Capítulo 3. Depois de embriaguez
"Sometimes I feel good
(Às vezes eu me sinto bem)
At times I feel used
(Algumas vezes me sinto usada)
I feel you darlin'
(Eu te sinto querido)
Makes me so confused
(Você me deixa confusa)"
(Fallin', Alicia Keys)
As horas que pareceram se arrastar entre elas conseguirem levar Colin para a Ala Hospitalar até todo o resto do castelo chegar comentando o ocorrido no pub, pareciam passar voando depois do jantar, quando tudo que ela queria era não ter que ir ao encontro com Malfoy. Mas, não era bem assim que as coisas funcionavam: se ela não fosse, Draco tiraria pontos da Grifinória como vingança e falaria com Snape sobre o comportamento nada convencional do garoto. Eram as regras que ele impusera, e ela tinha que jogar seu jogo, pelo menos por enquanto... Depois do baile dos formandos, estaria livre, então nunca mais chegaria perto de Malfoy.
Talvez, parte de Gina ainda tivesse medo daquele nome, e de tudo que aquilo representava na vida dela: o que iniciara seu maior pesadelo. Talvez, ela temesse olhar para Draco e saber que ele apenas queria que ela entrasse nas trevas outra vez, que mergulhasse de cabeça em tudo que Tom representava para ela: autoconfiança, inteligência e liderança. Fora nele mesmo que se baseara para superá-lo. Deveria ser confiante como ele. Se esforçar para ser inteligente, ser uma líder. Tinha que mostrar pra Tom, mesmo que ele não pudesse realmente ver, que ela podia ser realmente boa sempre precisar dele, sem precisar de ninguém.
Cada passo que a menina dava, parecia custar muito caro, e tudo que ela queria era fugir correndo dali... Mas, afinal, o que ela temia? Malfoy estava sendo um verdadeiro cavaleiro com ela havia alguns dias. Tinha sido gentil, tinha mandado bilhetes elegantes... E a beijado. A Grifinória parou subitamente assustada. Não queria fugir correndo por medo dele, queria fugir por medo dele a beijar mais uma vez... Tinha sido bom, mas ela não queria achar bom.
Mas não podia fazer outra coisa que não fosse comparecer ao encontro. Era por Colin, por Marin, por ela mesma e pela Grifinória. Aonde estava a coragem que ela devia ter? Incrível como ela sempre sumia quando Gina mais precisava.
Apenas alguns passos, e estaria no salão de inverno.
Cinco passos. Quatro. Três. Dois passos e chegaria... O último passo...
O salão tinha apenas parte das velas acesas, deixando quase tudo no escuro. Era bom pra ver o céu, essa noite estava limpo e estrelado, seus pés faziam barulho que ecoava no cômodo inteiro. Seus lábios estavam entreabertos de admiração: ela não imaginava que fosse estar tão bonito.
- Gosta de ver estrelas, Virginia?
Ela se assustou ao ouvir a voz do rapaz atrás de si, e deu um passo atrás. Rápido, ele segurou o braço dela e a virou para si.
- Assustada? - falou, o nariz quase encostando no dela.
- Não tinha te visto.
- Percebi - foi tudo que ele respondeu, com um meio sorriso na boca.
- Para que me chamou aqui, Malfoy?
- Não é uma pergunta muito inteligente, sabe? - ele falou sarcástico.- Mas isso é típico seu.
- Oras, seu! - ela começou a falar se afastando, mas ele a puxou de volta.
- Idiota? - ele perguntou.
- Idiota, imbecil... - ela repetiu com raiva.
- Pervertido?
- Pervertido, sujo...
- Irônico?
- Irônico, mentiroso, manipulador, chantagista
- Aproveitador.
- Aproveitador, preconceituoso.
- Sexy?
- Sexy - ela repetiu e corou ao ver o que tinha dito.
- Porque eu tenho a séria impressão que você está apreciando o conjunto? - ele falou olhando divertidamente para ela antes de a beijar.
O primeiro beijo tinha a deixado confusa: ela nunca fizera aquilo. Aonde por a língua? Quando parar? O que fazer depois? Agora, a deixava com raiva. Era extremamente excitante ser beijada por Draco Malfoy em uma sala mergulhada na penumbra, sob as estrelas em um dia frio. Começava a ventar, e ela se encolheu encontrando um abraço apertado dele. Seu coração estava acelerado quando eles se separaram, os olhos cinzentos dele brilhando no escuro.
- Te deixo tão descomposta assim? – perguntou, tirando a mão do pescoço dela.
- Golpe sujo, Malfoy! - ela reclamou.
- É sim - assumiu sorrindo. - Mas eu sou um sonserino, eu posso.
- Ahhh... - ela falou como se reclamasse.
