Capítulo 18 – O círculo negro
"Without you now I'm free
(Sem você agora eu estou livre)
I'd found out what you've done to me girl
(Eu descobri o que você fez comigo, garota)
I hate you with as much as passion as I love
(Eu te odeio com tanta paixão quanto eu te amo)
And so now, you time has come to me girl
(E agora, sua hora chegou para mim garota)
The end. Your end. And my birth
(O fim. Seu fim. E meu nascimento)"
A luz do sol entrava pelo pouco de janela real que tinha no quarto e incomodava seus olhos. O dormitório não tinha janelas, era nas masmorras. E ela acordava antes do sol nascer para saudar o sol havia quase quatro anos, logo, não fazia sentido. Eilan piscou repetidamente olhando para o dossel da cama por um segundo e a consciência lhe atingiu. Ela se sentou correndo: a luz que entrava pela janela era claramente de manhã, o sol já ia alto, o quarto não era o seu e sim novamente o de Draco. Ele dormia profundamente ao seu lado, o peito nu cheio de marcas de unha que ela sabia serem suas, e seu próprio corpo – só então ela percebeu – estava completamente despido, os botões da blusa espalhados pelo quarto, a capa jogada no canto próximo a janela. Se levantou, correndo até ela na ponta dos pés, tentando reunir rapidamente sua roupa, vestindo o que sobrara de seu uniforme. Não tinha nenhum relógio por perto, mas ela sabia que Caillean estaria esperando por ela.
Voltou correndo para seu dormitório sem acordar Draco, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. O que ela tinha feito? Estivera novamente nos braços de Draco e desta vez a culpa lhe pesava fortemente na consciência, aquilo era terrivelmente errado. Ela não o amava. Ele não a amava. Não era com ele que ela desejava acordar naquela manhã, e certamente tudo que ele queria era Virgínia Weasley. Gina... Sentiu um forte baque ao perceber a profundidade de seu erro. Traíra não só a si mesma e a Draco. Traíra à Gina, a Caillean, à Miellyn, a tudo pelo qual estava aprendendo e se dedicando. Ela se empenhara tanto em ser uma amiga fiel para na primeira prova se render tão facilmente, tão rapidamente, e destruir tudo que ela vinha tentando construir nos últimos meses.
Entrou debaixo do chuveiro, as lágrimas se misturando à água que caia, molhando seus cabelos, massageando o corpo dolorido, só então reparando nas marcas que ela mesma tinha no corpo. A pele estava avermelhada em diversos pontos, os mamilos ainda com pequenos pontos avermelhados de onde na noite anterior saíra sangue, manchas arroxeadas em seu quadril e seus braços, a maioria que ela não sabia como tinha conseguido. Ela esfregou fortemente o sabonete contra o corpo, como se aquilo pudesse apagar o ocorrido na noite anterior, mas não adiantou de nada. Continuava se lembrando dolorosamente de que se entregara a um homem que ela deveria ver como intocável. Saiu do banho esfregando a toalha em si com força, tentando conter as lágrimas, vestiu a túnica tentando se concentrar em apagar as lembranças e se concentrar nas tarefas do dia: precisaria estar completamente alheia das coisas para que pudesse praticar os encantamentos avançados. Ela prendeu parte dos cabelos em um rabo de cavalo e saiu em direção à Hogsmeade.
Draco olhou para o teto e suspirou longamente. Uma parte de si não parava de se questionar porque ele tinha feito aquilo. Era inútil. Ele tinha estado com Eilan entre seus braços, mas sua mente continuava ligada à Virginia. Era um vício do qual ele deveria se livrar, o pensamento naquela garota ruiva e sorridente. Naqueles lábios macios. Naquela voz suave. Naquele corpo quente e alvo. Aquilo era a perdição. Aquilo era uma armadilha para afastá-lo de seu caminho e de sua natureza. Ele odiava o poder de Virginia sobre si, odiava a vida que exalava de seus cabelos vermelhos, a capacidade que ela tinha de ainda sorrir durante as refeições – embora de longe ele pudesse dizer que não era um sorriso verdadeiro.
Mas agora era a hora: ele a expulsaria da sua vida. Ela a expurgaria de si. E nada e nem ninguém o impediria de voltar a ser o que sempre deveria ter sido: homem, sonserino, comensal da morte, fiel servidor do Lord.
Aquela era sua verdadeira natureza.
- Você está atrasada!
- Eu sei. – falou Eilan baixo, e depois tentou recuperar a dignidade da voz e levantou o rosto encarando Caillean como costumava fazer. – Sinto muito.
