Meses depois descobri que estava grávida. Um filho de Remus.

Papai era muito compreensivo comigo, gentil e até carinhoso. Ele estava me ensinando várias coisas e quando eu me tornasse oficialmente sua comensal, lançaria meu primeiro Avada Kedavra.

Ele ficou chocado ao saber que eu estava esperando um bebê. Disse-lhe que foi fruto de uma aventura da qual me arrependia. Eu estava em um momento de fraqueza e um amigo me consolou com segundas intenções e eu cedi. Ele disse que mataria o infeliz. Respondi que ele estava morto.

Eu conseguia ser muito convincente quando falava com ele. Mantinha os olhos bem focados nos dele, com o pensamento do que eu estava falando intacto na minha mente e o coração calmo. Ele sempre acreditava na sua menininha.

Afinal, Voldemort tinha um coração. Um coração que era só meu e qualquer sentimento que não fosse de ódio eram destinados a mim. Ninguém mais.

Eu estava com medo do que ia me acontecer, muito medo. Havia guerras, elas não paravam... Estava com um bebê na barriga, que estava quase nascendo. Eu não iria poder criar aquela criança, não lá... Não queria que ela se sentisse obrigada a ficar ao meu lado, como eu me senti. A escolha foi minha e ela não tinha culpa, não queria que morresse numa guerra, tendo uma infância vivenciada e rondada pela morte e pela crueldade.

Sentia o bebê cada vez mais pesado, estava pronto para nascer, mas não sabia quando. Papai não podia saber que o bebê havia vingado. Ele iria querer tomá-lo de mim e transformá-lo num dos seus comensais. Não queria meu filho, ou filha, sendo caçado pelo Ministério e quem sabe preso em Azkaban para sempre.

Por isso eu iria viajar no dia seguinte, diria a papai que tinha coisas minhas a tratar na França. Teria meu bebê lá e assim, diria que morreu no parto. Levaria para dona Matilde e mandaria uma carta a Remus, explicando tudo e pedindo que cuidasse do nosso filho. Iria me doer muito fazer isso, não poder cuidar do meu bebê, mas seria o melhor para ele e eu sei que Remus seria um ótimo pai.

Estava na França há três dias e o bebê ainda não havia nascido.

Papai engoliu bem a história de eu ter que ir a França urgentemente.

Tinho muitas saudades de Remus, muitas. Ele era o meu caminho para tudo...

Não sabia se estava louca ou não. Eu não me arrependia de ter passado para o lado de meu pai, e não queria sair do mundo dele, de alguma forma, eu me sentia bem ali. Nunca fui santa mesmo... E eu gostava de ser uma "menina má". Jogar com os outros era prazeroso. Chantagem e ameaças eram coisas que me faziam sentir poderosa e maior. Achava que naquela época, depois de ter me encontrado no mundo do meu pai, não me encaixaria no mundo do Remus... Ele era correto e bom. Incapaz de ter algum sentimento mau. Já eu... Só que mesmo eu sendo assim, não queria que meu filho fosse também. Queria que ele fosse como o pai. Ficaria mais orgulhosa dele assim. 

- Ahhhhhhhhhhhhh – eu gritava de dor.

- Calmez-vous, madame! – a senhora que estava fazendo meu parto dizia, aflita. Estava tendo meu filho no hotel, não havia nenhum médico no local e por sorte, esta enfermeira estava hospedada lá. Ela disse: "acalme-se, senhora!"

- Isso dói! – eu gritei, como ela podia mandar eu me acalmar?! Mas ela não entendeu o que eu disse, não falava inglês.

Ela viu que eu também não entendia muito de francês e tentou me guiar num inglês muito precário.

- "Respirre"... Bien, Bien... – ela dizia, olhando entre as minhas pernas. Isso era desconfortável, mas o bebê saía por ali, o que eu podia fazer?

Eu gritava cada vez mais, estava doendo muito! Nunca havia sentido dor maior!

Depois de várias tentativas, empurrões e sangue, o bebê ainda não tinha saído. O semblante preocupado da enfermeira estava começando a me apavorar.

