Capítulo 16 – Vencedores e Vencidos
"Rio-me do coração e faço somente o que ele quer"
Quando Gina entrou no Salão Comunal da Grifinória na primeira semana de maio encontrou Colin tremulo ao lado da lareira enquanto Marin parecia tentar consolá-lo. As pessoas lançavam olhares furtivos aos dois, alguns parecendo preocupados outros, curiosos. Dênis parecia especialmente apreensivo, mas não se aproximava já que nos últimos meses eles vinham brigando muito.
- O que aconteceu? – Perguntou se sentando no chão à frente dele.
- Agora não, Gina – Cortou a amiga.
- Como ele pôde? – Balbuciou o rapaz.
- O que Peter fez?
- Eu já disse que agora não, Virginia!
A loira tinha um olhar desafiador, mas ela apenas levantou o rosto do rapaz pondo os olhos dele na altura dos dela.
- É melhor desabafar do que guardar pra si. Eu não te conto as coisas? – Ele acenou confirmando. – Então me conte você também.
- Eu fui encontrar o Peter nada sala de sempre... – Gina pode perceber que ele não a olhava, parecia hipnotizado pelo fogo. - Eu lembrei que ele tinha dito que não ia pra lá esta noite, e... Eu entrei na sala mesmo assim... E lá estava ele... – A primeira lágrima escorreu. – Estava lá dentro e..
Colin sacudiu a cabeça como se para afastar a lembrança, os olhos retornando ao foco, mas ela estava determinada.
- Quem ele levou para lá?
- Moon. Mandy Moon. Estava quase nua. Eles estavam se agarrando, e quando ele me viu... – Ele olhou para a amiga e engoliu a seco. – Ele sorriu! Só isso!
Então tornou a sacudir a cabeça negativamente e virou todo o corpo pro lado do fogo escondendo as lágrimas. Marin parecia profundamente desagradada pelo que ouviu.
- Mandy Moon não é... – A ruiva começou a falar, mas a loira completou mais rápido.
- Uma loira peituda da Corvinal. Essa mesmo. Ela é a campeã de galinhagem da escola, ganha até a Avery... Ah, esqueci, tenho que falar isso baixo pro santo namoradinho dela não ouvir. – Acrescentou ácida.
- Depois de toda aquela pressão pra você assumir...
- Eu acho, - falou Colin sem mágoa na voz. – que ele estava apenas procurando um pretexto pra terminar.
As duas ficaram quietas e caladas, olhando para o amigo e partilhando a sua decepção. De repente Gina percebeu que ela não conseguia pensar em como seria terminar com Draco. Apesar de tudo parecia tão... Certo. Até sua mãe tinha assumido uma posição de "desaprovo mas não impeço". Os gêmeos e Percy não tinham se pronunciado sobre o assunto, mas ela não considerou aquilo como um sinal de decepção.
Colin começou a rir, a tirando dos seus pensamentos.
- O quê? – ela falou.
- Eu esqueci de terminar com ele! – Falou Colin rindo. – Fiquei tão perturbado que simplesmente esqueci! Ah, que beleza!
Levantou-se com brutalidade e saiu do salão. Marin e Gina se entreolharam: não podiam fazer muito se não tentar fazê-lo ficar bem.
Draco definitivamente odiava a mania que a coruja de seu pai, Cathubodva, de acordá-lo ao invés de entregar seu correio durante o café da manhã, como todas as corujas faziam. Ele conseguia ouvir as batidas da grande coruja parda na pequena janela do alto do quarto. Era muito inconveniente nas masmorras que se tivessem janelas: dariam para a terra, ou o chão, ou outros lugares deselegantes, mas as janelas coladas ao teto garantiam uma boa circulação de ar e alguma claridade.
Levantou mais mau-humorado do que o de costume por conta da carta que ele sabia estar por vir. Já não bastava seu pai, fugitivo e foragido aparecer escondido na escola e nos arredores para falar com ele, ainda tinha que mandar sua própria coruja para dar notícias?
