Capítulo IV

Shaoran leva Sakura e Seiji para casa, estaciona o carro na frente do prédio. Quando ela descia do carro, em um impulso, ele a puxa pelo braço:
- Gostaria de conversar com você... quero saber algumas coisas.
Sakura sorri e responde:
- Não há nada que precise saber. – respira fundo se livra da mão que a segurava, fecha a porta do carro e acena com a mão se despedindo.

Subiu até o apartamento, brincando com o filho, parecia não se importar muito com o que disse ao rapaz, quando foi dormir, sentiu o coração pequeno, não sabia ao certo se estava feliz ou triste, não sabia o que era.

Há 5 anos, depois que o casamento terminou de maneira horrível, depois de todo o sofrimento, sempre pensou que não iria se envolver novamente, com o passar do tempo, percebeu que não conseguia se apaixonar novamente, não conseguia abrir o seu coração, não conseguia amar, sentia falta de poder amar alguém, sentia a solidão, queria poder se libertar de algo que parecia que a impedia de ir para frente, era infeliz.

No dia seguinte, a mesma rotina de sempre acontecia, apenas uma diferença era notada, Sakura estava estranha.

Não queria demonstrar que havia algo diferente na frente das pessoas, mas, todos notaram. Fugiu de Fujitaka dizendo que estava atrasada, no escritório dizia que dormiu mal. Tomoyo passou na sala como todas as manhãs a convidando para tomar café, ela recusou, ficou em frente ao micro adiantando o trabalho.

- Aconteceu algo? – perguntou Tomoyo a Sakura.
- Não, estou apenas adiantando o serviço, hoje vai ser um dia bem puxado – respondeu a moça sorrindo, mas visivelmente estranha.
- Sakura... tem algo errado, eu sei e não quero me intrometer, mas, quero que saiba que estou sempre do seu lado. – diz Tomoyo, que abraça a amiga e sai da sala.

Sem desviar os olhos do micro, Sakura continua a trabalhar, às vezes apagava e fazia o mesmo trabalho para enrolar, não queria olhar ou conversar com ninguém. As pessoas começaram a chegar na sala. Shaoran chega a sala, vê Sakura compenetrada, apenas a cumprimenta, não queria atrapalhá-la.

Ela resmungou um bom dia, e sem desviar os olhos, continua a trabalhar. Ninguém sabia o que fazer naquela sala, a bela moça alegre estava tão quieta, e ninguém tinha coragem de perguntar o que houve.

Percebendo que a situação estivesse daquele jeito por sua culpa, Shaoran resolve mudar de sala, ele havia tentado entrar na vida de Sakura, não poderia culpá-la por estar estranha. Avisa Eriol que precisava que fosse chamada Mei Lin, ela poderia substituí-lo na tarefa do aprendizado com Sakura.

Chegada a hora do almoço, Sakura menos pensativa vai almoçar com Tomoyo, parecia que estava melhor.

- Tinha esperança que ele seria a sua chave... – resmunga Tomoyo.
- Hein? Como assim?
- Hmmm... nada... esquece.

Terminaram o almoço. Ao voltar a sala, Sakura vê Shaoran conversando a sós, animadamente com uma moça linda, de cabelos compridos e roupas chinesas. Tinham intimidade um com o outro.

- Sakura, essa é Mei Lin, ela ficará aqui com você, vou ficar com o Eriol agora.

- Muito prazer Sakura. – diz a garota gentilmente.
- O prazer é meu. – diz Sakura sorrindo, achando estranha a situação.

"Ele está saindo daqui antes do previsto, o que será que aconteceu?", se perguntava Sakura.

Apresentou todos da sala para Mei Lin, o dia transcorreu normalmente. Sakura voltou ao normal sem a presença de Shaoran, só que agora ela tinha percebido que ele a deixava ansiosa, ela tinha ansiedade em vê-lo, será que era apenas isso? A sensação estranha de ser desejada por uma pessoa era muito boa, há quanto tempo não sentia isso...

- Trabalha com o Shaoran? – perguntou Sakura para Mei Lin.
- Também, e além disso somos noivos. – diz a garota em um tom de voz desafiador.

Todos da sala se entreolharam, olhares decepcionados, menos Sakura, já estava tão acostuma a ter decepções que não fez feição nenhuma ao assunto. Todos pensavam que Shaoran sentia algo pela Sakura, e que talvez pudesse ser correspondido de alguma maneira, mas, viram Sakura sorrir alegremente e a cumprimenta.

Os pensamentos de Sakura eram estranhos, ela estava feliz e triste, estava triste por ver que não poderia ter seu amor correspondido, mas, sentia que estes sentimentos a deixavam mais viva, sentia aquele frio no estômago ao lembrar do beijo que recebera, mas tristeza ao ver que tipo de pessoa ele era.