- Un médécin, maintenant! – ela gritou para uma das criadas do hotel que ajudava. Eu não entendi, mas era urgente. A criada saiu correndo e aos tropeços.

Ela demorou a voltar e a enfermeira esteve fazendo exercícios de respiração comigo durante todo o tempo, para que não piorasse ou para tentar melhorar. Eu estava quase perdendo as forças.

Até que um médico chegou. Acho que a criada foi até o hospital mais próximo e o trouxe. Eu não tinha condições de ser transportada para o hospital àquela altura...

- Oh, mon dieu! Okay, comment vous appelez vous? – ele perguntou. Eu não entendi nada! Fiz uma cara de quem não tinha entendido e ele repetiu, desta vez em inglês. - Qual é o seu nome?

- Mel... Melody – respondi. A dor voltou mais forte e eu gritei. Ele pôs a mão na minha barriga, não sei para quê... E começou a fazer os mesmos procedimentos que a enfermeira, só que com mais eficiência e profissionalismo.

Depois de uma hora de mais sofrimento, eu pude ouvir o choro agudo do meu bebê. Era um menino, um lindo menino de olhos azuis, um pouco fraco, mas mesmo assim, lindo!

Na hora em que olhei para aquele rostinho ainda sujinho de sangue, todas as minhas dores sumiram e eu já não podia me imaginar sem ele. Sem poder vê-lo crescer. Então eu me arrependi de ter escolhido o caminho das trevas, pela primeira vez.

Se eu tivesse ficado com Remus, poderia criar nosso filho, que agora era o que mais importava na minha vida. Mas eu não fiquei e agora era tarde demais.

Agradeci ao médico, que falava um inglês com sotaque carregado, ele foi embora. A enfermeira se prontificou a cuidar de mim enquanto eu precisasse. Os trouxas eram mesmo simpáticos! Se papai descobrisse que me hospedei num hotel trouxa, nem quero saber o que aconteceria...

Eu não estava bem, estava muito fraca e demorei uma semana para ficar boa. O bebê estava bem, muito bem e como comia o danadinho! Eu o chamei de Tiago. Era um amigo de Remus, na verdade, o melhor amigo. Eu nunca cheguei a conhecer...

Eu não poderia ficar muito tempo na França, senão meu pai mandaria comensais a minha procura. Mas eu queria ao menos amamentar o meu filho, nem isso eu pude direito.

Voltei a Inglaterra e fui despercebida até o orfanato de dona Matilde. Havia muito tempo que não via ninguém de lá! Encontrei alguns dos meus velhos conhecidos, mas não vi nenhum dos rostinhos das crianças que tanto conheci. Afinal, já havia se passado muito tempo, as pequenas foram adotadas e as mais grandinhas já foram embora.

Pâmela não teve filhos, afinal, ainda cuidava de todas as crianças do orfanato, mas estava bem casada com Raphael, o mágico.

Elas levaram um susto com a minha história e de me verem chegar com Tiago nos braços.

Passei uma noite lá e aproveitei para escrever a Remus e mandar a carta por uma coruja que interceptei.

"Querido Remus,

Há muito tempo que não nos vemos, não é? Já se foram nove meses... Nove meses em que tive um filho seu na barriga. Sei que não deveria dar esta notícia tão inesperada desse jeito, mas não tinha outra solução...

Não contei antes porque desconfiariam que me comunicava com você e papai mandaria lhe matar se soubesse.

Deve estar se perguntando por que estou contando agora... Bem, nosso filho nasceu e eu não quero que ele siga pelo meu caminho. Quero que ele seja exatamente como você.

O nome dele é Tiago, é lindo! Tem meus olhos azuis, mas os traços são muito parecidos com os seus. Se me pedissem para mostrar um anjo, eu o mostraria.

Papai acreditará que o bebê não sobreviveu e morreu no parto. Eu o tive na França, para não ter como ele descobrir que está vivo.

Tiago está no orfanato onde eu vivi minha infância, sabe onde é. Vou embora daqui amanhã e conto que venha pegá-lo.

