Capítulo 21 – O caminho dos barcos

" Quando eu lhe dizia:

- Me apaixono todo dia

E é sempre a pessoa errada,

Você sorriu e disse:

- Eu gosto de você também."

O castelo estava mergulhado em um caos contínuo quando eles alcançaram a Ala Hospitalar. Gina tinha torcido o tornozelo e andava se apoiando em Rony, cujo corte sangrava bastante. Draco seguia ao lado dos dois, calado e parecendo apreensivo. Era a primeira vez desde que tinha feito seu juramento em que questionava suas atitudes. Não podia negar que em muitos pontos concordava com as idéias de Voldemort, mas lhe parecia muita perda de tempo se envolver em combates por aquilo.

Se dois anos antes tivessem lhe perguntado o que ele queria fazer ao sair da escola, certamente diria o evidente: apoiar o mestre, lutar ao lado de seu pai, e matar o Potter por ter posto seu pai na cadeia. Evidentemente não levara mais que dez meses para que Lúcio e alguns dos outros conseguissem sair, embora a raiva de Potter tivesse permanecido. Mas algumas coisas tinham mudado. Ele tinha se tornado um melhor duelista, mais rápido, com comentários ainda mais ácidos, no entanto tinha perdido o entusiasmo para lutar a favor do Lord das Trevas.

Certamente sabia quais eram os motivos para a perda daquele entusiasmo. Falta de paciência, de coragem para se envolver, e um belo par de olhos castanhos. Era evidente que Marin estivera certa: ele não tinha sido capaz de deixar de pensar na menina. Ele se importava com ela, se preocupava de forma quase obsessiva. A imagem da ruiva o perseguia e não abandonava sua mente em momento nenhum.

Evitava sistematicamente encostar na garota temendo que se descontrolasse, a tomasse nos braços e a enchesse de beijos. Ela deveria odiá-lo. Ele merecia isso, por tudo que tinha feito, pelas decisões que ele tinha tomado.

Novamente vinha à sua mente a lembrança do momento em que a encontrou, seu próprio pai debruçado sobre ela, colocando suas mãos imundas no corpo pequeno que só ele podia tocar. Nunca tinha se sentido tão diferente dele. Nunca tinha sentido tanto nojo do próprio pai. Desejara usar suas próprias mãos para bater nele, afastando-o dela. Queria machucá-lo, feri-lo, até que estivesse deformado e coberto de sangue, totalmente humilhado pela surra. Mas não poderia fazer isso: dependia dele, precisava dele, devia lealdade ao mestre.

E ser um comensal da morte não era exatamente o tipo de coisa sobre o qual ele podia mudar de idéia. Era para a vida inteira, querendo ele ou não. Ou ele servia o Lord até morrer, ou ele renegava o Lord e morria. Aquilo não era exatamente o que ele chamaria de opção.

- Eu estou preocupada com ela – ouviu a ruiva dizer, direcionando-se a ele.

- Com quem? – interrompeu Rony.

- Ela vai ficar bem. Eu acho. Eu estou tentando acreditar nisso – respondeu Draco ainda sem virar para os dois.

- De quem vocês estão falando?

- Mas ela ainda corre o risco de perder o bebê, não é?

Draco acenou a cabeça sob o olhar confuso e irritado de Rony e a preocupação tensa de Virgínia. Tudo que ele não precisava era encarar a expressão acusadora dela que só serviria para aumentar a sensação de culpa. De certa forma, teria sido a primeira vez em que ele teria matado alguém.

- Você sabe que isso... Isso faria você ter matado seu próprio filho.

- Eu não tenho a menor prova de que o filho é meu – foi a resposta de Draco – que eu saiba, pode ser de qualquer um.

- O que você está querendo dizer? Você sabe que ela só fez isso com você!

- Dá pra alguém me explicar de quem vocês estão falando?

- Ela estava namorando o Potter. Pode perfeitamente ser dele.

- Acredite em mim, não era do Harry – Gina respondeu ríspida – Logo...

- E teve a iniciação dela também. Ela se deitou com alguém certamente. Pode ser um fruto das fogueiras. Se fosse meu filho, ela não teria como saber que estava grávida tão rápido.

- Mas você é tão cabeça dura! – A grifinória estava quase gritando – Eu e Eilan descobrimos isso pelo diário!

- Avery está grávida?

- Que diário? – perguntou Draco parando e a encarando.

- O que você acha? – Ela era ácida – O diário de Tom Riddle? Claro que eu estou falando do diário de Belle!

- Como você...

- Eilan me deu, e havia algo que você não tinha lido...

