O Irmão

by KittyBlue

CAPÍTULO II

Christian acordou na manhã seguinte energético e alegre há como muito não se sentia. Apesar da conversa da noite anterior, tinha sido bom recordar tempos há muito passados. As memórias quase esquecidas tinham como que se revivido na noite anterior.

O ruivo levantou-se e depois de um breve duche, vestiu-se e foi até à cozinha. Depois de verificar que Schuldich já tinha saído olhou em redor à procura de alguma coisa para comer. Decidiu ficar-se apenas por uma maçã e acabou se decidir também a sair.

Depois de andar pela cidade umas duas horas, cada vez mais entusiasmado com a cidade e até mesmo com as pessoas, ele parou numa montra que lhe tinha chamado atenção.. a razão inicial sendo ele ter captado uma mente familiar e um flash de vermelho.. que acabou por o levar ao ruivo que o tinha levado a quase discutir com o seu irmão..

Christian observou pela montra da floricultura Ran atender algumas clientes, raparigas bem jovens que de tempos a tempos tentavam seduzi-lo com algumas palavras ou apenas com um olhar, mas Ran parecia completamente indiferente, distraído disso e de tudo ao seu redor.

- Ran! Estou atrasado!! Volto logo à tarde, o Ken deve estar a descer! – um rapaz loirinho saiu da loja parando à porta talvez esperando uma resposta do ruivo quieto, mas ao perceber que não ia ouvir nem uma palavra de Ran, ele saiu parando novamente espantado a olhar para Christian.

Christian olhou para o rapaz de cima a baixo, tentando perceber o que se passava.

Olha esta! Que foi agora? Será que ele também conhece o meu irmão?

- Schuldich.. que fazes aqui? – o rapaz olhou para dentro da loja na direcção de Ran e depois voltou a olhar para o alemão. – Se o Ran te vê mata-te!

- Já sabes também o que aconteceu ontem?!

- O que aconteceu? Eu não sei nada.

- Como te chamas mesmo miúdo?

- Schuldich! Sou o Omi.. esqueceste-te do meu nome? Nem parece teu.. – o loiro calou-se durante alguns minutos apenas olhando fixamente para Christian. – Tens estado com a Schwarz?

- Com a ... Bem.. Que raios sabe ele sobre isso? Nem por isso.

- Então não tens visto o Nagi?

- O Nagi?! Esse é o telecinético não é? – perguntou Christian sem pensar.

- Tu não estás bem! Que fazes aqui? Pensei que viesses trazer-me algum recado ou isso. Queres o que?

- Estava apenas a dar uma volta pela cidade e parei aqui. Não vim sequer falar contigo, a sério.

- Ok.. – Omi olhou para o relógio e gritou. – ESTOU ATRASADO!!

O loirinho saiu a correr sem nem se despedir do outro.

Christian voltou a olhar para dentro da loja ao ouvir alguma coisa a cair ao chão, perto de Ran estava agora outro rapaz, um moreno que tinha acabado de deixar cair um vaso no chão.

- Desculpa Ran.. – ouviu Christian o rapaz dizer uma data de vezes.

- Deixa estar Ken, acho melhor ficares a atender os clientes hoje, parece que estás num dos teus maus dias.. – respondeu o ruivo sem dar muita importância ao moreno.

Christian sorriu e continuou a andar pela rua. Por muito que quisesse ver Ran e até quem sabe tentar falar com ele, tinha prometido que ia afastar-se dele. A decisão tinha sido repentina e sem dúvida impensada, mas ele tinha prometido e ia cumprir.. Ran podia ser lindo e talvez mesmo uma grande tentação, mas Christian sempre tinha sido conhecido pelo seu autocontrole.

+-+-+

A escola estava silenciosa e isso era uma boa noticia, queria dizer que as aulas ainda não tinham acabado.. devia faltar pouco para se ouvir os risos dos alunos que saiam da escola para começar o fim-de-semana. Schuldich olhou para o relógio para confirmar as horas e suspirou aliviado ao ver que faltavam 5 minutos para o fim das aulas.

