morrer antes disso. Mas serei breve com ela. Ela afinal serviu bem ao meu eu de dezesseis anos...
Com um gesto de varinha Voldemort imobilizou Harry e Gina ficou totalmente indefesa. Ele se virou para ela, Harry acompanhou o gesto apenas com o olhar. Gina olhou dentro dos olhos do garoto, como que se despedindo. - Eu te amo - ele leu os lábios dela, que não emitiram nenhum som sequer. Harry arregalou os olhos, em pânico. Não conseguiu dizer uma só palavra. Sabia que o "eu te amo" dela significava adeus naquele momento.
- [i]Avada Kedavra[/i]! - um jorro de luz verde saiu da ponta da varinha de Voldemort, atingindo a menina em cheio no peito. Gina caiu lentamente, inerte, no chão de pedra.
Harry não podia acreditar. "É ISSO? Acabou tudo?", pensou intimamente. Sentiu como se uma espada tivesse atravessado o seu corpo inteiro. Era como se tivesse caído em uma banheira de gelo. Seu corpo todo formigava de dor e desespero. A sensação que tinha era que alguém acabava de enfiar a mão em seu peito, arrancado o coração e o esmagado, ainda batendo, com a sola dos sapatos. O estômago se revirou e o enjôo era tanto que mal conseguia segurar a ânsia de vômito. Foi então liberado do feitiço de contenção.
- Não! Gina! - ele pôde mover os lábios e liberar o grito desesperado que tinha guardado dentro de si. Correu até ela instintivamente e, chorando, levantou o rosto da menina. Voldemort gargalhava. As risadas sinistras ecoando na sala escura.
- Acabou Harry Potter! Agora é sua vez de sofrer, seu fedelho insuportável... - Harry estava alheio a tudo.
- Gina, eu te amo. Não. Por favor não... - sussurrou, abraçado à menina, da mesma forma que havia feito na Câmara Secreta. Tom continuava a rir, cada vez mais. Harry se virou para ele, ainda segurando a menina. - Seu maldito, isso não vai ficar assim. Eu vou acabar com você e... - disse entre dentes mas foi interrompido por Gina, que deu um grande bocejo.
Harry se surpreendeu. Gina não estava morta, parecia que havia estado apenas dormindo. O feitiço não tinha surtido efeito algum, a não ser o de derrubá-la no chão e talvez nocauteá-la um pouco. Ela abriu os olhos lentamente e sorriu para ele. Simplesmente como se tivesse acabado de acordar de um sonho bom. E ele pôde perceber que Gina parecia estar se iluminando aos poucos.
Uma luz prateada, como uma estrela, parecia vir de dentro dela, crescia, irradiando-se por todo o corpo da garota. Os olhos castanhos pareciam emitir a luz de toda uma galáxia. Ele via, hipnotizado, milhares de pontinhos brilhantes girando depressa na íris castanha e na pupila dela. Nesse momento ela encostou os seus lábios nos dele, de levinho, e a luz se transferiu do seu corpo, passando para o dele agora. Sentia uma brisa morna e revigorante o envolver. Toda a dor que sentia foi sumindo.
Voldemort olhava espantado para a cena, proferiu o "Avada Kedavra" diversas vezes na direção deles mas não surtiu efeito algum. Então a luz, após passar por todo o corpo dele, cessou. Harry teve certeza, na mesma hora que a mágica tinha retornado a ele e a ela também. Os dois não eram mais trouxas, eram bruxos novamente. As varinhas dos dois voaram bruscamente para suas mãos, com se tivessem feito um feitiço convocatório. Ficaram de pé, frente a frente com Voldemort. Gina entrelaçou forte a sua mão na de Harry e virou-se para o Lord das Trevas, quando finalmente disse algo.
- Olhe para nós dois agora Tom! Juntos. Nada pôde e nem pode nos separar. Nossa aliança é mais forte que você... - Voldemort tinha surpresa e ódio estampados no rosto.
Continuava a dizer "Avada Kedavra" várias vezes, sacudindo a varinha, sem sucesso. Custava a acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. O feitiço "pipocava" e se perdia no ar, parecendo Fogos Filibusteiro verdes. Como se Gina e Harry estivessem atrás de um campo de força invisível.
- Você ainda não entendeu Tom. Certas coisas são indestrutíveis, mais poderosas que qualquer feitiço...
Conforme as palavras saíam da sua boca, ecoando nas paredes de pedra da masmorra da mansão Malfoy, Voldemort estremecia. As nuvens negras do teto desapareceram, dando lugar a um céu estrelado, como o do Salão Principal de Hogwarts. No chão, o pó do anel destruído rodopiava, formando um pequeno turbilhão enquanto o anel era completamente refeito e voltava, sozinho, ao dedo de Gina.
- Como o amor Tom! Esse sentimento que você nunca entendeu. Sua mãe não teve a chance de te ensinar. E você não aprendeu de outra forma. Nunca teve dentro de si e sempre desprezou... - ele começava a se encolher num canto, agachado no chão, as mãos nos ouvidos. Não queria ouvir o que ela dizia. - Você nunca experimentou o amor Tom. Mas foi sempre ele o seu adversário, seu maior desafio. Foi ele que te derrotou há dezessete anos atrás. Seu único medo. E vai ser ele sua perdição. Novamente. Dessa vez para sempre. - então começou a tremer e a chorar. Saía uma fumaça esverdeada dele.
