Capítulo VIII

- Eriol falando. – disse o rapaz ao atender o telefone na sua sala.
- Bom dia. É o Shaoran.
- No que posso ajudá-lo?
- A Sakura não vai trabalhar hoje, passou mal de noite, acerte depois com ela para fazer um horário menor no almoço.
- Como assim "passou mal de noite"? – perguntou Eriol ajeitando os óculos com um sorriso malicioso.
- Ela foi jantar com aquele crápula, e ele colocou alguma droga na bebida dela. – respondeu Shaoran seriamente, sabia que o amigo perguntaria algo desse tipo.
- E você passou a noite com ela no lugar do "crápula"? – disse Eriol se segurando para não rir e deixar Shaoran bravo.
- Passei... – respondeu Shaoran desconcertado.
- Pelo visto temos progressos, mas, pode deixar que vou manter em segredo.
- Obrigado. Depois vou dar uma passada aí. Até mais tarde.
Eriol riu da maneira como Shaoran respondia as perguntas com a voz meio trêmula, chamou a secretária e pediu para avisar a equipe que Sakura não iria vir naquele dia, e chamar a Tomoyo para contar as novidades.

Shaoran desligou o telefone com a mão na cabeça, sentiu que havia falado demais.
- Vamos? – perguntou Sakura ao sair do quarto, vendo que Shaoran havia desligado o telefone.
- Vamos. – respondeu olhando meio sério e triste para Sakura, ela estava pálida.

Foram para o carro, não foi trocada uma palavra, ele apenas segurou a sua mão que hora tocava um pouco as pernas dela, sentia a pele acetinada e lembrava da noite que tiveram. Suspirou.
- Sonhei com o que aconteceu comigo no passado... o que aconteceu é um pouco pesado, quando estiver pronta, eu te conto... – disse tentando se justificar.
- Mas, me preocupo com você... como se sente sobre isso no seu presente?
- Afetada é claro, mas, estou superando. – disse mentindo, nunca superaria o que tentou fazer com Seiji, não havia perdão.

Estavam quase chegando na casa de Fujitaka, ele apertou um pouco a perna dela em sinal de nervosismo. Ela se assutou e olhou para o seu rosto, ela achou engraçado isso.
- Por que está nervoso? – perguntou Sakura segurando o riso.
- Porque estou indo a casa de seu pai.
- Não precisa temer meu pai, ele não vai...
- Quero me apresentar a ele como o seu nam...
- Não. Por favor, não faça isso. – disse Sakura com um rosto sério. – Pelo menos hoje não.
Sem entender, Shaoran olhou a proximidade da casa, não poderia discutir sobre isso naquele momento, não havia tempo para isso.
- Depois a gente conversa sobre isso então. – respondeu meio áspero.
- Okay, obrigada. – respondeu Sakura.

Ele parou o carro para que ela descesse, ela fez menção para que ele entrasse um pouco, ele negou com a cabeça.
- Preciso ir para o escritório. – respondeu.
Ela acenou agradecendo e ele foi embora.
- Mamãe!!! – gritou Seiji ao ver a mãe da janela da sala.
Sakura acenou para o pequeno que olhava com grande amor para ela, ele sumiu de lá rapidamente, e já estava na porta da sala esperando ela chegar para lhe dar um abraço apertado.

- Shaoran, a Tia está brava demais com você por não ter voltado... – disse desesperadamente Meilin ao ver Shaoran entrar no corredor da empresa.
- Como assim? Expliquei para ela o que deveria ter sido feito por email ontem de noite, ela não fez isso?
- Ela ligou para o hotel desesperada, mas, você não estava. Pelo que entendi, ela não recebeu o email.
Shaoran ficou pálido, poderiam perder muito dinheiro se a transação que eles haviam planejado não fosse fechado no tempo certo, e o dia certo seria estes.
Ele ligou para a sua mãe, ela confirmou que não recebeu o email.
- Estou saindo daqui agora.
Ele precisava honrar o compromisso de finalizar a transação, afinal, era responsabilidade dele e não de sua mãe.

Avisou Meilin sobre sua decisão de ir para Hong Kong naquele exato momento e pediu para avisar Eriol. Pediu também que não falasse sobre isso com ninguém apenas Eriol poderia saber do ocorrido. Sem questionar, a prima concordou com a cabeça, obedeceria ao primo.

