- Nossa, o que está havendo aqui hoje? Está todo mundo animado, Pirraça rindo e dando piruetas. Não que isso seja anormal, mas está tumultuado! – eu dizia, ao entrar na sala de Sirius para mais uma aula exaustiva de Poções.

- As aulas recomeçam amanhã... – ele respondeu, levantando os olhos de uma maneira nada contente.

- Oh, sim?! – não pude esconder minha excitação. – Que legal! Agora eu vou ter aulas com eles, não?!

- Sinto estragar a sua felicidade em largar de nós, mas não. Você não pode ter aulas com os outros alunos... Seria, hum, estranho. – ele disse, baixando os olhos novamente para o pergaminho velho que lia.

- Por quê estranho? – perguntei, será que era algum tipo de aberração?

- Escute, Mel, não há como... Você não foi selecionada para nenhuma casa e é mais velha do que os alunos do último ano até... – ele estava com a voz arrastada, diferente do normal extrovertido.

- Bem, parece que tenho que me conformar... – eu disse, emburrada, jogando os livros com brutalidade em cima da mesa, ficando de braços cruzados em frente ao meu professor.

Sirius, sem se manifestar ao estrondo que causei com os livros, apenas esticou o braço ao longo da mesa, na minha direção e abriu a mão, anotando algo no pergaminho com a outra.

- O quê? – perguntei.

- O dever – ele respondeu rabugento. Dever?

- Que... Que dever? – perguntei, trêmula e preparando os ouvidos para uma bronca.

- O dever sobre a Poção do Esquecimento, Mel – ele disse, desta vez levantando os olhos como se quisesse me trucidar.

- Eu... eu...

- "Esqueci, Sirius" – ele completou a frase, afinando a voz como um morcego, numa imitação muito fracassada da minha voz.

Eu corei e não respondi malcriadamente porque tinha medo da bronca ainda maior.

- Estava atolada de deveres, Sirius... Entenda, são rolos de pergaminhos por noite e Dumbledore ainda me mandou treinar o desaparecimento de gatos e passarinhos! Ainda tenho que ensinar uma coruja a cantar... Sem falar do...

Minha lista não acabaria até a noite, de deveres reais e de inventados. Eu fazia tudo para livrar-me das broncas e dos gritos de Sirius. Parecia que ele tinha prazer em me ver encolhida na cadeira como um ratinho.

Minha próxima aula depois de Poções com Sirius, seria Feitiços com Dumbledore.

- Boa tarde, professor – eu entrava tímida na sala em que tínhamos aulas de Feitiços.

- Boa tarde, treinou como enfeitiçar uma coruja para que cante? – ele perguntou, olhando para mim de sua mesa. Naquele dia, excepcionalmente, tinha levado consigo Fawkes, a fênix que tinha em sua sala. Ela estava empoleirada ao lado do diretor, observando cada passo que eu dava, sua expressão de majestade me dava náuseas... Pássaro idiota.

- Treinei sim – eu disse, realmente tinha treinado!

Não sei porquê ele me mandou enfeitiçar uma coruja para que cante, mas eu fiz. Ele estava ficando meio gagá...

- Muito bem, mostre – ele mandou. Fez um aceno com a varinha e, de repente, havia uma bela coruja marrom ao seu lado.

Peguei a varinha na mochila, andei ansiosa até a coruja e disse o feitiço, fazendo um leve movimento na varinha.

Então a coruja começou a cantarolar, numa voz bem desafinada: "God save the Queen, god save the Queen!"

- Senhorita Mel, mandou a coruja cantarolar o hino da Inglaterra? – ele perguntou, finalizando o feitiço. A coruja me olhou formigante de raiva.

- Sim? – eu tentei.

- Não mandei que fosse o hino de Hogwarts? – ele perguntou, deixando um sorriso escapar.

- Sim, mas... hum, era muito grande... e eu não decorei...

- Mas lhe dei um pergaminho com a letra.

- Mas eu... hum, eu... hum, eu perdi... – disse, apertando os olhos e esperando a primeira bronca de Dumbledore desde que chegara em Hogwarts. Mas ele não disse nada.

- Muito bem, mas dou-lhe um A mesmo assim, vi que conseguiu alcançar o objetivo – ele disse, sorrindo.

- Professor? – perguntei, enquanto ele preparava uns papéis no final da aula para me dar.

- Sim?

- Não poderei ter aulas com os outros alunos?

- Receio que não, senhorita Mel.

Não questionei mais nada, nem prolonguei assunto nenhum.

No dia seguinte, acordei esperando ver um tumulto, falação, mas, ao invés disso, Hogwarts estava calma, como sempre.