- Vocês estão me dizendo que Avery está grávida?

- CALE A BOCA! – falaram os dois ao mesmo tempo fazendo com que Rony se irritasse e entrasse sozinho na Ala Hospitalar.

- Você tem certeza do que está me dizendo? – ele parou, o rosto mortalmente sério.

- Tanto quanto de que o sol nasce todos os dias. A própria Belle previu isso.

Os dois se encararam por um instante, sem saber o que dizer. Contra todas as expectativas, Draco estava repleto de arrependimento por ter se deixado levar pela bebida no outro dia. Uma vida, uma vida inteira... Ele poderia ter matado seu próprio filho, ferido sua única amiga de forma inesquecível, ou caso contrário, teria uma responsabilidade inegável, imutável, uma criança! Os dois entraram na enfermaria e ele se jogou na primeira cadeira vaga que viu, colocando a cabeça entre as mãos, desesperado.

Gina foi atendida por Madame Pomfrey que fez um feitiço para consertar o estrago e a deu uma poção para aliviar a dor. Sentou-se na cama ao lado da cadeira de Malfoy e colocou a mão sobre a cabeça dele, tentando desajeitadamente consolá-lo.

- Você sabe que é tudo culpa sua... Mas não há mais nada o que você possa fazer...

- Você não entende, Weasley. Eu deveria ter resistido, ou ao menos ter tomado cuidado! E ela não deveria ter desafiado o Lord! O que eu poderia fazer? Eu tinha que entregá-la!

- Você não... Não devia sequer estar entre eles, Draco, você não é um comensal da morte... – ela abaixou o tom de sua voz.

Ele levantou a manga da blusa, deixando visível a marca negra.

- Eu sou um comensal da morte. Isso é um fato. Tem coisas que nada no mundo podem mudar. Nada vai tirar a meia-lua da testa de Eilan. Nada vai tirar isso do meu braço.

Os olhos dela estavam tristes e culpados quando se virou para ele.

- Eu sou a culpada, não sou? Eu fiz você se perder ainda mais ao invés de te ajudar...

- Não é sua culpa. Isso é apenas o caminho de todo Malfoy...

- Não era o seu caminho... – ela falou, suspirando, sem que ele conseguisse entender. – Promete que não vai sair do meu lado até eu dormir?

Ele olhou para ela, estranhando o pedido mas acenou a cabeça afirmativamente. Sentiu seu coração disparar com o pedido, sendo obrigado a encarar que nada tinha mudado em relação a ela. Com tanta confusão na Ala Hospitalar, sua presença sequer seria notada. Gina tomou o cálice com a poção analgésica de uma vez só e ainda sentada na cama ela pegou a mão de Draco inesperadamente.

- Eu me comprometo com você, e digo que sempre estarei lá quando você precisar ser salvo de você mesmo. Eu não vou mais falhar com você.

- Gina, o quê...?

- Shh... – ela fez um movimento o mandando se calar encostou os lábios nos dele de leve antes de se deitar, deixando um Draco atônito a encarando. – Você pode ir embora quando eu pegar no sono.

- Eu não vou a lugar nenhum.


Caillean trouxe um cálice de prata cheio até a borda com uma poção escura e espessa. Colin estava sentado ao lado de Eilan, ainda desacordada, muito nervoso.

- Levante-a pra mim, meu jovem – Ela falou, e ele obedeceu prontamente, apoiando a cabeça dela em seu ombro. – Vai fazê-la acordar, eu acredito... Talvez tenhamos que transferi-la para o hospital... Eu não tenho muito como impedir que a criança seja afetada...

Derramou o líquido entre os lábios da menina, que logo começou a se mexer e a acordar, ainda parecendo mole e abatida.

- Eilan! – exclamou Colin, olhando para a menina. – Finalmente!

- Ele está em perigo... – Ela balbuciou, se encolhendo enquanto o menino podia sentir que o suor que lhe escorria pelo corpo era frio.

- Quem, meu anjo? – perguntou Caillean, parecendo a avó maternal de quando ela era criança.

- Harry... Harry... Ele...

- Ele sabe se cuidar… - Ela virou-se para Colin, parecendo novamente eficiente e ativa. – Você, rapaz, vá até Dumbledore e avise que eu estou levando essa menina pra St Mungus, eu temo o pior para o bebê. Avise também Snape, e Draco.

O rapaz levantou, saindo do quarto imediatamente, sem contestar as ordens recebidas por um minuto que fosse.

- Consegue ficar de pé? – perguntou a sacerdotisa, oferecendo apoio a outra. – Vou te levar para o hospital...