- Sente muito? – perguntou a mulher com rispidez. – Sente muito, Eilan? Você não saudou o sol, você não cumpriu seus rituais da aurora, e ainda por cima chegou atrasada. E você me diz que sente muito. Eu esperava mais responsabilidade de sua parte.
- Eu sinto muito. – repetiu a menina suspirando. – Não era minha intenção.
- Chegue mais perto. – falou a senhora altivamente.
Eilan tremeu, e isso se mostrou um erro. Caillean estava completamente atenta às mínimas oscilações de seus sentimentos, e pôs o dedo sob o queixo da menina a fazendo encara-la. Os olhos da mulher eram apenas frestas encarando-a.
- Porquê o medo, Eilan...?
A jovem desviou o olhar, evitando que a outra pudesse saber o que ia em sua mente. Já era o suficiente a culpa que sentia sem Caillean para castiga-la.
- Porquê a culpa...?
- Não me sinto culpada.
- Você sabe que não pode me enganar.
- Eu não te escondo nada. – mentiu, tornando a desviar os olhos.
- Eilan! – e antes que pudesse refrear o movimento, tinha se virado encarando a mulher.
Todo seu pensamento se voltou para fechar sua mente, impedir que ela soubesse o que tinha acontecido, mas era inútil. Como um filme em sua própria mente ela se viu brigando com Harry seminua... Draco se aproximando... E viu sua roupa sendo rasgada... E viu seu corpo e o do rapaz se movendo do mesmo ritmo sobre a cama, e por fim ela o encarando aquela manhã.
Quando tudo parou, Eilan estava caída sobre o chão da sala, encarando uma Caillean plenamente enfurecida.
- Levante-se! – Falou com rispidez. – E tire as vestes.
- O quê...? – Perguntou a menina se levantando. – Por quê...?
- Tire as vestes e não faça perguntas idiotas!
Assim que deixou as suas novas vestes azuis profundo caírem no chão, ela compreendeu o porquê da ordem: as marcas arroxeadas dos dedos de Draco ficavam claras sobre seus braços e suas pernas. Suas costas tinham arranhões, e seus seios estavam claramente cheios de pequenos pontos vermelhos-brilhante, por conta do sangue que queria sair pelos cortes microscópicos que os dentes do rapaz tinham feito ali. Seu rosto ruborizou imediatamente e ela se encolheu, cruzando os braços para esconder os seios.
- Agora você quer se esconder! Mas ontem a noite tudo que você queria era se embolar na cama com alguém, fosse Potter, fosse Draco!
- Não é verdade... Não é verdade, Caillean! Eu nunca pretendi me deitar com Draco novamente!
- Não? Você disse o mesmo da última vez! E eu confiei em sua palavra que fora um erro que não se repetiria! E olha o que você fez!
- Desculpe! – os olhos da menina se encheram de lágrimas que ela lutava para não derramar. – Eu terminei com Harry ontem, perdi a cabeça, peguei bebida...
- Pare! Pare! Você me envergonha mais a cada palavra! Eu não te ensinei nada, garota? Você continua a ser uma garotinha medíocre? Completamente mediana? Não é capaz sequer de manter controle sobre si? Vai se esfregar em Draco como um animalzinho no cio?
Eilan continuava a piscar seguidamente, mas estava plenamente decidida a não chorar. Não demonstraria fraqueza em frente a mulher que havia lhe ensinado a se defender das emoções alheias. Encarou a outra, empinando o nariz, decidida a agir com dignidade perante as ofensas.
- Eu não fiz nada por mal. Eu não estava consciente. Uma sacerdotisa ou não, eu ainda sou apenas uma menina, e tenho direito de ter momentos de fraqueza.
- Eu me pergunto o que Miellyn diria disso. – falou a mulher trincando os dentes. – Claro que se eu tivesse mantido você mais firmemente na linha, nada disso teria acontecido.
- Não é sua culpa. Você não pode me controlar o tempo inteiro. Você sabe disso, você sabe que eu sou responsável por mim, que eu respondo por mim...
- Cale-se, eu não perguntei o que você acha que pode. Eu sou responsável por você, e você sabe disso. Mas isso não vai ficar assim... Eu fui mole demais com você... Agora, você vai aprender do pior jeito...
- Não... – Ela suplicou. – Você não vai fazer como da última vez...
- Crucio! – Foi a única resposta que ela recebeu.