Sakura estava descansando em seu quarto, Seiji brincava no quarto com os seus carrinhos, parecia que queria fazer compania para a mãe.
Ela estava com medo de dormir de novo e ter aqueles pesadelos, Seiji se aproximou olhou a mãe novamente e deu um beijinho no rosto dela.
- Mamãe, você tá bonita... – disse o menino sorrindo a mãe. – Eu gosto muito de você.
- A mamãe também te ama muito, meu lindinho... – disse Sakura levantando a cabeça e acariciando o rostinho angelical do menino. Era incrível como Seiji era lindo, tinha traços finos e não grotescos, se colocar uma fita no cabelo e manter a boca fechada poderia até mesmo se passar por uma menina.
- Seiji vem aqui com o vovô um pouco... – chamou Fujitaka abrindo a porta calmante, sem querer fazer barulho. – A mamãe precisa descansar pelo menos um pouco.
Fujitaka pega o menino no colo, ele parecia não querer sair do lado da mãe aquele dia. Então, ele pegou o seu pijama e deu para a mãe.
Sakura se sentiu mais calma por abraçar aquele pequeno pijama e sentir o cheirinho gostoso de seu filhinho, e assim, conseguiu dormir tranquilamente.

Shaoran corria contra o tempo para chegar em Hong Kong o quanto antes, não pegou nada no hotel, já estava dentro do jatinho alugado enquanto analisava alguns documentos no seu laptop.
- Já vamos pousar.
- Obrigado. – respondeu sem olhar para a pessoa.

Yelan, a mãe de Shaoran o aguardava ansiosa, e ao mesmo tempo triste. Sentia-se aflita quando o filho não estava por perto, não conseguia confiar em ninguém a não ser ele. Shaoran tinha 5 irmãs mais velhas, e os maridos delas não eram bons em negócios como Shaoran. A família Li tinha uma reputação a zelar, era uma família que sempre obteve êxito em seus negócios e empreendimentos, mas, o único que poderia manter esse status da família era Shaoran. Conhecia bem o filho, era desconfiado, sabia que ele não se envolveria com uma moça qualquer e assim ter confusões, era um tanto quanto fechado e reservado, alguns o consideravam intocável pela sua frieza além de ser anti-social extremista.
Começou a se lembrar de quando era mais jovem, o marido ainda era vivo. Era um homem elegante, inteligente e bonito, mas, quando o conheceu ela não poderia considerá-lo isso, o achou metido e grosseirão. Com o tempo, o casamento arranjado dos dois foi se tornando mais agradável, se tornaram amigos e confidentes, passaram a se conhecer melhor e assim se apaixonaram. Os filhos foram frutos desse amor, se ele tivesse vivido mais, talvez Shaoran não seria o caçula.
- "Vamos arranjar uma esposa para você se apaixonar também." – pensou Yelan, o filho precisaria se casar em um futuro não muito distante, já havia passado da idade para as tradições da família, mas, isso estava sendo tolerado devido aos compromissos que o rapaz tinha. – "Você será feliz também, assim como eu e o seu pai..."
Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta do escritório da mansão se abriu para informar que o filho havia retornado e que estava na mansão apenas para um banho rápido e ele iria imediatamente para o escritório.

Shaoran estava debaixo do chuveiro para um banho rápido, fechou os olhos para relaxar um pouco e sentiu a fragância de Sakura invadir o seu olfato, apoiou as mãos no azuleijo, deixou a água correr pela cabeça, fechou o registro da água quente, precisava tomar um banho gelado.
- Shaoran? – chamou a mãe entrando dentro do quarto do filho.
- Já vou sair... – avisou do banheiro.
- Como foi de viagem?
- Tranquilo, gostaria apenas que tivesse sido mais rápido.
- E como está o Japão?
- A filial da editora está em boas mãos e as pessoas são realmente competentes.
- E a rede de supermercados? Como está a aceitação?
- Está indo razoável ainda, temos concorrentes de peso, mas, vamos conseguir sobreviver e em algum tempo podemos superar... – disse ao sair do banheiro. – Como a senhora está, minha mãe? – perguntou Shaoran beijando o rosto de Yelan.
- Estava um pouco preocupada, mas, agora estou bem. Achei estranho não ter voltado mesmo um negócio com a magnetude que temos sendo fechada.
- Me desculpe. Mas esta negligência de minha parte não vai nos custar...
Yelan analisa o rosto do filho, ele não tinha a mesma aura de quando saiu de Hong Kong há algumas semanas, parecia que estava feliz com algo. Isso a agradou.
- Vejo que temos que conversar depois que voltar do escritório.
- Temos sim, quero conversar muito com a senhora.
Yelan sorri e sai do quarto para que o filho possa se arrumar mais rapidamente.