- Não! Não! Pare! - disse com uma voz miúda.
Cobriu-se com a capa preta que usava e começou a queimar. O corpo todo parecia estar sendo consumido de dentro para fora. Estava em brasa. Quando Gina e Harry, ainda de mãos dadas, se aproximaram, não restava mais nada, tinha evaporado completamente. Não restavam uma só cinza para contar a história. Era o fim de Voldemort, o fim do bruxo mais temido de todos os tempos, o final das trevas. Estava tudo terminado. Harry abraçou a menina, mantendo-a apertada a ele por um momento, e então perguntou, curioso.
- Como você fez isso Gina? Você não tinha poderes, era uma trouxa comum. Estava sem mágica alguma... - ela sorriu, como se a resposta parecesse muito óbvia.
- Não fui eu Harry. Foi você... - disse, apontando para ele, que se espantou.
- E-eu? Como eu poderia? Eu estava tão trouxa quanto você - ela sorriu para ele.
- De certa forma... Foi você... Sua mágica... Foi você, em mim... Dentro de mim - ele ainda não tinha entendido. Franziu a testa, divertido. Ela conduziu a mão dele até o próprio ventre. - Fomos [u]nós[/u] Harry! Fomos nós dois, juntos... Nossa mágica... - ele olhou para a barriga dela e depois seus olhos, procurando confirmar se tinha entendido direito mesmo o que queria dizer. Ela sorria ternamente.
- Gina, você quer dizer... Como... Digo, você tem mesmo certeza? - lembrava agora do sonho que tinha tido na noite em que haviam feito amor pela primeira vez e no do ano anterior.
- Sim Harry. Eu tenho certeza, eu senti. Eu posso sentir uma parte sua viva, crescendo dentro de mim - agora olhava para ele com um brilho imenso nos olhos castanhos.
- Eu não sei se entendi direito. Isso quer dizer... - ele concluía, devagar.
- É exatamente o que você entendeu meu amor. Isso quer dizer que eu estou esperando um filho seu. Você vai ser pai Harry Potter. Nós vamos ter um bebê - disse calmamente.
Ele mal podia crer, não cabia em si de tanta felicidade. Os olhos verdes se encheram de uma luz inigualável. Ajoelhou-se no chão e beijou, delicadamente, a barriga de Gina, abraçado à sua cintura. Ela olhava para baixo e fazia carinho nos cabelos negros dele, comovida enquanto a testa dele repousava delicadamente sobre seu umbigo. Pôde perceber então que estava chorando e abaixou para poder ficar na altura dele.
- Obrigado - disse finalmente, olhando nos olhos dela. - Por me fazer o homem mais feliz do mundo - Eu vou passar a nossa vida inteira tentando fazer o mesmo com você, para compensar - ela também tinha lágrimas nos olhos agora.
- Você já fez isso Harry Potter. Há dois anos, naquela enfermaria - disse, feliz. E então o beijou apaixonadamente.
Ficaram de pé, lentamente, de mãos dadas, e Harry a levantou do chão, segurando-a no colo, sem parar o beijo. Nesse momento Sirius entrou correndo na sala, seguido por Remo, Dumbledore, Moody e Mundungo Fletcher, todos guiados por Snape e Draco, de varinhas em punho.
- Hum-hum! - ouviram um pigarro e pararam de se beijar. Era Sirius.
- Que cena edificante! Acho que não poderia imaginar algo assim nem em meus piores pesadelos. Imaginava encontrar Potter dilacerado mas isso é traumatizante. Vou querer um feitiço para apagar a minha memória depois - disse Malfoy, de modo cínico.
- Tudo bem com vocês garotos? - Remo perguntou desconcertado.
- Não poderia estar melhor - respondeu Harry, olhando nos olhos azuis brilhantes de Dumbledore.
- E Vo-Vo-Você-Sabe-Quem? - indagou Mundungo.
- Destruído - Gina respondeu.
- Para sempre? - Moody falava agora, o olho mágico rodando em todas as direções.
- Eu creio que sim. Eu pude sentir a Marca Negra se apagando no meu braço ainda há pouco - disse Snape. - E todos os Comensais fugiram. Só quero que vocês me expliquem como foi que isso aconteceu... - voltou-se para Harry e Gina agora.
Os dois se entreolharam, ainda estavam um tanto quanto apreensivos. Não sabiam como contar para os adultos o que tinha acontecido. Era tudo muito íntimo e novo. Mas Dumbledore percebeu que a resposta era um assunto delicado e intercedeu:
- Severo, meus caros, vamos sair daqui primeiro. Não vamos bombardear os garotos com perguntas. Eles devem descansar agora. Precisam de cuidados médicos, talvez um bom de chocolate quente. Depois tudo será explicado. Creio que os Weasley, a Srta. Granger e todos os outros estejam ansiosos para revê-los - então se retiraram dali.
Harry e Gina, de mãos dadas, se olhavam com cumplicidade, ansiosos. Sabiam que teriam agora um novo desafio pela frente: contar para todos, principalmente para Rony Weasley, que se casariam e que já tinham um bebê devidamente encomendado à caminho. Gina agora, mesmo que ninguém mais além de Harry soubesse, preparava cuidadosamente, dentro de si, a pequena Hannah Weasley Potter.
