A carruagem me deixou na esquina de uma rua bruxa luxuosa. Peguei o papel que Dumbledore havia me dado com o endereço de Lucius Malfoy e fiquei procurando o número 20.

Era a última casa da rua e ficava bastante afastada das outras. Era uma mansão. Um jardim na frente bastante cuidado e a casa em si era enorme e em pedras. No portão havia um grande M com uma cobra entrelaçada.

Toquei a campainha. Logo veio um elfo daqueles feiosos abrir o portão.

- Eu quero ver o senhor Malfoy – disse.

- A senhorita marcou horário com o senhor Malfoy? – perguntou o elfo, encolhido.

- Não. Mas eu vou vê-lo. – eu disse andando firmemente pelo caminho de pedras, na direção da porta.

- O senhor Malfoy está ocupado e não pode atender a senhorita, marque um horário! – o pequeno elfo me seguia, dando pulinhos em volta de mim.

- Ora, pare com isso! Abra a porta! – eu mandei, olhando para a criaturinha asquerosa que batia nos meus joelhos.

- Dobby não aceita ordens de estranhos para Dobby! – o elfo disse, seu longo nariz para cima e as pequenas mãos nos quadris.

- Que criaturazinha desaforada! Abra logo! – exclamei.

Mas enquanto eu brigava com o elfo, a porta se abriu e saiu de lá um homem loiro platinado, olhos azuis, forte.

- O que está acontecendo aqui?! – perguntou, olhando de mim para o elfo.

Tentando ignorar o ar sedutor que ele tinha e seguindo as instruções de Dumbledore de ser o mais superior possível, falei.

- Eu quero ver o senhor Malfoy. – o loiro me olhou de cima a baixo. – Agora.

- Eu sou o senhor Malfoy – ele disse, com desdém. – E quem é você?

Ele era rude. Muito rude. Mas como eu estava gostando de ser superior, disse, estufando o peito.

- Eu sou a senhorita Riddle.

Pensei que ele fosse... ajoelhar aos meus pés!! Mas não, o idiota simplesmente levantou uma sobrancelha e apoiou-se na porta.

- Eu não quero comprar biscoitos, suma daqui – ele disse.

Comprar biscoitos?! COMPRAR BISCOITOS?!

- É bom o senhor me ouvir, senão meu pai acertará um Avada Kedavra bem no meio das suas fuças.

O homem cruzou os braços, olhando-me novamente de cima a baixo e sorrindo.

- E quem é o seu pai? – perguntou.

Será que ele não conhecia o meu pai pelo nome verdadeiro? Só pelo assustador pseudônimo de Lord das Trevas?

- Voldemort – eu disse.

Ele tirou o sorriso da face.

- Agora, deixe-me entrar – eu disse, com o mesmo sorriso de desdém que ele tinha quando me viu.

Eu dei um passo para a porta e ele pôs os braços em meus ombros, parando-me. Eu o olhei, sem vacilar.

- Não vou deixar que uma estranha entre na minha casa sem me provar que é mesmo filha dele.

Não sabia o que fazer. Provavelmente não adiantaria mostrar a flor no pescoço. Duvidava muito que ele acreditaria.

Lembrei-me que Dumbledore disse que eu carregava os mesmos olhos azuis penetrantes e cortantes de meu pai. Talvez isso fosse o suficiente. Fuzilei o loiro com os olhos.

- Entre – ele disse.

A casa era enorme por dentro. Era muito bem decorada. Verde e preto eram as cores. Vários quadros com bruxos de aparência superior e mesquinha olhavam para mim.

Ele mandou que eu sentasse num sofá de camurça verde escura. Sentei-me e cruzei as pernas, como uma dama faria.

Perguntou se eu queria beber alguma coisa, eu disse que não. Ele poderia me envenenar.

- Quero que me leve até meu pai – disse, firme e com o olhar mais cortante e frio que consegui.

- Você é bastante parecida com ele nos olhares. O Lord olha assim para todos e faz o olhar que está me dirigindo agora para pessoas que vai matar. – ele disse, tendo um tom bem calculista. – Mas não posso levá-la até ele se não me provar.

Eu sorri como uma cobra antes de dar o bote, levantei-me e andei até ele. Apoiei os braços em seus ombros, ficando alguns centímetros de seu corpo.

"Bastante forte esse Malfoy"

Fiz a ele o rosto mais sensual e maligno que poderia e perguntei.

- Tem uma cobra?

Ele sorria. Sabia que me desejava. Mas ele se afastou e pegou a varinha.

- Serpensortia! – disse.

No mesmo momento uma enorme cobra apareceu no chão. Fiquei assustada mas não podia demonstrar isso.

Não sabia direito se ia conseguir fazer isso, mas comecei a falar com a cobra. Instiga-la a virar-se contra Malfoy.

- Vire-se e ande contra ele – mandei.