Abriu a janela e a coruja entrou, parecendo ainda mais pomposa que o normal, esticando a perna de forma quase petulante em direção ao rapaz.
- Vai com calma, Cath – Ele falou, da forma que sabia irritar o animal. – Vai com calma porque aqui não tem nada pra você... E mande uma bicada pro meu pai por mim... Não pretendo respondê-lo tão cedo.
Draco desenrolou o pergaminho com cuidado, observando a caligrafia trabalhada de seu pai se estendendo por toda a folha.
Draco,
Estou aqui com o Lord – certamente não direi aonde, você pode imaginar – e escrevo pela proximidade do seu aniversário. Claro que não é tão importante quanto sua maioridade ano passado, mas agora seu aniversário lembra a proximidade do fim da sua vida escolar.
Imagino que após o término das aulas você esteja se perguntando como nos encontraremos. Eu pretendia que você, meu filho, ficasse na casa da Senhora Caillean e assim seria mais fácil para nós encontrarmos o Lord das Trevas. Claro que eu sei que você pode aparatar, mas não seria seguro fazê-lo em um lugar que você jamais esteve.
A primeira noite após sua formatura será você receberá a maior honra da sua vida e se tornará um Comensal da Morte. Eu gostaria que você se tornasse um comensal ainda antes do final do se curso, mas talvez não seja seguro para nós ficar indo e vindo debaixo das barbas do diretor adorador de trouxas da sua escola.
Talvez haja uma forma, e você será informado caso nós consigamos arranjar, para que você venha nos ver tantas vezes quanto puder, mas isto depende de Avery e sua prima Eilan. Conhecendo a menina, eu diria que ela se sentirá honrada em cooperar como boa Sonserina e boa mulher criada por uma Malfoy.
Enquanto isto, me pergunto se ainda está mantendo o namoro com a garotinha Weasley. Gostaria apenas de lembrar que não basta apenas estar com a garota: o que vale mais é provocar a ira de Potter e seus amiguinhos. Pode se divertir com a ruivinha, desde que tenha o bom senso de não me dar a vergonha de um neto sardento.
Caso o Lord ache alguma coisa que você deva fazer nesta escola, mandarei outra coruja.
Seu pai
Lúcio Malfoy
Draco ateou fogo no pergaminho com a varinha, deixando as cinzas caírem no chão do quarto. Mais tarde um elfo doméstico cuidaria da sujeira. Mas ninguém deveria saber do que seu pai planejava e pensava, ainda que ele não estivesse tão certo de que poderia cumprir o que ele pretendia e desejava.
- Eu odeio David Avery com todas as minhas forças!
Eilan estava parada na frente da mesa de monitor-chefe de Draco com um pergaminho na mão. Ele não ousou perguntar como ela tinha conseguido entrar ali. Seus olhos brilhavam com raiva e as maçãs do rosto estavam rosadas, provavelmente por conta do esforço que fazia para não pular no pescoço de ninguém.
- O que aconteceu? – Ele perguntou, tornando a escrever os relatórios sobre irregularidades dos alunos.
- Olhe isto! Olhe o que ele me mandou!
Ela estendeu o pergaminho para ele, que puxou a carta para si mas não começou a ler, apenas a encarou.
- Eu sempre achei que a calma fosse um pré-requisito ou pelo menos uma aquisição de uma sacerdotisa.
- Ninguém pode controlar a minha vida, você sabe. – Ela falou desafiadora. – E com isso, nenhuma outra iria me recriminar. Ele está agindo como se eu pertencesse a ele, e eu sou dona de mim.
- Você ainda depende dele.
- Eu só dependo de Caillean e minhas irmãs. – Ela levantou a cabeça altiva. – Leia logo isso e pare de discutir minha vida.
Draco começou a ler sem falar mais nada.
Eilan, minha filha:
Eu sei que não deveria estar escrevendo, e certamente deveria confiar que a Senhora Caillean cuida bem da sua educação desde que ela te requisitou para ela. Mas as notícias que chegaram aos meus ouvidos pediram medidas drásticas, já que sua avó não parece querer mudar a situação. Para ela, que está acima destas discussões, não importa, mas para nós faz toda a diferença.
