CAPÍTULO CINCO - ENTRE TAPAS E BEIJOS...

Sirius andava silenciosamente pelos corredores de Hogwarts. Ele estava caçando. Caçando a gata velha de Filch, Madame Norris. Ele e Morgan tinham feito uma aposta sobre quem faria a decoração mais bonita na gata para a Páscoa, que estava se aproximando, e o animago não pretendia perder de jeito algum. Ele descobrira um feitiço que deixaria a gata toda branca cheia de pintas coloridas pelo corpo e cheirando a chocolate. Não tinha como perder com esta brincadeira. Ele iria mostrar à megera de língua ferina quem fora Padfoot, o maior maroto de Hogwarts, sem desmerecer os outros, claro.

Como Sirius gostava de lembrar da sua época de escola. E dos seus amigos. Cada um deles fora grande da sua própria maneira.

Prongs era o líder do grupo, sempre inventando coisas novas para eles fazerem. Ele era carismático, um excelente jogador de quadribol, estudante com as maiores médias da sala sem fazer esforço algum, membro de uma das mais bem conceituadas famílias sangue puro. E pensar que Voldemort caçara e liquidara todos os Potter, exceto Harry...

O pai de James havia sido chefe do Departamento de Mistérios do ministério. O bisavô dele havia sido Ministro da Magia. E todos caíram diante da sede de poder do Lorde Negro.

Sirius ainda sentia o pesar pela perda do amigo. James havia sido o irmão que Sirius não tivera. Os dois se entendiam sem que fossem necessárias palavras. E Prongs se fora, junto com a sua Lilly.

Era fascinante observar James na sua vassoura voando. Ele parecia um pássaro, desfrutando da liberdade que havia no céu. Ao jogar quadribol, ele conseguia fazer movimentos com a goles nas mãos que nunca haviam sido imitados até o momento. Quem vê Harry voando hoje pode ver a sombra de James ao lado dele. Os dois têm a mesma fluidez ao voar, a mesma paixão por manobras arriscadas, a mesma adoração por se lançar aos céus com uma vassoura, como se aquele fosse o seu elemento natural.

E quando James virava Prongs, ele se tornava imponente. Um poderoso cervo que poderia ser o líder de sua manada, como havia sido o líder dos marotos. Sirius lamentava que Harry nunca tivesse visto seu pai se transformando, apesar da visão do Patrono de Harry ser impressionante pela sua similaridade com Prongs.

Então havia Moony. O bom e velho Moony. Ele era o estrategista do grupo, sempre ouvindo as idéias para brincadeiras dos outros e examinando todos os pontos fortes e fracos delas, apontando defeitos e dando sugestões para melhorá-las. Quando Moony examinava os planos, eles nunca eram pegos.

Sirius se lembrava de como Remus havia sido na escola. O garoto fechado, de aparência triste e doentia, que sumia todos os meses. O garoto assombrado pelo medo de perder seus poucos amigos se eles soubessem o que ele realmente era. Como eles tiveram trabalho em convencer Remus que não parariam de ser seus amigos apenas porque uma vez por mês ele se transformava numa fera incontrolável, com sede de sangue. Mas valera a pena.

Sirius se arrependia profundamente por ter pensado que Remus era o traidor. Remus nunca faria isto, ele deveria ter percebido na época. Esta atitude não condizia com a personalidade do lobisomem. Ele era honesto demais, desde que o assunto não fosse sua licantropia, cuidadoso demais, responsável demais. Moony fora o único aluno na história de Hogwarts a ter notas perfeitas nos sete anos de DCAT. O único que chegara perto disto havia sido Harry. A ironia da situação era que Remus tinha as maiores notas na disciplina que ensinava como caçar e matar aqueles que eram como ele. Uma criatura das trevas fora o melhor aluno de Defesa Contra as Artes das Trevas da história da escola.

Mas isto combinava com Remus. Ele tinha um grande amor por aprender. Amor este que Sirius só encontrara igual em Hermione. Moony não tinha a mesma facilidade que Prongs ou ele mesmo, Padfoot, tinham para aprender as coisas. O lobisomem sempre precisara estudar muito, mas fazia isto sem obrigação, por gostar. O pouco dinheiro que Remus tinha ele empregava em livros. Sirius e James sempre procuravam dar livros ao lobisomem no aniversário e no Natal, principalmente aqueles livros mais caros que eles sabiam que o amigo não poderia comprar. Sirius imaginava o que Remus devia ter sofrido através dos anos, depois que eles terminaram a escola. Ninguém emprega lobisomens, ainda mais que estes são obrigados a se registrarem no Departamento de Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas, sessão de Animais Perigosos. O animago ainda queria saber como Remus sobrevivera por doze anos antes de vir dar aulas em Hogwarts no terceiro ano de Harry, ainda mais que a família de Moony, diferente dos Black e dos Potter, sempre havia sido muito humilde.

Havia também Wormtail. Não o Wormtail que era um comensal da morte, mas o que fora amigo deles na escola.

Peter poderia ser visto como o elo mais fraco dos marotos. E ele o fora, de muitas maneiras. Mas sempre que eles precisavam de alguém para inventar histórias enquanto os outros aprontavam as brincadeiras, era Peter o escolhido. Ele tinha uma imaginação muito boa para isto, apesar de não ser muito inteligente quanto ao resto. Sirius lembrava o quanto ele e James precisaram ajudar Peter para que ele conseguisse se tornar um animago e, ainda assim, só conseguira se transformar em um animal pequeno.

Bem, a inteligência de Peter para desculpas e distrações era incontestável. Ela rendera a Sirius doze anos em Azkaban. Ela rendera as vidas de James e Lilly, deixando Harry órfão sob a guarda de parentes que o detestavam. Ela rendera a Remus doze anos de solidão e penúria. Wormtail conseguira fazer o que nem Filch e nem nenhum professor de Hogwarts, conseguiram: ele desmanchou os Marotos.

Sirius mais uma vez achou muito fraca a punição de Peter por tudo o que ele provocara em vida. Ter a alma consumida por um dementador fora muito pouco. Wormtail merecia ficar por anos e anos em Azkaban revivendo as lembranças de todo o sofrimento que ele havia provocado, antes de finalmente encontrar o seu fim.

E finalmente havia ele mesmo, Sirius, conhecido como Padfoot, o maior dos Marotos. Ele era tão inteligente quanto James, passando em todas as disciplinas sem esforço. Mas a sua grandeza era em armar as brincadeiras.