Acabando o expediente, todos estavam saindo, Sakura tentava voar para ir embora mais rapidamente, não queria encontrar Shaoran, mas, o inevitável sempre acontece.
- Vou precisar ficar mais um pouco, Mei Lin – diz Shaoran em pé na porta com a pasta na mão – Por favor, volte ao hotel e providencie o que precisa, já que não consegui fazer as suas reservas. Qualquer coisa, pode ir para o quarto que estou hospedado. – e entrega as chaves do seu quarto para a moça.
- Posso te esperar – diz a moça.
- Melhor você ir ver a sua reserva, e não sei quanto vou demorar, ainda tenho reuniões para fazer. – diz Shaoran dando uma piscadinha.

Já que Sakura não havia nenhum perigo aparente, Mei Lin foi embora.

Sakura arrumava as suas coisas para ir embora, escutou a conversa, mas, fingiu que não. Pegou a bolsa e começou a caminhar para a porta.

- Sakura... – Shaoran segurou o braço dela, e fechou a porta.

Assustada, Sakura apenas arregalou os olhos, e gaguejou:

- O-o q-quê?

- Precisava de algumas informações. Estava conversando com o Eriol, e ele me passou alguns dados que não havia em meu último relatório.

Sakura se sentou novamente, e explicou o que o moço havia lhe perguntado, e como conseguiu chegar a aquele resultado.

Ela se segurava, ao lembrar que ele era noivo e que ele havia lhe beijado, seu sangue fervia, odiava traição. Sentia-se mal por Mei Lin apenas.
Ele a observava com carinho, mas notava que semblante alterado.

Acabando de lhe ensinar, ela se levanta da mesa para ir embora.

- Senti sua falta agora de tarde... você estava tão próxima mas tão longe...
- Que coisa... – responde Sakura em tom de ironia.
- Sabe, tentei me afastar de você, para que não a machucasse, mas, não posso...
- Então, não se preocupe, apenas se afaste. – disse Sakura olhando para baixo.
- É isso que você quer? – pergunta Shaoran levantando o rosto de Sakura para olhar em seus olhos e testar sua sinceridade.
Ela levanta vira o rosto para o lado, Shaoran segura o seu rosto pelo queixo e a faz olhar para ele. Os seus olhos estavam fechados, ela estava se contendo com todas as forças para não deixar nenhum sentimento que tivesse naquele momento fosse mostrado. Ao virar o rosto para ele, abriu os olhos e sorriu.
- É o melhor para todos, não? – respondeu a moça.
- Não... – respondeu seriamente – Não é isso que quero.
-- Então, é melhor para mim, é isso que quer ouvir? – Sakura muda o seu semblante, ficando séria também – Chega! Estou cansada, não quero mais nada com ninguém, me deixe em paz.
- Sabe, acho que devemos nos conhecer, escuto tantas histórias a seu respeito, mas, acho que você é melhor do que o que me contam, eu...
- Por favor, tenho que ir buscar meu filho, tenho que ir embora, eu sou mãe e tenho que cuidar do meu filhinho.
- Vou junto com você, mesmo que fale que não.

Sakura pensa em Mei Lin nesse momento.

- Você precisar ficar com a Mei Lin, não? – indaga Sakura.
Shaoran bate com a mão na testa, havia se esquecido dela.

- É verdade. Me desculpe, vou ficar com ela essa noite, mas, vou conversar com você amanhã.

Ele sai correndo do escritório, a moça chinesa estava em uma cidade que mal conhecia, e mal falava o idioma local, então, poderia estar com problemas. Seria muito egoísmo largar uma pessoa que veio a seu pedido de longe para resolver seus problemas pessoais.

Sakura vendo que ele correu para a Mei Lin, foi embora buscar o filho, e pediu para o pai deixar ela passar a noite lá. Muito contente Fujitaka preparou o jantar para todos.
- Não quer voltar para cá, Sakura? – perguntou Fujitaka – ficaria mais fácil assim, eu posso olhar o Seiji para você, e não precisaria tirar o menino da cama cedo e voltar tarde para casa.
- Agradeço muito pela oferta, papai. – disse Sakura enquanto brincava com o filho – Mas, seria um incomodo para o senhor.
- Não seria não. Depois que me aposentei, não tenho muito o que fazer por aí minha filha, e é ótimo ter uma compania.
- Realmente, é ruim ficar só. Prometo considerar então.
- Ótimo! – respondeu Fujitaka sorrindo.

Sakura foi dormir, colocou Seiji para dormir ao seu lado na cama, mas, ela não conseguia dormir. Seu coração estava apertado, por que? Estava tão triste e algumas lágrimas começavam a rolar.