Não é uma emboscada, estou falando de um bebê. Ninguém sabe onde fica o orfanato, só você. Por favor, não decepcione seu filho.

Quero que me perdoe pelas minhas escolhas do passado. Quero que me perdoe por não ser quem você merece. Quero que entenda que eu te amei mais do que a mim mesma, ainda amo e vou amar sempre. Quero que entenda que mesmo que ficasse com você, o meu lado mau sempre estaria comigo, está no meu sangue esse lado obscuro, como está no seu a pureza. Quero que me perdoe por fazer você sofrer. Sei que tem raiva de mim, mas quero que me perdoe por não conseguir me esquecer.

                                            E eu quero lhe agradecer

                               "por todas as vezes que esteve ao meu lado

por todas as verdades que você me fez ver

por toda a alegria que você trouxe a minha vida
por tudo de errado que você tornou correto

por todos os sonhos que você realizou

por todo o amor que eu achei em você.

Eu serei eternamente agradecida.
é você quem me segura

nunca me deixa cair.

foi você quem me viu por dentro

por inteiro.

você foi minha força quando eu estava fraca
você foi minha voz quando eu não podia falar

você foi os meus olhos quando eu não podia ver
você viu o que melhor que havia em mim

me levantou quando eu não podia alcançar

você me deu fé porque você acreditava
eu sou tudo o que eu sou, a parte boa de mim,

porque você me amou.

você me deu asas e me fez voar

você tocou minha mão, eu consegui tocar o céu
eu perdi a fé e você a trouxe de volta

você disse que nenhuma estrela estava fora de alcance
com você ao meu lado, eu me senti maior

eu tinha o seu amor, eu tinha tudo

sou grata por cada dia que você me deu

talvez eu não saiba tudo
mas eu sei que tudo é verdade

eu fui abençoada porque fui amada por você."

Eu te amo agora, te amarei para sempre.

Sua eterna Mel"

N/A: O que está entre aspas na carta que a Mel escreve para o Remus, é a tradução da música Because You Loved Me, da Celine Dion. Aí embaixo está a letra original dela com a tradução de cada verso embaixo.

For all those times you stood by me

(por todas as vezes que esteve ao meu lado)

For all the truth that you made me see

(por todas as verdades que você me fez ver)

For all the joy you brought to my life
(por toda a alegria que você trouxe a minha vida)

For all the wrong that you made right
(por tudo de errado que você tornou correto)

For every dream you made come true

(por todos os sonhos que você realizou)

For all the love I found in you

(por todo o amor que eu achei em você)

I'll be forever thankful baby
(eu serei eternamente agredecida, querido)

You're the one who held me up
(é você quem me segura)

Never let me fall

(nunca me deixa cair)

You're the one who saw me through

(foi você quem me viu por dentro)

Through it all

(por inteiro)

You were my strenght when I was weak

(você foi minha força quando eu estava fraca)

You were my voice when I couldn't speak
(você foi minha voz quando eu não podia falar)

You are my eyes when I couldn't see

(você foi os meus olhos quando eu não podia ver)

You saw the best there was in me
(você viu o que melhor que havia em mim)

Lifted me up when I couldn't reach

(me levantou quando eu não podia alcançar)

You gave me faith 'coz you believed

(você me deu fé porque você acreditava)

I'm everything I am
(eu sou tudo o que eu sou)

Because you loved me

(porque você me amou)

You gave me wings and made me fly
(você me deu asas e me fez voar)

You touched my hand I could touch the sky
(você tocou minha mão, eu consegui tocar o céu)

I lost my faith , you gave it back to me
(eu perdi a fé e você a trouxe de volta)

You said no star was out of reach
(você disse que nenhuma estrela estava fora de alcance)

You stood by me and I stood tall
(com você ao meu lado, eu me senti maior)

I had your love I had it all
(eu tinha o seu amor, eu tinha tudo)

I'm grateful for each day you gave me

(sou grata por cada dia que você me deu)

Maybe I don't know that much

(talvez eu não saiba tudo)

But I know this much is true
(mas eu sei que tudo é verdade)

I was blessed because I was loved by you

(eu fui abençoada porque fui amada por você)