- Professor? – eu entrava pela sala de Remus, estava atrasada, bem atrasada... Sirius havia me prendido em sua aula até que eu entendesse para quê cada ingrediente servia... E eu odiava Poções...

- Mel, está muito atrasada! – ele exclamou bravo do outro lado da ampla sala.

- Desculpe, Sirius me prendeu e – eu não pude continuar a explicar, ele jogara três grossos livros na minha mão.

- Terá de ler esses livros até semana que vem e fará um teste, com a matéria que eles contém.

- E o que eles contém?

- Você vai ler, não vai?

Ele estava muito sério nesse dia, e parecia muito preocupado com alguma coisa. Não era o mesmo Remus Lupin que eu estava acostumada. Estava frio e quase não olhava em meu rosto.

Os três livros que me havia mandado ler eram bem desinteressantes e monótonos, cada vez que pegava para ler me dava uma preguiiiiiça sem tamanho, então eu dormia no sofá com a cara enterrada no meio do livro.

Estava gostando muito do castelo, e nas minhas poucas horas vagas eu ficava vagando sem rumo pelas escadarias. Hogwarts era impressionante, cada passo que se dá pode-se sentir uma parte da história, dos passos de alunos, e eu até chegava a escutar vozes! Mas rapidamente sacudia a cabeça e dizia para mim mesma que estava ficando louca.

Eu não sabia como estava a situação do mundo mágico, meu único mundo no momento era Hogwarts. Porém minha preocupação com a minha gente do orfanato crescia a cada dia. Às vezes eu escutava sussurros de Dumbledore falando sobre ataques aos trouxas, aquilo me preocupava muito.

A grosso-modo eu achava tudo aquilo um grande sonho. Um sonho do qual eu não queria sair. 

Na semana seguinte, tanto Remus quanto Sirius resolveram me passar testes. Minhas notas não foram vermelhas, mas foram meio/bastante baixas. Eu chutei todas as questões, não tinha certeza de nenhuma! Era muita coisa na minha cabeça... Mas nenhum deles teve pena de mim, a cada dia era mais matéria que eles cospiam em cima de mim...

- Bom dia, professor – eu disse, bocejando enquanto entrava em sala. Algo nada correto para uma educação britânica, mas não pude evitar!

- Bom dia, Mel. Sonhou comigo? – Sirius estava na mesa arrumando uns papéis e me olhou fatalmente sedutor. Como era metido esse Sirius! Acho que eu corei na hora e tentei sobrepor com minha ironia.

- Sonhei que você estava em Azkaban! E virava... virava – a minha ironia tinha levado minhas visões mais longe, na verdade eu estava realmente vendo Sirius num lugar sujo, com roupas sujas, sentado e largado num chão frio, de repente chegava um vulto de capuz preto e ele virava um... – um cachorro preto?

Ele me olhou bem estranho.

- Me desculpe, eu não digo coisa com coisa, de onde eu tirei isso? Cachorro preto, eu hein... – eu disse, tentando me desculpar e voltar à realidade da qual tinha me distanciado.

Naquele dia ele não falou normalmente comigo, parecia assustado e eu me arrependi muito de ter dito aquilo, mas não sabia por quê tinha ficado tão conturbado.

Quando acabou a aula eu fui para o meu quarto e comecei a jogar xadrez sozinha. Perdi para mim mesma! Eu realmente sou horrível em jogos, de qualquer gênero... Desde xadrez, até o famoso Quadribol deles.

Francamente, de onde eu tirei aquilo? Cachorro preto, e desde quando o Sirius poderia estar em Azkaban virando um cachorro preto?! Eu viajava... Mas o estranho é que parecia que eu estava vendo mesmo aquilo, parecia real... "Blah! Minha imaginação está indo longe demais... Não devia ter lido tanta ficção quando era pequena..."

   "Que saco, amanhã tenho uma prova do Dumbledore, e eu odeio a matéria que ele está dando... Aliás, eu nem sei direito que matéria ele está dando, SOCORRO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

   Bom, melhor me acalmar e abrir o livro, ai, mas que preguiça..."

Estava numa sala pequena, com apenas duas cadeiras e duas mesas, estava sentada em uma cadeira e Dumbledore em outra. Ele estava lendo alguma coisa, parecia bastante concentrado, mas às vezes seus pequenos olhos azuis fixavam-se em mim e me dava calafrios.

A prova estava difícil e eu acho que não me dei bem.