- Eu posso aparatar.

- De maneira nenhuma!

- Eu estou bem, não há necessidade... – a sonserina começou a dizer, mas na primeira tentativa de dar um passo, seus joelhos pareciam feitos de geléia e ela não conseguiu andar, começando a cair no chão, mas Caillean a segurou.

- Você não tem forças para andar, o que dirá para aparatar... Ia ser o fim para o bebê, e talvez para você também...

- Quem se importa com esse maldito bebê? – ela perguntou, o olhar cheio de raiva e a face avermelhada.

- Deixe de falar bobagens – A mulher mais velha pegou o cálice e encostou nele com a varinha – Portus!

Houve um brilho azulado no cálice que Caillean forçou contra sua mão e no momento seguinte a sensação horrível de ter um gancho puxando seu umbigo e ela estava na sala de espera do hospital, sua mentora parada ao seu lado, com a mão em seu ombro.


Gina estava tensa, andando de um lado para o outro da cabine. Ela tinha um péssimo pressentimento quanto aquela viagem. Havia algo de muito errado e muito estranho no ar. Voldemort não desistiria de Harry tão facilmente. Hermione estava estranhamente calada ao seu lado, enquanto Rony e Harry fingiam se distrair jogando xadrez bruxo. Tudo parecia estranho. Inclusive o comportamento tenso de Luna, que olhava para fora da janela de cinco em cinco minutos.

Ela viu Colin passar pelo lado de fora com Peter, e um pouco depois, Marin, que lhe reservou um olhar rancoroso que ela não podia entender. Onde estivera Marin na noite anterior? Não conseguia se lembrar. Sentiu o coração afundar ao lembrar de Eilan, e sentiu novamente uma raiva imensa de Draco. Que tipo de monstro ele era?

Um comensal da morte. A marca negra, vivida, brilhante em seu braço esquerdo não saía de sua cabeça. Nem as palavras dele, dizendo que nada poderia mudar aquilo. Como Belle e Caillean poderiam esperar que ela o salvasse? Ela tinha sido o exato caminho para a perdição dele, o combustível alimentando uma decisão errada.

Quando ela fez menção de sair da cabine, querendo procurar o ex-namorado para uma conversa sincera, a porta se abriu com estrondo. Ela nunca seria capaz de esquecer aquela mão pútrida a puxando para perto, o hálito podre e o frio imenso que o dementador provocava. Sua cabeça se encheu de visões... Tom estava a obrigando a escrever nas paredes... Ele a incentivava a se cortar no banheiro... Ele enfiando as unhas em seu quadril, a marcando, a requisitando para si... O sangue escorrendo...

- Deixe a garota comigo – falou uma voz fria e arrastada.

- Draco! – ela exclamou e sem pensar, como se encontrasse uma bóia no meio do oceano, se jogou nos braços do homem encapuzado.

Podia ouvir as débeis tentativas de Rony e Hermione de produzir um patrono, enquanto Luna acudia Harry que se sacudia no chão. Mas nenhum feitiço produzia efeito, meros fios prateados surgiam e desapareciam em seguida, sem conseguir impedir o dementador de se aproximar mais e mais da corvinal.

- Draco... – ela murmurou novamente, se virando para o homem, e só então percebeu seu erro. Aquele não era Draco.

Ouviu os gritos de Colin mais a frente no corredor, e tentou se desvencilhar, mas Lúcio a segurava firmemente pelos braços. Tentou se debater, mas já estava dominada. Viu de relance muitos comensais em muitas cabines, raios verdes e vermelhos cruzando o trem, ouviu vidros quebrando, e o dementador erguendo Harry pela camisa até que mergulhou no breu.


Gina acordou de novo na enfermaria, as lágrimas escorrendo pelo rosto antes mesmo que conseguisse abrir os olhos. Sentou em um pulo, vendo que o sonserino que até à pouco estivera sentado ao seu lado, com a cabeça apoiada no seu colchão estava de pé e alerta.

- O que aconteceu? – ele falou, segurando no braço dela.

Sentiu espasmo de nojo quando as mãos dele tocaram sua pele e se afastou, cheia de raiva, do alcance dele, pondo-se de pé.

- Não me encoste, Malfoy...

- Gina, o quê... – ele começou, mas ela o interrompeu, quase berrando.

- Não me encoste! Sai daqui! Saia de perto de mim!

Imediatamente Madame Pomfrey surgiu, andando rápido, saindo de trás de uma das cortinas brancas que escondiam alguns pacientes.