O feitiço a atingiu e ela caiu no chão, sentindo como se estivesse sendo cortada por lâminas quentes, mãos apertavam em volta do seu pescoço, a impedindo de gritar, e pelo que lhe pareceu uma eternidade ela sentiu seus ossos sendo esmigalhados, até que estava novamente ofegante e nua no chão da sala de Caillean. A mulher tornou a erguer a varinha mas Eilan desviou-se.
- Não! Não faça isso!
- Crucio!
E novamente foi invadida pela sensação de dor, as lágrimas molhando seus olhos e os dentes mordendo seus lábios até que eles chegassem a sangrar, mas não se permitiu soltar um único grito que fosse. Caillean abaixou a varinha depois do que lhe pareceu a eternidade.
- É... É... Eu não farei mais. – A sacerdotisa mais velha se endireitou, parecendo ainda mais poderosa. – Você terá que consertar seus erros sozinha! Afinal, você está afastando um homem da mulher a quem ele deveria se unir... Você está condenando seus próprios filhos à maldição ao fazer isso ao invés de trabalhar pela sua libertação... Eu duvido que a menina Weasley confie na sua palavra depois disto! Mas, é problema seu, Eilan, não muda o meu futuro. Agora eu imagino que você ame o Draco mais do que a qualquer outra pessoa no mundo, logo, deveria lutar pela felicidade dele... Se você conseguir, é claro, botar a dele acima da sua.
Caillean se retirou do aposento deixando a jovem sentada no chão, completamente sem roupa, a pele marcada, ofegante e com ainda mais peso na consciência.
- Aonde você está indo? – perguntou Eilan a meia-voz encostada no batente da porta do quarto enquanto ele ajeitava o cabelo olhando no espelho.
- Vou encontrar meu pai. – Ele virou para o rosto da garota, e sua expressão magoada. – O que houve?
- Caillean percebeu... Sobre ontem... Ela soube... Você conhece sua avó... Deve imaginar o que aconteceu...
- Tomou mais uma surra de cinto, como daquela vez? – ele perguntou com ar indiferente.
- Não, ela preferiu simplesmente usar a maldição Cruciatus em mim.
Ele parou por um instante, encarando a garota à sua frente, aparentemente surpreso com a informação, como se não conseguisse visualizar a cena.
- Estou me sentindo péssima.
- Ninguém sofre a maldição Cruciatus e fica se sentindo bem.
- Não pela maldição. Pelo que eu fiz.
- Está feito. E eu não me arrependo.
- Não é isso que você quer. Não sou eu. Eu também não quero você, não importa que eu tenha largado o Harry, é ele que eu quero. E é a Virginia que você quer. – O rapaz atravessou o quarto na direção dela, parando para responder de frente para a menina.
- Eu já me afastei desse caminho tem muito tempo. Eu tomei outro caminho. Eu estou indo fazer hoje exatamente o que eu tenho que fazer.
- O que você quer dizer...? – Ela segiu atrás dele no corredor.
- Hoje, o Lord vai me sagrar Comensal da morte. – E com isso, ele virou o corredor, deixando a menina sem reação.
- Eu não concordo com isso, Lúcio!
- Mamãe, eu não sou como Avery, eu posso cuidar dos meus filhos eu mesmo.
- Se tornar um comensal não é o caminho para Draco!
- É o caminho que eu escolhi que pra ele, e o que ele vai fazer.
Draco entrou no hall, sem se preocupar em fingir que não estava ouvindo a discussão. O pai parecia estar um pouco mias magro que em seu último encontro, mas não tinha perdido nada de sua força pelo que Draco pode perceber quando pôs a mão sobre o ombro do filho o conduzindo pra fora.
- Bênção mãe. – Falou Lúcio beijando a testa da velha.
- Que a Deusa te proteja, filho... – Ela falou à contragosto. – Te dê juízo.
- Bênção, Senhora. – Falou Draco beijando a face da avó em ambos os lados.
- Que a bênção da Deusa esteja contigo. Eu te abençôo em nome dela.
Os dois saíram pela porta dos fundos da Mansão Maculada, dando alguns passos no caminho que levava à floresta.
- Vão fazer minha entrada no círculo aqui na floresta?
- De jeito nenhum. Ultimamente os centauros têm matado qualquer humano que invada estes territórios. A menos que sejam os Druidas e suas mulheres. – Lúcio pegou uma bota velha que estava encostada em uma árvore. – Vamos, Draco, tome.
