Já estava trabalhando no bar há dois meses, o dono me pagava o suficiente para pagar o quarto em que estava, fazia minhas refeições lá mesmo no bar e, às vezes, dava para comprar algo para mim.
Tudo era muito normal e monótono todos os dias. Já até havia me acostumado com as piadinhas sem graça dos rapazes... Não sei como podiam passar cantadas em mim, era um monstro! Uma "pata choca".
Não sabia como iria estudar, quer dizer, eu queria tentar me formar... Havia muitas faculdades públicas e tal, mas tinha de estudar muito para passar. E eu não tinho uma base lá muito boa.
Estava morrendo de saudades de todos de lá! E a comida da Dona Matilde então! Humm...
- Mel! Anda logo, garota! Vai atender os clientes! – sr. Smith gritou. Ele estava treinando vocabulário, tinha aprendido uma palavra nova, "clientes"! Isso era um avanço!
- Já vou, já vou! – eu disse de volta, pegando a bandeja.
Cheguei na mesa e os homens discutiam. Eram dois rapazes altos e bonitos até. Mas se vestiam um tanto engraçado! Eu sorri e perguntei o que queriam.
Pediram duas águas. Quando estava voltando eu os escutei falando de "sociedade mágica", "Ministério da Magia"... Pensei que eram loucos. Mas assim que eu cheguei, eles calaram a boca. Deixei a água e quando me virei ainda pude escutar: "só ele pode não usar varinha para transfigurar coisas!"
Eles eram realmente loucos!!! Varinha? Transfigurar coisas? Não usar varinha para transfigurar coisas??
Eu fiquei olhando aqueles dois homens na mesa com peculiar atenção, e aquela frase ficou martelando a minha cabeça. Quando tinha nove anos eu tinha transformado um copo num canário. Não sei como tinha feito aquilo. Isso me assustava e eu por muito tempo tinha tentado esquecer. Mas alguém poderia desvendar isso. E esse "alguém" em questão eram aqueles dois.
Quando eles saíram, depois de um bom tempo, eu fui atrás.
- Com... Com licença! – eu corria atrás deles. Eles se viraram.
- Sim – falou o mais alto. Ele tinha os cabelos negros e olhos igualmente sensuais. O outro tinha os cabelos louros escuros e olhos castanhos, bonito também.
- Eu... Eu... Me desculpem se fui intrometia, mas... Mas eu ouvi alguma coisa da sua conversa e... – eles se entreolharam, parecendo assustados, e depois ficaram com expressões estranhas.
- O quê exatamente você ouviu? – perguntou o segundo, chegando perto de mim.
- "Sociedade mágica", "Ministério da Magia" e "só ele pode não usar varinha para transfigurar coisas..." – eu disse rapidamente, começando a me assustar. Eles se entreolharam novamente.
- Você ouve demais – disse o primeiro, levantando uma sobrancelha, ainda trocando olhares com o outro.
- O que faremos, Sirius? – perguntou o outro.
- Feitiço pra apagar a memória...
- Não! – eu gritei. – Eu já não tenho quase passado, não me façam isso! O que vocês são?
- Olha, você ouviu demais, é uma trouxa, não pode saber do que sabe... – disse o que eu achava que era Sirius.
- Eu sou o quê?? "Trouxa"? Ora, não me ofenda! – eu disse. Quem era ele pra me chamar de trouxa??
- Ele não quis dizer que você é burra, só que você não é bruxa! – disse o outro. Bruxa?? Bruxa?! BRUXA????????? Eu sentia que só podia estar maluca, aquilo não era verdade, estava ouvindo e vendo coisas demais...
- Br... Bru... Bru... – eu tentava, mas não saía.
- Sim, você não é uma bruxa, por isso não pode ouvir o que ouviu e não pode saber o que sabe.
- E se eu for uma bruxa? – eu perguntei, tentando me controlar. Quer dizer, eu poderia ter alguma coisa, eu fizera o copo virar canário e nascera uma rosa tatuada no meu pescoço do nada.
