O Baile de Inverno era no dia seguinte.
Eu estava desesperada. Tinha o vestido mas não tinha sapatos. Só tinha tênis. Se não arranjasse sandálias até o dia seguinte, teria de ir de tênis. Só teria que tomar cuidado para não levantar a saia. Se não levantasse, não apareceriam meus pés, já que o vestido era longo o suficiente e arrastava no chão.
Todas as garotas estavam eufóricas, cochichavam e olhavam na direção dos rapazes. Alguns casais já andavam juntos e viviam de namoricos pelos corredores.
A corvinal do sétimo ano que Sirius estava paquerando outro dia, choramingava toda vez que o via passar. Ele nem a olhava. Estava de namorico com uma outra da Grifinória, do sexto ano.
Remus continuava do mesmo jeito, como se nunca houvesse me convidado para o Baile e muito menos me dado aquele vestido. Eu esperava que ele não tivesse se esquecido.
No dia do Baile eu ainda não tinha sandálias. Iria de tênis.
Consegui um estojo de maquiagem com uma menina do sétimo ano da Lufa-Lufa, ela também me emprestou um prendedor de cabelos amarelo lindo.
Comecei a me arrumar às seis horas da tarde, duas horas antes do Baile começar.
Fiz uma maquiagem leve, com sombra amarela clara e brilho nos lábios.
Prendi meu cabelo num meio rabo, na parte que ficou presa, fiz um coque. Dei uma leve ondulação nas partes soltas. Se não quisesse esconder a flor que carregava no pescoço, teria feito um coque inteiro.
Coloquei o vestido. Ficou perfeito. Parecia que Remus tinha pego todas as minhas medidas e mandado fazer.
Passei perfume, que uma outra menina me emprestou.
Tirei o amuleto que a Pâmela havia me dado no orfanato e guardei na gaveta.
Depois calcei meus tênis. Realmente, não apareciam, só se levantasse um pouco o vestido.
Duas horas depois, eu estava sentada de frente para o espelho. Estava toda pronta. Mas estava bem nervosa, meu coração palpitava forte e parecia que me faltava ar às vezes.
Tomei coragem e saí do quarto. Andei pelos corredores vazios. Às vezes alguém passava por mim e sumia.
Quando ia virar para encontrar a entrada do salão, meu coração bateu ainda mais forte.
Mordi o lábio inferior e fui. Meu tênis chiando ao fazer impacto no chão.
Virei o corredor e vi Remus parado, mexendo nos dedos distraído e nervoso. Ele usava vestes trouxas. Um smoking preto com uma blusa branca por baixo, sem gravata. Uma calça preta e sapatos sociais. Perfeito.
- Hem, hem – eu tossi.
Ele levantou os olhos e ficou me olhando perplexo.
- Uau... – ele disse, andando até mim.
Eu sorri, minhas bochechas queimaram.
Ele parou de frente para mim, olhando em meus olhos. Depois deu seu braço para eu entrelaçar o meu.
Entramos no salão. Havia bastante gente, mas não todos. As mesas das casas haviam sido retiradas, e no lugar da mesa dos professores havia um palco. Nas laterais do salão havia pequenas mesas redondas, onde os casais estavam sentados.
Havia uma música baixinha tocando e a luz estava média. Dumbledore estava sentado numa mesinha e olhava sorridente para os alunos à volta. Parecia que estava acompanhado por Minerva McGonnagal.
Sirius tinha uma menina agarrada ao seu braço, que não soltava nem que puxassem.
- Aonde você quer sentar? – Remus perguntou, olhando em volta.
- Ali – eu apontei para uma mesinha solitária do lado esquerdo do salão.
Sentei e fiquei olhando a movimentação. O silêncio estava me incomodando. Quando me virei para puxar algum assunto, percebi que ele me olhava. Que não tinha tirado os olhos de mim.
- O que foi? – perguntei.
- Nada – ele disse, virando o rosto para o meio do salão, onde alguns casais já dançavam. - Dança comigo?
- Claro.
Ele me conduziu até o meio do salão. A música era lenta e romântica. A luz estava bem baixa.
Paramos e ficamos de frente um para o outro. Novamente, podia sentir que ele estava nervoso.
Passou as mãos pela minha cintura e eu, desajeitadamente, levei as minhas até seu pescoço.
Ficamos nos olhando ao balanço da música até esta acabar.
Seus olhos castanhos eram tão penetrantes, misteriosos e gentis que eu poderia ficar olhando para eles durante a eternidade. Sem perceber, eu fazia carinho na nuca dele, sorrindo levemente.
Parecia que eu estava flutuando e não existia mais ninguém lá. Só nós e a música.
Quando a música acabou, veio logo uma agitada. Nós saímos do meio do salão e voltamos para a mesa.
Eu não estava mais nervosa, nem meu coração batia forte. Estava calma e completamente apaixonada. Achava que ele também não estava mais nervoso.
- Eu vou pegar uma bebida, você quer? – ele perguntou, levantando-se.
Eu disse que sim e ele foi se afastando até o outro lado.
Dançamos até acabar o Baile. Parecia que eu tinha a vida perfeita enquanto dançava com ele.
A uma da manhã, a música parou. Os casais, pouco a pouco, foram se retirando.
Remus me acompanhou até meu quarto.
Fomos rindo das trapalhadas do Baile pelo caminho, depois de algumas cervejas amanteigadas.
Chegamos à porta do meu quarto e eu me virei para ficar de frente para ele, encostada à porta.
Sorrimos.
- Obrigada pela noite – eu disse.
Ele pegou minha mão e chegou mais perto, sussurrando em meu ouvido.
- Você a fez mágica.
Deu-me um beijo na bochecha. Eu fechei os olhos para poder sentir os lábios dele tocando meu rosto. Mas ao invés de ele se distanciar de mim depois, ele continuou com os lábios em minhas bochechas e foi descendo até chegar a minha boca. Então meu coração começou a bater forte. Entreabri os lábios e deixei que ele continuasse a me beijar. Não queria abrir os olhos para não ter certeza se era um sonho ou não. Senti suas mãos segurarem meu rosto, enquanto seus lábios macios faziam uma leve sucção nos meus e nossas línguas se tocavam suave e ao mesmo tempo desejosamente. Minhas pernas bambearam e eu passei minhas mãos pelas suas costas. Então ele foi diminuindo a intensidade até que separou nossos lábios. Eu abri os olhos e ele estava na minha frente, provando para mim que não era um sonho.
- Eu não sei quem você é, mas eu te amo, Mel – ele disse, com uma das mãos em meu rosto e outra na minha cintura.
Ele havia dito que me amava. Ele realmente me amava.
- Eu te amo – eu disse, dando um leve e rápido beijo em seus lábios.
Ele sorriu.
- Boa noite, Cinderela – ele disse, afastando-se.
- Boa noite – respondi, entrando no quarto.