- Dia trinta e um aqui na porta às sete e cinqüenta. Não se atrase, Virginia.
E Draco estava fora da sala.
- O que eu faço? - ela murmurou para Marin sentada ao seu lado no salão comunal.
- Qual exatamente a sua dúvida? - ela perguntou após ter ouvido detalhadamente o relato do encontro.
- Minha dúvida? - perguntou incrédula. - Talvez seja "Porque é que eu gostei tanto de ser beijada pelo Draco?", ou você acha que isso não combina com meus desejos?
- A partir do momento em que você gosta, combina com seus desejos, que, afinal, foram o que te levaram a beijá-lo.
- Ele me beijou - corrigiu.
- E você permitiu, e retribuiu também.
- O que eu deveria fazer?
- Bom, exatamente o que você fez, não é?
- Não fale assim, foi absolutamente instintivo.
- O que significa que este é um desejo do seu inconsciente negado pelo seu consciente.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Papai falava algo assim quando começou a fazer aquela faculdade de psicologia bruxa. Eu vivia lendo os livros dele.- Gina fez uma careta.
- Foi apenas uma distração! Eu não faria de caso pensado!
- Assim como chamá-lo de Draco alguns minutos atrás?
- Ahn?
- Você disse "Porque é que eu gostei tanto de ser beijada pelo Draco?".
- É... - atônita notava o absurdo. - Eu disse.
- Então desista, Gina. Você está lutando numa batalha contra seu inconsciente que você não pode vencer.
- Eu gostei de beijá-lo - ela admitiu baixinho.- Mas eu não podia gostar.
- Ah! - falou Marin como quem está extremamente satisfeita.- Mas existe um grande abismo entre querer e poder.
- Acho que sim, droga - ela falou revoltada. - Porque eu gostei?
- Hum... Já dizia Shakespeare, o fruto proibido é o mais gostoso.
- Ele disse isso? - a sobrancelha apimentada se ergueu.
- Não sei - respondeu Marin. - Mas, porra, eu tenho certeza que ele pensava assim... Afinal, se não pensasse nunca teria existido Romeu e Julieta. Não que o Draco seja exatamente meu ideal de Romeu, mas...
- Ele se mostrou romântico - comentou.
- Oh! - a loira exclamou. - Eu não devia ter te incentivado... Daqui a pouco Malfoy será seu novo príncipe encantado.
- Bom, pelo menos ele tem mais porte que o Harry - falou Colin, que chegara apenas minutos antes da Ala Hospitalar.
- E é mais bonito - completou Gina.
- E definitivamente mais sexy - falou Colin. - Ele é um desperdício, tinha que preferir meninos - falou pondo a língua pra fora. - Mas se ele gosta de ruivas...
- É um bom príncipe encantado visualmente falando - concordou. - Mas um príncipe que não vale nada.
- Bom, você não poderia esperar um príncipe convencional, não é? - falou Colin.
- É... Antes Gina era a menina certinha apaixonada pelo Potter perfeito - falou Marin com seriedade. - Agora ela é a ruiva doidona que saí com Malfoy. As coisas mudam... Daqui á mais uns dias, ela vai estar usando porra como virgula... Agora só falta você gostar de mulher, Colin.
- Oh! - ele falou abrindo a boca. - Merlin que me livre! - falou sacudindo a mão.
A manhã de natal estava mais fria que qualquer dia que ela pudesse se lembrar daquele ano. E da forma como odiava manhãs frias, ela iria se lembrar. A única coisa boa no frio era a neve e guerra de bolas de neve com os gêmeos. Mas eles não estavam mais lá havia mais de um ano, ainda custava a se acostumar.
Bocejando, ela se sentou na cama vendo que Beth já tinha aberto mais da metade de seus presentes. Marin, que sempre fora a mais dorminhoca, era a única menina ainda deitada. Haviam mais presentes no pé da sua cama que o normal.
- Parece que mais gente resolveu ajudar a ganhar o título de mais presenteada do quarto. Não que você precisasse de ajuda, claro.
- Com todos os seus irmãos...- riu Melaine, uma menina de cabelo loiro aguado que era com quem Gina menos simpatizava. - fica fácil. Mas provavelmente não tem nenhuma qualidade nessa montanha.
- Ora, Melaine, a única fútil da turma é você, todo mundo sabe.- respondeu Marin que acabara de acordar, já soltando fogo pelas ventas.
- Eu achava que o Natal era época de confraternização - murmurou Beth, mas os olhos das meninas brilhavam de raiva.
- Desde quando você virou defensora dos fracos e oprimidos?- perguntou a outra maldosamente. - Ah, claro, desde sempre, já que a pobre Gina não sabe se defender sozinha.
- Escuta aqui! - falou Gina de pé agora. - Vá à merda. Eu não vou perder meu tempo discutindo com você.