No carro, Shaoran liga para o celular de Sakura.
- Alô? – uma voz alegre atende o telefone.
- Sakura? – pergunta Shaoran. – Como está?
- Estou bem. Mas que adorável surpresa ter me ligado... Como está?
- Estou bem também. O motivo de ter ligado, além de querer ouvir sua voz, é que vou precisar ficar fora de Tomoeda por um tempo. Tenho alguns assuntos a resolver em Hong Kong.
- Ah... – respondeu Sakura sem entender direito o que ele teria que resolver.
- São negócios familiares... – respondeu tentando satisfazer um pouco a curiosidade dela, mas, sem revelar ainda quem ele era. – Preciso desligar agora, mais tarde eu te ligo.
- Tá bom.
- Até mais tarde.

Desligando o telefone, Shaoran entrava no subsolo do prédio para estacionar o carro e correr para a sua sala.

Sakura achou estranho, como ele poderia sair correndo assim, mesmo faltando pouco menos de um mês ainda para ele voltar para Hong Kong. Que poderes ele tinha para poder voltar e fazer o que bem entender na empresa em que trabalhavam? Havia algo estranho nisso tudo.
Resolveu não pensar muito sobre o assunto, pois poderia julgá-lo. Ligou para Tomoyo perguntando se ela não gostaria de sair depois do expediente, ir para algum shopping, deixaria o Seiji brincando com as monitoras de um parquinho. Precisava conversar com alguém sobre o que estava acontecendo, infelizmente naquela noite ela iria a um jantar romãntico com Eriol, havia sido planejado há semanas.

Tooya mal havia chegado na casa, e viu Sakura lá sentada no tapete da sala brincando com o filho. Assustou porque o carro dela não estava lá.
- Sakura?
- Oi Tooya!
- Cadê o seu carro?
- Puxa... é mesmo... maninho, preciso de um favor seu...

Sakura convenceu Tooya a não contar para o pai o que havia acontecido com ela e o Senhor Shimizu, omitiu a parte que ela e Shaoran passaram a noite um nos braços do outro.
- Mas que velho mais...
- Tooya!! – Sakura o censura, Seiji também estava no carro com as anteninhas ligadas, Sakura não queria que o filho aprendesse palavrões, pois o último que ouvira, repetia quase toda hora apenas para ver a mãe fazer aquela cara engraçada.
Chegaram no restaurante, Tooya pega Seiji no colo pois já estava um pouco pesado e grandinho demais para Sakura ficar carregando por aí.
Viram o Senhor Shimizu na porta do restaurante, Sakura agarou o braço de Tooya, precisava se apoiar queria se sentir segura, e ao mesmo tempo não conseguia acreditar que um senhor como ele fosse tão baixo assim. Tooya percebeu o nervosismo da irmã, e a puxou mais perto de si para que ela se acalmasse. Assim, entraram no restaurante para pedir o carro de Sakura.

No restaurante do outro lado da rua, Meilin viu a cena toda abismada. Sakura estava agarrada a um outro homem e com uma criança nos braços dele com muita intimidade.
- Maldita... – disse trincando os dentes de raiva de Sakura.
Saiu imediatamente do restaurante, e foi para o hotel.

Sakura voltava para casa, precisava ajudar a fazer o jantar. Estava ansiosa para escutar a voz de Shaoran e perguntar qual a relação dele com a empresa, precisava saber.