Nesse dia eu não teria mais nenhuma aula! Eles haviam me liberado! Ficaria deitada na cama o resto do dia e iria na cozinha, afinal, a comida de Hogwarts era irresistível.

Estava com saudades da comida da dona Matilde, do carinho da Pâmela e da animação das crianças do orfanato... Em Hogwarts era tudo novo, mas meio parado. Eu só estudava, estudava e estudava, ganhava broncas dos professores; Remus, Sirius e Dumbledore; e fazia provas... argh...

Estava um dia bonito, com sol, o céu estava quase sem nuvens e não estava um calor insuportável. Então não iria conseguir ficar jogada na cama o dia todo. Iria dar uma volta nos jardins e pegar um ar.  

Estava no campo de Quadribol e ainda não consegia ver nada de tão fascinante neste esporte, já que voar em vassouras é comum, não tem nada demais. E aquele campo era tão sem graça, era bizarro...

Mas enquanto sentava nas arquibancadas, que eram um bom lugar para ver e tomar sol, eu vi um menino de cabelos negros esvoaçantes, magro, com os olhos verdes em destaque, apesar de óculos na frente, que estava voando e dando rodopios com a vassoura. Não, mas não tinha ninguém ali e eu nunca havia visto aquele garoto na vida. Sacudi a cabeça para tirar aquela idéia absurda da cabeça. Eu estava vendo coisas, só podia ser!

Mas de qualquer maneira, como eu era muito teimosa, fui perguntar ao Remus se ele conhecia algum garoto com aquelas características, ele disse que não, mas que um amigo dele parecia-se muito com o que eu tinha falado, tirando os olhos verdes, mas mesmo assim ele não estava em Hogwarts. Chamava-se Tiago Potter e estava fugindo de Voldemort com sua esposa, Lílian Evans Potter. Ele não disse o porquê de eles estarem fugindo, minha curiosidade aguçada estava quase me matando, mas eu não perguntei, Deus sabe como me esforcei para não perguntar...

No dia seguinte eu não fiz nada de especial, assisti aulas, quase dormi na aula de Dumbledore, mas briguei comigo mesma para me manter acordada, ou pelo menos de olhos abertos e fingindo que estava prestando atenção. Eu gostava das aulas dele, mas eram todas muito cedo e eu acabava não lembrando de quase nada do que ele tinha dito depois de sair da sala.

As aulas do Sirius eram muito boas e engraçadas! Remus era mais sério e compenetrado, não fazia piadas e nem descontraía, mas eu acabava sempre prestando atenção ao que ele dizia.

Apesar das repressões feitas para eu não ir à Floresta Proibida, de alguma forma alguma coisa me atraía ali, nunca havia entrado lá, mas era tão misteriosa, e eu, estranhamente, gostava do escuro e não me sintia ameaçada pelas criaturas que viviam lá ou pelas histórias bizarras que eram contadas. Eu realmente tinha vontade de ir lá, saber o que tem de tão proibido, tudo bem, as tais criaturas medonhas! Mas mesmo assim, devia ter algo mais, algo grandioso... "Essa minha curiosidade ainda vai me levar ao fundo do poço, mas o que posso fazer? Há coisas que não se mudam!"

Outra coisa que me intrigava era o velho Salgueiro Lutador, para mim ele não era só uma árvore que se debatia e tinha mau-humor. E tinha algum segredo naquela árvore, tinha sim... E algum dia eu descobriria...

"Algum dia..." Essa expressão me dava raiva, "algum dia", eu prefiria "agora"... Mas como nem tudo pode ser na hora em que queremos, ou como queremos, essa expressão infeliz precisa existir. Quando eu queria as coisas, eu queria na hora e não depois, porque depois pode não valer tanto a pena como vale hoje, ou ao contrário, mas isso quando se trata de mim, não funciona.

Eu deveria ser uma pessoa tolerante e conformada em esperar o tempo, já que fui criada em orfanato e lá são poucas às vezes em que temos o que queremos e como queremos, mas fazer o que, eu era assim... Só que o problema que me matava era que eu nunca conseguia o que eu queria na hora que eu queria e como eu queria!

Daqui um mês mais ou menos os alunos voltariam a Hogwarts e pelo menos o castelo iria encher e ficar mais alegre um pouquinho! E eu teria que continuar com os meus estudos... Tinha que parar de reclamar como uma velha porque estudar em Hogwarts era bem melhor do que não ter futuro nenhum naquele bar onde trabalhava.