- Pensava que eu não tinha mais lágrimas... – pensava Sakura.

No dia seguinte, Sakura estava melhor, havia se recuperado um pouco. Após tomar café da manhã tranquilamente, foi trabalhar.

Ao entrar na sala, Sakura sentiu um perfume maravilhoso, já sabia quem era.

- Bom dia. – cumprimentou Shaoran sorrindo, charmoso como sempre.
- Bom dia. – respondeu Sakura, cordialmente sorrindo.
- Não quer tomar café comigo?
- Vou esperar a Tomoyo e...
- Ela não virá para cá hoje, tem um simpósio que ela deve participar.
- Ah... então, vou esperar a Yukie...
- Vamos, ou está com medo de ir sozinha comigo?
- Não tenho medo. Vamos então.

Eles vão a cafeteria, a máquina de café estava quebrada, então, ele decide ir em uma cafeteria fora da empresa. Sakura não queria ir, mas, aceitou assim que ele disse que ela estava com medo.

Chegando, pediram 2 cappucinos.
- Gostaria que me contasse por que me evita, Sakura.
- Não te evito. Preciso trabalhar com você, então, mesmo querendo não posso.
- Como falei, eu ia me afastar, mas, não posso, não consigo. Estou realmente me apaixonando por você, quero cuidar de você e do Seiji.
- Não diga coisas que você não sabe! – falou seriamente Sakura, que foi cortada com a chegada do café.
- Precisa me explicar, Sakura. Não entendo.
- Exatamente, não poderia entender ou imaginar, vamos mudar de assunto?
- O quê está dizendo?
- Não quero dizer nada... Por favor, me deixe em paz... – pediu a moça.- Quero apenas não ter mais problemas, consegue me enteder?
- Não consigo. Quer dizer que não posso me apaixonar por você, não posso te admirar, não posso querer ter o Seiji como meu filho, é isso?
- Sim, é isso. Acha que... – grita Sakura que já estava exaltada, mas, baixou o tom de voz novamente – Não iria entender, assim como todos...
- Me explica então. Você é uma mulher especial, não consegue ver isso?
- Vejo sim que sou especial, tenho uma família incompleta, preciso conviver com preconceitos, odeio que se aproveitem de mim, chega de tudo isso! Não quero mais problemas nessa vida...
- Acho que você está ficando louca.
- Pois fique achando isso então. Assim você se afasta de mim mais facilmente. Não se aproxime mais de mim.
- Não queria dizer isso, me desculpe. Acho que aconteceu algo e por isso acha que sempre vai ser assim, não?
- Sim, aconteceu. Não apenas uma, mas várias... – disse Sakura escondendo o rosto. – Por favor... não quero sofrer mais... não se aproxime de mim... – suplicou Sakura.
- Eu apenas queria tentar...
- Não... por favor, não se aproxime mais... lutei anos para que não deixasse meu filho sofrer pelas minhas escolhas, não me permitia mais amar por causa disso, pensava que conseguiria permanecer assim, pensava que dominava os meus sentimentos... por favor... não entre mais em minha vida pessoal... – choramingou a moça.

Shaoran viu que Sakura declarou que estava apaixonada por ele, ela não queria era sofrer e fazer o filho sofrer também. Estava nas mãos daquela moça o destino de 2 pessoas: a dela e do filho, deveria escolher bem uma pessoa para ser seu marido e também o pai do seu filho, deveria escolher e não ser escolhida.

Shaoran acariciou o cabelo dela, em seguida levantou o rosto da moça que estava molhado de lágrimas que ela derramava, seu rosto foi chegando perto, ela sentia o calor do seu rosto chegando perto do seu, o coração estava batendo mais forte e mais descompassado, o estômago estava gelado: era novamente aquela sensação estranha, era a prova de que estava apaixonada. Ele encostou os seus lábios nos lábios dela, e depois falou em seu ouvido bem baixinho:
- "Eu te amo..."
Ela ficou sem reação por alguns segundos, não conseguia pensar direito, estava perdida não conseguia fazer o seu lado lógico funcionar, a emoção tomou conta da garota por alguns instantes. Quando conseguiu se recobrar um pouco pelas poucas palavras que derrubaram um muro gigantesco, seriamente falou:
- Você tem uma noiva.
- Tenho? Essa é novidade!
- A Mei Lin é sua noiva, não?
- Não, é minha prima. – respondeu Shaoran estranhando – Tentou pesquisar algo da minha vida?
- Não, ela mencionou ontem isso, quando não estava na sala.
- Quando eramos pequenos, nossos pais não queriam que a linhagem da família fosse misturada. Então, bolaram um casamento arranjado entre nós. Mas, isso foi há muito tempo atrás, agora é diferente a situação, podemos escolher. Ela deve ter falado isso para você, porque sempre pedi para ela falar isso na frente dos outros, assim, as mulheres não chegam muito perto de mim.
- Entendo... – responde Sakura que estava menos preocupada, duvidando um pouco da história, mas querendo acreditar que aquilo era verdade.