O tempo passou devagar, mas logo se viram as portas do edifício a abrir e montes de jovens a saírem. A maioria seguia a pé para casa e havia outros que tinham pessoas à espera. Schuldich deixou a sua telepatia expandir-se procurando por uma certa mente..

- Aqui está ela.. – disse ele seguindo com os olhos Aya Fujimiya.

A rapariga parou perto do edifício enquanto conversava com algumas amigas, ela ria e o telepata podia perceber os frequentes olhares que ela lançava em redor como que procurando alguém e isso o fazia sorrir por ter realmente adivinhado.. Uma das amigas dela despediu-se e foi embora, seguiram-se algumas raparigas mais, ficando por fim só Aya e outra rapariga.

Quando Schuldich começava a pensar que tinha calculado mal os passos da sua 'vitima', ele viu os seus planos acertarem novamente com tudo o que ele tinha premeditado.

Ran aproximou-se das duas raparigas com um sorriso que Schuldich nunca tinha visto naquele rosto e naqueles lábios. O alemão perdeu toda a coragem, que tinha estado a tentar ganhar à hora e meia, tinha realmente acertado que aquele era um bom sitio para o encontrar, mas a chegada de Ran para vir buscar a sua preciosa irmã, tinha simplesmente o distraído e feito esquecer tudo no que pensava antes.. Tudo corria como ele sabia que ia acontecer mas agora Schuldich não conseguia sequer dar um passo...

Amaldiçoando-se a si próprio Schuldich afastou-se, e estava tão distraído e chateado consigo próprio que não reparou quando Ran voltou o seu olhar para o sitio onde estava ele, arregalando os olhos ametistas ao reconhecer o telepata.

+-------Três-dias-depois---+

Os dias foram passando, e para os dois irmãos foram lentos e amargos. O fim- de-semana tinha passado e a angústia dos dois irmãos apenas aumentava a cada dia.

Enquanto Schuldich continuava a tentar meter na sua cabeça que nunca ia conseguir aproximar-se de Ran sem haver uma morte no fim; Christian reprimia-se por ter prometido ao irmão que não ia aproximar-se novamente do ruivo assassino da Weiß.

Quando Christian entrou na sala de estar e viu Schuldich ali deitado a molengar como nos passados dias, decidiu que chegará a hora de conversarem e de ele saber o que se passava. Talvez aquela conversa os levasse a um ponto, talvez com alguma sorte o irmão tivesse desistido de Ran.. ele podia sonhar, ou não?

- Diz de uma vez, Chris! Que se passa contigo?

- Oi.. não é nada.

- Pois.. e eu não sou teu irmão! Diz-me! Estou farto de te ver todo amuado.

- Amuado?

- Sim, amuado! Que nome dás ao teu ar e espirito no momento?!

- Eu estou apenas a tirar uns dias de folga, longe dos assassinatos.

- Pois e eu estou de novo na Alemanha e sou o novo frade do convento supremo..

Schuldich olhou para o irmão rindo-se e novamente desviou o olhar para o tecto.

Não confias em mim? É alguma coisa haver com o teu trabalho?

Pior que não.. é por causa do Ran.

Ran.. Ok, podes explicar-me o que se passa contigo e com ele?

Deixaste-me curioso para o voltar a ver, fazia um mês mais ou menos que não o via e eu aproximei-me para o poder ver mais uma vez, tendo em mente claro que ia ter de ganhar coragem e tentar convida-lo para sair comigo.. mas..

Ele disse que não?

Pior.. sou tão cobarde, que nem me aproximei dele.

- Mano.. acho que ou arriscas ou esqueces.

- Dizes isso porque tu ainda estás de olho nele. Eu sei que andaste perto da Koneko na semana passada.

- Koneko?! Isso é o que? – perguntou Christian confuso.

- É a loja onde ele trabalha, a floricultura.. falaste com o Omi, o membro mais novo da Weiß.

- Omi..!? Aquele miúdo?! Ele é um assassino? Por isso ele perguntou pela Schwarz.. agora entendo.

- Pela Schwarz? Pelo Nagi queres tu dizer. – perguntou Schuldich divertido com toda a situação. – Se fosses eu, terias percebido logo que ele queria saber do Nagi.

