CAPÍTULO OITO – A FORÇA DE UM VÍNCULO

Os sentidos de Remus lentamente começaram a entrar em foco. Ele sentia muita dor de cabeça, como nos dias depois da lua cheia. Seu corpo também doía muito.

Por mais que tentasse, ele não conseguia se lembrar de ter se transformado na noite anterior. Seu relógio biológico lhe dizia que ainda faltavam duas semanas para a lua cheia.

Seu olfato captou os cheiros familiares de remédios e poções, além do cheiro de outras pessoas. Severus. Sirius. Rolanda. Minerva. Morgan. Poppy. Harry.

Alguma coisa parecia muito errada, mas os sentidos do lobisomem ainda estavam nublados. Tentando clarear seus pensamentos, Remus começou a forçar as lembranças do que haviam acontecido naquele dia: ele acordara com Thera em seus braços... ele fizera amor com sua esposa durante o banho... os dois tomaram café no salão principal... ele fora com Thera a Hogsmeade.... eles almoçaram com os Snape.... eles visitaram várias lojas.... Thera parando abruptamente no meio da rua prevendo um ataque... eles cercados por Neo Comensais da Morte... o grito de Estupefaça antes de algo o atingir e tudo ficar negro.

Foi neste momento que Remus soube o que estava errado. Thera. Ele não sentia a presença de sua esposa no quarto. Nada mais se passava pela mente de Remus. Seu único pensamento era Thera. Sua companheira não estava ao seu lado.

"THERA!" Remus gritou sentando-se na cama onde estivera deitado. Todos na ala hospitalar se assustaram ao ouvir aquele grito.

"Moony! Calma, amigo." Um par de mãos tentou segurar Remus, que começara a se levantar para procurar por sua fêmea. O lobisomem facilmente afastou aquelas mãos de si. Neste momento, outras mãos se juntaram as primeiras para segura-lo na cama.

"Eu não consigo contê-lo." Exclamou a primeira voz.

"Segurem-no apenas mais um pouco, rapazes." Uma voz feminina pediu.

Remus continuou lutando para se soltar, ignorando as dores em seu corpo. Ele sentiu alguém segurando sua cabeça, antes de um líquido malcheiroso e de gosto muito ruim lhe ser empurrado goela abaixo. O lobisomem começou a se sentir sonolento, mas continuou lutando para se libertar até que a inconsciência o clamou novamente.

*****

Naquela noite, Poppy Pomfrey finalmente se permitiu descansar numa cadeira ao lado da cama de Remus depois de ter expulsado Sirius de dentro do quarto. Durante todos os seus anos em Hogwarts, ela sempre tivera um lugar especial no coração para vários alunos, principalmente aqueles que a visitavam seguidamente na ala hospitalar: Harry Potter, Neville Longbotton, Charles Weasley, Severus Snape e tantos outros. Mas aquele que sempre tivera mais espaço dentro de seu coração sempre fora Remus Lupin. Ela sabia que isto era devido a este último ter sido o único aluno a quem ela nunca conseguiria curar. Por anos ela acompanhara Remus até a entrada do túnel abaixo do Salgueiro Lutador para a chegada da lua cheia, sempre buscando o garoto, completamente esgotado e muito ferido, na manhã seguinte. Por anos ela lera tudo o que lhe caísse em mãos sobre licantropia e licantropos esperando encontrar qualquer coisa que ajudasse a diminuir o sofrimento de Remus durante a lua cheia. E nunca encontrara nada.

Quando Severus lhe falara sobre a poção Mata Cão, Poppy ficara eufórica e insistira com Severus para que este aprendesse a fazê-la, coisa que o Mestre de Poções pretendia fazer de qualquer maneira, para testar sua habilidade.

Poppy ainda lembrava da alegria que sentira ao ir ver Remus depois da primeira lua cheia a qual ele tivera acesso a nova poção depois de voltar para Hogwarts, desta vez como professor. Ela ainda o encontrara com ferimentos, mas nenhum deles era auto-afligido. O lobo estava sob o controle do homem.

E agora seu paciente favorito estava novamente inconsciente numa cama da enfermaria. Enquanto zelava por ele, Poppy começou a relembrar o que acontecera mais cedo naquele dia...

Ela começara a separar poções tão logo Minerva a avisara do novo ataque à Hogsmeade. A medibruxa gostava de estar preparada para qualquer eventualidade. Aos poucos alguns alunos foram trazidos, todos atingidos por feitiços leves ou por destroços. Poppy rapidamente lhes prestou os devidos cuidados e os despachou para as salas comunais de suas casas. Ela queria a ala hospitalar livre caso houvesse casos mais graves.

Pouco depois ela ouviu um alto murmurinho. Foi quando a porta da ala hospitalar se abriu. Charles Weasley e Rolanda Snape entraram apoiando Severus, que tinha um braço ensangüentado e mostrava sinais de ter sido atingido por algumas outras maldições.

Poppy mal terminara de acomodar o mal-humorado paciente quando Sirius Black chegou discutindo com Morgan, ambos trazendo atrás de si o corpo de um inconsciente Remus flutuando.

"Calem a boca vocês dois!" Ralhou Poppy com o animago e com a Du Lac. "Isto ainda é uma ala hospitalar. O que aconteceu com Remus?" Indagou a medibruxa preocupada.

Para a sua surpresa, foi Severus quem respondeu, numa voz cheia de dor.

"Nós fomos pegos de surpresa pelo ataque. Os miseráveis começaram a se concentrar em Lupin e Thera. Foi quando eu entendi que eles queriam a profetisa o tempo inteiro. Ela era o alvo do ataque. Remus foi atingido por algumas maldições pesadas, mas não parou de defender a Thera e aos alunos. Foi quando ele foi atingido por alguns Estupefaça. Não sei exatamente quantos, mas tenho certeza que ouvi mais de três gritos. Alguém ainda o acertou com alguma outra coisa. Não ouvi bem o que era, os gritos da profetisa tentando se soltar e chegar até Lupin eram mais altos. Quando eles a pegaram, trataram de aparatar para longe. Foi quando Black, Weasley e os demais chegaram."

Poppy concordou e começou a murmurar um feitiço diagnóstico em Remus.

"Por que você não ajudou Moony, Snape?" Perguntou Sirius cheio de raiva.

"Caso você não tenha percebido, Black, eu e Rolanda também estávamos sob ataque pesado. E nossa primeira preocupação era as crianças. Quando entendi o que queriam, já era muito tarde. Eu não consegui chegar a tempo."

Sirius continuou a resmungar, culpando Severus, mas num tom mais baixo depois de ter recebido um olhar atravessado de Poppy.

Morgan olhava para Remus com ódio no olhar. O lobisomem não cumprira sua promessa de proteger Thera de tudo e de todos. Quando ele acordasse, ele ouviria tudo o que ela pensava sobre isto.