O quarto ficou em completo silêncio enquanto a ruiva seguia para o banheiro do corredor aonde estavam os dormitórios do sexto e sétimo anos.
- Certo - falou Marin mais pra si do que pra qualquer outra pessoa. - Só falta o Colin me beijar no baile.
Para a sorte de todas, quando Gina finalmente voltou do banheiro Melaine já tinha descido para tomar café.
- Não vai abrir seus presentes? - perguntou Marin tentando anima-la. - A propósito, eu gostei muito desse pente que você me deu.
Gina sorriu com sinceridade, e sentou na cama, botando os presentes em cima da mesma. O primeiro era de sua mãe: uma nova suéter Weasley rosa para ela, já que a antiga estava ficando pequena, junto com bolos caseiros, frutas cristalizadas e outros docinhos. Gui tinha lhe mandando um lindo colar com um pingente tipicamente egípcio. Carlinhos, um novo pote do produto para lustrar vassouras, os gêmeos, obviamente tinham mandado gemialidades Weasley, e Percy um livro como sempre. Desta vez ele acertara exatamente o que ela queria ler: era sobre os antigos cultos celtas e as primeiras bruxas. Rony, por sua vez, tinha mandado uma camisola nova, com estampa de anjinhos. "Típico... Continua a me tratar como uma criança.".
Os outros presentes eram de amigos: Marin lhe dera um perfume, Colin uma saia azul, linda. Hermione também tinha lhe mandado um presente, como o costume, mas surpreendera. Ao invés de livros, ganhara um estojo de maquiagem trouxa com a assinatura em prata escrito Raphael Costa Beauty. Gina sabia que ele era um estilista conhecido e respeitado no mundo trouxa (até por ser o ídolo de Colin, que achava tudo dele o máximo). Tinha mais dois presentes. Ela abriu o primeiro embrulho, que tinha uma linda pulseira dourada com detalhes em vermelho, junto com um bilhete.
Gina;
Já que seu vestido é vermelho, achei que a pulseira combinaria. Espero que use no baile desta noite.
Com amor,
Harry
Não tinha um "Querida Gina" mas tinha um "Com amor" e isso valia muito mais, não valia? O sorriso cresceu tanto no seu rosto, que teve que dar risinhos de contentamento.
- Que houve? - falou Marin curiosa. Gina estendeu o bilhete. - Bom, o vestido é vinho, não vermelho.
- Oras, como se isso fizesse diferença! - falou nas nuvens. - Ele escreveu "com amor, Harry"! Isso que importa.
- Bom, ele não iria escrever "atenciosamente" ou "sem mais despeço-me" para a irmã do melhor amigo dele que conhece há séculos. - ponderou Beth, que assistia a cena.
- Eu vou ao baile com ele!- falou Gina sorrindo. - Ele me deu uma pulseira para usar!
- Bom, isso muda um pouco de figura. - a morena sorriu. - Espero sinceramente que dê certo, Gina.
- Oh, claro, príncipe Draco caiu do cavalo. - falou Marin rindo de como a amiga estava boba. Gina puxou o último embrulho para abrir, de onde saiu um tecido prateado, semi-brilhante e escorregadio que ela logo notou o que era.- Ou talvez ele tenha ainda uma carta na manga.
-Príncipe Draco?- perguntou Beth, mas a outra apenas fez um gesto de deixa pra lá.
Gina leu o bilhete, ruborizando no mesmo momento, e quando Marin leu, entendeu o porque.
Querida Virginia;
Espero que goste do meu presente. O toque do tecido é macio, suave e delicado como seus beijos.
Com todo amor,
Draco Edward Malfoy
Gina agora tinha o vestido esticado, e observava-o em frente ao corpo: aparentemente era justo sem ser colado, brilhante sem ser chamativo, decotado sem ser vulgar. Ótimo gosto. Altíssimo custo. Ela não poderia aceitar.
Pôs de volta no embrulho, e rabiscou um bilhete em um pedaço de pergaminho.
Draco,
Sinto muito, mas não posso aceitar seu presente. É absolutamente lindo, mas muito caro e eu não posso deixar que gaste seu dinheiro assim em algo incerto.
Com carinho,
Gina.
Por incrível que parecesse a Marin, Harry estava em vantagem.
Gina passou pelo o salão comunal vindo do corujal para se encontrar com Colin e Marin, que já havia descido e foram tomar café. Como era de costume na manhã de natal, além do mingau, leite e sucos de sempre, haviam nozes, castanhas, algumas dezenas de panetonis e outros doces. Harry, Rony e Hermione já estavam lá, ela parou para agradecer à amiga o presente antes de se sentar do outro lado da mesa.
- Quer dizer que apesar dos esforços do Malfoy você ainda prefere o Harry.
