Capítulo 9. Despertar
"- Você roubou minha reputação e saiu com sua honra tão imaculada quanto a de um bebê. E agora tirou a vida do único homem que amei! O seu romano teve sorte em se livrar de você! Eilan a inviolada! A Santa e Poderosa Senhora! Se soubessem!
Eilan disse cansada:
- Nenhuma de nós encostou uma espada na sua garganta para obriga-la a fazer seus votos, Dieda."
Gina abriu os olhos assustados mais uma vez para encontrar suas companheiras de quarto em volta da cama.
- Gina... – balbuciou Melaine. – O que aconteceu?
- Eu tive um sonho horrível, e... – ela tentou se erguer nos braços mas parecia estar dolorida demais. – Outro pesadelo com Tom e...
Mas os olhares das meninas, ela reparou, eram aterrorizados demais, embora nenhum fosse tão vivido ou tão terrível quanto o daquela noite.
- Qual é o problema... – ela começou a falar, mas o que viu quando finalmente se sentou, a fez não conseguir continuar.
Ficou óbvio o que as assustara, no momento em que se viu. Sua camisola, um dia branca e longa, estava rasgada na altura dos seios... "De repente, com um esforço das mãos ele rasgou no meio a parte superior da camisola."... Um vento frio atingiu os seios agora desnudos... E suas pernas, agora descobertas, estavam todas marcadas por unhas e feridas... "descendo continuamente com os beijos enquanto agarrava a perna dela, firmando sua mão com as unhas"... Mas, o que realmente provocou seu quase desmaio no momento seguinte, foi a visão do lençol avermelhado, e o meio de suas pernas, ambos estavam sujos de sangue. Não as manchas quase cor de vinho do sangue morto que vinham atestar a não maternidade, mas sangue fresco, vermelho, vivo. Tinha sido realmente violada.
Caiu novamente deitada, o rosto pálido e frio como mármore. A única coisa que foi capaz de dizer foi:
- Chamem Hermione.
Marin, que estava um pouco afastada das outras, saiu rapidamente à procura da garota. Gina não conseguiu mais se manifestar. Fechou os olhos, quase inconsciente e se deixou ficar lá deitada, quase muda, ouvindo o falatório das meninas por momentos sem fim. Até que Hermione chegou e ela ouviu a voz urgente e preocupada da amiga.
- Quem acordou primeiro? – aparentemente, ela pusera o primeiro pé no quarto.
- Eu... – falou Sara tremula.
- O que estava acontecendo?
- A cama da Gina... Estava sacudindo com força, batendo na parede... em um movimento continuo, e eu ouvi-a murmurar, e aparentemente não se debatia... Eu gritei, as meninas acordaram, mas antes que alguém alcançasse a cama, tudo parou. Como do nada. E nós corremos, ela acordou quase em seguida e... Pediu pra te chamar...
Enquanto isso, Hermione ainda não chegara na cama da garota.
- Certo, não temos certeza do que foi, e...
A voz se aproximara sensivelmente.
- Gina? – sussurrou a garota. – Gina, você...
Abriu os olhos delicadamente com cansaço.
- Quem...?
- Tom. Sempre Tom. – ela falou quase sem forças.
Hermione tentou usar seu tom eficiente de todos os dias, mas sua voz saiu levemente embargada.
- Marin, vá até o dormitório dos meninos, chame Harry e Rony... Mande-os... Mas, droga, eles não podem vir aqui... Mas chame-os mesmo assim, e explique o problema... Harry provavelmente vai chamar Dumbledore e... Beth, chame urgentemente Professora McGonagall, você sabe como, não? E, Sara, procure a Madame Pomfrey...
- Descanse, Gina, descanse... – ela murmurou.
- Hermione? – perguntou Melaine fracamente, sentada na cama de Beth, a esquerda de Gina. – Você tem idéia de que... De quem...?
- Quem fez isso? Alguma, mas é completamente impossível...
- Pode ter sido alguém da Grifinória mesmo, quero dizer, um dos meninos, não consigo imaginar quem, mas que tenha subido aqui e...
- Eu pensei na hipótese de ser alguém dentro do castelo, mas você sabe que meninos não conseguem subir pela nossa escada. Existem feitiços de barreira contra isso. E não acho que nenhum deles seria capaz...
- Ou alguém de fora aparatando...
- Não se pode aparatar nos terrenos de Hogwarts. Porque ninguém lê Hogwarts, Uma história?
- Porque você decorou o livro, e ninguém mais precisa lê-lo. – murmurou Gina, que mantinha os olhos semi-cerrados. – E eu já disse que foi Tom?
- Como pode ter sido Tom? – respondeu-lhe Hermione. – Eu não entendo Gina, não entendo...
