À tarde, quando voltei ao castelo, já havia um grande tumulto. Vários elfos domésticos, aquelas coisinhas miúdas e horrorosas, vários bruxos lançando feitiços em alguns objetos e Minerva McGonnagal encantando o teto do salão principal.
Passei direto para o meu quarto, no quarto andar, para tomar banho.
Não sabia se poderia descer para o jantar com os alunos. Além do mais, onde ficaria?
Tomei meu banho e me vesti. Então saí catando alguém que pudesse dizer o que eu faria naquela noite: se ficaria no meu quarto, se iria comer com os elfos na cozinha (apesar de isso ser redundante e totalmente humilhante) ou se iria para o salão principal.
Sorte a minha que quando estava no primeiro andar, trombei com Sirius bastante apressado.
- Sirius, eu vou pro salão ou fico no quarto?! – perguntei, segurando-o pelo braço.
- Vai para o salão!!! – ele urrou em resposta.
- Tá bom, tá bom. Seu grosso! – disse, empinando o nariz e batendo com os cabelos em seu rosto.
Ele resmungou alguma coisa que eu não entendi e só ouvi seus passos rápidos correndo.
Desci até o salão principal que estava realmente lindo. Cheio de velas, e o teto todo estrelado, como se fosse realmente o céu. Mas uma coisa estranha. Ninguém no salão. Eu podia ouvir os meus passos no chão.
Andei até a mesa dos professores e sentei-me numa cadeira para esperar. Era muito bom ver o salão todo da mesa dos professores, ficava num plano mais alto e eu estava bem no meio.
Fiquei brincando com a toalha de mesa, que tinha pequenos furinhos do formato de pequenas flores, e cantando "God save the Queen, god save the Queen...".
Então ouvi alguma coisa rastejando. Eu não podia distinguir de onde vinha este som. Mas era o mesmo que acompanhava a voz, a voz que falava sobre um tal de "mestre" que havia voltado.
Levantei-me, apoiando as mãos nos braços da cadeira, e olhando em volta. Ninguém no salão. O som rastejante continuava, mas sem voz alguma. Como se me testasse e me calculasse minuto após minuto, numa tortura mental. O som vinha de todos os lados e era lento porém intenso.
Então ouvi passos. No mesmo instante o som rastejante acelerou como se corresse. Olhei para todos os lados. Meu coração estava acelerado e começava a ficar tonta.
- Mel – disse uma voz atrás de mim. Uma voz bondosa e calma.
Soltei um grito e virei-me rapidamente. Era Dumbledore.
- Ah, é você. Que susto! – eu disse.
Ele olhou para os lados e depois de volta para mim.
- Lembra da voz que eu escutei há um tempo atrás? Ela vinha acompanhada de um som rastejante. Eu o ouvi agora, mas não disse nada.
Ele ficou me olhando por cima dos óculos, daquela maneira que eu tanto odiava. Parecia refletir nos meus olhos. Depois de alguns segundos ele disse para sentar-me no lugar ao lado de Sirius numa mesa retangular ao lado da dos professores.
Dumbledore apontou para o meu lugar, já que Sirius ainda não estava lá.
Andei em passos barulhentos até lá. Sentei-me e cruzei os braços, furiosa. Seria possível que aquele velho não acreditasse em mim?!
Depois de alguns segundos que estava sentada, os professores começaram a entrar. Em seguida, veio Remus e sentou-se um lugar depois de mim. Sem falar nada, ele continuou olhando para frente e brincando com os dedos.
Como meu humor estava péssimo, também não disse nada.
- Parece que hoje o jantar será divino! – exclamou Sirius, sentando-se entre nós.
Ele olhou para Remus, que continuava mexendo nos dedos, e depois para mim, que ainda estava de braços cruzados e enfezada. Então se calou.
Passada uma meia hora, que eu estava enfezada, e Sirius e Remus não falavam nada, comecei a ouvir uma falação.
De repente a porta se abriu e veio uma multidão de alunos uniformizados pelo salão. Cada grupinho ia para uma das quatro grandes mesas. Fiquei encantada com a quantidade de alunos, de bruxos como eu, que havia lá.
Até agora eu só havia visto poucos bruxos.
Descruzei os braços e fiquei admirando as crianças e adolescentes que via.
Depois que estavam todos sentados, mas ainda falando muito, a porta se abriu novamente. Desta vez, Minerva McGonnagal vinha à frente dos alunos.
Eram crianças, crianças bem novinhas. Deviam ter uns onze ou doze anos, não sabia dizer.
Ela disse para eles sentarem num banquinho que o chapéu iria seleciona-lo para a casa.
Sempre achei que aquele chapéu era ridículo, mas Dumbledore disse que ele nunca errava.
Depois que todas as crianças foram selecionadas, Dumbledore fez um discurso falando sobre os perigos ou sobre aonde não deveriam ir.
Então apareceram pratos na nossa frente com comidas deliciosas.
Depois que todos os pratos estavam limpos e não havia mais nenhuma comida ou bebida nas mesas, os alunos foram dispensados para seus dormitórios.