- Colin, você sabe que eu só vou com o Malfoy por sua causa.
- Ah, me perdoe por te fazer aceitar ir ao baile mais concorrido com o cara mais sexy da escola. - falou ironicamente.
- Você fez questão de dizer isso em alto e bom som na frente dele. Você lembra disso?
- Ou que beijou o Peter no meio do Três Vassouras.
- Ou que fez comentários indecentes sobre o cabelo do Harry?
- Ou ainda que se assumiu para todos os maiores fofoqueiros da escola?
- Tá, tá, eu sei que eu extrapolei.- acenou distraidamente a mão. - Me admira que eu não tenha pego uma detenção.
- Hermione tirou vinte pontos da Grifinória alegando "comportamento inadequado fora da escola" e quer conversar com você e comigo às onze.
- É, você está fudido, e é bem-feito, se eu fosse Gina ou Hermione teria te dado uma punição bem maior.
- Marin, você é perversa e por isso que escolheram Gina independente das suas notas mais altas no total.
- Vocês dois não vão chegar a lugar nenhum com essa discussão. Falaremos com Hermione e é só isso.
- Que mau-humor. - murmurou Marin.
- Parece que não é só Gina que acordou mau-humorada. Olha quem acaba de entrar.
Draco Malfoy vinha entrando pelo salão com uma cara de quem não quer ser incomodado. Crabbe e Goyle andando com uma cara ainda mais abestada do que o normal.
-Será que ele já recebeu a coruja?- se perguntou Gina nervosa.
-É provável.- respondeu Colin.- Eu diria que é o melhor pra todo mundo, porque se o humor dele ainda piorar... Eu temo pela sua integridade física.
-Eu temeria pela mental.- falou Marin.
-Tudo bem, eu entendi. Vamos logo.
Os três saíram do café, sem quase ter tocado na comida.
Gina passou a manhã inteira fora. Logo depois do café foi se encontrar com Hermione na sala dos monitores, e Marin os acompanhou. Não foi tão ruim quanto eles esperaram: Colin foi proibido de ir à visita seguinte a Hogsmeade, e fora isso, apenas os vinte pontos tirados da Grifinória mostravam que alguma coisa errada tinha acontecido. Afinal, que professor daria crédito as fofocas? Pareciam sensacionalistas demais para serem levadas a sério... Tudo bem que o menino Creevey fosse homossexual... Mas aqueles comentários em alto e bom som não condiziam com a imagem que eles tinham do garoto: alguém completamente aficionado em fotografia e Harry Potter. Professores, convivendo tanto, são como pais: os últimos a descobrirem quem os filhos realmente são.
Durante o almoço, fez questão de se sentar de costas para a mesa da Sonserina, mas de acordo com as informações de Marin (já que Colin não tinha coragem de olhar para lá sem corar imediatamente lembrando o que tinha dito) ele ficara o tempo todo olhando para ela.
A ruiva continuou fora à tarde, jogando Snap Explosivo com os amigos na "Sala Secreta" e conversando, tentando arranjar maneiras para Peter perdoar Colin e os dois voltarem aos bons tempos, quando os dois ficavam sozinhos na sala e as duas meninas ficavam no pequeno corredor que levava a porta vigiando.
E só às seis horas foi que ela resolveu subir, prevendo um certo engarrafamento pra conseguir tomar banho e se arrumar a tempo. Definitivamente, deixar Harry esperando logo na primeira vez que saíam juntos não estava nos seus planos. Mas, claro que o banheiro do corredor estava lotado, Parvati parecia histérica pois seu cabelo jamais ficaria direito, enquanto Hermione tentava alguns feitiços para melhorá-lo. Melaine, que iria com Simas, estava tratando de ficar tão bonita quanto poderia, usando todos os tipos de maquiagem que estavam a sua vista, e apenas a pequena e calma Beth já estava pronta.
- Tem coruja para você, Gina! - falou Marianne de dentro do chuveiro.
Ela e Marin se entreolharam, e sentiu seu estômago revirar. Foi andando até a cama, e lá estava o pacote que mandara, aparentemente intocado, com apenas um novo bilhete. Abriu o embrulho e achou junto ao vestido um pequeno cordão com uma rosa transparente.
Após passar os olhos rapidamente pelo bilhete, a garota passou-o à amiga.
Virginia,
Não me importa o quanto custou, eu te dei o que quis te dar, e entenda, não foi o menor sacrifício. Nenhum sacrifício seria grande demais para vê-la linda.
Com amor
Draco
"Um a zero pro Draco." Não pode deixar de pensar.
N/A: Esse capítulo é pra Estelle, pela bela criação da linha de maquiagem "Raphael Costa Beauty", que nos trouxe muitas risadas, e para o Rapha, que inspirou esta criação.