Eu esperava um julgamento melhor da sua parte, ou, ao menos, um pouco mais de valores Sonserinos que te impedissem de se envolver com um grifinório, em especial o maior inimigo da nossa causa e do nosso Lord. Não desejava que você tomasse parte no combate: não é lugar para mulheres, não mulheres como você. Mas exijo com o poder de pai que não atrapalhe os nossos planos.
Nunca me intrometi em suas intrigas amorosas, porque acreditava no seu juízo e no seu bom senso, mas desta vez sou obrigado a proibir-lhe. Com seu primo que você sempre gostou tanto fazendo o sacrifico de namorar uma Weasley apenas para deixar Potter abalado, você vai se candidatar para consolá-lo? Isto não está certo, garota, não mesmo.
Portanto, eu conto que você vá deixar Potter imediatamente, e espero que de maneira dolorosa para refazer-se pela tolice de namorá-lo. De aqui em diante, você está terminantemente proibida de se aproximar do rapaz, ou de atrapalhar os planos de Malfoy. Nem eu quero a inimizade dele, nem será bom para você.
No mais, mande meus melhores desejos para a Senhora Caillean, e diga a ela que sua avó deseja vê-la antes do festival de Beltane.
Seu pai, que quer seu bem
David Avery.
Ps: Diga a Senhora Caillean que eu não aprovaria sua presença nos Ritos de Beltane, creio que ela entenderá o porquê.
Draco levantou os olhos, soltando uma gargalhada na cara da garota.
- Eilan, seu pai continua sendo patético.
- Você ri? Não acha mesmo que eu vou largar o Harry por isso.
- Querida, eu não posso fingir que aprovo isso mais do que ele, mas tenho o bom senso de perceber que você nunca iria largá-lo porque o Lord quer ou pelo que seja que não for sua vontade. Ele tem que ser muito idiota para não perceber. Sem contar que esse pedido dele sobre o ritual... Eu me lembro de você, os olhinhos desejosos de ir para a clareira dançar e deitar-se com os sacerdotes antes mesmo de poder fazer isso... Nada te impediria de participar agora.
- Isto é o de menos... Eu não vou terminar com Harry... E não me importa o que ele diz... Mas você sabe o que isso significa?
- Que ele é otário o suficiente para acreditar que você é pura e intocada além de não saber nada sobre rituais druidas?
- Não... Quer dizer, isso também, mas o que importa é que eles tem alguém nos observando. Eu não contei a ninguém de fora da escola que estava namorando o Harry.
- Como se fosse preciso! Ele é famoso com aquela maldita cicatriz, quem sabe não saiu até na revista.
- Ah, deixe de ser idiota. Se saíssem, eu ficaria sabendo.
Ele estudou a expressão dela cuidadosamente. Parecia desesperada, ao mesmo tempo preocupada com aquilo.
- Está com medo do que ele pode fazer contigo se souber que você continua com o santo Potter?
- Não. – A voz dela era firme, mas ele podia perceber no timbre que escondia medo. – Eu estou com medo do que ele pode fazer com Harry.
Draco riu mais uma vez da cara dela, desdenhosamente.
- Eles vão tentar matá-lo independente de você estar com ele ou não.
- Eu sei. Mas agora... – Ela olhou bem dentro dos olhos dele, com uma força no olhar que ele não a via usar há muito tempo. – É minha responsabilidade não deixá-los vencer.
- Isso significa que você vai fazer o exato oposto do que seu pai disse e interferir ao máximo nos planos dele?
- Eu só tenho que prestar contas a minhas irmãs e a deusa, Draco. Portanto, o que eu vou fazer... É problema meu e delas.
Eilan saiu pela porta tão intempestuosamente quanto entrou, deixando o rapaz levemente tonto com todas aquelas atitudes e paixões que ela parecia ter adquirido em pouco tempo.