- Existem muitas coisas, Srta Granger, que nós demoramos pra compreender. – falou a voz profunda de Dumbledore, e quando as duas meninas ergueram a cabeça para vê-lo, em volta dele havia um pouco daquela enorme aura de poder que eles quase podiam tocar. McGonagall estava ao seu lado, lívida. Certamente estava furioso, e ao olhar a menina Weasley, ainda deitada naquela cama, ele se virou para Melaine e falou com a voz gentil. – Srta Bagnold, poderia nos dar licença?
Obviamente ela obedeceu sem uma palavra.
- Agora, Virginia, me conte o que foi que aconteceu.
Então, sua garganta pareceu funcionar sozinha, e ela contou tudo que lembrava do que ela achou que fora um sonho, nos mínimos detalhes, embora não sem corar. Teve vergonha de admitir que não conseguiu evitar as sensações prazerosas dos toques dele. Mas, falou tudo que conseguia, até que parou. Não havia mais o que dizer, a não ser de como fora sua descoberta. Mas achou que poderia poupar o diretor dessa parte e de toda a repetição.
- Com efeito, Hermione, eu concordo com Virginia quando ela diz que foi o jovem Tom.
- Mas como Voldemort poderia vir até Hogwarts sem que ninguém soubesse e, mais pertinente ainda, porque ele faria isso?
- Não falei sobre Voldemort, srta Granger. Eu falei do jovem Tom. Aquele que a pequena srta Weasley libertou de um diário certa vez.
- Mas... Como? – perguntou Gina.
- Sua vidência, sua sensibilidade, Virginia, tem certas características especiais.
- Ah! - exclamou Hermione. – Acho que compreendi! Essa vidência da Gina, é o que os trouxas chamam de mediunidade?
- Eu creio que sim. – respondeu Dumbledore grave. – E existem várias formas desse dom se manifestar, e certas dificuldades. Há quem seja vulnerável a sons, e visões. Outros, apenas sentem. A alguns, raros, devo dizer, os espíritos são capazes de tocar e fazer mal físico.
- A chamada mediunidade física. – complementou Hermione.
- Certo, como de costume, Srta Granger.
- Mas, Alvo. – falou Mcgonagall que estivera quieta até então. – Como ele pode... Como pode desprender seu espírito e trazê-lo aqui? E, como perguntou srta Granger, qual o objetivo dele com isso?
- Eu tenho suspeitas, Minerva, mas são apenas suspeitas. É aparentemente, tudo culpa de sua idéia sobre o diário e preservar seu eu de dezesseis anos tinha alguma falha. Parte da sua alma ficou presa naquele diário, e quando Harry o destruiu, bem, ele perdeu as forças para se fazer sólido, mas não foi destruído. Não há nada que destrua um espírito. Nem a maldição Avada Kedrava. Então, ele passou a vagar por aí...
- Como ele nunca possuiu ninguém antes então? – perguntou Hermione. – Afinal, pelo que eu sempre soube, a mediunidade era completamente facultativa, não seguia regras.
- Não entre trouxas. – ele confirmou com a cabeça. – Mas entre bruxos, há regras rígidas. E Tom Riddle jamais se utilizaria de um trouxa. E sétimos filhos de sétimos filhos não é uma coisa realmente natural. Compreende, Hermione, a dificuldade e o óbvio de ele viver circulando Virginia?
- Ele me disse... Que eu pertenço a ele... – ela murmurou.
- Ele quer que você acredite que não há saída, mas não se entregue. – falou Dumbledore firme.
- Ele me marcou como um deles... – ela falou, reunindo coragem para encarar o diretor nos olhos. – Veja... – e afastou o pedaço do resto de camisola responsável por encobrir a marca negra.
Lá estava ela. Vermelha. Brilhante. Com sangue seco em toda sua volta.
- Isso não é uma marca negra de verdade. – respondeu o diretor calmo. – E um espírito não conseguiria marcá-la contra sua vontade. Não com uma marca negra real. Além do que... Ela deveria ser negra, não vermelho sangue. Não se preocupe, Virginia.
- Acho que você está pedindo um pouco demais, Alvo. – respondeu Mcgonagall. – Ela vai sempre se lembrar... Não há quem esqueça quando é tocado por Tom Riddle.
Os dois se entreolharam, e a diretora da Grifinória pareceu tocada. Mais que isso. Virginia achou que por breves momentos ela estava frágil, mas passou.
- Se eu achasse que isso é o melhor para você, - falou Dumbledore encarando a garota diretamente. – Eu te faria um feitiço e você esqueceria disso. Mas não acho que isso vá lhe ajudar. Não. Você vai aprender com alguém como se proteger. Alguém como você. Amanhã, pela tarde quando você acordar, te verei na minha sala para discutirmos isso, agora, madame Pomfrey está lá embaixo com uma poção do sono para que você durma tranqüila.
