Eu estava voltando para os dormitórios depois da última aula de Remus e quando entrei num corredor, comecei a ouvir uma voz sussurrada. Ela dizia "que bom que está de volta, meu mestre, estive esperando pelo senhor". Era uma voz fria, pesada, cruel e sussurrada vagarosamente. Eu não sabia de onde vinha, só sabia que me dava medo e calafrios. Algo que eu sabia que não era normal de estar acontecendo. Não tinha nenhuma sala, nenhum banheiro, nenhuma entrada, nada. Só as paredes, o teto e um grande corredor vazio pela frente. A voz parecia um fantasma que ia se movendo, mas não tinha nenhum sinal de fantasmas por perto e Pirraça, quem gosta de me dar sustos, estava em horário de soneca.

"Não vai falar comigo, meu mestre?" a voz continuava dizendo insistentemente, e ansiosa por uma resposta do tal mestre. Eu não sabia quem era, comecei a me desesperar e a única coisa que queria era estar na minha antiga vida, a minha vida trouxa, onde nada dessas coisas estranhas aconteciam.

Apesar de estar falando com seu mestre, a voz parecia cada vez mais ameaçadora, em vista de nenhuma resposta. Eu comecei a correr e parecia que sempre havia algo rastejando por trás de mim, eu olhava para trás e não via nada, isso me assustava muito. Eu ia correndo e a voz corria junto comigo. Comecei a chorar de medo, o que nunca havia acontecido.

Só fechei os olhos, com as lágrimas escorrendo, e continuei a correr sem saber aonde ia parar, só queria me libertar daquela voz insuportável, sem ao menos me preocupar se iria bater com a cabeça na parede. E aí, junto com a voz, vieram gritos, ecos desesperados.

De repente eu bati em alguma coisa, ou alguém, que me segurou pelos braços com força e começou a dizer o meu nome. Eu não sabia quem era, estava com medo de abrir os olhos, não conseguia reconhecer a voz, e comecei a me debater.

- Não, não! Me solte!

- Mel, sou eu, sou eu: Remus! – ele disse, me segurando pelos braços ainda mais forte, tentando me fazer parar de me debater.

Era ele, isso foi um alívio imenso, porque quando ele disse isso, a voz sumiu. Eu abri os olhos e vi os dele, olhando-me preocupado e assustado.

- São tantas vozes, vozes... vozes – eu dizia, ainda chorando e de olhos fechados, com as mãos juntas encostadas no peito dele.

- Calma, calma – ele disse, me abraçando e acariciando meus cabelos e minhas costas.

Eu chorava tanto, de medo, que molhei o ombro dele.

- Venha, vamos à enfermaria – ele disse, olhando para mim e tentando guiar-me. 

- Pra quê? – eu perguntei, soluçando.

- Precisa tomar alguma coisa para se acalmar.

Nós fomos andando, e eu aflita e com medo de a voz voltar novamente. Quando chegamos lá, depois de eu ter tomado alguma coisa que parecia água com açúcar, ele me perguntou o que havia acontecido, seus olhos mostravam que estava cheio de preocupação e eu achei realmente muito fofo.

- Uma... uma voz que me seguia, eu não sei, eu não sei de onde vinha, quem era, não sei... – eu disse, esquecendo-me da fofura dos olhos do Remus, e lembrando-me da voz.

- E o que ela dizia?

- Falava de um mestre, que o mestre estava de volta, várias coisas que me deram medo, não pelo que dizia, mas com a intensidade com a qual dizia... – eu disse, secando as lágrimas.

- Algo mais?

- Sim, ecos que gritavam... Pareciam à beira da morte, eu não sei... – e uma nova lágrima teimou em rolar.

- Não chore... Fique aqui, eu vou chamar o Dumbledore – ele disse, levantando-se. Esteve sentando ao meu lado enquanto me acalmava. Eu segurei o braço dele.

- Não, não vá, não me deixe sozinha de novo – eu implorei.

- São só alguns minutos – ele disse, segurando minha mão. Eu fiz que não com a cabeça, não queria ficar sozinha de novo, a voz poderia voltar e eu tinha muito medo do que eu não via, sempre tive medo de fantasmas, apesar de em Hogwarts eu ver que eles não eram tão maus.

Ele respirou forte e disse para eu o acompanhar até a sala de Dumbledore.

Fomos até lá e o encontramos jogando xadrez bruxo com Sirius, uma cena não muito comum...

- Quem está ganhando? – Remus perguntou.

- Quem você acha? Ele, claro! – Sirius bufou, apontando para o tabuleiro.

- Aconteceu alguma coisa? – Dumbledore perguntou, logo depois de ver meu rosto vermelho e inchado.

- Sim. Sirius, pode levar a Mel lá pra fora? – Remus pediu. Eu fiquei chateada, por que ele não queria que eu ouvisse? Será que era mais sério do que eu pensei? "Bem, mas Remus é muito misterioso..."

Sirius levantou uma sobrancelha em sinal de confusão, o qual Remus retribuiu com um olhar significativo de "depois você vai saber, só tire ela daqui".

Eu aceitei fazendo um grande esforço para não ficar lá e ouvir o que ele iria dizer.

Sirius ficou me olhando de banda, mas não perguntou nada. Eu estava quase mandando ele parar de me olhar com aquela cara de bunda, mas achei melhor não, afinal ele me aplicava provas e eu poderia me encrencar.

Fiquei pensando no quê Remus estaria falando para Dumbledore... Se Sirius não estivesse lá eu teria posto os ouvidos atrás da porta para poder ouvir, mas como ele estava, tive de me contentar em ficar olhando para o chão.

Remus era uma pessoa que eu tinha muito curiosidade (novidade) em conhecer melhor, ele era misterioso, com um ar intelectual... e às vezes, à noite, sumia sem dar explicações e voltava no dia seguinte, parecendo cansado. Diziam para mim que ele fora visitar uma tia que estava muito doente, mas eu não acreditava nisso, será que pensavam que eu era boba? É óbvio que ele não tinha ido ver uma tia adoecida... Parecia que ele guardava um segredo, um segredo do qual ninguém poderia saber. Algo importante, poderoso, mágico e misterioso. Mas eu não fazia idéia do que poderia ser.

Ficava me perguntando se ele teria alguma namorada, acho que não, porque está sempre no castelo conosco. Mas poderia ter algum amor secreto... Acho que com o perfil dele caberia algo como Shaekespeare, Romeu e Julieta, Hamlet. Uma história de amor proibida, mas maior que o bem e o mau, que as diferenças. "É pena que eu não caiba nesse perfil... Oras, o que estou falando? Blah..."

De repente a porta se abriu calmamente e saiu de lá um Dumbledore com a expressão bem mais pesada do que a de costume. Remus estava atrás, sem nenhuma expressão.

- O que... o que foi? – eu perguntei, olhando nos olhos de Dumbledore.

- Mel, ouvir vozes, mesmo no mundo dos bruxos, não é bom... – ele explicou, por cima dos óculos e com as mãos juntas. – Tem certeza de que era de verdade? Você não... bem... imaginou?

- Não! Era real! Aliás, era muito real! – eu disse, me alterando, como poderia duvidar da minha lucidez? – Eu não estou ficando louca, Dumbledore! 

- Está bem, Mel, eu acredito em você, acalme-se. Venha, entre... – ele apontou a sala novamente e entramos.

Ficamos os quatro falando e falando, no final das contas, só estavam discutindo a minha sanidade mental. Dumbledore achava muito difícil eu ouvir vozes, eu poder ouvir vozes. Aliás, eu também achava muito estranho, mas afinal eu ouvi!