As corujas de Hogwarts fariam o trajeto até a casa dos Black de olhos vendados se fosse necessário, pois sabiam o caminho decor, de tantas vezes elas iam até lá levando comunicações da escola sobre as últimas traquinagens de Sirius. Ele fora o campeão em detenções. Mesmo os gêmeos Weasley, por mais que se esforçassem, não chegaram nem perto do número de detenções que Sirius conseguia receber em um ano. Os pais dele nem se incomodavam mais em mandar berradores, senão haveria dois ou três deles todos os dias no café da manhã. Sirius estava certo de conhecer todos os cantos do castelo que precisavam ser limpos nas detenções, de ter polido todos os troféus ao menos 50 vezes por ano, de ter tirado o pó dos livros da biblioteca no mínimo umas vinte vezes por ano, de ter limpado todas as escadarias umas dez vezes por ano. Filch tinha até mesmo uma gaveta inteira do arquivo apenas para os registros de Sirius.

James vivia lhe perguntando qual era a graça de sempre ser pego. Sirius impreterivelmente respondia que era assim que todos saberiam que fora ele quem aprontara, e que se orgulhava disto.

Ele também fora o maior conquistador de Hogwarts. James poderia ter feito isto também, mas se apaixonara por Lilly no terceiro ano deles, nunca indo atrás de outras garotas. Remus nunca se interessara por garotas na escola. No início Sirius pensara que era porque ele tinha medo do que elas iriam achar da maldição dele. Depois chegara a desconfiar que Remus era gay, mas a teoria fora por água abaixo quando o lobisomem também não tivera nenhum encontro com garotos na escola. Até que finalmente entendera, no ano anterior, que Remus nunca se interessara por garotas porque nenhuma delas era a sua companheira destinada, como ele chamava Thera. Antes disto a maldição não permitira que ele se interessasse por ninguém. Bem, Sirius não tinha como adivinhar, já que nenhum livro sobre lobisomens dizia isto. Bem, isto acontecia provavelmente porque todos os livros ensinavam como reconhecer, caçar e matar lobisomens, e não sobre como era a vida amorosa deles. Sirius imaginava onde Remus havia descoberto sobre isto, além da própria experiência. Uma hora ele deveria perguntar para matar a curiosidade.

Mas os seus anos em Azkaban ainda o perseguiam. Sirius dormia sempre com um feitiço silenciador ao redor da cama, para ter certeza que não chamaria a atenção de ninguém quando acordasse gritando de algum pesadelo sobre aquela parte terrível de sua vida. Ele lembrava como a proximidade dos dementadores o fazia lembrar noite e dia que ele era o culpado pelas mortes de James e Lilly, por ter sugerido Peter como o fiel do segredo, como ele era o culpado por Harry ser órfão, como ele era o culpado por ter duvidado de Moony, do velho e confiável Moony... Ao mesmo tempo, ele se mantivera lúcido por se saber inocente.

Sirius sabia que nunca esqueceria este capítulo de sua vida. Ele fizera o brincalhão Padfoot sumir dentro de um homem cheio de culpas. Ele mostrara quão baixo um ser humano poderia cair.

Sirius se esforçava para mostrar aos outros que ele voltara a ser o despreocupado que fora antes de tudo acontecer, e conseguira de uma certa maneira. Mas ele sabia que dentro de si estava escondido o Sirius que passara doze anos no inferno sobre a Terra.

Neste instante a presa de Sirius foi avistada, interrompendo as lembranças deste sobre a despreocupação de sua adolescência. Madame Norris vinha caminhando no corredor lentamente, procurando por alunos fazendo o que não deviam. Sirius silenciosamente ergueu sua varinha, mirando a gata, antes de sussurrar: "Estupefaça." O feitiço atingiu a gata em cheio e o animago foi buscá-la, levando-a sorrateiramente para seu quarto para enfeitá-la. Ele a soltaria no café da manhã do dia seguinte, quando todos estivessem reunidos para prestigiar o feito. Claro que ele faria isto discretamente, afinal de contas ele agora era um professor e tinha que dar um bom exemplo aos alunos.

*****

Morgan procurava pelos corredores a gata do zelador. Ela tinha que capturar aquela gata antes que o arruaceiro o fizesse, já que ele tivera a coragem de apostar com ela quem deixaria a gata mais enfeitada para a Páscoa. Como se o idiota fosse capaz de vencê-la....

A professora de Duelos ainda não conseguia aceitar que o conselho de sua família e o da Ilha Sagrada houvessem permitido que Thera se envolvesse com um homem. Isto ia contra tudo o que aprendera desde que nascera.

As primeiras lembranças de Morgan eram sobre sua família freqüentando os rituais da Ilha Sagrada. Ela se lembrava das fogueiras de Beltane e das orações entre as árvores. Sua mãe começara a lhe ensinar, desde muito pequena, os princípios das ervas, a importância da meditação, as primeiras magias... Em Ávalon, diferentemente do resto do mundo mágico, se ensinavam as crianças o que elas precisavam aprender sobre magia antes mesmo de começarem os estudos formais.

Em quase todas as lembranças de Morgan, Thera estava presente. As duas primas nasceram no mesmo ano, com apenas dois meses diferenciando uma da outra. Elas brincavam juntas, correndo entre as árvores da floresta, até que começaram a ser educadas nas artes mágicas. Então seus caminhos começaram a se separar. Enquanto Morgan aprendia sobre ervas, Thera era educada sobre seu dom, aprendendo desde técnicas fundamentais de meditação e purificação do ambiente, até feitiços complexos e perigosos, como o que realizara no ano anterior em Hogwarts. Fora nesta época que Morgan aprendera que sua prima era a profetisa e que precisava ser protegida a qualquer custo.

Então chegara o dia em que as duas começaram a estudar na Academia Ávalon de Artes Arcanas. Elas faziam todas as classes juntas, exceto que Thera tinha vários períodos extras apenas sobre Adivinhação. No segundo ano dela na Academia, a profetisa já sabia muito mais sobre o assunto que as professoras, tendo passado em seus NEMs em Adivinhação naquele ano, assumindo seu lugar perante a sociedade da ilha como a profetisa, apesar de continuar a estudar o resto das disciplinas. Morgan abriu um sorriso ao lembrar de Thera se atrapalhando com sua varinha em qualquer aula que necessitasse fazer um feitiço ofensivo e, algumas vezes, até com os defensivos. A prima tinha uma alma tão pura que não conseguia ferir ninguém, preferindo machucar a si mesma. Bem, realmente a varinha de Thera não servia para este tipo de magia, sendo feita de freixo com pêlo da crina da cauda de um centauro. Era uma varinha que só servia para adivinhação mesmo.

Já Morgan se orgulhava de sua varinha. Carvalho com corda de coração de dragão. Uma varinha para lutadores, como dissera o artesão da Ilha Sagrada que a fez. E Morgan era uma lutadora. Ela quisera se unir à resistência contra Voldemort, mas o conselho de Ávalon a proibira, dizendo que eles só tomariam partido quando a ameaça chegasse à ilha. E Voldemort nunca conseguiu chegar à Ilha Sagrada. Não fora por falta de tentativas, mas os avisos de Thera sobre as tentativas de ataque do Lorde Negro e os feitiços que protegiam e escondiam a Ilha Sagrada de qualquer um que não fosse um habitante da ilha, ou estivesse acompanhado por um, sempre foram a melhor defesa.