A porta se abriu novamente e vários outros professores de Hogwarts entraram, seguidos pela Diretora. Eles haviam terminado de acalmar e acomodar todos os alunos nas casas.

A pedido de Minerva, Severus e Rolanda contaram tudo o que havia acontecido na cidade novamente. Meia hora depois, Ron e Harry entraram correndo na enfermaria, ambos preocupados com suas esposas e com Remus.

Algum tempo depois Poppy conseguiu convencer vários visitantes da enfermaria a irem fazer qualquer outra coisa fora desta. Ficaram apenas Severus e Rolanda, que esperavam a medibruxa terminar de cuidar do Mestre de Poções, Sirius, Morgan, Minerva e Harry. O grupo comentava o que fazer para procurar Thera quando foram chocados por um grito.

"THERA!"

Eles se viraram e viram Remus se sentando na cama e tentando levantar. Todos podiam ver, pelo olhar, que o lobisomem estava começando a perder o controle do seu outro eu.

Sirius rapidamente se aproximou de seu amigo e o segurou na cama com força. Mas Remus era um lobisomem, e tinha a força de um quando sua mente revertia a sua natureza mais lupina. Sirius sabia que não ia conseguir segura-lo por muito tempo.

"Eu não consigo contê-lo!" Ele falou aos demais ocupantes do quarto.

Harry entrou em ação e também tratou de segurar Remus, mas, mesmo com sua ajuda, o lobisomem quase conseguia se levantar. Foi quando um terceiro par de mãos se juntou aos dois. Eles levantaram os rostos e viram Severus ajudando a prender Remus na cama. Poppy foi até eles com um copo cheio com uma poção e forçou a bebida garganta abaixo no lobisomem. Remus ainda se debateu mais um pouco antes de cair num sono pesado.

"Droga dos Mortos Vivos?" Perguntou Severus ao observar o efeito da poção. "Isto não foi meio drástico, Poppy?"

"Ele precisa dormir. Seu organismo ainda está em choque devido ao uso de vários Estupefaça ao mesmo tempo. E eu me lembro do que ocorreu da última vez que algo aconteceu com a profetisa. Esta poção pode controlar Remus e o lobo, e é isto que ele precisa neste momento."

Os demais concordaram. Todos ainda lembravam muito bem como o lobo havia dominado Remus em Hogsmeade. Aos poucos o grupo foi se retirando da ala hospitalar, indo cuidar de seus outros afazeres.

"Vou buscar poção Mata Cão para Remus. Ele pode precisar para controlar seus instintos antes de contarmos a ele o que aconteceu com Thera." Disse Severus antes de sair.

Poppy concordou. Pouco depois o Diretor de Slytherin voltou com a poção e a deixou na cabeceira da cama de Remus antes de sair. Mais tarde Poppy conseguiu retirar Sirius da enfermaria e o mandar para seu quarto. Foi quando se sentou na cadeira ao lado da cama de Remus.

Retornando de suas lembranças dos acontecimentos do dia, Poppy olhou bem para seu paciente. 'Nós vamos achar Thera para você, Remus. Você só precisa agüentar até conseguirmos.' Pensou a medibruxa.

*****

Thera Lupin recuperou seus sentidos e viu que estava deitada numa cama estreita de um quarto escuro. Ela sabia que desmaiara logo depois de alguém ter aparatado com ela.

'Bem que Remus me disse que aparatações conjuntas e forçadas eram perigosas.' Ela pensou lembrando de seu marido. 'Tomara que ele esteja bem.'

A profetisa não fazia a menor idéia de onde estava. Não que ajudasse muito ela saber, afinal de contas, pouco conhecia do mundo fora de Ávalon e Hogwarts, mas, mesmo assim, ela ia manter seus ouvidos atentos por qualquer pista, como seu marido sempre lhe dissera para fazer.

'Pelo menos melhorei no uso da minha varinha. Até consegui erguer algumas barreiras.' Sua varinha! Agora Thera lembrava dela. Ela a procurou nos bolsos e mangas do seu robe e nada.

"Procurando por isto?" Disse uma voz vinda da porta, mostrando a varinha de Thera em uma das mãos.

"Minha varinha! Eu a quero de volta!"

"Nada disto, mulher. Sua varinha fica comigo."

"O que vocês querem comigo?"

"Eu fiquei sabendo de seu dom. Posso dizer que ele já me causou alguns prejuízos atrapalhando o ataque que planejei em Hogsmeade." Respondeu o dono da voz, sem sair da sombra. "Então eu resolvi usa-lo para me ajudar, ao invés de atrapalhar. Afinal de contas, videntes verdadeiras e profetisas são raríssimas."

"E quem disse que vou ajuda-lo? Meu dom depende de minha vontade, e eu não pretendo utiliza-lo para o mal. E vocês não podem me coagir, me obrigar ou utilizar o que quer que seja para me controlar, senão eu serei apenas um peso inútil para vocês."

"Bem, se não podermos utiliza-la, sempre poderemos nos livrar de você."

"Eu não tenho medo de morrer."

A voz pareceu ficar mais cruel ao ouvir isto.

"Talvez você não tenha, mas sempre posso pedir aos meus.... colaboradores para irem buscar alguém mais...."

Thera empalideceu ao ouvir isto. Ele não poderia estar falando de Remus, poderia?

"Eu acho que se nós tivermos um certo lobisomem aqui como convidado, você poderá querer colaborar mais, não?"

"Deixe Remus fora disto."

"Estou vendo que toquei num nervo...."

Thera suspirou, meio derrotada. Ela não se importava com o que acontecesse consigo. Afinal de contas, era sua sina ser a profetisa. Mas Remus era outra história. Ele já sofrera demais para ser envolvido.

"Então, qual é a sua decisão? Eu estou louco para ter um lobisomem de estimação. Sem a poção Mata Cão, tenho certeza que ele poderá ser muito útil nas noites de lua cheia...."

Agora Thera sabia que estava derrotada. O maior orgulho de Remus era nunca ter atacado ninguém. Ela sabia que seu marido morreria por dentro se ele permitisse que o lobo o dominasse e causasse danos a outra pessoa. A profetisa lembrava da tristeza e do profundo arrependimento de Remus quando lhe contara sobre o logro que Sirius aplicara em Severus quando eles ainda eram estudantes. Remus ainda se culpava por isto, mesmo que tenha sido tudo idéia de Sirius e que ele não soubesse de nada.

Neste momento, um plano começou a se formar na mente de Thera. Ela talvez pudesse avisar Remus que estava bem e que ele estava sendo ameaçado. Ninguém perceberia por se tratar de magia antiga e que era utilizada apenas pelas profetisas de Ávalon. E seu elo com Remus lhe permitiria se comunicar com ele, coisa que antes seria impossível. Talvez seu captor pensasse, mesmo, que ela estava tentando prever o futuro.