Então, tudo pareceu muito rápido para Gina, Madame Pomfrey subiu, e lhe deu um cálice da poção. Tudo que ela fez, vou falar com Hermione uma única frase:
- Não saia daqui antes de eu dormir.
- Eu não sairei. – respondeu abalada.
Mas não conseguiu ver nem as meninas entrando de volta no dormitório logo depois.
- Virginia! – a voz aguda da sonserina ecoou pelo corredor vazio. A garota e o rapazinho que a acompanhava pararam e viraram para trás.
- Eilan! – falou Colin com animação. – Tem dias que eu não te vejo!
- Eu estive... – pela primeira vez, a loira não prestava a menor atenção no colega e continuava a olhar a ruiva nos olhos. – Meio sem tempo, com algumas ocupações.
Eilan conseguiu pegar o olho de Gina, e ela sentiu a urgência da menina em falar com ela. Havia algo, o que ela ainda não sabia, mas que era de importância total que ela queria lhe falar. Gina pensou se deveria pedir para Colin sair, mas temia se sentir desprotegida sozinha com a garota naquele corredor. Claro que Eilan nunca tinha feito nada de ruim para ela, mas não conseguia confiar na garota. Não sabia o que ela queria, temia justamente por toda a presteza que ela vinha mostrando... "Quando a esmola é demais, o santo fica com pé atrás" não era o ditado trouxa que seu pai lhe ensinara? Se bem que... Provavelmente não eram exatamente essas as palavras. Antes que conseguisse chegar a uma conclusão se deveria ou não se separar de Colin, ouviu a voz da garota cortando o silêncio, embora sem tirar os olhos dos da grifinória.
- Colin, querido, depois eu vou precisar me atualizar no que aconteceu esses dois últimos dias, mas agora eu preciso falar à sós com a senhorita Weasley.
Gina franziu a testa para o "senhorita Weasley" e naquele momento, não conseguia entender o que Eilan poderia lhe dizer de tão importante, formal e profundo. Na sua mente rodavam pensamentos sobre sonhos, predições, vulnerabilidade e Dumbledore, sem espaço para mais nada, nem mesmo para Draco.
- Até mais! – falou Colin animado e Gina não teve tempo de pedir que ele ficasse: ele já tinha ido.
Ela não tornou a encarar a sonserina, observando o caminho que seu amigo tinha acabado de passar. Ainda sentia os olhos da garota sobre ela. As mãos frias da garota envolveram seus braços, e ela assustada virou-se para frente.
- Eilan? – ela falou no momento do susto.
- É a primeira vez que você fala meu nome voluntariamente. – reparou.
Ela estava com os olhos arregalados, já a outra tinha os olhos sem emoção. Naquele instante, pela primeira vez, notou o quanto a menina parecia com Draco.
- Nós temos os mesmos olhos. – falou a menina como se tivesse lido seus pensamentos. – O mesmo tom, mesmo formato...
- Mesma expressão... – falou ainda sem pensar.
- Bom, somos parentes, não é? – falou a menina dando os ombros. – Primos em segundo grau.
- Como? – perguntou a menina sem entender. Sua expressão era completamente confusa.
- Meu pai e o pai dele são primos. Isso nos faz primos em segundo grau. – Eilan respondeu como se aquilo fosse uma informação completamente trivial.
- Eu deveria imaginar... – murmurou a ruiva, então falou diretamente para a garota. – Bando de sonserinos, maníacos pela pureza de sangue...
- Quase todos. – respondeu. – Não é inteligente generalizar.
- Você não queria discutir comigo a pureza de sangue, queria?
- Obviamente que não. – falou sacudindo a cabeça de leve. – Você sonhou com o Lord esta noite. – falou a garota colocando o dedo na ferida. – Mas não é sobre isso que eu quero falar, ainda não, não hoje.
- Como você sabe? Como sabe o que eu tinha pensado?
- Você falou, Virginia, algo que parecia com Draco. De qualquer forma, não importa como eu sei, você deve ter alguma idéia. Não importa esse teu sonho, não por enquanto... O que eu quero saber é... Você conheceu Caillean Malfoy ontem?
- Não. – falou a menina sem entender. – Quem é Caillean Malfoy?
- Ela é minha tia-avó. É avó de Draco. Você não a conheceu. Mas... – agora era Eilan quem parecia estar completamente confusa. – Ela disse que era você! Que tinha certeza que você era a menina...
- Do que você está falando?
- A salvação... – Eilan deu os ombros. – Virginia, vou te fazer uma pergunta, e quero toda a sinceridade quando você à for responder.
- Fale.