- São amigos?

- Acho que pode dizer-se isso..

- Eu passei no outro dia lá.. foi uma surpresa descobrir a loja, é que foi mesmo ao acaso.

- Acredito. Digo-te já uma coisa importante, os quatro empregados da loja são membros da Weiß, o Omi, o Ran, o Ken e o Yohji. Os dois últimos costumam estar fora durante o dia, mas caso os encontres já sabes e podes afastar-te.

- São hostis? E o Omi, pareceu conhecer-te bem.

- O miúdo é um caso à parte, eu ajudei-o numa coisa. O Ken é um rapaz moreno e tem a mania de tentar assustar com o olhar, mas ele é tão trapalhão que mais parece um palhaço.. o Yohji.. bem..

Schuldich decidiu passar algumas imagens dos dois membros da Weiß telepaticamente para Christian, seria perigoso se ele encontrasse algum deles. Christian acenou com a cabeça mostrando que percebia.

- Qual é o problema com o Yohji? Sinto também alguma coisa de ti.

- Bem.. ele e eu tivemos umas breves noitadas, mas aconteceram alguma coisas.. tipo batalhas em que o tentei matar e ter tentado umas quantas vezes insultar a mulher que ele amava.. acho que neste momento ele não iria achar muita graça a se me encontrasse no meio da rua. Toma cuidado.

Christian levantou-se do sofá com um sorriso.

- Entendi. Vou dar uma volta até ao parque, vemo-nos logo.

Schuldich suspirou e voltou a deitar-se no sofá perdido nos seus próprios pensamentos.

+-+-+

Christian continuou a andar pelo parque distraído com os seus pensamentos. Sentia-se mal por ter deixado o irmão sozinho na sua própria angústia, mas a ideia de que Schuldich podia dizer-lhe algo que o levaria de novo a afastar-se de Ran matava-o aos poucos..

Christian realmente queria afastar-se do ruivo mas não conseguia, em vez desta atracção desaparecer parecia que tudo acontecia ao contrário, o alemão encontrava-se cada vez mais vez a pensar em Ran e os seus pensamentos encontravam-se muitas vezes naquele beijo que os dois tinham partilhado, e ainda por isso até o seu dom parecia procurar desesperadamente a mente de Ran..

- Schuldich?

Christian voltou-se e os seus olhos arregalaram-se ao ver Ran parado ali à sua frente. O membro da Weiß tentou lançar um dos seus olhares fatais mas isso apenas fez o alemão sorrir. Era demasiado estranho rever o ruivo sem querer de facto que isso acontecesse, mas tudo parecia um sonho, agora só faltava Ran sorrir e dizer que o amava.

- ...

- Ok, isto já é estranho por si, podes falar se faz favor, Schuldich?!

- Que queres que diga?

- Sei lá! Podes começar com a razão de me andares a seguir.

- Seguir?!

- Primeiro encontramo-nos aqui e tu... tu fazes-me aquilo... e depois vejo- te na frente da Koneko a falar com o Omi, e como se ainda não bastasse ainda te vejo um destes dias perto da escola da minha irmã. Acho que isto chega para eu querer ter algumas respostas, tu não?

- Sim claro. Eu.. fui tudo acaso, com excepção daquilo na escola..

- Ai é?! Ninguém diria mas ok.. porque estavas lá então? A Schwarz está de novo interessada na Aya? Que se passa? E se não me disseres eu mato-te e nem me preocupo de ter aqui uma data de testemunhas.. acredita que desta vez não me escapas! Eu quero saber!

- Ninguém está interessado na tua irmã e eu estou interessado é em ti! Percebeste? Acho que fui directo ao assunto, não achas?

- Mais ou menos.. que queres dizer com isso de interessado em mim? Queres o que de mim?

- Muito simples, eu quero-te. Tão simples quanto isso.

- Tu.... queres-me... estás a brincar... certo?

Christian sorriu e deu um passo na direcção do outro ruivo. Ran instintivamente deu um passo para trás.

- Estás a fugir? Medo de mim?

