- Vamos lhe dar a escolha: ficar aqui conosco ou passar para o lado de seu... – disse Dumbledore. – pai.

A resposta mais óbvia e imediata que eu poderia dar era que ficaria com eles, estando disposta a prestar magia para derrotar Voldemort. E essa era a resposta que eles estavam prontos para ouvir, eu sei. Mas estranhamente alguma coisa disse que não. Afinal, mesmo ele sendo cruel, eu era filha dele e sempre nos meus sonhos; o mesmo sonho que tenho desde criança, que nunca chega ao final, eu o vejo como alguém gentil e amável, alguém que me amou de verdade e incondicionalmente. Então eu tive dúvidas. Eram tantas dúvidas. Como um homem tão cruel, tão sedento por poder poderia ter algum sentimento tão nobre pela filha? E como ele iria me receber?

Tudo aquilo me fez sentir um turbilhão de emoções, pensamentos e sensações que eu nunca havia sentido. Afinal, eu tinha uma família, um tanto conturbada, é verdade, mas uma família. Eu deixei de ser órfã e, de alguma forma, eu não queria abandonar a esperança que sempre carreguei comigo de conhecer, de chegar perto ou de redescobrir o meu pai. Apesar de ele ser quem é, eu o amo.

- Mel? – Remus chamou, pedindo por uma resposta.

- Eu preciso pensar – respondi, levantando-me e saindo devagar da sala de Dumbledore.

- Pensar? Você precisa pensar? – Remus perguntou, irônico e descrente.

- Deixe-a, Lupin – Dumbledore disse. Eu abri a porta.

Saí de lá e deixei dois homens confusos.

Eu fui para a mais alta das torres, era um lugar que eu gostava muito, dava vistas para os jardins. Fiquei lá sentada, abraçada às pernas e esperando que uma luz viesse à minha mente.

Deixar Remus, ir viver com meu pai e não ser mais órfã? Ou ficar com Remus e ajudar a matar o meu pai?

Eu amo Remus, mas eu também amo meu pai e não ajudaria ninguém a matá-lo ou a fazer mal a ele.

Escolhi por sacrificar uma vida ao lado de Remus, uma vida feliz, com filhos talvez, mas com o peso e a eterna tristeza por ter feito parte da morte do meu pai. Eu estava decidida: deixaria Hogwarts e iria atrás da minha família.

Mas como seria recebida?

- Mel... – alguém me chamava. Virei e o vi, enchi-me de remorsos, mas já tinha uma decisão.

- Remus.

- Qual foi sua decisão? – ele me perguntou, não parecia preocupado, estava sorrindo.

- Eu vou embora, Remus – eu disse, levantando-me.

- O quê?

- Eu pensei muito e o meu lugar é ao lado da minha família – peguei a mão dele, esperando que entendesse.

- Nós somos a sua família Nós, Mel, nós... – ele disse, me abraçando forte.

- Remus... – eu ia dizer que precisava fazer isso, por mais que me doesse agora.

- Não, Mel, escuta, eu te amo, eu te amo muito – ele repetia mais e mais, sem deixar que eu terminasse de falar.

- Remus, – minhas lágrimas começavam a sair desesperadamente. – eu preciso fazer isso...

- Não, não precisa, diz que me ama, agora – ele implorou, segurando meu rosto.

- Eu te amo agora, e te amarei sempre – eu disse.

- Então não vá, não vá... – ele pedia.

- Eu já fiz a minha decisão. Entenda, não posso participar da morte do meu próprio pai!

Ele parou, olhando-me perplexo.

- E eu não quero participar da sua morte – ele disse. O desespero tomou conta de mim novamente e eu chorei incontrolavelmente.

No dia seguinte eu partiria. Dumbledore havia feito o plano mais perfeito para que eu encontrasse com meu... pai. Ainda era difícil dizer que ele era meu pai.

Dumbledore me dera o endereço de Lucius Malfoy. Ele tinha certeza de que era um comensal, mas sem provas, não havia como mandá-lo para Azkaban.

Mandou que fosse até sua mansão e jogasse com palavras, sedução e poder, querendo que me levasse ao seu mestre, alegando ser sua filha.

Achei estranho, afinal, nunca teria tanta nobreza a ponto de não querer usar a filha para chegar ao pai, como fizera Dumbledore.

Ele achava que a minha decisão iria me causar problemas e arrependimentos, mas entendia que era uma coisa que eu precisava fazer, mesmo que me custasse muito caro.

Remus não aceitava de jeito nenhum. Quando percebeu que não teria mais volta a minha decisão, ficou frio e seco. Trancou-se em seu quarto e eu não o vi.

Parei de chorar e fui arrumar minhas coisas. Pus uma capa preta e desci, onde uma carruagem sem cavalos me esperava.

- Boa sorte, Mel – Dumbledore disse.

- Remus nem vem se despedir? – perguntei.

- Ele está magoado.

- Nem dizemos adeus...

- Agora você tem que ir. Boa sorte – ele disse, ajudando-me a entrar na carruagem.

- Obrigada por tudo – eu disse, subindo.

Durante o caminho até os portões, olhei para uma das torres, aonde ficava o quarto de Remus. Eu o vi. Olhava fixamente para a carruagem. Não podia saber se ele estava chorando, ou o que estava sentindo, pois estava muito longe.

Aquele foi meu adeus.