- Você gosta de Draco? – A surpresa se fez presente no rosto da moça ruiva, e a outra continuou sua frase. – Ele te faz sentir envolvida? Você sente vontade de estar sempre com ele? É bom beijá-lo? Ele faz você sentir...
- Diferente? Faz. Me faz me sentir especial, me faz me sentir à vontade. Me faz me sentir incomodada. Tudo isso ao mesmo tempo. – os olhos de Gina brilharam ao responder a pergunta, coisa que Eilan notou mas ela mesma não. – Qual seu interesse nisso?
- Ele faz você sentir que... Que isso já aconteceu antes?
- Como você sabe?
- Isso é um sim. Ótimo. Caillean nunca se enganaria. É você! Que coisa boa!
- Eilan, do que você está falando?
- Temos que ir conversar com Caillean. Semana que vem. No sábado pela manhã. Me encontre na frente do banheiro das monitoras. – Ela virou saindo do corredor.
- Eilan Avery! O que...?
- Dumbledore está te esperando! – ela gritou antes de sumir em uma virada.
- Entre, Virginia. – falou a voz calma de Dumbledore.
Ela entrou no escritório circular, em que só estivera uma vez antes. As coisas, inclusive a fênix que a salvara da câmara secreta anos antes, estavam aparentemente no mesmo lugar. A maior diferença, era o ar cansado e preocupado que o diretor exibia. Muito mais impressionante do que a fúria, Gina nunca o imaginara tão frágil.
- Boa tarde, professor. – ela falou baixinho.
- Boa tarde? É, eu queria que fosse uma tarde tão boa assim, Virginia.
Ela se sentou mais na ponta da cadeira, apoiando os cotovelos na mesa dele delicadamente. Agora era estava preocupada com o velho, já que pela primeira vez, ela o via como se pudesse falhar. Estaria perdendo poder? Não, Gina não acreditava nisso. Subitamente ela compreendeu: ele levava nos ombros responsabilidades, deveres e preocupações demais. Sentiu-se um pouco culpada de ser mais um problema para ele resolver. Mas, não havia muito que ela pudesse fazer: precisava de ajuda. No fundo, parte de si tinha medo do que mais Tom poderia fazer. A outra parte, estava muito ocupada em se perguntar se ele era capaz de tudo aquilo aos dezesseis anos, o que não seria capaz hoje em dia.
- Vou ser sincero contigo. – ele a fitava por cima de seus óculos de meia-lua. – Todas as maneiras que eu pensei para te proteger, mostraram falhas. Nenhuma era possível de ser aplicada, algumas por te exigirem poderes que não tem, e outras se mostrarem ineficazes em algum ponto. Nem poção do sono, que eu cheguei a sugerir, poderia impedir um espírito de chegar até você.
Houve uma pausa, cheia de pesar, na qual os dois se fitaram, ambos preocupados.
- A única coisa que eu poderia fazer por você, Virginia, é tentar localizar o espírito desse Tom, e bani-lo, mas isso poderia levar tempo, eu precisarei de videntes treinadas que o encontrem. Até lá, eu não sei como te proteger, até que possamos expulsar Tom daqui de uma vez por todas.
- Ele tem alguma coisa pessoal comigo. – ela murmurou mais para si que para o diretor.
- Eu diria, Virginia, que ele tem uma obsessão por você, de nível de poder, de caráter, e até de nível sexual. Eu diria. – ele levantou a cabeça majestosamente, e o peso dos segredos e conhecimentos que ele carregava pareceu se transformar em sabedoria. – Que você lembra a única pessoa que ele amou um dia. Embora aos dezesseis, já não a tivesse mais.
- Quem? – ela perguntou curiosa.
- Sua mãe. Tom Riddle, por ser órfão, sempre teve uma obsessão por sua própria mãe, e foi a única pessoa que ele conseguiu dar valor, e admiração. Eu me lembro dela. Seus olhos, da cor dos teus, sua personalidade, ambos, lembram um tanto você, menina. É por isso, que eu sei que preciso te proteger. De agora em diante, não te deixará em paz por nenhuma noite. Mas eu simplesmente não sei o que fazer. Essa noite, você tomará uma poção do sono, para que ele não consiga alcançar nenhum dos seus níveis de consciência. Mas isso, não poderá ser usado nos demais dias.
Ouviram batidas na porta. Dumbledore falou mais alto "Entre". A porta se abriu para revelar um Draco Malfoy muito composto, com a voz completamente controlada, e sem a menor surpresa ao ver a namorada sentada na frente do professor.
- Diretor... Tem uma aluna querendo te ver... Ela acha que...
- Ah, poupe-me de esperar você falar, Draco. – falou a voz conhecida de Eilan.
- Boa tarde, srta Avery.