Shaoran vendo que ela estava se rendendo, se aproxima novamente da moça, aproximou os seus lábios nos dela, colocou uma das mãos na cabeça dela para forçar mais a aproximação de seu beijo, ela correspondeu ao beijo, meio atrapalhada ainda por falta de experiência. O beijo era doce e suave, mas, Shaoran estava quase perdendo o controle, suas mãos passeavam pelas costas da moça, e quando percebeu uma delas já estava na perna.
Parou de beijá-la. Olhou o relógio, já estavam 15 minutos atrasados.
- Vamos para o escritório?
- Vamos, mas, precisa limpar o batom. – sorriu Sakura.
- Vou limpar, mas, não quero que o seu perfume saia do meu corpo. – sorriu dando mais um beijo na moça.

Voltaram ao escritório, Sakura sorridente entra na sala.
- Bom dia, chefinha! Aconteceu algo? – perguntou Aya.
- Não, está tudo bem.
- Então, você está 15 minutos atrasada, e hoje tem reunião com um cliente da empresa, não era isso? – falou Yukie com uma cara de meio brava.
- É verdade!! Que droga, tinha esquecido... tô com a cabeça na lua... – diz Sakura sorrindo e coloca a língua para fora com uma expressão de menina levada.

Ao sair da sala, se depara com Mei Lin que chegava.
- Mei Lin, preciso ir em uma reunião, a Aya vai te mostrar a rotina hoje. – disse Sakura dando uma piscadinha para Aya – Faz isso para mim, Aya?
- Claro Sakura! Agora corre que vai chegar atrasada.
- Obrigada! Conto com todos vocês hoje! – disse Sakura sorrindo.

Ter visto Mei Lin, e lembrado do que Shaoran contou fez apenas Sakura gostar da moça, já que ela fazia aquilo para proteger o primo. Gostaria de falar sobre o assunto com Mei Lin, mas achou melhor que o primo contasse primeiro os seus sentimentos para depois se tornarem mais amigas.

Sakura correu para a sala de Eriol, encontrou Shaoran lá também.
- Bom dia. Vamos Eriol. Temos reunião agora.
- Bom dia, Sakura. Estou tremendamente ocupado hoje, tinha esquecido dessa reunião... Li, poderia ir no meu lugar?
- Eu? É sobre o que a reunião? – indagou Li, um tanto quanto preocupado.
- Ah! É apenas rotina... a Sakura pode falar sobre tudo, mas, leve este relatório. É sobre ele que devem conversar.

Shaoran gostou da idéia de ir a reunião com Sakura, poderia ficar com ela. Sakura começou a ficar feliz até demais da conta, e começou a suspirar. Eriol apenas achou engraçada a situação, já havia percebido que algo havia mudado.
- Vamos? – perguntou Sakura.
- Vamos sim. – respondeu Shaoran pegando o casaco e os papéis da reunião.

Sairam voando pelos corredores, os funcionários observaram o casal sair correndo pelo corredor. Um olhar não aprovou o acontecimento, Mei Lin ficou visivelmente irritada.

Chegando no escritório, Sakura desce do carro, e caminha para entrar no prédio do cliente. Na recepção são encaminhados para a sala onde será feita a reunião, o prédio inteiro automatizado, inclusive a climatização. Aguardam na sala, sentados.
- Está com alguma dúvida? – pergunta Sakura.
- Não, está tudo tranquilo. – responde Shaoran sorrindo. – Estou mais feliz de estar aqui com você, me faz bem.
Sakura sorriu, e toca a sua mão com carinho.

De repente, ouve-se um estrondo, as luzes da sala piscam, e a luz de emergência se acende. Correram para abrir a porta, estava trancada pelo sistema. Começaram a bater na porta.
- Acabou a energia do quarteirão inteiro, e o gerador auxiliar explodiu, as portas ficarão trancadas até voltar a energia, mas, não preocupem que logo vocês saem daí.

Sakura liga do celular para o escritório, avisa Yukie do ocorrido, e pede para que ela avise Eriol, e que assim que fosse resolvido tudo, entraria em contato novamente.

Assim, ficaram Sakura e Shaoran naquela sala, com um minúsculo foco de luz que vinha da porta trancada, a sala de reunião não tinha janelas, era carpetado, havia uma mesa em "L", um projetor, algumas cadeiras. Do lado havia mesinha de coffee break, com pãezinhos de queijo, café e água.

Sakura estava tensa, não por causa da escuridão...