Quando as duas primas terminaram seus estudos, começaram a dar aulas na academia. Morgan assumira as classes de Poções, matéria que admirava e onde fora a melhor aluna que já havia surgido na ilha. Thera assumira as turmas de Adivinhação, tentando despertar os poderes latentes dentro de cada um de seus alunos. E então, depois de mais de dez anos lecionando na academia, elas vieram para Hogwarts, atrás de uma visão de Thera. E ali a profetisa encontrara o lobisomem...

Morgan era obrigada a aceitar as decisões do Conselho da família e do Conselho da Ilha Sagrada sobre o relacionamento de Thera e Lupin, mas ela não tinha que concordar. Se Lupin causasse o menor sofrimento à sua adorada prima, Morgan se encarregaria pessoalmente de causar muita dor a ele.

Neste momento Morgan percebeu que não conseguia encontrar aquela gata em lugar algum. 'No mínimo o idiota já a capturou!' Pensou indignada, antes de ir para seus aposentos dormir.

*****

Remus terminara de fechar seu escritório onde estivera anotando as detenções que os Gryffindors receberam nos últimos dias. Agora ele sabia a trabalheira que Minerva tinha quando ela era a diretora de Gryffindor, a casa de Hogwarts com o maior número de fazedores de malfeitos. Ele mesmo tivera que deduzir alguns pontos e aplicar detenções a dois alunos que soltaram um bicho-papão no meio de sua aula ao primeiro ano Hufflepuff. Os pequenos quase morreram de medo, enquanto os dois alunos mais velhos, responsáveis pelo incidente, caíram na risada em pleno corredor.

Os incidentes como este se multiplicavam, e Remus estava apostando que havia um dedinho de Sirius neles. De alguma forma Padfoot estava ensinando aos alunos como aprontarem brincadeiras. O lobisomem estava elaborando uma maneira de pegar o amigo no ato, para poder conversar seriamente com ele e faze-lo entender que os dois não eram mais alunos, e sim professores responsáveis e que tinham que dar exemplo. E Sirius estava precisando desta conversa, ainda mais depois de todas as cenas que ele fizera com Morgan no último ano.

Neste momento o diretor de Gryffindor percebeu o quanto era tarde. Ele passara mais tempo trabalhando na parte administrativa de sua casa do que percebera, e ainda nem terminara de escrever as cartas que teria que enviar a alguns pais no dia seguinte sobre as proezas dos filhos. Novamente o lobisomem imaginou como Minerva conseguia fazer tudo isto quando os marotos estavam em Hogwarts, ou quando os gêmeos Weasley ali estudavam. Neste ponto ele era obrigado a concordar com Severus: ainda bem que não havia nenhum Weasley estudando na escola no momento. Mas, do jeito que a família ia aumentando, em mais alguns anos haveriam muitos Weasley por ali e, quem sabe, alguns Potter, que provavelmente o sobrecarregariam de serviço.

Remus começou a sentir sua dor de cabeça aumentando. Em mais três dias seria novamente lua cheia, e ele já começava a sentir os efeitos desta. Amanhã ele teria que ir até Severus buscar mais uma dose de sua poção, para ter certeza que se sentiria seguro no dia da lua cheia.

*****

Severus puxava Rolanda pela mão enquanto eles caminhavam silenciosamente pelos corredores de Hogwarts. Por um momento os dois se esconderam num canto, enquanto Morgan passava por eles resmungando algo contra Sirius. Quando ela saiu de vista, o casal continuou sua jornada, até que saíram pela porta principal da escola em direção à quadra de quadribol.

O mestre de Poções retirou um cobertor de uma sacola que trazia consigo e o estendeu no chão, antes de retirar mais dois outros cobertores que os cobririam, afinal de contas ainda era março e o tempo ainda estava frio.

Quando a cama improvisada ficou pronta, Severus e Rolanda se olharam.

"Eu tenho vontade de fazer isto cada vez que te vejo montada naquela tua vassoura apitando as partidas de quadribol..." disse Severus antes de beijar sua esposa.

Logo os beijos ficaram mais ardentes e os dois foram se entregando a paixão, procurando retirar todos os obstáculos que haviam entre eles para consumá-la, até o momento em que não havia nada separando os dois corpos deles e eles então se deitaram na cama improvisada.

"Bem, bem.... o que temos aqui?"

Severus e Rolanda se separaram rapidamente, procurando se cobrir com as cobertas ao redor deles, se virando na direção da voz. Ali, perto deles, com sorrisos zombeteiros nos rostos, estavam parados Harry e Ginny Potter.

"O que... o que vocês dois estão fazendo aqui?" Perguntou Severus.

"Eu vim buscar Ginny que estava corrigindo alguns trabalhos, e nós acabamos demorando. Estávamos indo para a zona de aparatação quando encontramos algo que nós dois achávamos que era proibido fazer em Hogwarts fora da privacidade dos dormitórios...." Harry respondeu zombeteiro, adorando ver o vermelhão que agora adornava o rosto dos seus antigos professores. "Ainda mais depois de termos levado um enorme sermão sobre comportamento apropriado a membros do corpo docente. Vocês dois tiveram sorte que fomos nós que os encontramos, e não um dos alunos ou, melhor ainda, Sirius!"

Severus ficou incrivelmente branco ao ouvir isto. Ele só imaginava o que escutaria se seu nêmesis o encontrasse ali ao invés dos Potter. Rapidamente ele começou a juntar suas roupas, sendo acompanhado nisto por Rolanda, antes de juntarem os cobertores e correrem para dentro do castelo, deixando Harry e Ginny rindo muito para trás.

*****

Toda a escola estava reunida para o café da manhã no dia seguinte. Minerva estava sentada na mesa dos professores com uma enorme dor de cabeça de tanto ouvir Filch reclamando do desaparecimento da madame Norris, sua gata. O zelador ainda estava um pouco atrás dela falando o que faria quando descobrisse quem havia sumido com sua pobre gatinha. Neste momento chegou o correio coruja. Todos ficaram olhando quando quatro grandes corujas entraram no salão carregando uma cesta, que foi colocada bem na frente de Filch. Este abriu a cesta e madame Norris saltou fora desta, fazendo o zelador desmaiar ao ver o estado da gata, que desfilou em cima da mesa dos professores, para todos a verem. O cheiro de chocolate cercava o bichano que agora era branco, cheio de pintas coloridas e com um grande laço vermelho no pescoço. Os alunos tiveram um acesso de riso ao verem a gata, que era detestada por todos. Muitos professores também tentaram segurar as risadas. Morgan olhava para Sirius com raiva por ter perdido a aposta, enquanto este lhe deva um sorriso triunfante. Remus e Thera apenas sacudiam as cabeças, percebendo logo quem eram os responsáveis pelo visual novo da gata, enquanto Minerva tentava, em vão, controlar a situação.