- Nunca. – respondeu Ran parando e dando a Christian o seu olhar mais frio e cruel.

- Nunca o que? Nunca terás medo de mim, ou nunca vai haver nada entre nós?

- Schuldich... – Christian parou ao ouvir o nome do seu irmão a sair daqueles lábios que ele queria tanto beijar. Era como uma faca no coração, saber que Ran ainda pensava que quem estava ali com ele era o seu irmão.. mas não havia nada a fazer.

- Tenho de ir. – disse o telepata tentando afastar-se mas Ran agarrou-o pela manga da camisa.

- Espera! Que raios queres tu de mim?

- Nada! – disse ele gritando. Ele suspirou e baixou a cabeça. – Eu não quero nada..

Christian afastou-se e só quando percebeu que Ran estava demasiado confuso para dizer alguma coisa ou vir atrás dele é que ele começou a correr para fora do parque. Só quando já estava longe é que ele parou de correr e começou a pensar em tudo aquilo que se passava.

Ele pensa que eu sou o Schuldich, aquele beijo... para ele foi o meu irmão que lhe deu.. se ele sentir alguma coisa é pelo meu irmão...

+--------dia-seguinte--+

Logo pela manhã Schuldich acordou e depois de um duche e de um pequeno almoço bem energético, sentou-se em frente à televisão atento ao programa que estava a dar, ainda que a sua mente estivesse longe dali.

Christian entrou na sala e sentou-se ao lado dele mas sem nem olhar para ele ou dizer nada.

- Tudo ok, mano? – perguntou Schuldich sentindo que algo estava estranho.

- Ganz recht.. [1] Schuldich.. diz-me.. já tentaste falar com o Ran?

- O Ran? Não, ainda não consegui ganhar coragem para me voltar a aproximar dele.

- Ele viu-te na escola da irmã.

- Ai é?! – Schuldich parou de falar para olhar para o irmão. – E como sabes isso tu?

Christian olhou para ele. – Encontrei-o ao acaso, ele tentou falar comigo.

- Oh? Tiveram uma conversa agradável?!

Christian podia sentir de perto os ciúmes de Schuldich, uma das coisas que os ligavam mais do que o facto de serem irmãos gémeos eram serem ambos telepatas. Uma coisa que ambos tinham percebido bem cedo é que quando estava juntos era bastante mais fácil usar o seu dom, mesmo quando alvo era apenas a pessoa ao lado.. e Schuldich parecia muito determinado em nem esconder aquilo que sentia.

- Tou a sentir os teus ciúmes. – revelou-lhe ele rindo.

- Ah! Esqueço-me sempre que também és um telepata, sempre vivi com outros talentos, mas nunca tive de me preocupar com outro telepata por perto.

- Entendo. E em relação ao Ran, ele não estava muito interessado em mim, está mais em ti.

- Em mim?? – Schuldich voltou-se novamente para Christian confuso.

- Sim! Ele pensa que foste tu que lhe deste o beijo e pensa que andas a segui-lo para todo o lado.

- Beijo?

- Eu beijei-o no primeiro dia que o vi, eu disse-te! Ele ainda não sabe que tens um irmão, quando mais um gémeo igual a ti e que também é um telepata.

- Usaste o teu dom com ele? E ele não te matou?!

- Ainda não tive oportunidade, ele não gosta?

Schuldich não respondeu ficando calado apenas a olhar para o outro homem.

- Estás a pensar vê-lo de novo? E responde-me com sinceridade.

- Se queres alguma coisa com o Ran, ataca rápido.. na verdade eu não sei quanto tempo conseguires controlar-me, parece que ele me atrai como nunca ninguém o fez antes..

- Sei que não ajuda, mano.. mas Christian, tu estás apaixonado.

- Não me digas.. – respondeu ele com um sorriso triste.

Oh Deus!! Um dia normal na vida dos irmãos Sache!!, pensou Schuldich voltando a reclinar-se no sofá preferindo nem dizer mais nada e muito menos pensar naquilo que Christian tinha acabado de lhe dizer.

+-+-+

Notas de autor:

1 = 'Claro que sim' (num sentido desanimado)