Ninguém prestou atenção em mim, ainda bem. Só umas garotas que passaram, colocaram o maior olhão em Sirius.
Após o salão estar vazio, depois de algum tempo, Remus dirigiu-se a mim pela primeira vez naquela noite.
- Não se atrase para a aula. – ele disse.
- Certo. – respondi. – Boa noite.
Remus e Sirius retribuíram e eu me virei para ir para o meu quarto.
Passei pelo quadro d'A Mulher Gorda e pensei ter ouvido vozes vindo de trás dela. Balancei a cabeça e disse que estava maluca. As vozes eram várias e muito diferentes da voz fria que havia ouvido há certo tempo.
Continuei o caminho até meu quarto e dormi tranqüilamente.
No dia seguinte, levantei cedo. Estava ansiosa para ver gente, movimentação e ter uma idéia se as aulas deles eram melhores do que as minhas.
Fui para o salão tomar café e vi alguns alunos sentados comendo tranqüilamente.
Algumas cabeças viraram-se para me olhar, mas rapidamente voltaram-se para a comida ou para a correspondência, que as corujas já haviam trazido.
Sentei-me na mesma mesa, no mesmo lugar, do jantar na noite anterior.
Comi devagar e distraída, vendo alunos entrando e saindo. Então, como que automático, olhei para o relógio. Estava muito atrasada!!! Remus iria me matar!
Saí correndo, quase deixando tudo o que estava na mochila cair.
Cheguei ofegante e com meu estômago revirado.
- Desculpa, desculpa! Estava distraída tomando café da manhã – disse, entrando correndo e sentando-me.
- Mel, eu já te disse para não chegar atrasada! Cabeça de vento – ele disse, sentando-se em sua mesa.
Quando saí da aula de Remus, uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas – e na minha opinião a melhor aula que ele dava -, fui para a sala de Sirius.
No caminho, vi uns alunos com gravata verde, deveriam ser da Sonserina. Era a casa que mais me chamava a atenção. Não sei porquê, mas se tivesse que escolher uma casa, seria a Sonserina.
Era muito bom ver a escola cheia. Passava pelos corredores do primeiro andar, aonde dava para ver o pátio das aulas de vôo do primeiro ano. Era demais! E os alunos sentados espalhados pela escola, lendo algumas coisas ou rindo. E eu teria que ir para a aula de Sirius, coisinha mais chata!
Quando cheguei lá, ele estava parado à porta conversando e sorrindo com uma menina Corvinal. Ela aparentava ter uns dezesseis anos. Cabelos longos negros na cintura, olhos da mesma cor, corpo escultural e um sorriso lindo. Ela segurava alguns livros e mostrava a boca cheia de dentes num largo sorriso.
- Hem, hem – eu tossi forçada.
Sirius desencostou da porta, desfez o sorriso e levantou uma sobrancelha para mim. A garota me olhou como se eu fosse um verme.
- Bem, eu vou indo, tchau Sirius – ela disse, mandando um beijinho no ar.
Eu olhei para o outro lado, quase vomitando daquela cena.
- A gente se vê hoje à noite – ele disse, segurando-a pelo ombro e dando uma piscadela. A garota deu um sorriso e foi andando.
Eu arregalei os olhos.
- Não sabia que podia fazer essas coisas em Hogwarts – eu disse, entrando na sala.
- Oras, cale a boca! Você é muito intrometida – ele disse, sentando-se.
Depois de duas horas MUITO estressantes com Sirius, fui para a aula de Dumbledore. Aula de Transfiguração.
Bati na porta e ninguém abriu. Depois de alguns segundos, tornei a bater. Novamente não obtive resposta.
- Senhorita Mel – virei-me. Era Minerva McGonnagal que vinha apressada. – O professor Dumbledore não pode dar sua aula de Transfiguração porque está numa reunião importante com o Ministro da Magia. Pediu que eu lhe desse essa aula hoje, já que estou em tempo vago.
Não consegui dizer nada, a mulher já foi me puxando pelo braço até sua sala.
Realmente, como havia pensado, a aula dela era bem mais interessante do que a daquele velho.
Após essa aula interessante, fui almoçar. Depois voltaria para uma aula de duas horas com Remus. Só que as aulas com ele, pareciam não demorar nada.
O almoço monótono foi muito diferente do jantar. Dumbledore anunciou que o Lord das Trevas, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, estava mais forte e haviam ocorrido vários ataques em cidades bruxas ao sul da Inglaterra. E trouxas estava aparecendo mortos sem nenhum sinal de tiros, facadas ou asfixia. Mortes inexplicáveis para a sociedade não mágica.
Devia ser bom ser tão forte e controlar vários bruxos poderosos. Mas achava cruel matar tantas pessoas assim, pessoas inocentes.
Os alunos ficaram assustados e ainda cochichavam pelos cantos nas semanas seguintes. Por vezes ouvi boatos sem pé nem cabeça.
Sirius e Remus estavam mais nervosos do que o habitual e o olhar de Dumbledore pesava mais do que nunca.