"Vou fazer o que me pede. Mas preciso de algumas coisas e de minha varinha."

"Vamos conseguir o que pedir, desde que isto seja realmente utilizado em adivinhação. Quanto a varinha..."

"Não se preocupe, segundo minha prima e Remus, eu sou um completo desastre com feitiços ofensivos. E eu preciso de minha varinha para alguns feitiços de adivinhação, já que provavelmente terei que forçar a visão algumas vezes."

"Eu a devolverei quando for necessário e apenas sob supervisão. Mais alguma coisa?"

"Sim. Este quarto não tem a harmonia necessária para a meditação. Preciso de outro em um local com melhores energias." E passou a descrever o quarto, a localização e o material que necessitaria. Ela sabia que teria melhores chances de descobrir algo se não ficasse presa naquele quarto escuro.

"Também preciso de algumas ervas para os queimadores. Vou lhe dar a relação. E incenso. Mas não deste incenso fajuto que existe em várias lojas. Tem que ser incenso chinês, vendido no mercado mágico de Pequim e aprovado pelo conselho de magos de lá."

Thera esperava que seu captor ficasse tonto com tantas exigências e procurasse cumpri-las, lhe dando mais tempo para planejar um curso de ação.

"Você terá o que me pede." Respondeu a voz da figura nas sombras, antes de sair da peça trancando a porta atrás de si.

'Agora só tenho que esperar e planejar.' Pensou a profetisa.

*****

Sirius andava rapidamente pelos corredores de Hogwarts.

Na última semana, desde o novo ataque em Hogsmeade, a escola não fora mais acordada pelos logros de Sirius e Morgan. Os dois andavam resmungando pelos cantos. A professora de Duelos tentara mas não conseguira discutir com Remus sobre o desaparecimento de sua prima. Sirius estava sempre junto do lobisomem e não permitira, entrando ele mesmo nas discussões. Não que se fosse possível discutir com Remus. Nos primeiros dois dias ele passara o tempo inteiro dopado na enfermaria. Depois disto sua mente meio revertera a sua forma lupina. A reversão não fora completa graças às poções de Severus.

Sirius tentava implicar com o Mestre de Poções, mas não conseguia. Severus, afinal de contas, estava ajudando Remus.

Agora, uma semana depois do ataque, Remus havia voltado ao normal. Bem, tão normal quanto a situação permitia. O lobisomem controlara seu lado animal mas entrara numa profunda depressão.

Poppy havia permitido ao Diretor de Gryffindor que ele voltasse para seus aposentos, onde ele se deitara na cama segurando com força o travesseiro de Thera.

Sirius não conseguia entender o porque desta atitude. Ele sabia que o amigo amava profundamente a profetisa, mas não sabia porque Remus estava definhando ao invés de a estar procurando, ou pelo menos dando aulas para se distrair enquanto eles não tinham uma pista mais concreta.

Minerva montara uma escala e então Sirius, Severus e Morgan estavam cobrindo as classes de Remus, seguindo o cronograma de estudos dele. Nenhum dos três reclamara do aumento de serviço, pois todos tinham suas mentes ocupadas com outras preocupações.

Mas o animago estava muito preocupado com seu melhor amigo. Era muito triste fazer companhia para Remus nos aposentos dele, pois este apenas ficava sentado quieto na cama, olhando para o travesseiro de Thera, ou abraçando este travesseiro. Ele não respondia a qualquer pergunta que lhe fizessem e mal se alimentava.

Sirius chegou na gárgula que protegia a entrada do escritório de Minerva e disse a senha. A figura horrenda se afastou exibindo um lance de escadas. O animago subiu apressado e logo entrou no escritório, encontrando um pequeno grupo reunido.

"Bem, agora que estão todos aqui, podemos conversar." Disse a diretora de Hogwarts. "Estou preocupada com Remus. Poppy, poderia nos dar mais detalhes da situação?"

"Bem, ele entrou em depressão, como era esperado. Ele está perdendo peso muito rápido, e está quase sem forças. A lua cheia é na próxima semana e eu não sei como ele irá resistir." Falou a medibruxa.

Todos absorveram as notícias lentamente, pensando sobre elas.

"Severus, existe algo que você possa fazer?" Perguntou Minerva.

"Não. Eu já estou forçando poções fortalecedores nele, além de poções antidepressivas. E eu não tenho como aumentar a dosagem de poção mata-cão sem pôr a vida dele em perigo. O jeito é torcermos que a Profetisa seja encontrada logo, antes que ele definhe demais. Eu sugiro, porém, que o mantenhamos altamente sedado durante a lua cheia, então ele não estará consciente para sentir a dor da transformação, nem poderá ferir a si mesmo."

Sirius estava escutando aos demais, sem entender porque todos davam o estado depressivo de Moony como irreversível.

"Eu não entendo.", Sirius falou, "Por que vocês falam como se Moony não pudesse sair da depressão sozinho. Eu tenho certeza que logo ele irá estar bem e pronto para ir atrás de Thera."

Um pesado silêncio se abateu sobre todos no aposento, antes que Severus resolvesse responder a Sirius.

"E eu que achava que você e James Potter haviam estudado praticamente tudo sobre lobisomens para tentar ajudar seu amigo. Pelo visto estou enganado."

Sirius começou a se enraivecer ao ouvir estar palavras, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o vice-diretor continuou.

"Quando um lobisomem encontra seu companheiro destinado e vem a se unir a ele, consumando o relacionamento, ele precisa desta pessoa por perto para poder sobreviver. Sem seu parceiro por perto, o lobisomem tende a entrar em profunda depressão. Ninguém sabe bem o porquê. Nunca foram feitos estudos aprofundados sobre lobisomens e seus hábitos de acasalamento." Várias pessoas fizeram caretas ao ouvir Severus falando desta maneira. "Ainda mais que existem poucos registros de lobisomens que tenham se unido a outra pessoa. A única certeza é que o licantropo tem um único relacionamento durante toda a vida. Ele pode vir a sentir os desejos físicos de outros ao seu redor, mas nunca irá experimenta-los até encontrar a pessoa a quem está destinado. Fora este estudo, pouco mais foi feito. A única outra informação sobre isto vem dos registros de um pesquisador que se interessou pelo assunto depois que seu filho foi infectado. É como sabemos sobre a separação entre o licantropo e seu companheiro. Segundo estes registros, o jovem lobisomem entrou em profundo estado de depressão quando sua companheira prometida o abandonou, depois deles terem consumado o relacionamento. Todos os sintomas descritos conferem com os que Remus está apresentando."

