Orquídeas e Esmeraldas

by KittyBlue

Capitulo 2

A primeira semana passou, Aya e Ran acabaram por se adaptar ao facto de que seria mais difícil descobrir aquilo que queriam em dois ou três dias. Nagi e Schuldich foram generosos e decidiram deixar os dois irmãos ficar a viver com eles o tempo que eles quisessem.

Aya passava a maior parte do seu tempo com Nagi, a passear ou apenas a conversar. Os dois eram grandes amigos, e apesar de se verem pouco devido ao facto que os seus pais em geral proibia que Aya fosse sozinha até à cidade, os dois tinham preservado a amizade que existia entre ambos. Claro que sempre que existia uma hipótese Aya convencia Ran para a levar a ver Nagi.

Os primeiros dias tinham sido difíceis para ela, só agora é que ela percebia que tinha se apegado a Erika, talvez ainda mais do que Ran tinha- se apegado a Mamoru. A figura maternal não era bem aquilo que Aya via na outra mulher, elas eram mais amigas do que realmente mãe e filha. Aya sentia cada vez mais falta das conversas e brincadeiras com ela, bastava Ran olhar para ela para perceber isso.

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A manhã estava a correr normalmente, enquanto Nagi tratava do almoço, Ran e Schuldich conversavam normalmente no quarto do mais novo. Eles tinham acabado por se entender, apesar de muitas vezes Schuldich ainda tentar beijar Ran ao acaso ou tentar convencer Ran a dormir com ele.

- Mas eu já disse que não tive culpa! Eu queria dar-te um beijo na cara! Foi o Nagi que usou o poder dele para que eu te desse um beijo na boca! Eu juro, Ran!! Não acreditas em mim? – Schuldich tentou a sua cara mais angelical mas isso apenas resultou em Ran a rir às gargalhadas deixando o outro confuso.

- Ran!! – gritou Aya da porta de entrada ao chegar a casa.

- Ele está no quarto. – ouviram os dois ruivos Nagi a dizer.

Aya entrou no quarto a correr e quando viu Ran saltou para cima da cama, ou melhor para cima dele. Ela ria e dava beijos pelo rosto do seu querido irmão. Ran riu-se tratou de tentar afasta-la um pouco.

- Aya?! Que se passa Aya? – perguntou ele confuso.

- Eu arranjei trabalho Ran.

- Tu o quê? Que tipo de trabalho? – perguntou Ran curioso e desconfiado.

- Tu andavas à procura de trabalho, não me disseram nada porquê? Eu teria ajudado. – disse Schuldich com uma expressão seria que fez Aya calar-se e olhar para ele.

- Foi uma coisa ao acaso na verdade. Eu estava a dar uma volta e reparei numa loja de flores, havia flores de todos os tipos e por acaso reparei numa orquídea... – ela olhou para Ran. – Devias ter visto Ran, era tão linda! Parecia mesmo igual à que tens... mas como estava a dizer... um rapaz viu-me a olhar as flores e falou um bocadinho comigo.. ele-

- O Ken?! Estás a falar da Koneko? – perguntou Schuldich de repente.

Aya olhou para ele admirada e em seguida saltou para cima dele.

- Sim! Conheces o Ken? Ele é tão fixe! Foi muito simpático e depois de falarmos ele disse que se eu quisesse podia trabalhar com ele na loja, parece que os últimos empregados desistiram nos primeiros dias e ele estava a contratar qualquer pessoa interessada.

- Pois.. – sussurrou Schuldich com um sorriso.

Ran estranhou e depois de perceber que Schuldich estava com um sorriso nada amigável, ele afastou Aya do outro ruivo e olhou seriamente para ele como se o simples facto de olhar lhe pudesse dizer o que se passava de estranho naquela historia.

- Ok, Ran! Pára de tentar me cegar! A Koneko é muito conhecida pelas suas flores e pelo próprio Ken, todas as tardes as raparigas que passam naquela rua entram na loja para assediar o rapaz. No inicio eram quatro ajudantes, o Ken, eu, o Nagi e um amigo nosso, Yohji. Mas todos acabamos por achar que seria melhor nos separarmos.

- Porquê? O negócio era assim tão mal?? Ou era por causa da clientela?!

- Não é bem isso Ran. Eu e o Nagi nunca fomos bons a seguir ordens e como nunca precisámos mesmo de trabalhar acabámos por desistir depois de uns meses. Tomar conta de uma floricultura dá muito trabalho... pensas o quê?

- Sei lá... mas e o Ken e o outro?

