Dois meses depois do Baile de Inverno.
Eu e Remus estávamos namorando. Nos dávamos muito bem juntos e ele era muito amável. Quer dizer, qualquer outra garota diria que ele era seco, mas eu não. Nunca gostei de muita agarração e melação. Às vezes ele me surpreendia com uma flor na minha mesa nas aulas. Outras vezes havia um poema na minha prova.
Ele era muito distraído, por isso, qualquer outra diria que era um péssimo namorado. Mas eu não, a distração dele me fazia rir.
- Mel, eu vou me ausentar durante dois ou três dias mais ou menos. Um parente meu não está nada bem. – Remus disse, no final de uma aula.
- Pode me falar a verdade – eu disse, levantando-me e ficando em frente a ele, a poucos centímetros.
- Verdade? – ele perguntou, abraçando-me pela cintura.
- Eu não sou boba, nem burra. Você some todos os meses durante dois dias, às vezes mais! Não é possível que os seus parentes estejam sempre doentes. – repliquei.
Ele sorriu. Apesar de seu rosto estar calmo, sabia que estava nervoso, pois estava com as mãos em seu peito. Podia sentir seu coração acelerar.
- Deixa de paranóia, Mel. Por que eu mentiria pra você? – ele disse, soltando-me e indo até sua mesa, arrumando pergaminhos.
Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha. Descobriria o que ele insistia tanto em esconder de mim.
Peguei meus livros, dei as costas e saí da sala.
Passei o dia revirando aquela frase "vou me ausentar durante dois ou três dias mais ou menos". Não consegui prestar atenção a mais nada. Tinha que esclarecer aquilo.
Depois da aula de McGonnagal, a última do dia, resolvi que iria a sala de Remus e o obrigaria a me contar.
Nem ao menos fui ao meu quarto deixar minhas coisas, saí voando para a sala dele.
- Remus, eu tenho direi... – comecei, entrando esbaforrida na sala.
Não tinha ninguém. Estava vazio. Nenhum som, nenhuma luz.
Andei devagar até sua mesa e, levada pela minha curiosidade e pela raiva que estava, abri a gaveta.
Na primeira não havia nada. Nem na segunda. Mas na terceira, depois de brigar com a maçaneta, vi um caderno. Um caderno preto e bastante folheado.
Abri sem nem pensar.
"Aula de DCAT para Mel e depois reunião com Dumbledore."
"Xadrez bruxo com Sirius às 10:30."
Nada de importante. Mas continuei. Virei a página.
"Tantas coisas a dizer a ela, mas como fazê-la entender? A verdade sobre mim é impossível, ela fugiria..."
Gelei. A "ela" em questão só poderia ser eu. Então ele realmente me escondia alguma coisa.
Agora que eu estava ainda mais curiosa e mais determinada a descobrir o que era.
Procurei-o por todo o castelo. Não achei.
Voltei ao meu quarto e tomei um banho.
- Não é possível... Será que eu nunca vou descobrir? Quando ele voltar, terá que me dar uma explicação bem grande. – falei comigo mesma.
Sentei na cama abraçada aos joelhos e fiquei olhando para o borrão de luz que havia no gramado em frente ao Salgueiro Lutador, o reflexo da lua cheia.
Pensava em que segredo Remus escondia de mim quando vi três vultos passando correndo e desajeitadamente indo na direção do Salgueiro. Um deles se contorcia horrivelmente. De repente um dos vultos se transformou num cachorro.
Apertei os olhos para conferir se não estava vendo coisas e realmente não era imaginação.
Coloquei um robe e desci esbaforrida pelas escadas.
Cheguei em frente ao Salgueiro e não havia mais ninguém. Circulei pela árvore cautelosamente, a varinha em punho.
Então ouvi um movimento de folhas de árvore e um vulto passando por dentro dos grossos galhos.
Segui aquilo como num impulso. Remus já havia deixado meus pensamentos.
Enfiei-me dentro dos galhos, seguindo o vulto. Uma pessoa que eu não podia ver o rosto.
Ele parou e olhou em volta. Eu parei também, escondendo-me. Então ele apertou um nó de, digamos que fossem cipós.
E entrou por uma passagem.
Depois que a passagem fechou, eu fui até o nó e apertei também. A passagem se abriu. Eu entrei, o coração aos pulos. Não sabia mais o que estava fazendo, só seguia o impulso de saber o que era aquilo.
Escorreguei por um lugar cheio de teias de aranhas e caí no chão.
Estava escuro, mas havia uma janela, e por essa janela entrava a luz da lua. Vi um cão preto, um gato e um homem se contorcendo. Cresciam pêlos em seu corpo, suas vestes se arrebentavam. O cão e o gato investiam contra o homem bruscamente.
A varinha caiu no chão e uma lágrima involuntária rolou dos meus olhos. Era Remus.
O cão, ao me ver, começou a latir e veio rosnando em minha direção.
Não conseguia mais ficar ali.
Peguei a varinha e saí correndo, aos tropeços.
Não sei como consegui sair daquele buraco onde me meti, mas saí.
Corria o mais rápido que as minhas pernas trêmulas conseguiam e sentia meu rosto encharcado de lágrimas.
Consegui sair da floresta de galhos do Salgueiro Lutador e continuei correndo pelo gramado, até parar numa parede lateral do castelo. Encostei lá e fiquei olhando para a árvore, chorando e chorando.
Ouvi uivos e gritos, latidos e miados.
Remus era um lobisomem. Como conseguiu manter tal segredo escondido durante tanto tempo de mim?
Não consegui sair do lugar em que estava. Os pensamentos, o susto e a visão de Remus transformando-se fizeram um nó na minha cabeça.
Acordei no dia seguinte com Sirius me cutucando. Ele tinha a expressão cansada e seu corpo parecia dolorido.
Eu havia dormido naquele lugar, deitada no gramado.
- Sirius! Remus, ele... – eu acordei aflita, apontando na direção do Salgueiro.
- Eu sei, eu sei, eu sei! – ele disse, querendo que eu me calasse. – Levanta daí.
Como ele podia ser tão frio?
Levantei-me e o segui calada até dentro do castelo. Tinha certeza que me levaria até Dumbledore e este me explicaria tudo. Assim foi.
- Soube do que viu ontem à noite, Mel – ele começou, incriminando-me por cima dos óculos. – Não devia ter visto. Mas não adianta mais tentar esconder, não é? Remus é um lobisomem.
"Isso eu já sei, idiota!" pensei.
- Tinha um... um cachorro e um gato lá – eu disse.
- Sirius e McGonnagal. – ele disse, calmamente.
Olhei para Sirius. Lembrei-me da visão que tive há bastante tempo. Um cachorro preto em Azkaban.
- Animagos... – refleti. – Por que Remus precisava deles lá? Estavam machucando ele!
- Remus se machucaria muito mais sem nós. – Sirius disse.
- Não perguntei a você. – retruquei.
- Ele está certo, Mel – Dumbledore disse. Sirius deu um sorriso cínico.