Depois da sensação de ter um gancho o puxando pelo umbigo e de uma forte ventania, ele chegou; seu pai aparatou ao seu lado um segundo depois. Estavam em um cemitério, com alguns túmulos destruídos e as montanhas que circulavam o castelo tinham desaparecido. A terra molhada do chão do cemitério grudava em seus sapatos cuidadosamente lustrados, o que irritava Draco profundamente. O ar fedia a concreto molhado, grama pisada e sangue fresco. Uma cobra enorme se movia entre os túmulos um pouco a frente. Ele chegou a empunhar a varinha, mas Lúcio segurou seu braço.
- Nagini pertence ao Lord, é de estimação. Mesmo que você conseguisse alguma coisa com ela, teríamos que te mandar para o Mausoléu Malfoy em uma caixa para palitos de fósforo.
Continuaram caminhando pelo lugar em silêncio, subindo em direção a uma capela. Ao tomarem o caminho de pedras que levava a entrada da construção, Draco não conseguiu conter uma risada debochada.
- O Lord vai me iniciar em uma capela?
- Eu iria imaginar, Draco, que passando tanto tempo com a garota Avery e sua avó você saberia que nada como um juramento de sangue em solo sagrado para manter a lealdade.
- Eu imaginava que ele tivesse melhores meios de manter a lealdade do que essas coisas druídicas. Sempre tão cheio de sutilezas, ameaças e torturas...
- O Lord conquista seu seguidores mais por admiração, pelo seu poder e carisma do que por medo.
Draco discordava completamente do comentário do Pai, mas resolveu não argumentar. Que carisma poderia ter um cara cujas pupilas eram vermelhas e o nariz mais parecia o de uma cobra? Mas deveria haver algo a mais do que uma ideologia que os mantivesse unidos – homens obstinados matando e morrendo sob as ordens do mestre.
Na porta da capela uma figura encapuzada os esperava. Percebeu que era Bellatrix Lestrange pelas formas femininas aparecendo debaixo dos trajes de comensal.
- Boa noite, Bella. – Falou Lúcio com a voz rouca.
- O Lord das Trevas vai receber Draco em alguns instantes. Agora, Lúcio, vá entrando enquanto eu começo com meu – Ela deu uma meia risada irônica – sobrinho.
Lúcio entrou na capela e Bellatrix ergueu a varinha.
- Vamos ver se o menininho Malfoy sabe brincar.
Draco se sentiu tenso enquanto erguia a varinha apontando diretamente para a mulher que ele sabia que era sua tia.
- Expelliarmus! – Ela bradou sem sucesso.
- Protego! – Gritou ao mesmo tempo, cambaleando pra trás. – Rictusempra!
Bellatrix se desviou do feitiço do rapaz, rindo com vontade.
- Isso é o melhor que o filho de Lúcio Malfoy pode fazer?
- Não perco meu tempo brigando com mulherzinhas.
- Eu não sou apenas uma mulher, Draco. – Ela tirou a máscara, encarando o garoto. – Eu sou uma comensal da morte, treinada pessoalmente pelo Lord das Trevas.
Draco mal teve tempo de desviar do raio lilás que ela lançou em sua direção, e já contra-atacou.
- Petrificus Totalus!
O feitiço acertou a lápide ao lado da mulher e a cruz sobre ela explodiu, um dos pedaços de concreto feriu o rosto da mulher. Um sorriso maníaco continuava estampado em sua boca quando ela ergueu a varinha e apontou para Draco por um instante.
- Reducto! – ela gritou.
- Estupore!
O raio vermelho errou a comensal por um triz, passando rente sobre seu ombro enquanto o feitiço dela despedaçava o anjo que enfeitava a lápide acima da cabeça de Draco, cobrindo-o de pó e alguns arranhões.
- A rapidez e a boa estratégia são essenciais, Malfoy! Escourgify!
O rapaz tornou a ficar limpo, porém, muito aborrecido.
- O mestre mandou entrar o menino, Bella - Falou uma voz em frente à igreja. – Já se divertiu o suficiente com ele.
- Estamos indo, Nott! – Ela falou guardando a varinha. – Um pouco mais de treino, eu diria. O bebê Potter há de servir para isso.
- Eu faço questão de acabar com o bebê Potter eu mesmo, Bella. A jovem menina Weasley serviria melhor. – Falou a voz gélida de Voldemort que surgia de dentro da igreja seguido pelos demais Comensais. Se voltou então da mulher para o rapaz. – Isso, claro, se não for pedir demais à você, Malfoy.
Draco encarou os olhos vermelhos do Lord das Trevas sem demonstrar em seu rosto o quanto aquilo o incomodava. Sabia que ele poderia perceber seus sentimentos, logo, respondeu rapidamente.
- Estarei às suas ordens.