Depois de muitas risadas por boa parte da escola, Filch conseguiu pegar madame Norris e a carregou para fora do salão, a segurando com força contra o peito. Muitos alunos e vários professores se levantaram, dando o café da manhã por encerrado e dirigindo-se para suas salas de aula.

Morgan se levantou, furiosa por haver sido passada para trás, e atravessou o salão batendo os pés. Sirius não resistiu a isto e, com um sorriso maroto, se transformou em Padfoot, indo atrás dela. Remus viu a ação do amigo, mas não conseguiu para-lo a tempo. O grande cachorro preto latiu, atraindo a atenção de Morgan, que se virou, para si. Então ele começou a correr e pulou na professora de Duelos, a derrubando no chão, antes de lamber o rosto dela.

Morgan ficou estática a princípio, antes de começar a se debater, tentando tirar o enorme cão de cima de si. Os alunos e professores que ainda estavam no salão observavam a cena, não sabendo o que pensar dela. Remus, Thera e Minerva sacudiam as cabeças, não sabendo o que mais fazer com Morgan e Sirius. Quando Padfoot manejou lamber a boca de Morgan, esta finalmente conseguiu se desvencilhar do animal, o jogando longe, antes de se levantar e começar a persegui-lo para se vingar. Mas o cão era mais rápido. Então a professora de Duelos puxou sua varinha e murmurou um feitiço, que atingiu Padfoot em cheio, fazendo este parar no lugar onde estava e começar a se coçar. Morgan se deu por satisfeita e marchou para fora do salão. Muitos que ainda estavam ali presentes seguiram com ela.

Sirius manejou voltar a forma humana, mas sem conseguir parar de se coçar. Remus foi até ele, com a melhor cara de censura que pode fazer, e parou de braços cruzados perto do amigo.

"Anda logo, Moony. Inverta logo este feitiço para que esta maldita coceira pare!"

"FINITE INCANTATUM!" Falou Remus, terminando com a coceira do amigo.

"Obrigado." Agradeceu o animago.

"Por que fizeste isto, Padfoot? Algo me diz que ela não gostou nem um pouco, além de ter sido uma ação muito infantil e, o pior de tudo, feita bem na frente dos alunos."

Sirius fez uma careta para o lobisomem, antes de simplesmente sacudir os ombros.

"Esta mulher me adora, Moony. Marque bem isto. Esta mulher me adora."

E com isto o animago saiu do salão, indo dar sua primeira aula do dia.

*****

Morgan passara a noite inteira acordada, trabalhando no seu laboratório particular, para terminar aquela poção. Hoje ela se vingaria daquele animago convencido pelas lambidas que recebera no dia anterior.

Selando a poção dentro de uma garrafinha, a professora de Duelos foi silenciosamente até a cozinha, onde despejou o conteúdo desta dentro da jarra de suco de abóbora que seria colocado na frente de Sirius, depois de dizer aos elfos domésticos que aquilo era um fortificante que ele havia lhe solicitado.

Depois disto ela foi até o salão e lançou um feitiço na cadeira dele, antes de abrir uma pequena caixa e derrubar o conteúdo desta na cadeira. Após todos os preparativos estarem terminados, Morgan saiu do salão, se preparando para retornar quando mais pessoas já estivessem ali reunidas, para não atrair atenção para si mesma.

*****

Sirius se sentou confortavelmente na sua cadeira à mesa do salão, pronto para continuar saboreando sua grande vitória sobre Morgan no dia anterior. Enquanto esta não chegava, o animago se serviu de um grande copo de suco de abóbora, o tomando em poucos goles. Nisto Morgan entrou no salão, se sentando na sua cadeira e vigiando Sirius com um sorriso malicioso, que rapidamente chamou a atenção deste. O que ela poderia ter aprontado para sorrir daquela maneira? Foi enquanto pensava nisto que Sirius sentiu as primeiras mordidas. Ele se levantou num salto e começou a procurar, enquanto sentia picadas por todo o corpo. Foi quando ele viu aquele pontinho preto minúsculo, que só podia significar uma coisa: pulgas!

Neste meio tempo todo o salão olhava para Sirius, vendo este se coçar e se estapear. Alguns professores logo entenderam qual era o problema e começaram a arredar suas cadeiras para longe do animago. Morgan não conseguiu se segurar mais e caiu na risada, saboreando sua vitória.

Sirius puxou sua varinha e lançou um feitiço anti-pulgas, mas nada aconteceu. Ele tentou outro feitiço, e então mais um, mas nenhum deles resolvia o problema.

"O que você fez?" Perguntou irritado para Morgan.

"Este é o resultado do trabalho de uma Mestra de Poções, seu arrogante. Já que você quer ser um cachorro para lamber as pessoas, pois então que tenha as pulgas que este tem, pulguento!" E com isto a jovem se retirou da mesa.

Sirius começou a ferver de raiva observando Morgan sair do salão enquanto continuava a sentir as picadas. Ele então foi até Remus.

"Remus, me ajuda com isto."

Remus olhou bem para seu amigo. Ele queria ajudar, mas Thera já o havia avisado que quando Morgan preparava uma poção para um fim específico, apenas outro mestre de Poções poderia fazer alguma coisa. Além disto, se tratavam de pulgas, e a lua cheia ocorreria na noite seguinte...

"Sinto muito, Padfoot, mas amanhã é lua cheia e a última coisa que eu precisarei, então, serão pulgas me picando." Com isto o lobisomem também se levantou da mesa, acompanhado pela profetisa, e saiu do recinto.

Sirius olhou ao redor, magoado com o amigo, mas entendendo a posição deste. Moony já sofria demais com a transformação para ainda ter que se preocupar com pulgas. Neste meio tempo ele também entendera que Morgan não devia ter utilizado um feitiço, mas sim uma poção. E para resolver isto seria necessária a intervenção de um mestre no assunto. Como provavelmente Morgan não o ajudaria, isto lhe deixava apenas uma única alternativa, por mais que ele a odiasse. Ele teria que pedir ajuda a Snape.

*****

Severus estava quase caindo da cadeira de tanto rir do dilema de Sirius. Nos últimos dois dias ele se divertira muito, primeiro com Morgan sendo lambida pelo animago, agora com Sirius tendo pulgas. O mestre de Poções logo reconhecera o que a Du Lac intrometida fizera. Ela fizera Sirius beber uma poção que atraía pulgas por uma semana e as mantinha presas ao alvo, a não ser que se bebesse outra poção e, pelo visto, havia colocado um feitiço na cadeira de Sirius para impedir que as pulgas se espalhassem pelo salão até que o alvo delas chegasse.