Sirius empalideceu. Ele não achava que a situação fosse tão grave. "O que aconteceu com ele?" Perguntou num fio de voz.

Severus pareceu relutante em responder, mas o fez de qualquer maneira.

"Os registros do pai do rapaz dizem que ele veio a falecer um mês depois."

Sirius sentiu seu peito se apertando. Ele não podia perder Moony.

"Por favor, me digam que ouvi mal. Vocês me disseram que Remus vai morrer sem a profetisa?"

Os demais presentes na reunião apenas olharam para Sirius, seriedade em suas feições.

O animago se sentou na cadeira mais próxima.

"Eu não posso perder Moony! Ele é o único amigo que me resta. James morreu. Peter... bem, este não conta mais. Só sobramos eu e Remus. Me digam que Remus vai ficar bom, por favor!"

Foi Minerva quem finalmente interrompeu o silêncio e colocou uma mão no ombro do ex-fugitivo.

"Sirius, não podemos tapar o sol com uma peneira. A verdade é que se Thera não for encontrada logo, provavelmente perderemos Remus. Nenhum de nós quer isto, mas temos que encarar todas as possibilidades. Apenas nos resta tentar fazer o máximo que conseguirmos para ajudar Remus aqui, procurarmos por qualquer pista de Thera e rezarmos que o Departamento de Mistérios e o Departamento de Segurança do Ministério da Magia ajam o mais rápido o possível. Eu sei que Arthur Weasley envolveu todo o efetivo disponível na procura pela jovem. Agora é apenas uma questão de tempo."

*****

Thera olhava ao redor, examinando o novo quarto para onde fora conduzida. Seu captor a observava cuidadosamente da porta, seu rosto coberto por uma máscara. A profetisa sabia que cada movimento seu era analisado, então ela lentamente começou a caminhar pelo quarto, parando a cada poucos passos como que a checar a energia. Ao examinar a lareira, ela começou a dizer que tipo de madeira precisaria para o fogo. No chão à frente da lareira, ela disse que sálvia precisaria ser esfregada no chão para melhorar as energias, além desta estar contida também no recheio das almofadas que pedira para o quarto. Depois disto indicou onde os queimadores de ervas e incenso deveriam ficar e foi examinar a janela.

O homem parado à porta começou a se mover para deter qualquer movimento brusco que a jovem fizesse perto da janela.

Thera olhou bem para fora analisando os arredores e o telhado, antes de se virar.

"Esta janela irá servir. Mas seria melhor se ela tivesse uma pequena sacada. Preciso recolher água da chuva sem que esta tenha atingido qualquer outro lugar. Você me conseguiu a bacia feita de prata?" Ela perguntou ao seu captor.

"Sim, assim como consegui a faca. Se bem que ainda tenho dúvidas sobre lhe entregar esta última."

"Como já disse, precisarei forçar a visão. E para isto precisarei de minha varinha e desta faca. E acho que o quarto poderia ter ainda uma outra janela, exatamente oposta a esta primeira. Mas apenas esta janela já é suficiente no momento."

"Mandarei trazerem as coisas que me pediste. E também a sálvia." E com isto o mascarado se retirou.

Assim que ficou sozinha, Thera correu novamente até a janela, observando os arredores cuidadosamente, bem como o que enxergava da velha mansão onde estava sendo detida. Ela iria tentar transmitir estas imagens para Remus quando conseguisse tudo o que precisava para formar um elo com seu marido.

Como ela sentia saudades de Remus....

*****

O Profeta Diário e a Bruxa Semanal eram lidos avidamente pela população, ansiosa por maiores detalhes sobre o seqüestro.

O Departamento de Mistérios estava em polvorosa. O seqüestro da profetisa corria o risco de se tornar um incidente internacional. Um representante do Conselho de Ávalon já chegara ao Ministério e conversara longamente com o Ministro Weasley.

Ordens do diretor do Departamento de Mistérios surgiam repentinamente, espalhando os inomináveis por toda a Grã-Bretanha. Várias corujas com pistas falsas já haviam sido recebidas. Qualquer atitude estranha era investigada.

Ronald Weasley estava sentado em sua mesa analisando toda a papelada que seus colegas haviam reunido sobre o caso. Ele sabia que estava perdendo algo. Os papéis a sua frente pareciam não ter relação alguma um com o outro, mas era uma impressão enganosa. Havia algo.... Ele não sabia bem o que, mas sentia que todos os papéis tinham uma relação, obscura no momento, mas ainda assim presente.

O inominável suspirou e novamente reuniu todas as folhas espalhadas em uma única pilha, antes de invocar um café bem forte e recomeçar a leitura, tentando pensar nos papéis como se eles fossem peças de um jogo de xadrez.

*****

Faltavam poucos dias para a lua cheia quando Thera finalmente conseguiu reunir tudo o que precisava para tentar se comunicar com Remus.

Ela começou novamente a preparar o mesmo feitiço que utilizara há algum tempo atrás em Hogwarts para acompanhar a transformação de Remus pela primeira vez. A profetisa avivou o fogo, colocou as ervas especialmente separadas dentro da bacia de prata repleta de água da chuva e a depositou no chão purificado com sálvia. Depois retirou seu robe e pegou a pequena adaga de prata.

Cuidadosamente, Thera cortou sua mão com a adaga, deixando seu sangue cair na bacia repleta de água, enquanto entoava os encantamentos necessários. Pouco depois ela juntou açafrão, Cinnamomum zeylanicum, Mentha piperita, Junipurus communis e Elletaria cardamomum à água que já continha outras ervas e o sangue. Tudo era necessário para alterar levemente o ritual que ela utilizara da outra vez, pois agora ela precisaria se comunicar com Remus, ao invés de apenas vê-lo.

Quando ela começou a sentir a magia impregnando o quarto, a jovem segurou a bacia e jogou seu conteúdo no fogo, antes de se sentar nas almofadas e entrar em profundo transe, permitindo à sua essência viajar para longe de seu corpo, para Hogwarts e seu marido.

Pouco depois, a essência de Thera se encontrava dentro de seus aposentos em Hogwarts. Foi quando ela viu Remus deitado na cama, agarrado ao seu travesseiro, com uma aparência descuidada. Ela percebeu que seu marido não estava nada bem.

'Eu tinha me esquecido o que acontece com um lobisomem se seu companheiro não está ao lado dele... Oh, Remus....' A profetisa pensou, lembrando sobre tudo o que havia aprendido quando estudou sobre lobisomens para tentar entender bem Remus.

A jovem se aproximou da cama e tocou com seus dedos sem consistência o rosto de seu marido.

"Remus..." Thera chamou.

Ela foi recompensada por dois olhos dourados se abrindo e a olhando fixamente.