Ele se manteve encarando o ser a sua frente, sustentando um olhar por alguns instantes até que este sorriu sem alegria e se virou para seu pai.
- Seu filho tem coragem, Lúcio. Quase coragem demais, eu diria, mas ainda não o suficiente para ser considerado uma coisa ruim. Venha, Draco.
O Lord entrou na igreja seguido pelos comensais. Bellatrix recolocou a máscara e entrou também. Lúcio fez sinal para o filho entrar na sua frente e fechou a porta ao entrar. As paredes da velha capela estavam enegrecidas pelo tempo e o abandono, enquanto velas acesas aumentavam o ar fantasmagórico do local. Uma grossa camada de poeira cobria os bancos e o chão, e Voldermort estava sentado na cadeira dourada do altar com os comensais em círculo em torno dele. Draco atravessou as bordas do círculo parando no centro enquanto Lúcio completava a formação parando diretamente de frente ao Lord.
Um silêncio mortal recaiu sobre o local, todos os olhos encaravam o rapaz no centro do círculo.
- Dê a ele o punhal. – falou o Lord encarando uma das figuras encapuzadas ao lado de Bellatrix.
Draco reparou que era uma mulher, embora geralmente não houvessem mulheres comensais. Ela tinha um punhal de prata nas mãos, oferecendo à ele. Quando o pegou, pode ver que o corte da garota apenas começava a cicatrizar, como se não tivesse mais que dois dias. Ele se perguntou quem poderia ser.
- Estamos te esperando.
Draco respirou fundo antes de passar a lâmina na palma de sua mão e a contrair, as gotas de sangue caindo sobre o chão do altar.
- Eu, Draco Edward Malfoy, me comprometo a servir ao Lord das Trevas, obedecendo suas ordens fielmente até que a morte me leve ou meu senhor me liberte.
- Venha até aqui, Draco.
Ele deu alguns passos parando imediatamente a frente do Lord, com a mão ainda sangrando.
- Estique o braço – falou imperativamente.
Esticou o braço em direção ao outro, sabendo que agora receberia a marca negra. Voldemort passou a unha do dedo indicador pelo antebraço do rapaz, parando-a no exato meio deste e fincando-a na carne de Draco. Sentiu uma profunda tonteira, náuseas e espasmos de horror enquanto Voldemort arrastava a unha sobre sua pele que sangrava, formando os princípios do desenho da marca negra. A pele ardia e queimava ao toque do Lord, e quando estava quase perdendo os sentidos, ouviu uma risada fria.
- A partir de agora, Draco Malfoy, você é um dos meus comensais da morte, pertence ao círculo negro.
E quando este soltou seu braço, ele caiu de quatro no chão empoeirado da igreja, o suor gelado escorrendo por seu rosto. Não havia mais como voltar atrás.
Gina estava quase dormindo enquanto revisava Aritimâancia na biblioteca quando alguém sentou à sua frente.
- Preciso conversar com você. É sério. Muito sério.
Eilan parecia aflita e haviam marcars avermelhadas em seu pescoço. Gina sacudiu a cabeça para que ela continuasse.
- Não aqui. Não quero que nos ouçam. Vamos para a sala secreta.
- Não lá - falou a ruiva, parecendo incomodada enquanto recolhia seus livros. - Me traz péssimas lembranças. Vamos para o jardim.
Colocou seus livros na mochila e as duas saíram para o corredor. A loira apertava as mãos nervosamente, e seus olhos pareciam nervosos, no geral ela parecia inquieta e incomodada. Aquilo era perturbador para Gina, a forma como ela agia a fazia lembrar de si mesma sob a influência de Tom Riddle. As duas ficaram em silêncio completo até saírem pelos portões do castelo e começarem a descer a escadaria.
- Não devemos sair - suspirou a sonserina. - Tem comensais à solta aqui por perto.
- Como você sabe? - A grifinória ergueu a sobrancelha.
- Tem a ver com o que eu quero dizer, mas tenho algo para falar antes.
A loira fez uma pausa, parecendo incerta do que fez uma pausa parecendo incerta do que estava prestes à dizer, enquanto Gina começava a sentir uma grande dose de nervosismo.
- Pode ser que você nunca mais olhe na minha cara, e você nunca mais vai confiar em mim, disso eu tenho certeza, mas eu quero que você me ouça até o final, porque eu estou te dizendo absolutamente toda verdade.
- Eilan, fale logo!
- Eu e Harry terminamos ontem à noite.
- Todo mundo sabe disso - apressou a outra.