- Boa tarde, diretor. – ela falou, rápida. – Eu acho que sei uma maneira de proteger Gina enquanto vocês não tiram o tal Tom daqui. – Olhou para o diretor, como se esperasse que ele a reprovasse por saber, mas ele meramente acenou com a cabeça para que continuasse. – Mas, eu acho que vou precisar de um pouco de ajuda para isso.
- Qual sua idéia? – ele perguntou, educadamente interessado.
- Tem a ver com você-sabe-o-quê. Ela me ensinou como protegê-la. Venho praticando tem alguns dias. Essa noite mesmo... Mas não impedi... Mas, eu estarei alerta, e então... Não vamos mais ter problemas com isso, eu prometo, ela mesma me pediu para... Para manter a menina Weasley à salvo...
Gina – e aparentemente Draco também – não conseguiu entender nada do que a menina tinha dito, mas aparentemente Dumbledore compreendera tudo.
- A senhorita tem certeza de que pode fazer isto sozinha? – ele falou, os olhos faiscando na direção da menina. – Eu pensei em pedir a ela que o fizesse... Mas achei que justamente por ser a menina Weasley, ela recusaria.
- Eu tenho plena certeza.
Havia um brilho forte nos olhos de Eilan, que Gina nunca vira antes. De certa forma, pode sentir que um potencial de poder emanando dela com selvageria.
- De qualquer maneira, eu vou pedir para a srta Weasley que durma esta noite na Ala Hospitalar, e durma com a poção do sono sem sonhos de Madame Pomfrey. Sr Malfoy, - ele encarou o rapaz, definitivamente escondendo um sorriso – poderia levar a srta Weasley para um lugar seguro, aonde ela pudesse se alimentar propriamente antes de se encaminhar para a Torre da Grifinória? – ele se limitou a acenar a cabeça. Se virou para a menina. – Nos falaremos em breve, Srta Weasley.
Sem mais explicações, eles deixaram a torre enquanto Eilan Avery continuava parada dentro do escritório do diretor.
Os dois seguiram no corredor lado a lado, mas sem se encostar. Do pouco que Draco tinha compreendido de todo o relato de Eilan, já se sentia culpado. Não que tivesse nada que tivesse feito ou que tivesse deixado de fazer que pudessem ter evitado a situação, mas mesmo assim tinha sido seu pai. Seu adorável pai, que também, que ironia, tinha sido a mesma pessoa que o jogara mais fundo nos braços dela. Se não fosse o pedido do seu pai, ele teria a levado ao raio do baile e fim. Sem gentilezas, promessas ou envolvimento.
Não tinha mais tanta certeza que queria fazer o que seu pai pedira. Esticou seu braço para abraça-la, mas ela se esquivou.
- O que foi? – ele perguntou fechando a cara.
- Draco... – ela murmurou, com algumas lágrimas nos olhos. – Por favor... Por favor... Você não sabe...
- Eu sei. – subitamente, não era irritação, e sim revolta que iluminava seus olhos. – Eu sei o que aconteceu. O que foi. Quem foi.
- Então deveria entender... Foi... – ela encarou-o, havia força e fúria nas palavras que seguiram este gesto. – Deveria entender, que se não fosse por Lúcio Malfoy, nada disso teria acontecido.
- Acontece, – ele falou, também com brutalidade. – que Lúcio Malfoy, por um acaso é meu pai.
- Ah, não me diga! – ela falou carregada de ironia.
Ele parou, impedindo a passagem dela, fitando-a com desagrado.
- É por isso que você não quer que eu te toque? Está com nojo do meu sangue Malfoy?
A raiva lhe subiu a cabeça de tal forma que ela sibilou de volta:
- Quem me garante que você não é igualzinho a ele?
- Não me compare ao meu pai! – Ele sibilou. – Eu não sou ele!
- Nem quer ser? – perguntou ela esperançosamente.
- Nem quero ser! – respondeu em um impulso, mas se arrependeu. – Ouça, é meu pai, eu o respeito muito.
- Entendo. – Gina abaixou a cabeça.
- Não é fugindo de homens que você vai se livrar da lembrança do que aconteceu. Não é me afastando, que você vai atingir meu pai.
Ela olhou para ele, um tanto assustada.
-Eu sei. - E seguiram, descendo as escadas até o hall sem trocarem nem mais uma palavra.
Ele abriu a porta que conduzia até a escada subterrânea que levava a cozinha, e ela murmurou:
- Draco?
- Hum?
- Me desculpe.