- Esse é o jogo que vai definir nossa posição na copa das casas. – Draco falou com seriedade encarando os jogadores do seu time. – Ano passado, nós conseguimos ganhar a Taça de Quadribol. Esse é meu último ano, e eu quero fechar com chave de ouro. Seguindo a pontuação atual... Se nós vencermos a Lufa-lufa por 50 pontos de diferença, mesmo que a Grifinória ganhe a Corvinal com a mesma diferença, a gente leva a taça. – Ele olhou para cara um dos rapazes a sua frente de cada vez, e por fim manteve-se olhando para Eilan. – No mais, eu não tenho o que dizer... Vocês tem que dar o melhor de si... Vocês representam a multidão verde e prata lá fora. E Sonserinos não decepcionam, eles superam as expectativas.
Ele pôs sua vassoura no ombro e rumou para fora do vestiário sem mais uma palavra. A atmosfera de tensão estava completamente instalada no vestiário, o que estava deixando Draco irritado. A Lufa-lufa não era um time forte, especialmente se comparado a Sonserina, e eles tinham muito mais chance de ganhar que qualquer coisa. O vento estava fresco mostrando que a primavera estava em seu auge.
O time da Lufa-lufa saiu do vestiário do lado oposto do campo, e ele ouviu Eilan chamar os meninos para jogar. Riu internamente lembrando a revolução que tinha sido a entrada da garota no time no ano anterior. Faziam anos que não entrava uma menina no time da Sonserina (desde Lelly Byrne, uma goleira imbatível), e os garotos se opunham bastante a isso. Mas ele era o capitão, a decisão cabia somente a ele, e sua decisão foi aceitar Eilan e ponto final. E só nela ele confiava a ponto de passar o título de capitão, porque na Sonserina, ao contrário de nas outras casas, a escolha do capitão seguinte cabia ao capitão formando: ele costumava saber muito melhor que o diretor de casa quem era mais capaz de dirigir o time.
Enquanto ele cumprimentava seu oponente de subia na sua vassoura rumo acima do campo, sua atenção estava voltada para o que diria aos outros rapazes, independente do resultado do jogo. Não foi difícil, na verdade, capturar o pomo. O jogo ainda estava 20 a 10 para a Sonserina quando ele viu o brilho dourado próximo à torcida da corvinal e zarpou para lá, muito mais rápido que o ainda novato e desajeitado apanhador da Lufa-lufa.
A torcida da Sonserina invadiu o campo, cantando e gritando, e ele se sentiu contente de ter conseguido abrir uma vantagem tão grande. Potter teria muito trabalho para vencer aquele ano, se ele sobrevivesse até lá. Desceu, sendo abraçado por ela colega de time exultante, e no meio daquela multidão eufórica prata e verde, um ponto vermelho chamava a atenção sorrindo abertamente em sua direção e ele se afastou do grupo para falar com ela.
- Parabéns. – Ela falou, uma maciez ressoando na sua voz. – Vai nos dar bastante trabalho ganhar de vocês.
- Prepotência, Virginia, achar que vão ganhar.
- Isso já aconteceu muitas vezes, Draco. – Falou, mantendo um sorriso provocativo. – Mas se você prefere manter as esperanças...
Ele a puxou para si, trocando o papo por um beijo na garota, que parecia se desmanchar em sorrisos com a atenção e o carinho. Os dois se mantiveram ocupados um com o outro até que o loiro lembrou-se da penosa tarefa de dar as notícias ao time. Não estava com humor para discutir o porquê da sucessão.
- Eu tenho que falar com o resto do time. – Ele falou grave. – Mas essa noite... Essa noite eu quero comemorar como se tivesse ganhado a taça... Comemorar eu e você.
O olhar dele era malicioso, mas ela não se intimidava, pelo contrário, aumentava seu charme manhoso sorrindo para ele.
- Eu vou estar lá, não se preocupe.
Ele entrou no vestiário, e alguns dos meninos já estavam tomando banho. O goleiro, Terry Fleet, discutia algo sobre os pontos que precisavam para ganhar o campeonato com um dos batedores, Larry Switft.