A cobra, instantaneamente virou-se e começou a investir contra o homem. Eu quase ria da expressão no rosto do loiro.

Antes que a cobra o atacasse, ele proferiu outro feitiço.

- Vípera Evanesca!

A cobra desapareceu.

Eu levantei uma sobrancelha e sorri, o mais cínica possível.

- Ofidioglota – ele disse. – Poucos têm esse dom...

- Exato. – disse. – Leve-me até ele. Agora.

- Muito bem – ele disse, pegando a capa em cima de uma cadeira.

Saímos da mansão Malfoy. À frente dos portões havia uma carruagem igual as de Hogwarts, mas com animais puxando. Não conseguiu distinguir o que era. Parecia uma mistura horrenda de cavalos, gatos e bois. Horrível.

Entrei.

Quando estávamos os dois confortavelmente sentados nas poltronas de veludo verdes, Malfoy disse: "até o Lord"

Com um baque, eu fui levada para trás. Alguns poucos minutos depois, paramos.

Ele abriu a porta e deixou que eu saísse. Era um lugar feio, sujo e mal acabado. Uma casa parecendo abandonada mas que escondia vários segredos. Entramos. Por dentro era totalmente diferente. Tudo limpo, elegante. Havia coisas, vidros estranhos por todas as estantes. Instrumentos de magia negra.

Subimos para o segundo andar. Havia somente uma porta. Malfoy bateu e entrou.

- Com licença, meu Lord – ele disse, fazendo reverência.

Eu continuei em pé, sem me mover. Meu coração aos pulos para ver sua face. Ele estava de costas para nós. Era alto, forte e seus cabelos eram negros.

- Malfoy, o que está fazendo aqui? – perguntou o homem, a voz fria, virando-se.

Vi seus olhos azuis, os tais penetrantes e cortantes. Olhos que eu havia visto tantas vezes no espelho.

O olhar do homem se fixou nos meus, enquanto uma cobra rastejava perto dos meus pés. Não podia demonstrar medo.

Malfoy ainda estava na reverência.

- Levante-se seu idiota! – o homem ordenou. – Quem é ela?

Antes que Malfoy pudesse responder, eu falei.

- Sua filha.

Voldemort não disse nada e nem ao menos sua expressão mudou. Nossos olhos continuavam penetrantes e eram espelhos.

- Malfoy, saia – ordenou.

O capacho fez outra reverência e saiu, fechando a porta.

Continuávamos sem nos mover.

- Ela está morta – ele disse.

- Pareço morta para o senhor? – perguntei.

O jogo de olhares continuava.

- Saia Nagini – ordenou à cobra.

- Por que mandou a cobra sair? – perguntei.

Notei que ele arregalou levemente os olhos, logo depois voltando ao normal.

- Então supõe que é a Melody... – ele disse. Não tirou os olhos de mim e me rodeou.

- Eu não suponho. Eu tenho certeza.

Ele tirou a varinha do bolso interno da capa e ficou rodando-a nas mãos.

- Ficando tanto tempo longe... Por que Melody voltaria para mim agora?

- Porque depois de perder a memória e viver onze longos anos com uma família bruxa que me ensinou tudo o que sei, descobri a verdade. – disse.

- Família?

- Depois que me mandou fugir, numa noite fria e cheia de neve, eu perdi a memória. Disseram-me que bati com a cabeça numa pedra. Uma família bruxa me acolheu e cuidou de mim todos esses anos. Ensinou-me várias coisas. Mas eles morreram nas mãos de alguns de seus comensais. Antes de a mulher que me adotou morrer, disse-me que eu era sua filha. Sempre soube que eu era muito mais do que aquilo que me ensinaram a ser: boa. E eu carrego a marca disso desde os onze anos. – disse. Essa era a história que Dumbledore disse que eu deveria contar. Eu devia ser o mais convincente e mais segura possível. Papai conseguia saber quando mentiam para ele.

Então, Voldemort piscou pela primeira vez. Andou até meu pescoço e tirou meu cabelo da frente. Virou minha cabeça com as mãos geladas.

Senti que tremeu ao passar os dedos pela flor.

- Melody – ele disse, abraçando-me.

Eu sabia que ele não era tão mau quanto diziam, ou quanto ele parecia. Seu abraço foi o suficiente para várias lembranças virem à tona. Era um abraço carinhoso e paternal.

- Pai – eu disse, retribuindo o abraço.

- Você é muito parecida comigo – ele disse, saindo do abraço para olhar-me. Ele sorria. Um sorriso orgulhoso nos lábios finos. – Tem o meu olhar. Por que nos tomaram tanto tempo, minha filha? Poderia estar em seu treinamento para me suceder, sendo a melhor bruxa do mundo. Mas será.

Eu sorri, e uma lágrima escorreu. Ele passou o polegar pelo meu rosto, limpando a lágrima.

Abraçou-me novamente.