*****

A mente de Remus vagava pela sua inconsciência. Ele não sabia mais que dia era e quase não reconhecia as pessoas que entravam no quarto. Tudo o que podia pensar era em Thera. Ele sabia que sua companheira não estava ao seu lado, e a ausência dela o estava lentamente destruindo.

Algumas vezes ele apenas sabia que era o lobo quem estava no comando, apesar deste também não ter vontade alguma de fazer nada. Ele e o lobo sentiam falta da mulher maravilhosa que tinha ligado seu destino ao deles.

Foi quando sentiu dedos fantasmagóricos acariciando seu rosto. Ele podia sentir o cheiro dela! Foi quando uma voz o chamou.

"Remus..."

O lobisomem abriu seus olhos e viu sua esposa. Rapidamente tentou se sentar, mas os vários dias de imobilidade e falta de alimentação cobraram seu preço, o deixando tonto.

"Remus, eu sei que é difícil, mas tenho pouco tempo e preciso que você me escute, amor. Eu não sei quem é meu captor. Ele está sempre nas sombras ou usando máscara. Fui levada porque ele deseja que eu lhe diga o futuro. O tolo não sabe que não é assim que meu Dom funciona."

Remus bebia as palavras que lhe eram ditas por aquela voz musical.

"Eu preciso de sua ajuda, amor. Você é o único com quem posso me comunicar desta maneira por causa de nosso elo. Eu sei que você está fraco, Remus. Desculpe por estar longe de você. Tentei descobrir tudo o que pude sobre o lugar de meu cativeiro e tenho tentado ganhar tempo. Vou passar diretamente para sua mente tudo o que pude observar dos detalhes da casa e dos arredores. Você tem que tentar descobrir onde estou, ou pelo menos passar isto para os outros, amor. Se tudo der certo, logo estaremos juntos e você vai ficar bom, eu prometo."

A essência da profetisa tocou com suas mãos a testa de Remus, passando todas as suas impressões para o lobisomem, que fechou os olhos a este sentimento.

"Minhas forças estão terminando, amor. Eu sei que este feitiço vai cobrar seu preço de mim, provavelmente um preço maior que aquele feitiço que realizei em Hogwarts cobrou, mas eu precisava fazer isto. Tente passar minha mensagem adiante, Remus, e tente agüentar mais um tempo, pois logo nós estaremos juntos. Eu te amo."

E com isto a imagem diante de Remus começou a esvanecer.

O lobisomem levantou uma mão, tentando alcançar sua companheira, mas tocou o nada.

"Thera..." sua voz, rouca pela falta de uso e pelo excesso de poções, chamou, mas imagem da sua amada não retornou.

Remus sabia o que ele tinha que fazer para ajudar Thera. Ele arduamente levantou, sentindo seus joelhos tremerem, e procurou por um robe. Então, lenta e dolorosamente, ele abriu a passagem de seus aposentos para os corredores de Hogwarts e começou a se mover, se apoiando nas paredes, seguindo para o escritório de Minerva. Ele tinha que passar a mensagem de Thera adiante.

*****

A essência de Thera voltou para o seu corpo. Quando seus sentidos voltaram ao normal, Thera percebeu que o fogo na lareira se apagara. Ela tentou colocar seu robe, mas não tinha forças. O feitiço que fizera era poderoso e sugara toda a sua energia para ser realizado. Seu corpo inteiro tremia de frio.

Pelo menos ela conseguira fazer o que precisava. Agora os demais saberiam onde procurá-la.

Os últimos pensamentos da jovem, antes de deslizar para a inconsciência, foram para seu marido. Ela sabia que eles logo estariam juntos e que Remus ia ficar bem.

*****

Minerva McGonagall olhava para as pessoas ao redor de sua mesa. Os professores de Hogwarts ali se encontravam decidindo sobre o futuro dos finais de semana em Hogsmeade.

A diretora de Hogwarts podia ler a preocupação no rosto de muitos. As coisas nos últimos dias não estavam sendo fáceis. Seus professores estavam preocupados com a segurança dos alunos, mas este era apenas um motivo. Ela sabia que todos estavam também preocupados com Thera e com Remus.

A profetisa era uma jovem muito simpática que estava sempre disposta a conversar com qualquer um que precisasse de um amigo. O mesmo acontecia com Remus. Os dois eram um casal muito querido e McGonagall sabia que todos estavam lamentando o que havia acontecido com eles.

Foi quando se ouviu um barulho junto a porta da sala. Pérgamo, que era o mais próximo, a abriu e Remus quase despencou dentro do escritório. Todos se surpreenderam não pensando nem ao menos em ajudar o professor de DCAT a entrar e sentar.

E esta era apenas a primeira surpresa da noite.

*****

Remus sentia seu corpo inteiro doendo enquanto fazia seu caminho até o escritório de Minerva. Ele ia se segurando nas paredes pedindo a Deusa que suas pernas tivessem forças o suficiente para que ele realizasse a tarefa dada por sua amada.

Quando finalmente venceu o último lance de escadas, pôde ver a gárgula que guardava a escada para o escritório mais adiante no corredor. Respirando fundo, o lobisomem juntou forças e foi até ela. Alguns minutos depois, ele tentou adivinhar qual seria a senha da diretora, desejando que esta fosse tão fácil quanto as antigas senhas de Albus, que eram sempre baseadas em doces. Minerva tinha preferência por expressões latinas.

O licantropo começou a falar todas as expressões latinas de relevância que conseguia se lembrar. Depois de quase dez minutos, ele estava esgotando seu repertório.

"Carpe Diem." Com esta expressão, a gárgula finalmente se moveu, revelando mais um lance de escadas em forma de caracol.

Remus subiu lentamente os degraus. A dor em seu corpo estava se tornando insuportável. Quando finalmente chegou na porta, seu corpo perdeu o equilíbrio e ele caiu para a frente, se chocando contra a porta. O barulho deve ter atraído a atenção daqueles que estavam dentro da sala, pois logo a porta foi aberta por Pérgamo, que se surpreendeu quando o licantropo caiu dentro da sala.

Remus podia apenas perceber que haviam várias pessoas na sala, mas ele não as identificou. Sua mente apenas pensava em Thera e na mensagem que ela havia lhe dado. Sua intuição lhe dizia o que fazer.

"Pensadeira...." Disse com a voz rouca para aqueles que estavam no aposento. Um par de mãos tentou faze-lo se sentar, mas o lobisomem as afastou bruscamente. Depois de alguns minutos, ele conseguiu abrir passagem entre as pessoas e chegou ao armário onde sabia que a pensadeira de Albus estava guardada. Ele abriu as portas com dificuldade e convocou todas as suas forças para erguer a pesada peça. Então puxou sua varinha do bolso com a mão trêmula e murmurou o feitiço que permitia as memórias serem vazadas para a pensadeira. Ele então tratou de passar tudo o que acontecera em seus aposentos há pouco e as impressões transmitidas por sua esposa.