- Eu sei. Enfim, nós terminamos, e eu perdi completamente a cabeça, deu a louca em mim, eu comecei a beber muito e falar bobagens... E eu fui ter com Draco... - A voz da garota parecia sufocada e a ruiva podia ver em seu rosto que custava cada grama de sua obstinação continuar a falar. - E nós dormimos juntos.
- O que você quer dizer com isso? - indagou a jovem em tom constrangido.
- Exatamente o que você está pensando. O que acontece... Quando dois amigos de coração partido enchem a cara... Me desculpe. - ela sussurrou ao fim.
- E porque você está me contando isso? - perguntou Gina, gélida. - Eu não tenho nada com isso. Eu não tenho mais nada com Draco.
- Você o ama, e ele também te ama.
- Se amasse, não teria ido pra cama com você.
- Você não vê? - Eilan disse, exasperada. - Draco é uma vassoura sendo dirigida por um bruxo bêbado! Ele não tem noção do que faz, com quem faz, fechou os olhos para o que ele realmente quer! Ele está cego, batendo nas paredes, guiado por algum surto louco, e só você pode ajudar!
- Eu? - perguntou em tom agressivo. - Eu? Que conhecimento tenho eu para fazer alguma coisa? Você que é a feiticeira aqui, você é a entendida...
- Você o ama, Virginia!
- Você também o ama! - acusou, ainda mais agressiva. - O que eu gostaria de saber é porque você nunca assumiu isso!
- Eu amo muito Draco. - falou firme. - mas é completamente diferente. Depois de tudo, ele é como um irmão pra mim.
- Engraçado, eu não durmo com meus irmãos! - falou irônica.
- Engraçado, Harry ser como um deles não te impediu de beijá-lo! - retribuiu a loira, visivelmente enciumada.
- É diferente!
- Não de mim e Draco! Virginia, entenda uma coisa de uma vez por todas! O homem por quem eu sou apaixonada chama-se Harry James Potter e não Draco Edward Malfoy!
A voz tensa de Eilan enquanto gritava ecoou na parede do castelo, e o vento fresco de verão soprou sacudindo seus cabelos. Gina fechou os olhos, cheia de raiva e uma lágrima desceu pelo seu rosto.
- Me perdoe. Eu estava fora de mim. A Deusa sabe o preço que eu estou pagando pela bobagem que fiz.
- Eu espero que seja realmente alto, Avery, por que você mereceu.
Mais do que as palavras agressivas, o que machucou a Sonserina foi vê-la a chamando pelo sobrenome.
- Eu perdi Harry, e perdi sua amizade, a única mulher em que eu achei que poderia confiar... Por favor, por favor, Gina confie em mim por uma úultima vez!
- E por quê eu deveria fazer isso?
- Toda sua vida depende disso, assim como a vida de Draco, a minha e a de qualquer um que tenha um pingo de sangue Malfoy.
- Como... - gaguejou a grifinória. - Como pode tanto depender de eu confiar em você?
- Draco está perdido. E só você pode salváa-lo. Porquê você é a Weasley escolhida, e só você pode trazê-lo de volta e ninguém mais.
- O que você quer dizer com perdido? E que história é essa de Weasley escolhida?
- Você já ouviu isso outras vezes, não é? Mas agora é a hora de sê-la, de mostrar seu valor. Draco agora é um comensal da morte.
Por um instante a loira mirrou os olhos arregalados e a expressão alarmada de Virginia, antes de continuar a falar, fechando suas próprias mãos tremulas.
- Ele se entregou totalmente ao que acha que está fadado a ser. Salve-o, por nós duas. - Falou Eilan, sua voz abafada.
Ela estendeu um livro para Gina, que olhou desconfiada para o diário.
- Confie em mim. - Implorou a sonserina.
- Diários e Malfoys são duas coisas nas quais eu definitivamente não confio, especialmente se estiverem misturadas.
- Esse diário vai te explicar tudo. É a única maneira... Por favor, Virginia! Tem coisa demais dependendo de você e do seu amor...
As duas se encararam por uma eternidade silenciosa.
- Pelo seu Draco...
A ruiva agarrou o livro com as duas mãos.
- Eu acredito em você. - Suspirou a grifinória. - Eu vou pegar isso amanhã quando acabar a prova, e só solto isso quando terminar.
- Me procure quando acabar. Teremos muito o que fazer.
- Avery! - soou a voz de Gina no salão principal, durante o almoço do segundo ia de recesso pós-provas. - Acabei.
- Acabou? Mesmo? Ótimo.
- Na verdade - falou a segunda apreensiva. - falta uma última folha, mas eu preciso de você para ler.