- Saiam logo deste banho, andem. – Gritou Draco autoritário. – Quero falar com vocês, agora! Quero todos na sala do capitão enquanto eu vou chamar Eilan! Depressa!
Em questão de minutos, ele achou a loira conversando com uma das gêmeas Patil do lado de fora do vestiário. Ela foi com ele, sem objeções, às vezes parecia que ela queria se distanciar daquele grupo ao qual pertencia, mas vindo dela, era muito saber.
- Eu fiz questão de chamar vocês até aqui, - ele falou olhando diretamente para cada um dos rapazes. – para anunciar que eu já tomei a decisão sobre quem será o novo capitão, independente do resultado da Taça de Quadribol. Não preciso de mais tempo para dizer que independente de eu estar aqui ou não, a Sonserina deve se esforçar ao máximo para ganhar as próximas Taças, e para isso eu fiz uma escolha baseada tanto no espírito do time, quanto de liderança e ousadia. – ele parou, se divertindo em observar as expressões curiosas e ansiosas dos jogadores a sua frente, em contraste com a cara pensativa da garota. – Eu escolhi como Eilan como sucessora.
- Uma mulher? – falou Fleet horrorizado. – Além de ter uma mulher no time, você ainda quer fazer dela capitã?
Draco ergueu as sobrancelhas demonstrando desagrado com a atitude do rapaz a sua frente.
- Eu sou o capitão. Eu decido. Se eu disser que ela será a capitã, ela será e não vai haver a menor discussão sobre isso.
- Snape não permitiria...
- Snape já concordou, Stevens. Essa é minha decisão. Ela é a melhor estrategista entre vocês, a melhor líder, mesmo que não seja a melhor em técnica. Ela será a capitã, e vocês a obedecerão como tal.
- Parabéns, Eilan. –Falou Swift apertando a mão da garota, embora o tom de voz fosse de alguém que perdeu uma batalha. – Você será uma boa capitã.
- Eu vou dar o melhor de mim, Larry. – Ela respondeu confiante sob o olhar atento de Draco. – Isso, você pode ter certeza.
Quanto mais Marin e Gina se esforçavam para animar Colin, mais ele parecia abatido. Talvez elas jamais tivessem pensado no quanto o rapaz era apegado ao namorado, e agora chegava a parecer impossível que ele voltasse a ser alegre a animado como era. Como se para corresponder ao estado de espírito dele, as fofocas diminuíram e as expressões preocupadas aumentaram.
Aos poucos ela se sentia como se tivesse passado os últimos meses em um sono encantado, alheio ao mundo. A guerra, que parecera algo distante desde que se envolvera com Draco agora parecia estar em tudo à sua volta. Enquanto isso tudo acontecia, a única pessoa que parecia indiferente ao clima era Eilan. Não conseguia entender a calma dela, especialmente se levasse em conta ela ser namorada de quem era, e às vezes a serenidade no rosto dela beirava o sobrenatural.
Apenas aquela serenidade a fazia lembrar das promessas que tinha feito no início do ano na floresta. Parecia parte de uma outra vida, algo que aconteceram muitos anos antes, mas a verdade era que ela quem mudara muito de lá pra cá. Logo depois de entregar-se à Draco ficou apreensiva, lembrando que havia prometido manter-se intocada até que a divindade exigisse o oposto. Era esta a razão pela qual naquele momento ela estava andando pelas masmorras à busca da garota sonserina.
Depois do acontecido, talvez a liberassem das suas promessas, o que poria um fim no medo e na expectativa que povoavam seus pensamentos sempre que lembrava das mulheres deslizando graciosamente com suas túnicas azul-profundo. Não tinha certeza se era aquilo o que realmente queria, mas de qualquer maneira, deveria dar sua cara à tapa e contar a outra o que ela provavelmente já sabia.
Transfigurou seus cabelos em preto, tentando parecer mais discreta, mas a maior parte dos alunos ainda estavam jantando. Desceu as escadas virando para o lado oposto ao da última vez, andando pelos corredores quase sem fazer barulho até o quarto que tinha a placa indicando ser o dormitório das meninas. Não havia ninguém no quarto, mas Gina estava disposta a esperar.