Severus tinha que dar o braço a torcer. Ter Black e a Du Lac ali na escola estava sendo muito divertido. Ele finalmente se sentia vingado por tudo o que sofrera nas mãos do animago enquanto eles eram alunos. Neste momento ele percebeu Black se aproximando cabisbaixo da sua cadeira.

"Snape, me livre destas pulgas."

Severus abriu seu sorriso mais satânico.

"Eu não estou ouvindo, Black. Poderias repetir?"

"Snape, você me livra destas pulgas?"

"Acho que faltaram as palavrinhas mágicas, Black, por isto eu não estou ouvindo."

Sirius respirou fundo.

"Professor Snape, você poderia, por favor, me livrar destas pulgas?"

"Agora sim, nós temos um progresso. Eu acho que posso fazer algo a respeito, mas apenas...."

Sirius se exasperou.

"Mas o que? Fale de uma vez, homem!"

"Mas apenas se, fora dos horários de aula, tu fores meu escravo por uma semana."

"O QUE? Mas nem morto."

"Tudo bem, então conviva com as pulgas, pulguento. Se mudares de idéia, sabes onde me encontrar." E com isto Severus saiu do salão, deixando Sirius para trás o fuzilando com o olhar.

Naquele mesmo dia Severus recebeu a visita de Sirius, que concordou com a exigência deste para se ver livre das pulgas. O professor de Poções teve a melhor semana da sua vida depois disto.

*****

O final do ano letivo se aproximava rápido, e com ele o tão esperado casamento de Remus e Thera.

A profetisa fora várias vezes a loja de Madame Malkin junto com uma comitiva das outras professoras de Hogwarts para experimentar seu robe para o casamento. As colegas de serviço insistiram e este não seria azul como todas as outras roupas da profetisa. Fora difícil chegar a um consenso sobre a cor do traje e o modelo dele porque todas as mulheres queriam dar sua opinião. Thera apenas dissera que seria um casamento bruxo tradicional, realizado segundo as leis do Ministério e de Ávalon. Mas a profetisa não abriu mão de utilizar seu véu bordado, símbolo do que ela era, com flores de laranjeira espalhadas sobre ele, como mandava a tradição.

Remus estava enfrentando um problema semelhante, enquanto ouvia Sirius, Harry, os Weasley, Pérgamo e até Severus, que fora ao Beco Diagonal arrastado por Rolanda, dando palpites sobre seu robe. Severus insistia no uso de preto que, segundo ele, era sempre elegante. Sirius começou a discutir com o Mestre de Poções ao ouvir isto, dizendo que o melhor era um traje azul marinho, já que Thera provavelmente usaria algo azul como sempre.

O lobisomem ouviu os conselhos e as discussões por algum tempo, antes de perder a paciência, mandando todos calarem a boca que o casamento era dele e de Thera, e que ele iria decidir sozinho sobre a cor de seu robe. Todos ficaram olhando para Remus de olhos arregalados porque nunca o haviam visto perder a paciência.

*****

No último final de semana do ano letivo, que era no período da lua crescente, Hogwarts recebeu inúmeros convidados, ficando com as dependências para hóspedes lotadas. A família Du Lac, o alto conselho da Ilha Sagrada, a diretoria e o corpo docente das academias Druídica e Ávalon e os representantes de todas as famílias radicadas em Ávalon estavam presentes, ansiosos para testemunharem o casamento de Thera Du Lac e Remus Lupin.

Vários representantes do Ministério também compareceram, querendo marcar presença e saciar a curiosidade sobre os habitantes da mítica ilha. Convites para o casamento foram disputados por muitos.

Remus estava em pé naquele que era seu quarto pela última vez. De comum acordo ele e Thera resolveram que eles deveriam morar nos aposentos dela, que foram modificados magicamente para acomodarem a biblioteca do lobisomem e os animais que eram objetos de estudo de algumas séries de DCAT. O casal também concordara que a sala de meditação seria praticamente de uso privativo da profetisa, por conter muitos objetos de prata que eram fatais para Remus.

O professor de DCAT terminava de colocar seu robe, feito de um belíssimo tom de dourado, diante dos olhos vigilantes de Sirius, Harry e Severus, que estava ali para ter certeza que os outros dois não aprontariam nada com o noivo. O lobisomem estava começando a caminhar nervosamente pelo quarto. Ele estava nervoso com o casamento e com a noite que se seguiria...

"Calma, Moony. Daqui a pouco tu farás um buraco no chão. Conta aqui pro velho Sirius o que te preocupa?"

Remus se sentou numa cadeira e colocou o rosto entre as mãos e ficou em silêncio.

"Não te preocupes, Remus, eu passei por isto e sei como é angustiante esta espera pela cerimônia. Mas logo, logo esta começará!" Falou Harry dando um tapinha nas costas do ex-maroto. Sirius se apressou em concordar, apesar de dizer que não era casado para saber disto, mas que lembrava de ter visto James e Harry nervosos nos seus casamentos. Até mesmo Severus teve que concordar que também estivera nervoso. Mas Remus continuava calado.

"Fala de uma vez, Moony, o que te aflige?"

"Estou nervoso sobre o que vai acontecer depois da cerimônia e da festa." Falou Remus numa voz muito baixa.

Os outros três homens no aposento olharam incrédulos para o diretor de Gryffindor. Se Remus não estava preparado para se casar, então nenhum dos presentes estaria.

"Mas Moony...", começou a falar Sirius, "Eu achei que este casamento com a profetisa era tudo o que você queria. E agora me dizes que não estás pronto para casar."

Remus levantou o rosto e encarou os três.

"Não é isto. Vocês entenderam errado. Eu estou mais do que pronto a dividir toda a minha vida com Thera. Ela é minha outra metade."

"Então qual é o problema?" Severus perguntou bruscamente.

O Lobisomem respondeu baixinho e nenhum dos presentes conseguiu entender.

"Dá pra repetir mais alto, Remus?" Perguntou Harry.

"Estou nervoso por causa da noite de núpcias. Pronto, eu disse. Satisfeitos agora?"

Sirius abriu um grande sorriso.

"É verdade, eu tinha me esquecido que o Moony aqui é virgem. Eu pensei que este probleminha havia sido solucionado durante o noivado, mas acho que me enganei..."

"Padfoot, isto não é engraçado. Eu tenho medo de não agradar Thera, ou de machucá-la caso eu não consiga dominar o lobo dentro de mim."

"Não se preocupe, Moony, o velho Padfoot aqui, conhecidíssimo por seus altos conhecimentos na arte de amar, vai te dar uma dicas para uma noite maravilhosa de amor com a tua profetisa..." Começou a falar Sirius, estufando o peito, feliz com a oportunidade de falar sobre suas conquistas amorosas desde os tempos da escola.