- Como assim? – perguntou Sirius.
Eu contei de toda a minha história e eles ouviram atentos. Pareceram assustados quando eu disse do copo e do canário, mas não contei da rosa no pescoço.
- O que vamos fazer, Remus? – Sirius perguntou, com o semblante preocupado.
- Qual seu nome? – ele perguntou.
- Mel.
- Mel de quê?
- Eu... Eu não sei, eu sou órfã, já disse!
- Vem com a gente – mandou Sirius, segurando meu braço. Eu me soltei bruscamente.
- Pra onde?
- Ver Dumbledore – Remus disse.
- E quem é esse?
- Ele é diretor da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Uma escola só para bruxos, para a qual qualquer bruxo vai quando completa onze anos, mas parece que ninguém sabia da sua existência como bruxa.
- Qual é?! Você quer saber do seu passado ou não?? – Sirius perguntou. Argh, como era grosso!
- Quero!
- Então vem – e me puxou.
Eles me levaram até um castelo, um castelo ENORME e LINDO! Tinha um grande lago e uma lula nadava lá, eu morri de medo, mas Remus me disse que era inofensiva. Eu entrei e os quadros olhavam e comentavam de mim e sobre mim! As escadas mudavam e era tudo incrivelmente... simplesmente mágico! Nunca vi nada tão fantástico! Só podia ser um sonho, mas não era! Eu estava ali e era uma bruxa!
Levaram-me à uma sala e lá tinha um senhor com as barbas enormes e brancas, óculos em formato de meia lua e uma expressão bondosa.
- Quem é essa jovem? – ele perguntou, me observando.
- O nome dela é Mel, professor Dumbledore – disse Remus. Então esse era Dumbledore e eu estava em Hogwarts! Que sonho...
Eles explicaram toda a minha história e no final o senhor me perguntou se eu podia demonstrar.
- Como assim? – perguntei confusa.
- A senhorita pode transformar este copo num canário, como fez aos nove anos? – ele perguntou, apontando um copo. Ele tinha me chamado de "senhorita", ninguém nunca havia feito isso.
- Tem muito tempo e eu não sei se conseguiria fazer novamente...
- Tente...
Eu olhei para o copo, tentei ver na minha frente somente o canário, me concentrei muito. Estava ficando meio zonza, mas fui até o final. O copo começou a brilhar e saíram algumas faíscas. Mas eu desmaiei aí.
Acordei num lugar com várias camas, como se fosse uma enfermaria. E logo veio uma senhora perguntando se estava me sentindo bem e tal. Tratou-me muito bem e eu gostei da companhia dela, ficamos conversando durante duas longas horas. Ela me contou de vários acidentes com alunos e etc, até que Dumbledore chegou.
Ele me disse que não sabe como eu fiquei escondida durante tanto tempo, como ninguém soube de mim, mas que eu era sim uma bruxa, só precisava de prática.
Ele disse também que eu tenho um dom, só alguns poucos bruxos podem transfigurar coisas sem usar a varinha.
Explicou-me que Remus e Sirius estavam num bar trouxa para que ninguém entendesse o que falavam, já que havia um feitiço em suas falas. Para os trouxas, estava falando coisas banais, como o jogo de futebol do dia anterior.
Depois ele me explicou a situação atual do mundo bruxo. Disse que eles estão passando sérios problemas porque um bruxo se revoltou e queria todo o poder pra ele, queria ser o maior bruxo do mundo etc. Disse-me que ele era muito poderoso e que muitas pessoas já morreram em suas mãos. Era conhecido como Voldemort ou como Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.
Mandou me levarem de volta para o bar, para pedir demissão e pegar minhas coisas no meu quarto. Eu iria morar em Hogwarts, aprender tudo o que um bruxo de verdade tem de saber. Remus, Sirius e Dumbledore iriam me ensinar. Eram bruxos muito capacitados e inteligentes, apesar que Remus e Sirius tivessem acabado os estudos no ano anterior e agora trabalhavam para Dumbledore.