- De mim? - a sobrancelha da sonserina se ergueu em surpresa e dúvida. - Porque precisa de mim?
A ruiva abriu o diário que estava em sua mão direita, sentando à esquerda de Eilan, no lugar de Draco que estava ausente. Eilan abaixou o rosto para ler melhor a caligrafia apressada e tremida.
"Eu não pude salvá-lo. Você os salvará. A escolhida e a feiticeira devem seus sangues juntar para conhecer o caminho através das minhas palavras."
Por alguns instantes, a garota pareceu atordoada. Já tinha lido todo o diário mais de uma vez, em seus estudos de tradição familiar, e nunca tinha visto aquelas linhas. De alguma forma Gina tinha feito com que elas se revelassem.
- Quando foi que isso apareceu? - perguntou sem desviar os olhos do pergaminho.
- Sempre esteve aí - Falou a ruiva sem entender.
- Você... - a sonserina parecia pensativa - Você por um acaso deixou cair aqui alguma coisa, como uma gota de sangue, mesmo sem querer...?
- Não - falou a grifinória sem entender. - Espere... Eu... Eu chorei quando lia...
- Lágrimas... Então foi isso. Foi isso que ativou o encantamento. Venha, temos que fazer isso e eu sei um bom lugar.
As garotas saíram rapidamente do salão, acompanhadas de olhares curiosos. Um olhar triste e decepcionado seguia o andar já automaticamente ritimado da loira, enquanto Marin olhava para as duas em um misto de inveja e superioridade. Eilan chegou a se virar na direção da grifinória, mas esta desviou o olhar de volta para seu pudim.
Desceram pela escada que conduzia as masmorras e após o segundo lance a ruiva virou automaticamente para o corredor da esquerda que levava aos dormitórios e a sala de aula de poções, mas a outra a puxou para a direita, passando por uma tapeçaria de dois bruxos duelando simultaneamente com espadas e varinhas. Seguiram por um corredor mais estreito, virando à esquerda no final, aonde pararam em frente a uma janela.
- Almorromorra - bradou Eilan, e então apontando para um banquinho no meio do corredor. - Mobilicorpus! - e colocou o banco fazendo uma espécie de degrau abaixo do parapeito da janela. - Por favor, você primeiro.
Ela subiu seguindo a indicação da feiticeira, e viu que estava praticamente no nível do solo. Saiu, respirando o ar fresco de fora do castelo, sem a umidade das masmorras enquanto a outra garota saía e fechava a janela. Ao olhar para a paisagem, Gina perdeu o fôlego.
Debaixo de si, sob o penhasco, estava o lago com suas águas azuis profundas parecendo um espelho. Nas suas margens apareciam as primeiras árvores da floresta, a estrada escondida atrás da cortina de hera pela qual passavam no primeiro ano, e a floresta se estendendo verde e densa à sua frente. Para completar, as montanhas em volta da escola contrastavam com o céu claro, e podia ver a estação de trem e as primeiras casas do vilarejo de Hogsmeade.
- Aqui é lindo! - murmurou.
- É sim, apesar de eu já estar bem acostumada e nem reparar mais. - Eilan deu os ombros. - Acho que você adoraria ver o amanhecer daqui. Eu venho todos os dias, fazer meus rituais antes do sol nascer.
As duas pararam, tensas. Gina pôs o diário no chão e a loira tirou o punhal curvo que carregava na cintura o empunhando.
- Eu vou furar meu dedo, depois o seu, e vamos misturar nosso sangue antes de deixarmos as gotas caírem sobre o pergaminho.
- Isso não vai ter nenhum... Ahn... Efeito colateral?
As duas mantiveram os olhos nos olhos e era visível a desconfiança da Grifinória. Nenhuma das duas ousaria piscar ou desviar o olhar.
- Eu lhe dou minha palavra que não.
- Quanto vale sua palavra, Avery? - respondeu cortante.
Eilan tirou do dedo a única jóia que usava, puxou a mão esquerda de Gina e colocou o anel em seu dedo. O anel era prateado, e tinha a forma de duas serpentes, uma engolindo a ponta da outra, em um círculo. Os olhos eram esmeraldas minúsculas, e sobre as cabeças estavam desenhadas delicadamente coroas de flores.
- Eu estou me comprometendo contigo, Virginia. Estou dando minha palavra, minha honra, e o sinal da minha casa. Se isso não te dá garantias, nada mais te dará.
- Fure logo, o tempo está passando. - respondeu, embora ainda relutante.