"Cala a boca, Black, que nos últimos tempos você não consegue agarrar nem uma cadela, a não ser que as pulgas contêm como algo neste campo." Cortou Severus o discurso do animago.

Sirius se esquentou e ia começar a discutir, enquanto Harry e Remus tentavam segurar o riso por causa do vermelhão do animago.

"Olha quem fala, seboso. Até parece que você sabe muito do assunto."

"Pelo menos minha esposa não reclama. Aliás, acontece justamente o contrário."

Ao ouvir isto Harry não agüentou e desatou a rir, lembrando da noite em que ele e Ginny surpreenderam Severus e Rolanda numa posição muito comprometedora no campo de Quadribol. Severus percebeu que Harry estava pensando naquela ocasião e corou um pouco.

"Então o que você sugere, espertalhão?" Perguntou Sirius indignado.

"Eu apenas quero dizer a Lupin para seguir seus instintos. Afinal de contas ele é um lobisomem e a profetisa sabe disto e o aceita pelo que ele é. Seguindo seus instintos ele saberá o que fazer e se o que está fazendo está certo ou não."

Remus pensou sobre isto um pouco e percebeu que Severus estava certo. Thera o amava pelo que ele era, homem e lobo. E seus instintos e sentidos eram tão aguçados que ele poderia sentir e saber qualquer coisa que Thera estivesse sentindo naquela noite. Remus abriu um sorriso de alivio e se levantou, andando até o mestre de Poções e o abraçando, surpreendendo a este e a Sirius e Harry.

"Obrigado pelo conselho, Severus."

"Isto não era para ser um conselho, lobisomem. Era para ser um insulto." Replicou Snape com um discretíssimo sorriso.

"Então sempre que quiseres me insultar desta maneira, serás bem vindo, Severus."

*****

Todos os convidados se aglomeravam a beira do lago de Hogwarts, no mesmo lugar onde havia sido o casamento de Harry e Ginny. Os habitantes de Ávalon eram facilmente reconhecidos por se trajarem de azul, com robes requintados e feitos de tecidos caros. A diretora da Academia Ávalon era facilmente reconhecida pela sua imponência e pela tiara de ouro e pedras preciosas que usava. A alta sacerdotisa do culto da Deusa Mãe podia ser reconhecida pela pintura que utilizava no rosto. O conselho da Ilha Sagrada utilizava robes do mesmo feitio, com uma faixa que indicava quem eles eram.

O ministro Weasley também usava seu melhor traje, sabendo da importância desta união para o seu amigo e para a sociedade bruxa. Toda a sua família estava presente, bem como inúmeros membros do alto escalão do ministério.

Todos os presentes tinham velas nas mãos, que se acenderam tão logo o noivo saiu do castelo. Enquanto Remus se aproximava acompanhado por Harry, Sirius e Severus, todos os presentes formaram dois grandes círculos. No menor deles estavam os amigos mais próximos dos noivos, bem como os familiares de Thera e os colegas do serviço deles, além de vários habitantes de Ávalon.

No círculo externo estavam todos os alunos de Hogwarts, além de várias outras pessoas que haviam comparecido.

Remus se postou no meio do círculo, onde estavam presentes Arthur Weasley e Gawain Rhys, presidente do alto conselho da Ilha Sagrada, que iriam celebrar a união do lobisomem e da profetisa, além de Harry e Ginny, que atuariam como parentes de Remus, já que este não tinha nenhum parente ainda vivo, e Sirius, que era o padrinho de Remus. Também estavam presentes a mãe de Thera, já que o pai chegaria com a filha em pouco tempo, e Morgan, como madrinha de Thera.

Foi quando todos os sussurros pararam e Thera entrou no círculo acompanhada por seu pai. Remus sabia que nunca a havia visto tão linda. O robe prateado que ela usava fazia com que os cabelos dela parecessem brilhar mais do que nunca abaixo do véu bordado que utilizava. Os olhos violeta dela pareciam mais límpidos do que nunca. O perfume das flores de laranjeira que se espelhavam por cima do véu encheu os sentidos de Remus. Thera parecia com uma daquelas fadas que os trouxas desenhavam nos livros infantis, completamente etérea. E em pouco tempo aquela beldade seria sua esposa.

Thera olhava firmemente para Remus, fascinada em como o robe dourado que este usava ressaltava os cabelos castanho-claros levemente grisalhos e os olhos âmbar. A profetisa abriu um sorriso ao pensar como até as roupas deles se completavam perfeitamente. Ela de prateado e ele de dourado, como a noite e o dia.

O pai de Thera a levou até Remus e lhe deu um beijo na testa, antes de se unir a mãe da profetisa mais atrás.

Arthur Weasley olhou para os dois noivos.

"Meus amigos, estamos aqui reunidos hoje para celebrarmos a união de duas pessoas que enfrentaram todos os obstáculos que lhes foram apresentados antes de finalmente poderem se unir. Ambos enfrentaram grandes provações através de suas vidas. Provações estas que os deixaram fortes. E hoje eles vêm aqui de livre e expontânea vontade para trocarem seus votos de amor e fidelidade, dando assim um passo importantíssimo para o futuro e a felicidade de ambos. Foi previsto que eles se encontrariam e que o futuro de um andava junto com o futuro do outro, como aconteceu nas outras vidas que eles se encontraram." Arthur se calou, enquanto Gawain repetia suas palavras em galês para aqueles que viviam na ilha sagrada mas não compreendiam o inglês. Depois que isto aconteceu, Arthur fez um sinal para que Remus e Thera se aproximassem e trocassem seus votos de casamento.

Remus olhou fundo nos olhos de sua amada, vendo apenas felicidade e amor, amor por ele, dentro deles. Pegando as delicadas mãos nas suas, as acariciou um pouco, antes de dizer seus votos.

"Thera, quando eu era muito pequeno, uma maldição se abateu sobre mim, me trazendo desespero e, conforme fui crescendo, a certeza que nunca encontraria alguém para amar. Eu sou um lobisomem e, como todo lobisomem, apenas posso amar uma única pessoa por toda a minha vida. Mas normalmente os lobisomens nunca chegam a encontrar esta pessoa, morrendo solitários. Mas eu te encontrei. Sonhei contigo por muito tempo antes de finalmente de encontrar. Eu soube, desde que te vi, que eras a minha companheira destinada, que tu eras a única pessoa que eu poderia amar na minha vida. Para a minha felicidade, tu me aceitaste como homem e como fera. Aquela noite na floresta, onde tu dominaste o lobo, o aceitando por completo, foi uma das noites mais felizes da minha vida. Eu te amo com todo o meu ser e sei que vou te amar por toda a minha vida e além dela, por toda a eternidade. Eu prometo, minha querida, te amar, te proteger, te venerar, te adorar e te fazer feliz com todas as forças do meu ser.