Os braços dele a prenderam contra a parede da escada, forçando seu corpo junto ao dela, e inevitavelmente se beijaram. Os lábios de Gina estavam muito quentes, ele podia notar, tremera ao encostá-lo. Passou seus braços firmemente em volta da cintura dela, e apertou-a até que ela tossisse com a falta de ar. O hálito fresco da menina acariciou seu rosto, e ele percebeu, finalmente, que sua avó estivera certa. Ele tinha se envolvido com a menina. Tremeu. Se seu pai soubesse que tinha se deixado levar por sentimentos, se ele desconfiasse que seu interesse em Virginia era maior do que por simples devoção ao Lord, ele não sabia o que aconteceria. Não queria pensar nisso agora. Queria fazê-la se sentir segura, que soubesse o quanto ele realmente se importava com ela.
- Eu não vou deixar nada mais te acontecer, Virginia.
Seus olhos brilharam enquanto miravam os olhos de Draco, e ele se amaldiçoou por ter se deixado levar por um recém-descoberto instinto de proteção.
Vinte e três de dezembro
Quando acordei, havia um vasto café da manhã na mesa principal, mas não vi ninguém a quem pudesse agradecer, ou perguntar alguma coisa. Eu estava sozinha, comi sozinha. O castelo estava silencioso como um cemitério em uma noite escura. Sem ter o que fazer, voltei para o quarto. Lá, encontrei um vestido, e todas as coisas que eu poderia um dia precisar para tomar um banho. Estava imunda após tanto tempo procurando por papai, e o banho me clareou as idéias. Passei o resto do dia vagando pelo castelo silencioso.
Os jardins, estão completamente cobertos pela neve. Aqui dentro faz muito frio, acendo todas as lareiras que encontro. Me sinto como se estivesse eternamente em um dos corredores de Hogwarts, mas lá não havia nada que me prendesse ao lugar se não meu próprio desejo. Descobri – embora já imaginasse – que Monsieur Malfoy é um bruxo. Eu deveria imaginar, já que estudou alguém chamado Malfoy, por volta de quatro turmas abaixo da minha. Não, o que realmente me intriga, é o que é que o fez ficar assim.
Aprendi, embora não tenha usado ainda, como fazer minhas lembranças irem para o diário sem ter que escrever tudo isso. É, realmente, complicado. Mas eu tentarei amanhã. Afinal, só não sei com que memórias eu encherei a página, já que não há ninguém aqui, nada que possa ocupar minha mente, e então ser usado como lembrança. Quem sabe, eu use acontecimentos antigos. Se eu conseguir.
Todos os milhares de sonhos que eu tinha, inclusive a mão que meu pai prometeu a Gaius Black contra minha vontade, foram trancados do lado de fora dos portões deste castelo, e jamais irão voltar.
- Briga! – gritou um terceiranista sonserino, entrando abruptamente no salão, e despertando Draco de seu estado meditativo.
- O quê? – falaram um grupo de meninas, saindo correndo em direção a passagem na parede.
- Nas masmorras! – ele informou.
Ajeitando seu crachá de monitor-chefe, ele andou diretamente até o menino antes de falar.
- Quem está brigando, Smith?
- Emília Bustrolde e Marin Madley! – ele falou. – Aquela grifinória, amiga da sua namoradinha Weasley, Malfoy.
- Detenção, Smith, por desrespeito ao Monitor-Chefe.
Mas antes que o menino pudesse reclamar, ele já saíra atrás da confusão e das duas meninas. Não era difícil encontrá-las, urros de contentamento provinham do local, com gritos mais agudos que ele reconheceu como sendo Pansy.
Seguiu os corredores, apressado, quase temendo que não sobrasse nada de Marin Madley antes que ele chegasse lá. Não simpatizava mais tanto com a garota depois dela ter se tornado uma grifinória, mas temia muito mais pelos pontos que seriam tirados da Sonserina caso outro monitor chegasse para a apartá-las. "Por que raios Pansy não faz isso? Ela é tão monitora quanto eu!"
Quando ele chegou, a primeira coisa que viu foi a multidão em torno das costas enormes da Bustrolde e, inexplicavelmente, era Eilan quem a encarava de braços cruzados na frente do peito e cara enfezada.
- Não se meta, Avery, eu estou avisando!
- Solte a menina, Bustrolde.
- Porque você está defendendo essa grifinóriazinha? – perguntou a menina com raiva. – Ela sequer é das suas!
- O que seria uma grifinória das dela, Bustrolde? – ele interrompeu com a voz arrastada, e o nível de barulho caiu a quase zero.
- Que... Que... – ela gaguejava olhando o menino. Marin estava presa pelo braço dela que segurava seu pescoço, olhando para Draco com certa alegria. – Que seja daquelas fofoqueiras que a Avery anda, afinal, ela só sabe fazer é isso, fofocar e dar em cima de todos os caras bonitos da escola!
- Não-fale-de-mim-desse-jeito! – soletrou a menina, e Bustrolde recuperou a coragem.
- Ah é? Porque, o que você vai fazer? Me azarar? – sua voz era de deboche.
- Não me faça perder a cabeça!