- O Ken acabou por ficar lá, ele até gostava do trabalho e como não tinha mesmo mais nada para fazer além daquilo acabou por ficar a tomar conta da loja. O Yohji.. bem.. ele partiu para receber uma herança e acabou por ficar por lá mesmo, ele vem umas vezes por semana cá a Orchidee mas o seu tempo é mais passado no domínio dele.

- Domínio? Ele é assim tão rico? – perguntou Aya atenta a tudo o que Schuldich dizia.

- É. Ele herdou um castelo e uma vila... talvez já tenham ouvido falar do reino de Balinese..?

Aya olhou para Ran para saber se ele sabia e o ruivo apenas lhe disse que sim mas sem dizer mais nada. Schuldich riu-se e voltou ao que estava a dizer.

- Mas acho que se o Ken te ofereceu trabalho podes aceitar, vais ter é de ter muita paciência e acordar todas as manhãs bem cedo, os turnos divididos por vocês dois não devem dar muitas folgas.

- É verdade.. – murmurou Ran pensativo. – Tens a certeza que queres fazer isto Aya?

- Claro que sim! Quando vires já ganhei dinheiro suficiente para começarmos a procurar e depois caso tudo dê certo vamos poder ser uma família de novo.

Schuldich sorriu.

- Acredito que sim, maninha.. porquê não vais ajudar o Nagi na cozinha? – sugeriu Ran com um sorriso gentil. Schuldich acabou por acrescentar alguns segundos depois. – Assim podes convence-lo a fazer aqueles bolos que tanto adoramos, não concordas Ran?

Aya olhou pra o seu irmão à espera de uma resposta e o ruivo apenas acenou com a cabeça. O rapariga saltou para o chão e depois de fechar a porta foi a correr para a cozinha chatear Nagi.

Ran olhou para Schuldich desconfiado.

- Bela maneira de fazeres a minha irmã sair do quarto e não voltar.. que foi?

- Apenas quero saber de que estão vocês à procura exactamente. Eu sei que disse que não ia meter-me mais nisso mas à medida que vos conheço mais me preocupo com vocês.. é apenas impossível para mim não saber no que estão vocês a meter-se.

- Estamos à procura da nossa família.

- Não pensei que fosses responder tão prontamente! – sorriu Schuldich.

- Também não te digo mais do que isto.

- Mas Ran!

- Mas nada.. não podes ajudar em nada.. é algo que eu e a Aya temos de fazer sozinhos.

- Ran, eu sei que sou um completo desconhecido e sei que não confias em mim mas terás de começar a confiar em qualquer altura e espero que não seja tarde demais, quando estiveres atulhado de sarilhos.. eu apenas pergunto porque me preocupo contigo nada mais. – houve algum silêncio entre os dois até Ran decidir-se a falar qualquer mais.

- Eu sei Schuldich e obrigado mas.. no que podes ajudar? Sabes como ajudar dois irmãos sem nenhum tipo de informações assim como sem dinheiro a encontrar os seus pais?! Neste momento talvez até sejamos órfãos.. ainda não dei essa hipótese à Aya porque não quero vê-la a perder todas as esperanças.

- Por isso tens de me deixar ajudar! Diz-me o vosso nome de família. Pelo menos isso!

Ran baixou a cabeça e quando Schuldich pensava que teria de usar a sua telepatia para descobrir aquilo que ele cria, o ruivo voltou a erguer o rosto. Os olhos ametistas mostravam uma confiança tão intensa que o alemão jurou a si mesmo que iria fazer tudo para ajudar os dois irmãos.

- Fujimiya.. nós somos os últimos descendentes desta família.. sei que os meus avos já morreram e queremos descobrir apenas o que aconteceu aos nossos pais. – respondeu Ran.

- Ran Fujimiya.. Aya Fujimiya... não te lembras do nome do teu pai ou mãe?

Ran negou com a cabeça.

- Deixa estar eu heide perguntar a algumas pessoas... eu tenho a sensação que já ouvi alguma coisa sobre a vossa família, o nome é me familiar apenas não sei porquê.

- Obrigado por ajudares.. apenas preciso de fazer tudo por tudo para descobrir.. eu quero que a Aya volte a ter uma família.. eu tentei deixa-la para trás e fazer esta busca sozinho mas quando ela descobriu simplesmente seguiu-me até estarmos fora da casa dos nossos pais adoptivos.. não havia como voltar atrás.

- Deixa-me ver se entendo.. vocês fugiram de casa para isto? Ou seja, neste momento a vossa família adoptiva deve andar à vossa procura?