Thera sentiu seus olhos ficarem aguados ao ouvir as palavras de Remus. Sorrindo, a profetisa começou a dizer seus votos.

"Remus, tu vieste a preencher um vazio que havia dentro de mim que eu não sabia existir. Por toda a minha vida estive a prever o que aconteceria, tendo visões do futuro. Numa destas visões eu te vi, e soube, desde aquele momento, que a minha vida e a tua estavam interligadas. Então eu vim para Hogwarts e te conheci. A primeira vez que nos beijamos eu soube que nosso destino era estarmos juntos, pois nós assim estivemos em inúmeras vidas no passado. Nós somos duas metades de uma mesma alma que se procuram vida após vida, sempre se encontrando e se apaixonando novamente. Tu me aceitaste pelo que sou, entendendo meu destino como a Profetisa de Ávalon, assim como eu te aceitei e vim a te amar pelo que tu és, homem e lobo. Eu testemunhei o teu tormento nas noites de lua cheia, e isto apenas veio a aumentar meu amor por ti. Tu és uma pessoa maravilhosa, como homem e como lobo. Ao teu lado me sinto segura, protegida e amada. Te amo tanto que hoje estou aqui fazendo algo que nenhuma profetisa antes de mim fez por mais de dois milênios. Estou aqui para me entregar a ti de corpo e alma, para me tornar tua esposa. Eu te amo e hei de te amar por toda a eternidade.

Remus também sentiu seus olhos marejarem ao ouvir Thera. Aquela mulher maravilhosa significava mais do que a própria vida para ele, e o lobisomem novamente prometeu a si mesmo fazer tudo o que pudesse para que ela fosse feliz. Então ele soltou uma das mãos de Thera apenas por tempo o suficiente para pegar as alianças com Sirius, que deu um sorriso de incentivo para o amigo. Então o diretor de Gryffindor colocou a aliança mais delicada no dedo anelar da mão esquerda de Thera antes de levar esta mão até seus lábios e a beijar. Thera colocou a aliança sobressalente em Remus, olhando intensamente nos olhos dele. Remus então interligou os dedos de ambos, antes de trocar um beijo cheio de ternura e amor com sua esposa.

Neste momento os pais de Thera se aproximaram e deram sua benção ao casal. Em seguida foi a fez dos Potter, como representantes da família de Remus, já que Harry era como um sobrinho para o lobisomem. Então chegou a vez de Sirius e Morgan, como padrinhos, os abençoarem. Por fim, a atual Dama do Lago, Nimue Du Champs, a alta sacerdotisa de Ávalon, abençoou o jovem casal, com toda a majestosidade que possuía como a representante da Deusa-Mãe.

Finalmente o casal assinou o livro de registros do Ministério e o de Ávalon, tornando o matrimônio indissolúvel perante a lei dos bruxos e da Ilha Sagrada.

Depois de encerrados estes procedimentos, todos apagaram as velas que traziam, desmanchando os círculos tradicionais, enquanto Remus puxava Thera para outro beijo, cheio de paixão e felicidade, antes de começar a puxar sua esposa para dentro do grande salão de Hogwarts, onde ocorreria a festa do casamento, sendo seguidos por todos os presentes.

*****

Sirius estava parado num canto do salão observando Remus e Thera dançando pela enésima vez aquela noite. Ele estava muito feliz por seu amigo, que finalmente se unira a mulher que amava. Um pouco mais ao lado ele pode ver Harry e Ginny dançando. Até mesmo Snape estava na pista de dança com Rolanda nos braços.

Sirius tinha um pouco de inveja da felicidade deles. Todos haviam encontrado alguém para amar. James fora o primeiro. Parecia que fora ontem que seu melhor amigo se casara com a sua Lilly, mas isto acontecera há mais de vinte anos. Prongs e sua amada tiveram pouco tempo juntos, antes de Voldemort terminar com a vida deles. Agora o filho dos dois dançava feliz nos braços da esposa, fazendo com que o animago se sentisse velho.

Depois do final da guerra, Sirius fora ao casamento de todos os Weasley, de Harry e, agora, ao casamento de Remus. Até Snape encontrara alguém e se casara. Como Sirius almejava encontrar uma pessoa especial com quem pudesse dividir o resto de sua vida...

Sem entender porque, a imagem de Morgan apareceu nos pensamentos do animago ao pensar em alguém especial. Ele logo a dispensou.

Neste momento ele sentiu alguém se aproximando por trás e, ao se virar, encontrou-se cara a cara com a professora de Duelos.

"Alguma outra brincadeira com pulgas?" Perguntou cheio de malícia.

"Não, apenas procurando alguém para conversar que não esteja se derretendo de amor ou falando de amor, ou falando sobre o amor dos noivos, ou qualquer outra coisa parecida. Achei que tinha encontrado, mas me enganei ao pensar que poderia ter uma conversa interessante contigo, seu arrogante."

Sirius olhou atentamente para a mulher ao seu lado. Ela o irritava profundamente, mas ele também não podia negar que aqueles lábios carnudos pareciam pedir para serem beijados sem piedade alguma. Que os cabelos negros pareciam querer que ele corresse seus dedos por eles vezes sem conta. Que as curvas daquele corpo feminino, escondidas embaixo do robe azul, pareciam implorar para serem exploradas...

Sirius sacudiu a cabeça, tentando afastar estes pensamentos sobre a mulher ao seu lado, que sempre o tirava do sério.

"Vamos sair da festa. Vamos a algum outro lugar. Eu também não agüento mais todo este romantismo."

Morgan o olhou cheia de desconfiança.

"E o que te fazes pensar que eu quero sair daqui para outro lugar, e ainda por cima com a tua companhia?"

"Ora, a minha personalidade vibrante, claro! Além disto, eu sou o único que não está se derretendo vendo o amor dos noivos e eu também posso oferecer um passeio inesquecível na primeira e única motocicleta voadora do mundo bruxo."

"Convencido! Mas a parte da motocicleta voadora soa interessante. Eu não sabia que existia uma destas."

"E não existe. Eu mesmo comprei a moto e a encantei."

"Claro, só podia ser coisa tua. Mas eu topo, nem que seja apenas para mostrar que esta tua moto não funciona direito, como tudo o mais que tu fazes."

"Ela funciona sim. Me encontre no portão principal em meia hora, e coloque algo mais confortável para voar na minha maravilhosa moto!"

*****

Morgan andava do lado de fora de Hogwarts vestindo uma calça confortável de brim e um suéter vermelho, que realçava os belos cabelos negros. Ela detestava usar calças, preferindo robes, por serem muito mais confortáveis, mas algo lhe dizia que ela se arrependeria se não colocasse calças para voar naquela tão falada moto.