- Tia? É Meilin.
- Olá Meilin. Como está?
- Nada bem. Onde está Shaoran?
- Ainda não voltou do escritório. Posso ajudá-la?
- Não tia... apenas peça para ele me ligar, tenho coisas a revelar para ele sobre uma moça chamada Sakura Kinomoto.
- Essa moça é...
- Tia... por favor, peça para ele me ligar...
Meilin desliga o telefone com raiva eminente, estava mais do que óbvio que sentimentos ruins sobre Sakura assombravam a moça.
- Maldita... está traindo o meu querido primo dessa maneira... ela não serve para ele assim como todas as outras que só queriam o dinheiro de nossa família...

Shaoran volta para a mansão cansado, queria poder fechar um pouco os olhos e arejar um pouco a cabeça que estava cheia, realmente precisava ter voltado para fechar aquela transação, conseguiu vencer uma licitação para fornecer peças e mão de obra para montagem de caminhões de transporte de combustível para uma grande empresa multinacional, além de poder conseguir aumentar mais os laços com os seus aliados, era realmente um homem muito confiável quanto a negócios.
Arrancou o paletó, e deitou-se em sua cama. Ligou para Sakura, queria ouvir a sua voz e relaxar um pouco do stress que acabou de passar.
- Shaoran!
- Olá! Como está, Sakura?
- Estou bem, está com uma voz de cansado.
- Sim, estou um pouco cansado...
- O que fez?
Shaoran parou um pouco para pensar no que responderia, se falasse que foi fechar um negócio de bilhões de dólares além de um futuro promissor com uma nova super potência, poderia deixar Sakura confusa e teria que revelar quem ele era. Ele queria que ela se apaixonasse por ele de verdade, como ele era e não pelo seu dinheiro e poder. Resolveu mentir.
- Minha mãe tem um mercadinho aqui em Hong Kong, e precisei vir aqui para ajudá-la um pouco.
- Mas, como pode largar os seus afazeres aqui, sem mais e nem menos e ir ajudar o mercadinho da sua mãe aí? E além disso, você me ligou após o almoço aí de Hong Kong, mas demora-se mais para chegar aí.
- E-eu pedi uma permissão especial e foi concedida, é isso!
- É mas... você chegou cedo demais aí e...
- Desculpe Sakura, preciso desligar agora, preciso descansar...
- Entendo. Depois conversamos melhor. Boa noite.
- Boa noite.
- Shaoran...E-eu... T-te amo... – disse Sakura timidamente.
- Eu também te amo, Sakura... – respondeu Shaoran assustado e muito feliz de poder escutar que ela o amava e assim desliga o telefone. Sentiu-se nas nuvens por ter escutado aquele gaguejado "eu te amo".

- Mas, ela está desconfiando de tudo... – praguejou. – é claro que desconfiou... "é inteligente não é mesmo?" – pensou consigo mesmo. A inteligência dela era uma das coisas que o atraia.

Sakura percebeu que havia algo que Shaoran escondia dela, não queria pensar nisso, mas, não conseguiu evitar: era claro como a luz que ele estava omitindo ou mentindo alguma coisa para ela deliberadamente.

- Meilin? – disse Shaoran ao atender o telefone.
- Shaoran... me desculpe estar avisando você assim pelo telefone, queria poder estar ao seu lado agora...
- O que quer dizer? – perguntou Shaoran sentindo o coração apertar pelas palavras da prima.
- Sabe que não tenho muito tato para conversas e que sou direta, não é?
- Sim, eu sei disso.
- Então, hoje estava entrando em um restaurante para jantar, e vi Sakura entrando em outro restaurante.
- E...? – perguntou Shaoran com um sentimento nada bom dentro de seu coração.
- Ela estava agarrada a um homem que segurava uma criança no colo... me desculpe...
- A criança era o filho dela, provavelmente. Olhe no papel de parede do micro dela.
- Mas e quanto ao homem? Eles estava perto demais para o meu gosto.
- Não pode ser nada de mais, Meilin. Sakura não é esse tipo de pessoa que...
- Ela disse que gosta de você?
- Sim, ela disse. Por que essa pergunta?
- Tenho mais uma, querido primo... ela não desconfia ou já sabe quem é você?
Shaoran ficou estático e pálido, não conseguiu ter outra reação a não ser desligar o telefone pois estava impossibilitado de falar.
- Shaoran??! – gritou Meilin no telefone.