- Talvez eu possa ser a psiquiatra dele – disse Ginny.

- Sem chances, maninha – respondeu Rony, carrancudo.

- Eu posso fazer isso, Rony! Já me formei faz tempo e, além disso, meu caro, ajudei muito você!

- Eu estou falando que não quero você metida com o Malfoy, Ginny! Acabou!

- Espera, Rony. Ginny, você sabe hipnose? Quer dizer, estudou isso aprofundadamente? – perguntou Hermione.

- Os psiquiatras do Ministério estudam tudo sobre a mente, Hermione, você deveria saber disso – quem respondeu foi Rony, muito emburrado.

- Precisamos de alguém que tenha grande conhecimento sobre regressão – comentou Harry, a testa enrugada.

- Eu posso fazer isso – Ginny disse firme, olhando o irmão com grande ódio.

- Ginevra, eu já disse que você – começou Rony, levantando-se e colocando o dedo indicador bem no nariz da irmã caçula. Mas ele não conseguiu terminar a frase.

- Você vai ser a encarregada disso, Ginny – pontualizou Hermione, com toda sua autoridade.

- A irmã é minha e o caso é meu, Hermione! Isso pode ser perigoso!

- Ela é sua irmã e também uma ótima psiquiatra! Ela é competente!

- Eu não estou dizendo o contrário!

- Mas você não a deixa pegar um caso importante nunca! Eu nunca me meti, mas agora eu vou ter que usar isso: EU SOU SUA SUPERIORA E, QUERENDO OU NÃO, EU MANDO EM VOCÊ!!!

- Você sempre mandou... – comentou Harry. Rony ficou mais vermelho do que seus cabelos e mandou o amigo não se meter.

°

No dia seguinte os quatro no Ministério. Foram para onde Malfoy estava preso e Rony ainda tentou, sem sucesso, fazer com que Ginny desistisse do caso.

- Ele não tentou fugir? – Harry perguntou a um dos guardas, enquanto Rony abria o quarto de Malfoy.

- Antes que eu abra, Mione, acho melhor ele não te ver.

- Tudo bem.

Malfoy estava deitado de barriga para cima e a cabeça apoiada nos braços, as pernas cruzadas ao longo da cama.

- Bom dia, Weasley. Vejo que trouxe a coelhinha mais nova da ninhada com você – disse, olhando para Ginny. – e também o Cicatriz.

- O Sr Draco Malfoy está aqui porque foi acusado de ameaçar Hermione Granger e invadir sua casa às 21:00 do dia 4 de junho de 1999. A vítima diz que o acusado a acusou de coisas das quais não tem ciência – Rony leu.

- Quanta formalidade...

Um dos guardas bateu a porta e entrou, informando a Harry que ele deveria comparecer ao 5º andar imediatamente. Então Rony e Ginny ficaram sozinhos com Malfoy para começar as perguntas.

Malfoy se esquivava facilmente das perguntas e quase Rony não se controlou. O ruivo costumava ser bem calmo e racional quanto aos acusados. Mas afinal, Draco Malfoy não era um simples e desconhecido acusado.

Depois de muita viravoltas, o loiro acabou falando exatamente a mesma coisa que Hermione havia contado. Rony e Ginny combinaram de não trocar olhares em frente a Malfoy e assim foi feito.

Ao final das perguntas, que envolveram desde sua saída de Hogwarts, até o dia 4 de junho de 1999, Malfoy se manteve indiferente e esquivo. Disse que tinha que matar Kate, Hermione,  porque ela o matou em outra vida.

- Malfoy, eu vou ser sua psiquiatra até que eu sinta que você pode ser julgado – Ginny informou.

- Que seja.

Os dois saíram e deixaram o bruxo com suas voltas ao passado. Ginny achou que ele aceitou muito bem o fato de ter que ter uma psiquiatra, geralmente todos dizem que não são loucos e não precisam de psiquiatras. Rony disse que antes ele dissesse que não precisava, assim ele poderia dar qualquer desculpa e enfia-lo logo em Azkaban.