Foi quando ouviu um barulho muito alto e percebeu um grande farol voando na sua direção. Pouco depois Sirius aterrissava a moto na frente dela. O animago utilizava calças de couro e botas, uma camisa branca cujos primeiros botões estavam abertos, permitindo a visão dos pêlos escuros do peito dele, e uma jaqueta de couro por cima. Um lenço pendia frouxamente no pescoço dele. Se Morgan não o achasse tão detestável, ela seria obrigada a concordar que ele estava muito sexy.

"Suba de uma vez, mulher. Quero mostrar como esta belezinha voa macia, além da bela vista das montanhas da Escócia e dos campos da Inglaterra."

"Não enche, Black." Cortou Morgan rispidamente antes de subir na carona da moto, atrás de Sirius, que rapidamente decolou.

Os dois voaram por quase quatro horas, trocando farpas verbais sobre o desempenho da motocicleta e sobre a vista abaixo. De repente Sirius aterrissou a moto diante de uma grande casa.

"Que lugar é este, convencido?" Perguntou a professora de Duelos.

"Esta é a mansão Black. Foi aqui que nasci.", Respondeu Sirius com tristeza na voz, "O Ministério me devolveu a propriedade depois que todas as acusações contra mim foram retiradas, mas nunca vim até aqui. Não venho aqui desde que me mandaram para aquele inferno."

Morgan não sabia de onde surgiu a vontade repentina de abraçar o animago, dizendo que tudo iria ficar bem. Ela conhecia a história dele. Ela fizera uma pesquisa sobre ele para poder aplicar bons logros. Havia um vazio de doze anos na história daquele homem, onde aparecia apenas um único registro: Azkaban. Tudo o que Morgan podia imaginar era que aquela prisão deveria ser mesmo o inferno com o qual Sirius tão bem a comparara.

"E seus pais?" Ela perguntou numa voz baixa.

"Meu pai morreu pelas mãos de Voldemort. Minha mãe morreu de desgosto por imaginar que eu era um traidor, um assassino. Não me permitiram sair de Azkaban para comparecer ao funeral." Sirius respondeu se virando para encarar Morgan. Então ele desmontou da moto e a ajudou a descer, antes de começar a puxá-la para dentro da casa.

"Eu acho que os elfos domésticos da família ainda vivem aqui, mesmo depois de todos estes anos." Sirius falou quando entraram no ambiente limpo do interior da casa.

"Eles estavam ligados a tua família. É normal que eles tenham permanecido, esperando que algum Black voltasse a herdade."

Sirius andava vagarosamente pela casa, olhando cada peça como se fosse a primeira vez.

"Eu nunca tive coragem de vir aqui desde que o Ministério me devolveu o lugar, mas senti que eu deveria fazer isto esta noite."

Foi quando entraram num quarto com vários posters de times de Quadribol nas paredes. Miniaturas de motocicletas enchiam as estantes. Uma Silver Arrow, vassoura que fora top de linha há mais de duas décadas, estava pendurada num lugar de destaque na parede, ao lado de um conjunto de bolas e bastões de Quadribol e do uniforme do time de Gryffindor. Uma fotografia do time também tinha encontrado seu lugar em uma das paredes, dentro de uma bela moldura de madeira entalhada. Morgan se aproximou da foto e começou a olhar para os rostos daqueles adolescentes.

"Lilly bateu esta foto quando ganhamos o campeonato da escola quando eu estava no sétimo ano."

A professora de Duelos logo reconheceu Sirius, apesar deste estar tão diferente do adolescente despreocupado da fotografia. Todos os jogadores começaram a abanar para ela, mostrando a taça que eles haviam ganho. Morgan também conseguiu identificar Rolanda na foto, pois os cabelos desta eram inesquecíveis. Outro jogador também chamara a atenção pela similaridade com Harry Potter.

"Este é James, pai de Harry. Ele era o capitão do time." Disse Sirius vendo a direção do olhar da bruxa.

Morgan ouviu a tristeza na voz no homem ao seu lado e olhou para ele. Sirius estava com uma expressão séria, mas nos seus olhos podia-se perceber o esforço que ele fazia para não se entregar a tristeza. A bruxa resolveu seguir seus instintos e abraçou o animago, que prontamente correspondeu ao abraço.

Inúmeros minutos se passaram antes de ambos levantarem seus rostos e se encararem. Sirius só conseguia pensar que aquela mulher era a resposta a sua solidão e, sem titubear, capturou os lábios dela num beijo apaixonado.

Morgan correspondeu ao beijo nos primeiros minutos, antes de se afastar e acertar um tapa bem forte no rosto de Sirius, deixando a marca de sua mão lá.

"AI! Por que apanhei agora?" Perguntou o animago, enquanto esfregava o rosto.

"Por me beijar sem permissão, seu arrogante!"

Os dois se encararam, antes da professora de Duelos acertar outro tapa em Sirius.

"UI! E por que apanhei agora?"

"Por ser convencido, arrogante e sexy, e por demorar muito para pedir permissão para me beijar!"

Sirius olhou bem para os lábios carnudos de Morgan.

"Posso te beijar até te deixar sem fôlego?"

Morgan não respondeu. Ela simplesmente puxou Sirius para si num beijo sôfrego.

Os dois apenas se separaram quando seus corpos gritaram por oxigênio. Sirius passou então a beijar o pescoço de Morgan enquanto ela mergulhava seus dedos nos cabelos negros dele. Pouco depois o único ruído ouvido no quarto era o de roupas sendo retiradas e roucos gemidos de prazer...

*****

Remus e Thera se despediam de seus últimos convidados antes de se retirarem para a privacidade de seus novos aposentos. Os dois haviam dançado muito e recebido felicitações e bênçãos de muitos presentes. Agora os dois caminhavam de mãos dadas para sua primeira noite como casados. Ambos pouco se olhavam, se sentindo tímidos com o que eles sabiam que aconteceria dentro de pouco tempo. Mas cada vez que o olhar de um captura o do outro, os dois coravam num lindo tom de vermelho.

Quando chegaram naquela que seria a casa deles em Hogwarts, Remus se encheu de coragem e ergueu Thera em seus braços, antes de dizer a senha para a pintura que guardava o lugar. Pouco depois a pintura retornou ao seu lugar, escudando do mundo o ninho de amor dos recém casados.

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Finalmente cheguei ao final do tão esperado capítulo de Encontros. Desculpem a demora, mas andei muito ocupada nos últimos dias. Prometo que não demorarei tanto para mandar o próximo capítulo.

Finalmente Sirius e Morgan se renderam ao desejo que corre entre eles. Agora vamos esperar e ver como se desenrola o relacionamento dos dois. Também não vou me esquecer de Remus e Thera. Não esqueçam de ler o novo capítulo de Reencontros para outros detalhes que não apareceram aqui.

Obrigada pelas revisões e citações.

Espero que gostem deste capítulo. Me deixem saber a opinião de vocês.

Boa leitura!

Fabi