- Não tenho medo de você, Avery.
- Deveria. – falou a menina, e no momento seguinte, sem que Eilan fizesse nada, Bustrolde voou de encontro a parede largando Marin, que aparentemente não estava dando a mínima para toda aquela discussão, no mesmo lugar que estava antes.
- Sua... Sua... Falsa!- gritou Bustrolde. – Traidora! Amante de sangues-ruins!
- Poupe-me do seu show. – respondeu a loira.
- Arrrghhtt! – urrou, e seus braços se estenderam, quase querendo enforcar a outra sonserina, mas Draco interviu.
- Detenção, Bustrolde. – sua voz era arrastada. – E não me olhe assim, porque eu estou te salvando de ser pega pela McGonnagall, quando Madley fosse reportar o que aconteceu.
A menina se pôs de pé, ainda com raiva.
- Você não pode, Draco! Se eu vou tomar detenção, Avery tem que tomar também!
- Sou eu quem é monitor por aqui, eu decido quem eu vou punir e como. Agora, vão embora, todos vocês, andem andem logo.
Lentamente, os alunos começaram a se dirigir de volta para o salão comunal, mas Eilan continuava parada, de braços cruzados, o peito subindo e descendo rapidamente, denunciando que sua respiração estava acelerada.
- Não te devo mais nada, Eilan. – ele falou gentilmente. – E você, Madley, o que aprontou para deixar Emília Bustrolde tão irritada?
- Ela me perguntou o que eu estava fazendo aqui embaixo, eu disse que não era da conta dela, ela me disse para não falar com ela assim e eu respondi que falava com ela como quisesse, só isso.
- E, que raios você estava fazendo aqui, Madley? – perguntou Eilan ofegante.
- Isso, não é problema seu, Avery.
- Meninas! - avisou Draco. – Marin Madley, o que você estava fazendo aqui embaixo?
- Eu tinha um recado de Michael Corner para Blás Zambini. "Tire os olhos dela enquanto você os tem". E com o comentário de que se ele pusesse os olhos mais uma vez na Karen não iria ter ninguém que o segurasse. Como eu sei que Blás Zambini está vendo Karen Zillys regularmente há duas semanas, eu achei melhor lembrá-los de se esconder melhor, antes que o Corner perceba que está sendo traído.
- E a Bustrolde disse que você não era fofoqueira... – comentou Draco.
- Ela disse que eu não sou como esta daí, - indicou Eilan com a cabeça. – pelo que eu me senti muito grata.
- Madley, você sonha em ser como eu.
- Eu? – ela falou irônica. – Claro, meu maior sonho é ser conhecida como a menina mais fofoqueira e mais dada de todo o sexto ano.
- Você sempre teve inveja de mim, não é, Marin? – o tom de Eilan era cortante, e Draco começou a se perguntar qual era exatamente o conflito das duas. – Sempre quis ser como eu... Tinha inveja da minha aparência, de eu ter ficado na sonserina...
- Eu não quis nunca ser da sonserina.
- E quem disse que eu quis? – perguntou a outra. – De eu ter continuado no ciclo de amizades do Draco... De mesmo assim, eu conseguir ter amigos dentro do seu próprio dormitório... De todo mundo me conhecer, de eu ter entrado no time de quadribol, de ser a única menina no time da casa... Sempre invejou tudo isso, não?
- Eu tenho amigos dentro e fora da minha própria casa. Eu nunca quis jogar quabribol, nunca quis aparecer!
- Aha! – falou a outra triunfante. – Mas seu maior recalque é mesmo minha amizade mantida com o Draco!
- Eu nunca quis ser amiga do Draco, Eilan!
- Nunca quis ser só amiga, não é? Queria algo mais, não é? Pois bem, Marin, morra de inveja agora, porque eu tive um algo mais com o Draco. Quer mais? Eu saí com ele meses seguidos! Ele me beijou, e me tocou, e me quis do jeito que você sempre quis que ele fizesse! E eu estive com ele, fui dele, da exata maneira que você sempre quis ser!
Agora Draco estava completamente atento, mas entendia cada vez menos. Eilan estava gritando com Marin sobre o caso que os dois tinham tido meses antes, como se a grifinória fosse realmente se importar. Ele quase não encontrara Marin nos últimos três anos. Ele não conseguia compreender qual era o ponto de toda aquela briga. Não tinha o menor sentido, não para ele. Era como se tudo fosse um daqueles sonhos bizarros aonde nada era ligado com nada e o nexo não existia.
- Segunda opção, não é, Eilan? Escondida atrás da oficial, escondida atrás de Pansy Parkinson! Mesmo que eu realmente quisesse alguma coisa com ele, eu nunca me rebaixaria ao nível de ser a outra para Pansy Parkinson. Mas, é claro, eu me dou o mínimo de valor, não saio deixando qualquer cara com quem eu saio fazer comigo o que bem tem vontade...