Ran arregalou os olhos ao se dar conta que era uma possibilidade. Talvez os Takatoris tivessem já a sua própria família e não precisassem de mais ninguém para a completar, mas quando Aya e Ran entraram para aquela família foram imediatamente vistos como parte da familiar. O mais certo era Shuichi estar à procura deles e até Erika..

- Como não pensei nisso antes! Que fazemos, Schuldich?

- Dá-me uns dias para investigar a vossa família e saber se existe algum contacto que possa usar para encontrar algum traço da família Fujimiya.. se dentro de uma semana no máximo não encontrar nada talvez seja melhor vocês saírem do reino.

- Mas Schuldich..

- Não te preocupes. Como última opção podemos falar com as autoridades, dizemos quem vocês são e eles serão obrigados a dizer se existe algum parente vivo, vocês devem ter direito aos bens de família e coisas do tipo. Se isso não dar certo falamos com o Yohji.

- Yohji?! Aquele de que falaste há pouco?

- Sim.. ele trabalhou durante algum tempo com o governador e melhor do que ninguém sabe o que é necessário para tu e a Aya se apresentarem como os legítimos sobreviventes da família Fujimiya.. suponho que não tenhas nenhum tipo de documento?

- Infelizmente não. Se existia alguma coisa ficou com a nossa família adoptiva.

- Ok.. deixa isto comigo..

Ran gatinhou até onde Schuldich estava e ao aproximar-se do homem de cabelos compridos abraçou-o. O outro respondeu ao gesto carinhoso, sentindo sem perceber o corpo de Ran, deliciando-se com o aroma do perfume do ruivo mais novo, perdendo-se nas sensações.

Quando Ran se afastou levemente embaraçado, Schuldich quase protestou pela falta de contacto. Controlando-se apenas sorriu confiante e agarrando uma mão de Ran beijou-a.

- Obrigado Schuldich. – sussurrou Ran corado.

- Deixa isto comigo, eu cuido de ti. Acredita apenas em mim.

- Eu confio em ti! Obrigado! – disse novamente Ran.

Schuldich ficou alguns segundos a olhar para o outro ruivo, mas ao ouvir Nagi a gritar a alto e bom som para os dois virem para almoçar, ambos de levantaram para ir para a sala. Enquanto Ran se perdia no sentimento de esperança, Schuldich interrogava-se se era o que ele sentia estar apaixonado.

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Eram altas horas da noite quando Schuldich voltou para casa. Ao entrar na residência encontrou Ran e Nagi a conversar na sala. Os dois mais novos estavam a rir de alguma coisa. Quando o alemão entrou Ran foi imediatamente ter com ele.

Tinham se passado dois dias desde a conversa que os dois ruivos tinham tido. Enquanto Ran tinha começado a ajudar Aya e Ken na floricultura, Schuldich tentava encontrar algo que ligasse os irmãos aos Fujimiya ou apenas algum detalhe sobre o paradeiro dos sobreviventes da família.

Nagi levantou-se também da mesa e aproximou-se. O rapaz apesar de não mostrar estava também muito interessado em saber o que Schuldich tinha descoberto.

- Então. – começou Schuldich calando-se.

- Schu? – tentou Nagi.

- Acho que vou ter mesmo de contactar o lord Kudoh. – disse finalmente o alemão sentando-se e olhando meio tristemente para Ran. – Não descobri nada. Apenas fiquei a saber porque o nome Fujimiya me era tão familiar.. há alguns anos houve uma explosão na cidade, na propriedade dos Fujimiya, os membros da família foram todos dados como mortos. – Schuldich baixou a cabeça. – Algumas pessoas disseram-me que o lord Fujimiya tinha descoberto uma conspiração contra o governador de Orchidee e ao negar-se a fazer parte do tal plano... mataram-no.

Ran deixou-se cair no banco ao lado de Schuldich. O homem de cabelos compridos em segundos estava a abraçar Ran, tentando consola-lo com palavras de apoio. Nagi aproximou-se e tentou fazer o mesmo. Um barulho da entrada fez com que os três olhassem e ali encontraram um homem moreno a olhá-los curiosamente.

Schuldich continuou a segurar o ruivo afectuosamente. Nagi afastou-se aproximando-se do moreno.

- Lord Brad. Que honra. Passasse alguma coisa, para o fazer vir até aqui? – perguntou o rapaz fazendo um gesto para os dois irem falar para a sala, bem longe de onde estava Schuldich e Ran.