Eilan ergueu o punhal de prata e cortou primeiro o dedo da garota e em seguida o seu próprio. As duas pressionaram os dedos um contra o outro.
- Que meu sangue seja seu sangue.
- Que meu poder seja o seu poder - Respondeu Eilan.
- Que minha honra seja sua honra.
- Que seu destino seja minha graça.
Virginia nunca soube como aquelas palavras tinham saído de sua boca, e precisou de muito tempo para entender a força e a importância do que tinham dito. Pareceu a ela que as gotas caíam no pergaminho em câmera lenta, e ainda pode sentir o estôomago se encher de medo e apreensão, antes de serem levadas para dentro do diário.
Estavam dentro de um dos quartos da Mansão Malfoy e Belle ninava um bebezinho, cuja cabeça era coberta de cabelos vermelhos. Houve uma batida seca na porta que se abriu em seguida.
- Gui? - exclamou Gina e Eilan apertou seu braço fazendo a outra calar-se.
- Estás pronta? - Perguntou o homem se dirigindo à Belle.
- Eu não irei contigo, só o pequeno Dean.
- O que quer dizer com isso? Não há nada para ti aqui, o velho Edward não durará muito tempo...
- Eu fui a perdição dele, mas nem por isso vou abandoná-lo... Sequer creio que eu mesma vá durar muito tempo depois que ele se for, e espero que em tua casa o pequeno Dean tenha uma família.
- E ele terá. Nós o trataremos como se fosse nosso próprio filho.
- Me prometa uma coisa, meu irmão. Nem tu nem tua mulher jamais dirão à Dean que ele não é teu filho. Quero que ele cresça e case sob o nome da nossa casa e isso é extremamente importante, não só para ele como para todos nós.
- Poderia ao menos te perguntar porque é tão importante?
- Porque todos os Malfoy são malditos, menos este. E será de Dean que surgirá, daqui há muitas gerações, a Weasley que poderá salvar esta família.
- Porque te importas tanto? Esses Malfoy desgraçados, sem honra ou moral...
- Eu sou uma Malfoy, irmão. - ela suspirou enquanto as duas meninas a encaravam, boquiabertas. - Eu sou uma mulher dos Malfoy, a um deles pertence minha alma. E do primeiro filho do nosso sangue unido vai nascer a mulher Weasley que vai salvar todos os Malfoy. - Os olhos da jovem se fixaram além da figura do homem, como se no fundo olhasse para dentro e para o invisível. - Ela será a sétima filha da sétima filha... E verá mais longe que todos nós... Ela será traída por uma das mulheres vindas de Edward, pois ela também precisará ser a perdição de todos os Malfoy com quem conviver, para poder ser a salvação de ambas famílias... Eles estarão separados por todas as convenções do mundo, mas ela será capaz de encontrar o caminho para salvá-lo, pois a amiga será traidora e a traidora será amiga... A feiticeira será um pilar para a união, e para a destruição, assim como para uma re-união. A feiticeira será a amiga e a traidora, a serpente e a leoa, e será o caminho de ambas se confrontar, se enfrentar e se unir, de forma que a Weasley escolhida e o Malfoy escolhido possam cumprir seu destino e salvarem todos nós.
- Salvarem todos nós? - Questionou o homem com rosto de Gui.
- É o destino de ambos. - Então Belle se virou para o ponto exato aonde estavam duas meninas. - Eles se separarão e a feiticeira estará entre eles... - Eilan corou, sem desviar os olhos. - A feiticeira também terá em si uma criança Malfoy, o último dos malditos.
Eilan agarrou no braço de Gina, quase perdendo os sentidos enquanto as duas voltavam à beira do penhasco. A sonserina estava pálida e tinha os olhos vermelhos como quem está a ponto de chorar.
- Grávida? - se perguntou chorosa se sentando na grama. - Grávida? Oh, Deusa, por quê?
As lágrimas lavaram o rosto da loira, enquanto o rosto da ruiva ia ganhando uma expressão mais suave, de pena.
- Está tudo bem. Está tudo bem. Era sua parte nisso, lembra...? Ninguém poderia impedir...
- Nem todas as partes devem ser concluídas por obrigação... - chorou a loira, encolhida.
- Diga-me então o que é verdadeiro... O que mais você e Caillean sabem sobre essa profecia?
Nota da Autora: Me desculpem mesmo pela demora para terminar o capítulo, mas esse fim de período quando eu deveria já estar de férias está me enlouquecendo... Eu prometo que eu vou tentar não demorar para escrever o capítulo 19 e nem o 3 de O terceiro espelho... Mandem reviews, por favor! ^