Arrumei meu material, troquei de roupa e fui para a aula de Remus, sempre as primeiras do dia.

- Olá, meu querido professor! – eu disse, entrando alegre pela sala. Ele, que estava olhando pela janela da sala, virou-se – com as mãos nos bolsos da calça - e olhou para mim, levantando uma sobrancelha.

- Bom-dia, Mel, que bom humor, hein?

- Ah sim, sim! Hoje os alunos vêm pra cá, não é?! Vai ficar menos monótono! – respondi, sentando-me.

Remus andou até sua mesa e mexeu em alguns pergaminhos. Então começou a aula...

Ao final, depois de uma hora de falação, ele me disse que eu não teria mais aulas no dia, pois Dumbledore, Sirius e ele teriam que fazer algumas coisas para a volta dos alunos.

Perguntei o que poderia fazer para ajudar. Ele me respondeu: "Não muito, é melhor ficar no seu quarto ou faça o que quiser, vá para os jardins... Mas evite ficar no castelo" Perguntei por quê. Respondeu-me que gente demais no castelo atrapalharia o serviço dos elfos domésticos, além de os professores estarem voltando nesse dia das férias.

Eu disse que estava bem, que iria ficar nos jardins. Odiava mesmo receber ordens, e quando se ajuda, recebe-se ordens...

O dia estava nublado, nuvens prateadas no céu leve da manhã. O lago estava calmo, refletindo o céu. Nenhum sinal da Lula Gigante. Alguns pássaros cantarolavam perto da cabana do guarda-caças, Hagrid, que aparentemente estava com problemas com alguma coisa. Eu podia ouvir seus urros de perto do lago.

Faltavam algumas semanas para o final da primavera e as folhas das árvores, como as flores, começavam a perder seu brilho.

Os pássaros voavam de um lado para o outro, pegando folhinhas para fazer seus ninhos em outros lugares, pois logo as árvores estariam nuas.

Apesar de estar nublado, fazia um dia bonito. Nunca fui muito atraída pelo sol. Enquanto a maioria das outras garotas sempre quis ser bronzeada, eu gostava do meu tom pálido.

Sentei-me na beira do lago e respirei o ar puro que corria pelo vento, fazendo suaves ondinhas pelo lado.

Do lado oposto ao que eu estava, a Floresta Proibida olhava para mim. Parecia que me pedia para ir até lá. As folhas das árvores sacolejado, suaves e poderosas. Alguma coisa esperava por mim naquelas brumas, naquela escuridão. Sentia que, de alguma forma, aquele lugar poderia me dizer quem eu era.

Levantei-me e comecei a dar a volta no lago.

Passei a casa do guarda-caças e estava quase pisando nos terrenos sombrios da Floresta Proibida. O coração acelerado, não de medo, mas de excitação.

- Mel!

Uma voz forte, rouca e grave me chamou. Virei-me rapidamente. Hagrid estava a alguns metros de mim, à porta de sua cabana.

- Saia daí, menina! Não é lugar pra você!

A excitação deu lugar à raiva. Fiz de meus olhos fendas e comecei a andar em sua direção. Só podia ser ele... O guarda-caças-bruta-montes-burro para me atrapalhar a entrar na Floresta.

- Senhorita Mel, Hagrid – disse, entre dentes, e continuei a andar na direção do lago.

Na metade do caminho, uma outra voz chamou meu nome. Desta vez, uma voz grave, suave e muito conhecida. Remus estava na escadaria do castelo acenando para mim. Fazendo gestos para que eu fosse até ele.

Eu corri, pois ele parecia ansioso.

- Minerva McGonnagal quer te conhecer, ela é nossa professora de Transfiguração.

Sorri e entrei com ele.

Fomos até o salão principal, onde uma mulher com os cabelos pretos - começando a ficar brancos -, óculos, e um coque no alto da cabeça, conversava animadamente com Dumbledore.

Quando este me viu, sorriu e apoiou a mão num dos ombros de Minerva Mgonnagal, fazendo-a virar-se.

- Esta é a Mel.

- Oh, certamente, muito prazer – ela disse, sorrindo e estendendo a mão cordialmente.

- A professora McGonnagal esteve muito curiosa para conhecer você – Dumbledore disse.

- Sim, sim. Fiquei curiosa ao saber que nunca tivemos registros sobre você, menina. Não pude vir antes pois estava num trabalho importante ao sul.

Eu não disse nada, apenas sorri. Parecia uma boa mulher, apesar de sua maneira afetada de falar.

Pelo menos, tinha a impressão de que preferiria ter aulas de Transfiguração com ela do que com Dumbledore, seus olhos me incomodavam. Mas isso não seria possível, já que não poderia ter mesmo aulas com os outros alunos.