Os meses se passaram pesados, assustados e sombrios. Os alunos choramingavam pelos cantos. Vários pais morreram em ataques de Comensais da Morte. A expressão dos professores estava pesada, afetada e alerta.
Dumbledore já não tinha tempo para me dar aulas. Então outros professores o substituíram.
Algumas semanas antes do Natal, vários alunos receberam cartas dos pais dizendo para que ficassem em Hogwarts, porque lá estariam seguros sob as vistas e proteção de Dumbledore. Mas eram poucos que aceitavam aquilo bem. A maioria queria voltar para casa e ficar com a família em tempos difíceis como aqueles.
Só que nem Hogwarts estava totalmente segura. Em conversas entre Dumbledore, Sirius e Remus que ouvi por trás das portas, Hogwarts também estava ameaçada. Mas mesmo assim, era o lugar mais seguro depois do Ministério da Magia.
As proteções à escola foram redobradas. As visitas a Hogsmeade para os alunos a partir do 3º ano foram canceladas havia muito tempo.
Eu podia ver da janela do meu quarto que Hagrid, o guarda-caças, vivia abrindo e fechando a porta com um tipo de arco e flecha, com uma expressão assustada.
Acho que para acalmar os nervos, Dumbledore anunciou um baile. Um Baile de Inverno.
Bem, eu não iria. Não tinha vestido. Não tinha com quem ir.
Parecia que o plano para melhorar os ânimos dos alunos havia dado certo. As meninas estavam eufóricas e voltavam a sorrir. Toda vez que passava por algum corredor, havia um grupinho de meninas dando risinhos fúteis enquanto um grupo de rapazes se aproximava tímido.
Eram poucos os comentários sobre o que estava acontecendo fora de Hogwarts. Todas as atenções estavam no Baile, nos vestidos e nos casais.
Cinco dias antes do Baile. Acordei, fui tomar café e segui para a minha primeira e habitual aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, que estavam ainda mais intensas.
- Olá? – eu disse, entrando cautelosamente na sala.
Estava um pouco escura mesmo com as janelas abertas. O dia estava bem nublado com nuvens carregadas. E só havia duas velas acesas.
- Bom-dia, sente – Remus disse. Ele estava de costas para mim, olhando pela janela.
Sentei-me e ele se virou.
Parecia um pouco nervoso, ansioso e afetado.
Abri meu livro e esperei.
Ele sentou e começou a explicar tudo o que estava escrito. Era para eu ter lido como dever, mas eu não li, estava com sono e com preguiça.
No meio da explicação, ele parou de falar. Juntou as mãos e ficou olhando para os dedos.
- Mel, vai ao Baile comigo? – ele perguntou de repente, quando eu ia perguntar se havia alguma coisa errada.
Arregalei os olhos.
- Se você não estiver indo com ninguém, claro – ele continuou, levantando os olhos e me encarando. Poderia dizer que ele estava um pouco corado.
Não sabia o que dizer. Ele estava me convidando para o Baile! Ele!
- Eu, eu... – eu gaguejava. – eu iria, mas eu não tenho o que vestir.
Eu deveria estar corada, pois sentia minhas bochechas arderem. O que nunca havia acontecido.
Ele levantou e se dirigiu até um armário, que era onde guardava seus livros.
- Bem, se esse é o problema, eu pensei nisso – ele disse, tirando um pacote do armário.
Eu levantei e andei até ele. Remus estendeu o pacote bem feito e com um laço lindo para mim. Eu olhava abobalhada para aquilo. Peguei.
Olhei dele para o pacote.
- Abra – ele mandou. Realmente, ele estava corado.
Andei até sua mesa com o pacote nas mãos trêmulas. Coloquei o pacote em cima da mesa e comecei a desamarrar o laço. Meu coração estava aos pulos e eu podia ouvir a respiração dele forte atrás de mim.
Quando abri o pacote, vi um tecido dobrado. Peguei e deixei que se desdobrasse.
Era um vestido. Um vestido amarelo dourado de seda. Eu não sabia como era seda pura, mas aquele vestido era tão macio que eu podia ter certeza de que era seda pura.
Tinha um decote discreto na frente. As costas ficavam nuas, só tendo tecido no final da espinha e então a saia se estendia até o pé, arrastando um pouco no chão.
- Oh Deus... – eu disse, deslumbrada com aquilo. – Como você? Oh meu Deus... Remus, é lindo. Mas por que você fez isso? Poderia ter convidado qualquer uma, não teria que gastar esse dinheirão comigo...
O vestido deveria ter sido muito caro. Deveria ter custado mais dinheiro do que eu nunca tinha imaginado.
Ele fez sinal para eu parar de falar.
- Eu não quero ir com qualquer uma, por isso estou te convidando – ele disse.
Meu coração ia sair pela boca. Pelo o que ele disse e pela distancia que ele estava. Bem atrás de mim, ele disse aquela frase quase ao meu ouvido.
Virei-me e nossos rostos estavam muito perto. Tão perto que eu sentia o ar da respiração dele.
- Você vai? – ele perguntou. Sentia que ele estava tão nervoso quanto eu.
Eu olhava para os movimentos de sua boca enquanto falava. Eu o desejava.
- Vou – eu disse, ainda olhando para sua boca.
Eu podia sentir a respiração rápida dele, igual a minha.
Remus colocou uma mão em minha cintura, logo a passando para minhas costas.
Eu levantei um pouco o rosto, agora olhos nos olhos. Ele inclinou a cabeça e foi aproximando ainda mais o rosto do meu.
- Remus!! Dumbledore quer você na sala dele! – uma voz vinha gritando pelo corredor.
Ele me soltou rapidamente, afastando-se e passando a mão no rosto. Eu virei de costas, ofegante, enquanto Sirius entrava na sala.
- Vam'bora, cara! Tá esperando o quê?! – ele exclamou, sem prestar atenção em mim.
Remus saiu da sala sem olhar para trás.
Fiquei olhando para o vestido e lembrando-me dos lábios dele, mas fazia força para me acalmar.
Peguei o vestido e embrulhei novamente. Catei o restante das minhas coisas e fui para o meu quarto. Não teria mais aulas nesse dia.
Queria saber o que Dumbledore queria falar com Remus de tão importante. Mas estava atordoada demais para pensar nisso.