Em instantes fios de pura cor prata começaram a escorrer da testa do lobisomem para dentro da pensadeira. Quando terminou, Remus deixou seu corpo relaxar e caiu, sendo aparado por alguém. Ele levantou a cabeça a viu Sirius.

*****

Sirius não sabia o que pensar quando viu Remus, que ele acreditava estar muito fraco para sair da cama, entrar no escritório e começar a tentar abrir passagem, cambaleante, entre as pessoas. O animago tentou ampará-lo mas Remus enxotou suas mãos.

Sirius foi atrás do amigo e o viu abrir um armário com dificuldade e então retirar a pensadeira de Albus, antes de pegar sua varinha e passar suas próprias memórias para a pensadeira. Quando terminou, Remus começou a cair. Sirius se mexeu rapidamente e amparou seu amigo. Só então ele viu que Remus reconheceu sua presença. Então o animago levou seu amigo até a poltrona mais próxima e o ajudou a sentar.

Depois que Remus estava acomodado, Sirius fez a pergunta que todos no quarto estavam querendo perguntar.

"O que foi tudo isto, Remus?"

*****

Remus sabia que a pergunta era inevitável. Lentamente ele começou a relatar suas impressões dos últimos dias, que não eram muitas mesmo, antes de chegar na presença de Thera e nas memórias e impressões que ela lhe passou.

Através de seus sentidos nublados, ele vagamente percebia a surpresa e a reação de todos ao que ia relatando. Quando terminou, seus sentidos começaram a falsear e, muito contra a gosto, Remus desmaiou.

*****

A história de Remus colocou a sala em polvorosa. Morgan começou a relembrar de todos os ensinamentos de Thera em Ávalon, pelo menos todos os que ela conhecia, pois a formação da profetisa era grande parte secreta, antes de afirmar que havia a possibilidade de o que Remus contou não ser um delírio de sua mente.

Poppy começou a se alvoroçar em torno de Remus, o cutucando, lançando feitiços diagnóstico, medindo a temperatura e forçando poções garganta abaixo no paciente. Sirius estava de pé ao lado do amigo, uma expressão preocupada em seu rosto.

Severus, Darius e Minerva ignoraram os demais e se aproximaram da pensadeira. Com apenas um olhar, os três ergueram suas varinhas e tocaram a superfície prateada, desejando visualizar as memórias recém adicionadas.

Pouco depois eles eram observadores do que estava acontecendo. Eles viram o encontro de Remus com a projeção de Thera e observaram todas as impressões que a profetisa havia passado ao marido.

Severus prestava atenção em todos os detalhes, principalmente aos arredores. Ele sabia que conhecia o lugar.

"É a mansão de campo dos Lestrange!" Ele exclamou quando definitivamente reconheceu o lugar.

Darius e Minerva o encararam, antes do professor de Latim perguntar.

"Tens certeza?"

Severus fez sua melhor face de superioridade antes de responder.

"Sim! O lorde negro gostava de fazer reuniões no lugar antes de sua primeira queda e a prisão dos Lestrange depois do ataque aos Longbotton. Achei que o lugar havia sido destruído depois disto, mas vejo que me enganei."

Os três retornaram da pensadeira e se puseram em atividade.

Darius se esgueirou para fora do escritório e correu para seus aposentos, onde abriu sua rede flú protegida e começou a disparar ordens aos seus homens, ordenando a estes que descobrissem a localização da mansão de campo dos Lestrange e organizando um ataque a esta naquela mesma noite ainda.

Minerva contatou Arthur Weasley e o colocou a par do que havia ocorrido. O Ministro da Magia disse que iria convocar imediatamente os aurores e os colocar para trabalhar.

Severus correu para seu laboratório, onde abriu um compartimento secreto e retirou todas as anotações que reunira nos seus anos como Comensal da Morte e depois como espião, procurando algo que pudesse ajudar.

Poppy e Sirius levaram Remus para o quarto dele e da esposa. Tudo o que eles podiam fazer pelo lobisomem no momento era mantê-lo confortável enquanto esperavam pelo melhor remédio o possível para ele: a presença de Thera.

****

Ron Weasley examinava novamente toda a papelada reunida em sua mesa. Depois de muito trabalho, finalmente conseguira encontrar algo que todos os papéis a sua frente tinham em comum: todos os itens comprados poderiam ser utilizados para adivinhação e todas entregas e encomendas tinham um destino comum: uma caixa postal numa agência de correio coruja num pequeno povoado perto de Carlisle, no norte da Inglaterra, perto da divisa com a Escócia.

Examinando os registros de propriedades pertencentes a bruxos na região, Ron descobriu que a extinta família Lestrange tinha uma mansão de veraneio na região, que estava abandonada há vinte anos.

'Só podiam ser Slytherins mesmo.', o inominável pensou, 'ter uma mansão de veraneio numa das regiões mais frias da Inglaterra.'

Neste momento um de seus colegas entrou correndo em sua sala, gritando que D havia enviado ordens para descobrir a mansão de veraneio dos Lestrange e a atacar ainda naquela noite, pois era lá que a profetisa estava sendo mantida.

Ronald Weasley se levantou abruptamente da cadeira, enviando papéis para todos os lados antes de sair correndo da sala com a varinha na mão. Estava na hora dele ajudar um bom e querido amigo.

*****

Draco Malfoy olhava para a forma imóvel da profetisa por detrás de sua máscara. Ele não entendia porque a mulher desmaiara e estava gélida, mas ordenou aos seus homens que a colocassem na cama e a cobriu com um cobertor. A mulher não teria utilidade nenhuma para ele se morresse de frio.

Depois que sua refém estava coberta na cama, o jovem homem começou a examinar a sala, tentando entender o que ela fizera. Ele sabia que a jovem lhe dissera que precisaria forçar a visão, mas algo lhe dizia que alguma coisa mais fora feita. Nestas horas ele amaldiçoava Sybil Trelawney e sua incompetência. Seu conhecimento de adivinhação provinha todo das aulas daquela idiota e de livros, que ele sabia nem sempre serem acurados.

E ele definitivamente não conseguia se lembrar de nenhuma magia de adivinhação que envolvesse sangue. E havia traços de sangue na mão da mulher, numa adaga de prata e na bacia.

Foi quando um de seus operativos entrou correndo no aposento, gritando que a mansão estava sob ataque dos aurores e do departamento de Mistérios.