Procurou pelo malão que tinha as iniciais "E.A." talhadas e se sentou na cama correspondente, destransfigurando os cabelos e fechando as cortinas em torno da cama. As eram cobertas quentes e macias, o travesseiro mais fofo que ela já deitara, e o sono parecia tão certo e tão confortável que ela sequer tentou resistir.
- Virginia? – Perguntou uma voz estridente que ela não conseguia reconhecer. – O que você está fazendo aqui?
Sua visão estava embaçada, e ela sacudiu a cabeça antes de responder.
- Aonde?
- Isso que eu chamo de dormir pesado. Dormitório da Sonserina? Sexto ano? Minha cama? – Perguntou a garota com um ar divertido.
Finalmente a garota se sentou, alarmada por notar como e onde tinha dormido.
- Veio falar comigo? – Perguntou a outra se sentando de frente para ela. – Aconteceu alguma coisa?
- Não... Ou melhor, aconteceu... – A ruiva endireitou-se antes de falar qualquer coisa. – Eu preciso te contar uma coisa...
- Eu estava esperando que você viesse.
- Então, você já sabe o que eu vim dizer. Eu quebrei meus votos. Eu me deitei com um homem.
- Você se deitou com um homem. – Ela falou sorrindo de uma forma que a fazia parecer muito mais velha do que realmente era. – Mas não quebrou seus votos.
- O que você quer dizer com isso? Não me faz indigna? Não tenho que abandonar os planos que tracei?
- Os planos que traçou? – Perguntou a outra, sorrindo. – Ou os planos que Caillean fez para você e você aceitou?
- Tanto faz. O que vai acontecer comigo?
- Nada. – Falou Eilan simplesmente, olhando-a bem dentro dos olhos. – Todas nós sabemos que o que você fez foi se entregar a um homem a quem você estava predestinada. Não há o menor erro nisso. Talvez fosse cedo, e você não compreenda o tamanho do que fez, mas isso não importa. Você estava realmente cumprindo a vontade Dela, entregando-se à Draco.
- Eu... – Ela tremeu levemente olhando para a loira. – Não tenho certeza se quero isso.
- Nenhuma de nós tem no começo. – Respondeu dando os ombros. – Mas se você quiser desistir, deve ao menos tentar antes. É para o seu bem, acima de tudo. Ninguém está te pedindo para dedicar sua vida a isso. Não se pede isso a ninguém.
- Eu achava que tinham te imposto isso.
- Eu fiz apenas o que eu queria, de uma forma ou de outra. Eu escolhi esse caminho. Mas ninguém vai exigir nada de você.
As duas ficaram se olhando, até que Eilan tomou a atitude e abraçou a garota.
- Não se preocupe. Ainda há tempo. Agora vá... Vá que seu namorado te espera. Um dia, você entenderá melhor a vontade dela.
Com um sorriso incentivador por parte da amiga, Gina saiu do quarto.
Havia ainda mais certeza nesta noite do que na primeira, e mais do que isso, havia algo brilhando nos olhos dela, uma presença qualquer que o desconcertava e o aquecia. Algo que, bem mais tarde, ele lembrou já ter visto em alguém antes. Os carinhos eram ainda mais delicados, e às vezes ele se perguntava porque era que depois disso, ela deveria se levantar e ir embora de volta para sua torre. Queria dormir agarrado ao corpo dela, beijando-a assim que acordasse e outras coisas mais. Ela parecia uma gatinha dormindo quando deitava daquela forma, toda encurvada, a cabeça encostada no peito dele, lutando contra o sono e contra a vontade de ficar.
Levou uma hora para que os dois concordassem que deviam se separar e Gina sair do seu dormitório, com um olhar triste. O sono não estava nada próximo de chegar para Draco, e só então ele reparou no diário da tal Weasley, largado em cima da sua escrivaninha há mais de um mês. Tudo por conta das inúmeras distrações que o tinham feito esquecer dele. Mas agora a curiosidade o comia por dentro, e ele o pegou mais uma vez.