Crawford era um dos grandes lordes da zona, todos o temiam e haviam poucos que tinham coragem para ir contra ele, alguns desses poucos eram Schuldich e Nagi. Os dois na realidade não iam bem contra Crawford apenas se submetiam a ele, ainda que ambos muitas vezes recusassem algumas ordens dadas por ele.

- Quem é este? Receio que não fui apresentado formalmente ao vosso hospede. – disse Crawford aproximando-se dos dois ruivos. Schuldich levantou-se ficando em frente de Ran propositadamente desafiando Crawford.

- E não vai ser agora também. Desaparece!

- Então que maneiras são essas, Schuldich. – Crawford preparava-se para dizer mais qualquer coisa mas Ran levantou-se e aproximando-se fez com que os dois olhassem para ele deixando a discussão de lado.

- Desculpe.. Ran Fujimiya. E o senhor é?

- Brad Crawford. As terras onde está são minhas e acredite que apesar de não ter sido informado antes da sua presença, não vejo nenhum mal nisso. – Crawford olhou de lado para Schuldich durante alguns instantes até que a sua atenção voltou para Ran. – Então que faz por aqui?

- Estamos para ficar durante algum tempo, lord Crawford. Infelizmente eu e a minha irmã encontramo-nos neste momento aqui, ainda que andemos à procura de trabalho e outro sitio onde residir.

- Não sei porquê, mas o senhor tem ar de ser bem superior a estes meus dois servos. Proponho que venha.. com a sua irmã, claro!.. para o meu castelo. Ai sim encontrará todo o conforto de um príncipe.

- Desculpa mas terei de recusar. Não pretendemos ficar muito tempo.

Crawford deu um passo em frente. – E porquê não? Eu anseio pela sua companhia e ainda agora o conheci. Sei que adoraria conhece-lo melhor.

- Pois... – Ran pausou. Queria pensar numa desculpa mas a sua mente recusava-se a trabalhar. Parecia que de repente mentir não era uma opção.

- Pois é Bradley! Infelizmente o Ran e a sua irmãzinha vão ficar por aqui! – disse Schuldich de repente. – Eu e o Nagi vamos tomar conta deles. Não se preocupe, lord Crawford. – Schuldich empurrou o moreno do local até Crawford estar na rua, ai fechou-lhe a porta na cara.

Nagi correu até ele tentando abrir a porta mas o ruivo de cabelos compridos apenas fez um gesto para o impedir. Ran ainda estava a tentar entender o que tinha acabado de acontecer.

- Esquece Ran! Aquele lord Crawford é um tarado de pior espécie! Não ias gostar de viver sob o mesmo tecto que ele. – disse Schuldich com um sorriso.

- Agora graças a ti, ele não vai deixar-nos em paz. – disse Nagi finalmente. – Ele parecia muito interessado no Ran... mas acredito que se ele tentasse falar calmamente com o lord tudo se resolveria.

- Um Não bem redondo era o que ele precisava! – disse o alemão friamente. – Algo que o nosso amigo ruivo não conseguia dar-lhe.. mais cedo ou mais tarde, ele volta. Ai já teremos tudo preparado para o afastar do Ran. Nem acredito que ele teve a lata de ir tão direito ao ponto de convidar o Ran para ir com ele! É preciso ter descaramento!

- Achas que ele volta quando, Schuldich? – perguntou Ran curioso.

- Esperemos que quando tu já tiveres bem longe daqui.

Ran apenas assentiu com a cabeça e dizendo uma boa noite foi para o seu quarto. Nagi seguiu o ruivo com o olhar e quando ouviu a porta a fechar olhou para Schuldich. O alemão apenas olhou para ele e finalmente sorriu maliciosamente.

- Esquece isso Nagi.

- Ele estava a olhar para o Ran de uma maneira muito intima.

- Queres dizer que o Bradley estava a comer o nosso amigo com os olhos?! E eu a pensar que tu eras um rapazinho inocente!

- Ele estava não estava?

- Sim. Apenas temos é de impedir que ele volte a aproximar-se do Ran desta forma. Principalmente quando eu não estiver por perto para salvar o nosso ruivinho. Ele pode ter garras mas ele esquece que as tem muitas vezes.

Nagi apenas sentou-se e olhou para a mesa durante algum tempo sem fazer nenhum comentário. Schuldich queria dizer alguma coisa a Nagi mas sabia que nada naquele momento o iria fazer ficar com uma melhor disposição. A única coisa que ele podia fazer era deixar o telecinético sozinho. Muitas vezes era difícil perdeu o nosso ídolo e no caso de Nagi seria ainda mais difícil, porque o rapaz tinha começado com o tempo a ver Crawford como um pai.

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