Neste momento uma explosão foi ouvida perto da porta. Draco sabia que não teria tempo de levar sua refém consigo antes de acionar a chave portal que o levaria para outro lugar longe dali, onde outra chave portal estava esperando para levá-lo para o local de onde seria seguro aparatar para sua casa sem ser rastreado. Seus planos estavam muito bem organizados para serem parados no momento por um erro idiota como sua localização por causa de aparatação. Então ele abriu a porta e ordenou a seus homens que debandassem, sabendo que aqueles que foram capturados iriam se utilizar do veneno que levavam consigo para terminarem com sua própria vida antes que o interrogatório dos homens do ministério os quebrasse. Todos eram muito leais a causa e juraram não cometer os erros que o Lorde Negro e seus pais cometeram.

Com isto, ele tocou sua chave portal, murmurou a senha e desapareceu.

*****

O grupo de inomináveis e aurores quebrou as magias defensivas da mansão e começou a abrir caminho através de maldições que eram lançadas de dentro da casa.

Ron viu um de seus colegas sendo atingido e caindo ao chão. Ele sabia que o inominável não se levantaria, pois reconhecera a maldição assassina antes que ela atingisse seu colega.

Desviando de outra maldição, Ron se escondeu atrás de uma árvore com um auror, que percebeu ser Seamus, e começou a lançar feitiços na porta, tentando quebrar a proteção mágica desta para que eles pudessem prosseguir com o ataque. Ele e Seamus colocavam mais e mais poder nos feitiços, sendo logo seguidos por outros aurores e inomináveis. Foi quando a porta explodiu, enviando pedaços de madeira para todos os lados.

Eles começaram a se aproximar, mantendo feitiços escudos ao seu redor com toda a potência. Quando se aproximavam da porta, ouviram o grito de debandar dentro da casa, seguido pelo barulho de aparatações e então silêncio.

Ron, Seamus e os demais entraram na casa cuidadosamente, as varinhas em posição de ataque, vasculhando cada recanto em busca de oposição. Enquanto um grupo vigiava a escada, os demais fizeram uma checagem completa do andar térreo e dos andares subterrâneos, que continham masmorras.

Depois que tiveram certeza que era seguro, começaram a subir as escadas que levavam ao segundo andar, abrindo a porta de todos os quartos. Seguiram a mesma rotina para o terceiro andar antes de subirem para as torres. Na torre sul, encontraram um quarto trancado, ao abrirem a porta com um Alohomorra, enxergaram um vulto deitado em uma das camas. Ron e Seamus se aproximaram de varinhas erguidas, antes de reconhecerem Thera.

Os dois correram para o lado dela. Ron pegou uma das mãos da jovem e a sentiu gélida. Então ele freneticamente procurou por um pulso, que encontrou com alguma dificuldade, fraco mas estável.

Seamus voltou até a porta onde começou a gritar ordens para os colegas, dizendo que eles haviam encontrado a profetisa e mandando que chamassem uma medibruxa ao local, além de ordenando que investigassem o registro de aparatações e que uma equipe começasse a procurar por objetos de artes das trevas na casa, além de recolher tudo o que estava no quarto onde encontraram a profetisa.

*****

O dia já estava na metade quando uma carruagem se aproximou das portas de Hogwarts. Dentro dela estavam o Ministro da Magia, além de duas medibruxas do Ministério e de uma inconsciente Thera. Vários aurores escoltavam a carruagem voando em vassouras. Ninguém queria arriscar outro ataque.

Quando a carruagem parou, as portas da escola se abriram repentinamente e Morgan passou por estas correndo. Atrás dela estavam vários outros professores e Poppy.

Thera foi levada para a enfermaria, onde Severus já esperava com várias poções fortalecedoras. Os relatórios médicos da profetisa indicavam friagem, esgotamento mágico e princípio de pontada de pneumonia, provavelmente do frio que enfrentara antes dos aurores e inomináveis a terem encontrado.

Poppy colocou Thera num dos poucos quartos particulares que haviam na enfermaria e administrou uma poção que Morgan fizera para tratar a pneumonia. Então colocou um cobertor bem pesado sobre a jovem e a deixou relaxar.

Meia hora depois Sirius entrou na enfermaria carregando um inconsciente Remus flutuando atrás de si. O lobisomem gastara todas as suas forças restantes para transmitir o recado de sua esposa e não acordava. De comum acordo, Poppy e as medibruxas do Ministério o deitaram na mesma cama que a profetisa, já que nesta havia espaço o suficiente para os dois e o único remédio que o licantropo precisava era a presença da esposa.

A reação foi quase que imediata. Tão logo Remus estava deitado e coberto, o inconsciente lobisomem pareceu perceber a presença da companheira e se virou para ela, a enlaçando e enterrando seu rosto nos cabelos dela.

Sirius se apropriou de uma das cadeiras presentes no quarto, dizendo que iria ficar de olho nos dois. Morgan fez o mesmo, se sentando do outro lado do quarto.

Durante toda a tarde, várias pessoas passaram pela ala médica para ver como estavam os Lupin. Ginny viera acompanhada por Harry tão logo este chegara a Hogwarts. A jovem senhora Potter já estava com sua gravidez em avançado estado. Os dois se sentaram com Sirius por algum tempo, conversando em voz baixa, antes de se retirarem.

*****

Remus sentia suas forças voltando lentamente, assim como sua consciência. O cheiro de Thera lhe impregnava o olfato. Respirando profundamente, deixou que aquele cheiro maravilhoso o invadisse por completo antes de abrir os olhos.

Pouco depois os belos cabelos brancos de sua esposa estavam no seu campo de visão. Remus levantou uma mão lentamente e levou uma das sedosas madeixas aos seus lábios, a beijando delicadamente.

"Acordaste, Moony?" Perguntou uma voz de sua esquerda.

Remus se virou lentamente, sem perder o contato com a esposa, e viu Sirius.

"Ela voltou, Padfoot. Minha Thera voltou."

"Eu sei, meu amigo. Ron e seus colegas a buscaram para você. Mas eles não teriam conseguido se você não tivesse nos contado a mensagem de Thera."

Remus concordou com um aceno de sua cabeça antes de olhar ao redor.

"Estamos na enfermaria. Será que temos como voltar aos nossos aposentos? Estar aqui me dá arrepios."

Sirius riu do comentário do amigo com alivio, antes de ir chamar Poppy.

Pouco depois a medibruxa checava o jovem casal cuidadosamente, antes de concordar que eles estariam bem se voltassem ao seu quarto. Apenas então Remus notou que Morgan também estava na enfermaria.

"Quanto tempo estive inconsciente?" Perguntou a jovem enquanto Sirius ia chamar ajuda para levar os Lupin aos seus quartos.

"Dois dias. A lua cheia é amanhã à noite."

Remus suspirou, sabendo que a mudança seria difícil devido ao seu estado debilitado, mas agora ele tinha sua Thera ao seu lado. E ele sabia que logo Severus o estaria dosando com a intragável poção Mata cão.