Os dois foram encontrar Hermione na biblioteca do Ministério. Ela estava com os pensamentos grudados num livro de regressão. Era o primeiro livro que Ginny havia lido sobre o assunto, ela tinha uma grande admiração pelo autor, Ernest Garner, um dos mais aplaudidos psiquiatras dos últimos tempos. 

- O que pensa em fazer, Ginny? – Hermione perguntou.

Ginny iria começar com sessões normais, só com perguntas, para tentar entender o que ele pensava. Depois, se houvesse necessidade maior, ela começaria com a hipnose.

°

Draco se olhava no espelho...

Ele ia andando com as mãos presas por cordas, empurrado por um carrasco. Não tirava os olhos de Kate nem por um segundo, não piscava e não pensava. Os olhos dela presos nos dele, sem esboçar qualquer sentimento, como se eles apenas estivessem congelados no tempo. Ela toda de preto, a expressão como se nunca tivesse visto aquele homem.

"Eu a encontrarei, Kate..."

E Draco sentiu uma corda prender seu pescoço, se debateu e caiu no chão, contorcendo-se, a mão no pescoço.

Um guarda invadiu o quarto e lhe deu uma poção calmante.

Ginny foi chamada imediatamente. A primeira sessão começaria em instantes.

Malfoy foi levado para a sala dela e amarrado à cadeira. Ginny sentada com uma prancheta na mão em frente a ele, que evitava seu olhar.

- O que você viu?

Ele não respondeu, apenas frisou os lábios e olhou para a janela.

- Isso te assustou...

- Se você visse suas vidas passadas você também ficaria assustada.

Ele começava a falar. Ela sentiu que se o pusesse a prova, ele abriria uma brecha no silêncio.

- E o que essa visão mostra?

Ele não respondeu.

- Você tem medo. Disse que você foi acusado de um crime cometido por Hermione.

Ele a corrigiu, olhando firmemente em seus olhos.

- Kate.

- Que crime foi esse?

- Assassinato.

Havia tanto rancor, tanto ódio e tanta lembrança em seus olhos. Ginny acreditou nunca ter visto nada igual.

O guarda havia informado Ginny de que encontrou Malfoy caído no chão com as mãos no pescoço e o olhar vidrado. Então ela arriscou uma suposição.

- Você foi enforcado pelo crime que Kate cometeu.

Ele demorou a responder. Não olhava mais para ela. Agarrava com força o braço da cadeira. E com dificuldade disse que sim.

- E você supõe que aquela Kate seja Hermione.

- Eu não suponho nada. É ela. E eu tenho certeza de que ela se lembra do mal que me fez.

- Por isso tentou enforcá-la.

Ele a olhou com os lábios contorcidos e os olhos em cólera.

- Não acha certo que ela pague pelo que me fez?

- Há quem regresse para outras vidas, há quem não consiga fazer o mesmo. Não pode ter tanta certeza de que ela se lembre do que fez a você.

- Não me respondeu, Dra Weasley. Não acha certo que ela pague pelo que me fez?

- A vingança é algo negativo em todas as pessoas, Sr Malfoy.

- Estou comovido. Se eu pudesse bateria palmas para a legítima grifinória. Mas como acham que eu sou algum maluco e posso atacar a doutora a qualquer momento, me deixam preso nessa cadeira como um animal.

Ginny manteve-se séria. Mas o ódio começando a sair pelos poros. Baixou os olhos para a prancheta e anotou "bater com a cabeça na parede depois da sessão".

- A quantas vidas você já regressou, Malfoy?

- Onze.

- E como eram essas vidas?

Ele não respondeu. Olhou para o teto e suspirou. Ela então viu que sua expressão era pesada, como se quisesse afastar as lembranças de suas visões. Assim, arriscou.

- Trágicas?

Ele continuou naquele transe de olhos fechados. De repente começou a relaxar e contorcer o rosto, apertava mais as mãos na cadeira e mexia com os pés. Murmurava coisas que só ele conseguiria decifrar. Começou a suar e, de repente, gritou "NÃO!!!"

Ginny chamou o guarda para acudi-la. Ele segurou Malfoy enquanto ela tentava fazer com que ele abrisse os olhos e se acalmasse. Quando ele abriu os olhos, viu o que estava a sua volta, mas ainda estava muito assustado.

- O que você viu?