Plaft. Draco não teve tempo de prever, nem de impedir. A mão de Eilan estava marcada fortemente na bochecha de Marin.
- Eilan! – ele exclamou, mas ela tinha sentado no chão, encostada na parede, aos prantos. –Eilan, o que é que...
- Suja! Mentirosa! Invejosa! Falsa amiga! Virginia vai saber disso! Vai saber que você está louca para vê-la sem Draco! Eu vou contar! Nojenta! Idiota! Vergonha da família! – ela gritou para Marin, ainda parada de pé no meio do corredor, com a mão no rosto. – Interesseira! Sonsa! Cínica!
- Eilan! – ele se ajoelhou no chão, preocupado que a menina estivesse a beira de um ataque. – Tenha calma, Eilan, calma...
- Ela disse que eu sou uma vagabunda! – falou chorosa passando os braços em volta do pescoço de Draco, e enterrando a cabeça no ombro dele. – Ela disse que – soluçou, sacudindo todo o corpo. – que qualquer um, hic, faz comigo o que quiser! Você, hic, você sabe que não, hic! – ela olhou para ele, o rosto vermelho e inchado. – Sabe, hic, que foi o, hic, primeiro!
- Certo, Eilan, certo. – ele passou a mão desajeitadamente no cabelo dela, e se virou para Marin. – Madley, porque toda essa confusão?
- Ela disse mentiras sobre mim. – falou baixinho, Eilan. – Ela é apaixonada por você, Draco, ela é.
- Isso é verdade? – ele perguntou, os olhos ferinos encarando a menina. – É verdade o que ela disse, que você é apaixonada por mim?
- Para um sonserino, astuto e ambicioso, você está me saindo muito pouco inteligente. – ela respondeu. – Mas se você não sabe, não sou eu quem vai te responder.
Girando sobre os tornozelos, Marin seguiu em direção a saída das masmorras.
- Madley! Espere! Escute! Marin! – Draco gritou. – Marin!
Mas ela não voltou, e tudo que ele conseguia escutar eram os soluços de Eilan apoiada no seu ombro ecoando nas paredes de pedra, enquanto ele tentava descobrir o sentido da cena que acabara de presenciar.
Se seus sonhos ficavam cada dia mais esquisitos, já não sabia o que pensar da sua realidade.
A menina loira continuou a chorar por minutos, para Draco, sem fim até finalmente levantar a cabeça, enxugando os olhos.
- Eilan... Está tudo bem? Quero dizer... Você está bem?
- Sim. - ela respondeu fungando. - Estava sendo idiota, só isso.
- Peraí. - ele falou, encarando-a com a expressão de quem não ouviu direito. - Você chora histericamente por mais de quinze minutos para me dizer que estava apenas sendo idiota? Eu tenho cara de palhaço?
- Ah, Draco, deixe de ser dramático. - ela passou o braço em torno do ombro dele como se fosse se apoiar para levantar, mas continuou parada. - Entrei em uma pequena fase de descontrole. Acontece.
- É, eu sei, uma vez por mês.
Ela fez cara feia, enquanto o rapaz ria.
- Eilan. - ele falou, ficando sério. - Você estava falando a verdade sobre Marin?
- Você... Como pode? - ela cortou sua própria frase, soando ofendida. - Duvidando de mim! Logo eu que...
- Eu não estou duvidando de você...
- Claro que é verdade. Você não ouviu o que ela falou? Mas parece que minha palavra não vale nada, não é? Eu não penso no que falo!
- Eilan, claro que... - as lágrimas tornavam a brotar nos seus olhos. - Eu não disse isso... Não fique assim... Eu não imaginava...
Ele passou sua mão no rosto dela, secando as lágrimas delicadamente. Não tinha jeito e nem paciência com mulheres, mas aquela era sua única amiga.
- Você... Confia em mim? - perguntou em dúvida.
- Acho que você é a única pessoa no mundo em quem eu realmente confio.
- Não é verdade. Não importa.
- Você é a única, tirando minha avó.
Ela deu um sorrisinho fraco.
- Eu gosto muito de você, Draco.
Ela estava muito perto agora. Ele podia ver cada lágrima sacudindo nas pestanas dela...
Notas da Autora: o trecho do inicio o capítulo pertence ao livro "A Casa da Floresta" capítulo 28 página 372. A última frase desse capítulo, eu assumo que foi roubada de "Harry Potter e a Ordem de Fênix"... Logo, a interpretação do que acontece, fica a cargo de vocês ^^ Esse capítulo é especialmente dedicado a Alessandra, porque ela é sempre a primeira a entender o que eu não explico.