Sirius retornou ao quarto com Severus e Titus atrás de si. O primo de Hagrid levantou a jovem profetisa em seus braços com cuidado, enquanto Sirius e Severus ajudavam Remus a levantar e a se apoiar neles para caminhar. Morgan ia na frente abrindo as portas para o grupo atrás de si, com Poppy na retaguarda. Depois de alguns minutos chegaram nas aposentos dos Lupin, onde deitaram o casal na cama. Thera suspirou e se aconchegou melhor na cama, procurando por Remus que logo lhe fez companhia.

"Qualquer coisa, é só pegar este globo que vou deitar na mesinha e virei o mais rápido o possível."

Remus disse a Poppy que faria exatamente isto e bebeu o cálice de poção que Severus lhe deu, antes de passar os braços ao redor de sua esposa e voltar a dormir.

*****

Thera sentia seu corpo doendo enquanto despertava. Ela sabia que devia estar inconsciente há algum tempo e que ainda não estava recuperada o suficiente para acordar, mas a necessidade de saber se conseguira ser encontrada e se Remus estava bem era maior que sua falta de forças. Ela forçou seus olhos a se abrirem e olhou lentamente ao redor. Reconhecendo seu quarto, começou a procurar por seu marido. Foi quando sentiu um focinho molhado em sua mão. Ela virou o rosto na direção de mão e se deparou com os olhos dourados do lobo Remus. Ela sorriu para o outro eu de seu marido, que lhe deu uma lambida no rosto.

A profetisa sentiu a inconsciência a clamando novamente e não lutou contra esta, pois sabia que Remus estava bem.

Cinco dias depois Thera acordou novamente, seu corpo reclamando por ter passado tanto tempo deitado, mas desta vez com mais forças.

"Água..." Falou com a voz rouca por causa da sede.

Prontamente sentiu um copo sendo levado aos seus lábios. Ela bebeu toda a água e pediu por um segundo copo. Apenas depois disto abriu os olhos e encontrou os olhos dourados de seu marido.

"Remus..."

"Achei que tinha te perdido para sempre, amor." O lobisomem disse.

Thera levantou a mão e secou uma lágrima que escorria pelo rosto de Remus.

"Eu estou aqui de novo, amor, e prometo que vou fazer tudo o que puder para nós nunca mais nos separarmos. Também fiquei preocupada contigo. Eu sei o que acontece quando lobisomens se separam de seus companheiros..." Terminou com um murmúrio.

Remus abraçou sua esposa com força, antes de a beijar com ternura.

*****

Toda a escola estava reunida no salão principal para o jantar daquela noite. Pela primeira vez, em semanas, os professores Lupin estariam jantando junto com os demais. Todos os estudantes estavam em silêncio quando o casal entrou no salão, de mãos dadas. Pouco depois os Gryffindor se levantaram e começaram a aplaudir, logo seguidos pelas outras casas. Os professores fizeram o mesmo, apesar de Severus disfarçar sua alegria com usa eterna aparência mal-humorada e Darius aplaudir discretamente.

Quando todos começaram a se sentar, a refeição surgiu nas mesas.

Morgan se serviu de suco de abóbora da jarra na sua frente e tomou um longo gole. Foi quando ouviu exclamações ao seu redor. Já sabendo o que esperar, conjurou um espelho, vendo que seu cabelo parecia com pêlos de poodle e sua orelhas haviam se transformado nas orelhas do cão também.

"Black, eu te mato!" Gritou levantando da mesa e correndo atrás do animago, que rapidamente começou a correr em volta da mesa com a bruxa atrás de si, de varinha em punho.

Todos começaram a rir aliviados. Pela primeira vez em semanas conviviam com a eterna luta de logros de Sirius e Morgan. A crise finalmente passara.

*****

Remus levou sua esposa de volta aos seus quartos. Os dois finalmente estavam recuperados de toda a provação pela qual passaram.

Cada sorriso que Thera lhe dava era altamente intoxicante. Ele ansiava por tocar sua esposa por completo, renovando todos os vínculos entre eles e não se atrevera até o momento respeitando a saúde dela, mas sabia que aquela noite era deles.

Os dois se aproximaram da cama e Remus puxou Thera para seus braços, a beijando com toda a paixão que tinha dentro de si, sentindo sua esposa responder com igual ardor. Pouco depois os dois se deitavam na cama sem nenhuma roupa atrapalhando o contato total entre seus corpos.

E se perderam num mar de prazer....

Bem, aqui está o longamente aguardado capítulo oito de Encontros. Peço muitas desculpas pelo atraso, mas tive vários contratempos. Inclusive o PC do meu serviço resolveu colaborar e engoliu a segunda metade do capítulo, da qual eu não tinha cópia em casa. E da qual eu também não tinha rascunhos manuscritos....

Bem, são os contratempos de quem gosta de escrever diretamente no computador.

Gostaria de salientar que sou péssima escrevendo aventuras, como vocês devem ter percebido pelas cenas que descrevi, e também não sei nada de medicina. Aliás, biologia sempre foi um dos meus pontos fracos na escola, mesmo que eu tenha sempre manejado ser aprovada diretamente nesta disciplina. E minha mãe ainda queria que eu fosse médica....

Eu gostaria de saber o que vocês pensam sobre este fanfic, além, claro, dos capítulos estarem muito atrasados. Também gostaria de algumas idéias, pois as minhas só vão até o capítulo nove. Depois terei que improvisar.

A Andrea está trabalhando nos capítulos sete e oito de Reencontros, mas ela anda muito, mas muito atarefada mesmo com os estudos, trabalho e família. Peço a todos um pouco de paciência, mas garanto que os capítulos virão.

Eu e a Drea temos uma lista de discussão no Yahoo sobre nossas histórias irmãs. Como a ff.net não tem me permitido postar o endereço aqui dentro desta pequena explicação, quem estiver interessado pode obter o link em meu profile.

E também quero dizer que já comecei a trabalhar no capítulo nove de Encontros, onde finalmente teremos o desenrolar da situação entre Morgan e Sirius, além de outras surpresas.

Também gostaria de salientar que este capítulo ainda não foi revisado. A Drea anda tão atarefada que não consegui lhe mostrar a segunda parte do capítulo. Na primeira ela deu uma revisada. Então, por favor, me avisem se encontrarem algum erro grave ou alguma falha no enredo em relação aos capítulos anteriores.

Também quero avisar que existe possibilidade de os capítulos sete e oito de Encontros sofrerem modificações quando os capítulo sete e oito de Reencontros estiverem no ar, para podermos sincronizar os acontecimentos.

Obrigada por agüentarem todas estas minhas explicações e rezem que meu provedor volte logo ao ar para que eu possa postar este capítulo. Ele está fora do ar por mais de 12 horas agora. Só imagino o que pode estar acontecendo com minha caixa postal....

Até

Fabi