Seus dedos pareciam saber exatamente aonde tinha parado e ao abrir o diário, as letras da garota Weasley pareciam trêmulas e incertas nas poucas palavras que escrevera:
Não sei se fiz a coisa certa. Não sei se cometi o pior pecado. Mas eu fui a perdição. Amor, muito amor e medo. Aonde eu estou e porque eu estou aqui?
Bateram na porta com força, e Belle levantou-se quase correndo, na esperança de ver o jovem Monseiur Malfoy ali. Era perceptível nos olhos dela, Draco pensou, que estava plenamente apaixonada e não mais entediada e presa como parecia antes. Ao abrir a porta, apareceu um jovem de cabelos platinados e olhos azuis-acinzentados que ele reconheceu imediatamente. Ela levou a mão a boca, surpresa.
- Belle! Sou eu! – Ele murmurou com fervor. – Vê?
O rosto dele não tinha mudado nada, mas flexionava suas mãos finas e brancas, e estava alto agora, mais alto que a jovem, sobre suas pernas firmes, embora suas roupas estivessem sujas e rasgadas pela transformação. O olhar dela era de assombro completo, ao encarar o homem a sua frente, parecia temê-lo, ao contrário da adoração que mostrava à sua aparência anterior.
- O que foi? – Perguntou, parecendo incerto. – Não gosta da minha forma humana?
- Ah, Edward, é um milagre!
Ela deu dois passos rápidos em direção a ele, o abraçando com fé e vontade. Ele teve o prazer de apertá-la em seus braços pela primeira vez.
- Eu devo a você, querida. – Ele falou, os lábios tocando o cabelo dela. – Foi você quem me libertou.
Draco franziu a testa para aquilo, como se querendo saber por que motivo ele estava dizendo uma mentira para a moça que não questionara nada.
- Uma velha feiticeira me enfeitiçou para que só quando amasse e fosse amado voltasse a ser eu mesmo... Agora eu posso te ter em meus braços, ah, Belle...
A jovem levantou os olhos na direção dos ele, o encarando quase que com medo.
- Pode dizer que me ama, Edward?
- Eu te amo, Belle, eu te amo, eu te amo!
Ela estremeceu sem falar mais nada e fechou os olhos, enquanto o sentia descer os lábios na direção dos dela.
- Eu não posso te desposar como manda a lei, Belle. – Ele falou a voz grave e tremula depois de beijá-la. – Mas quero de seja a senhora de meu lar, a verdadeira Senhora Malfoy! Você... Me aceita como marido, da forma mais antiga que há?
Havia medo nos olhos dela, mas a viu assentir firmemente a cabeça, aceitando-o. Edward tornou a beijá-la furiosamente, andando pesadamente em direção a cama da moça aonde tombaram lado a lado. Draco estava certo do que iria acontecer ali, e não gostaria de presenciar. Ia tentando sair do quarto, quando ouviu a voz do agora-homem dizer:
- Belle... Seu diário... Posso... Assiná-lo?
- Claro que pode.
Draco voltou correndo para junto do papel e viu o homem desenhando um M na última folha que tinha escrita, ao mesmo tempo que usava sua varinha para puxar pensamentos seus para dentro do traçado da letra, exatamente como a garota deveria fazer. Depois disto, seu umbigo recebeu o puxão que indicava o final da memória o jogando de volta em seu quarto.
Se tudo tinha dado certo, por que existiria um Malfoy pré-destinado?
Notas da Autora: O trecho do inicio do capítulo é de "Os sofrimentos do jovem Werther", mas no momento eu estou com preguiça de procurar a referência exata. Eu queria agradecer imensamente a todos que mandaram reviews para "A Sacerdotisa e A serpente" e para "A canção da Autora", foram muito importantes quando eu só conseguia olhar para o papel aonde deveria se iniciar OE16 e não escrever nada, assim como a Rita por ter recuperado minha sinopse de capítulos quando eu perdi tudo que havia no PC.