- O que é que... – ela falou, e olhou para o rapaz. – Senhor Malfoy! Está perturbando uma das minhas pacientes, saia agora...

- Eu preciso falar com o diretor! – falava a ruiva, com tom de voz desesperado – Eu preciso, é urgente...

- Amanhã pela manhã, querida, você fala com ele. Agora fique quietinha, você esteve sob muita pressão...

- Não! – ela falou, ainda mais alto. – É urgente! Amanhã será tarde demais!

- Seja lá o que for...

- Eu tive um sonho! – ela cortou a enfermeira, que parou de falar e a encarou.

- Leve-a até o diretor, senhor Malfoy... – A mulher parecia assustada.

- Muito obrigada, - falou a ruiva pondo-se de pé – mas eu prefiro ir sozinha.

E saiu da enfermaria, sendo seguida por um Draco muito confuso.


Na manhã seguinte, o castelo parecia estar quase em sua normalidade. Se não fosse pelos cochichos e olhares amedrontados dos alunos, nada poderia acusar o tamanho da luta que fora travada no dia anterior. A movimentação era grande, todos estavam cheios de coisas, prontos para irem para casa. Gina tinha olheiras enormes, assim como Draco e Hermione, mas não havia o menor sinal de Eilan. Colin não aparecera para tomar café, e havia uma grande tensão por parte da ruiva enquanto via os alunos começarem a embarcar nas carruagens em direção a plataforma de Hogsmeade.

Nada poderia dar errado, ou seria a ruína de todos.

Colin apareceu apenas no ultimo minuto, quando ela já tinha desistido de esperar e entrado na carruagem com Luna e Neville.

- Como ela está?

- Em St. Mungus, eu creio. A senhora disse que levaria Eilan para lá.

- E o bebê? – perguntou a despeito da presença dos outros dois.

- Ainda em risco, pelo que sei, Caillean não podia fazer nada quanto a isso, por isso mesmo foram para o hospital.

Seguiram o resto do caminho em silêncio. Neville trocava olhares tensos com ela: ele sabia de tudo que iria acontecer. Luna parecia bem mais atenta do que o normal, e Colin ainda estava muito quieto.

Quando a última carruagem parou em frente ao expresso de Hogwarts ela soube que a sorte estava lançada. Tinha que confiar no julgamento de Dumbledore. Embarcou, não sem uma expressão de terror no rosto ao ver o trem começar a se mexer. Sentia como se estivesse indo em direção a própria morte.

Já tinham saído da plataforma de Hogsmeade à quinze minutos quando o trem parou, para grande surpresa da maior parte dos alunos. As portas dos vagões foram abertas, e os professores e aurores treinados os ajudavam a descer para dentro da floresta proíbida. Foram reunidos em grupos, os primeiranistas muito assustados, e lhes eram dadas chaves de portal. Evacuaram o trem o mais rápido possível e o mandaram seguir viagem, completamente vazio, a não ser pelo maquinista.

Sentiu a mão firme de Dumbledore pousar em seu ombro enquanto observava os alunos serem mandados de volta a escola.

- Todos estão à salvo, Virginia, e devemos agradecer a você.

Ela sentiu seu rosto pegar fogo, sabendo que corava até a raiz dos cabelos quando respondeu com a voz trêmula:

- Não fiz mais que minha obrigação, professor.


Gina andava incessantemente pelo Hall cheio de alunos, todos muito surpresos e agitados, sem saber direito porque estavam sendo levados de volta à escola. Foi encaminhando todos ao Salão Principal para ouvirem Dumbledore, enquanto isso, procurava em cada Sonserino a figura alta e loira de Draco.

O encontrou fazendo exatamente a mesma coisa que ela, embora parecesse bem mais mau-humorado, e não tão confuso quanto Pansy, ou Ana Abbott, ou a maioria dos monitores. Se aproximou dele, tentando não ser notada embora não desviasse os olhos do rosto do rapaz.

- O que quer agora, Weasley? – ele perguntou sem se virar para ela e empurrando de leve dos terceiranistas em direção ao salão – Vamos, vamos, já mandei entrarem!

- Vai sair correndo daqui para avisar ao seu mestre que o trem está vazio? – ela perguntou, ácida.

- Se eu fosse fazer isso, teria saído direto da floresta, não é mesmo?

- E porque não vai? Não é o precioso espião dele dentro da escola?

- Você realmente acha que não há nenhum outro aluno comensal, Weasley? – ele falou em sussurros. – É mais ingênua do que eu pensei.

- Quem mais? – ela parecia alarmada.

- Não sou nenhum dedo-duro, você sabe. Mas com certeza a essa altura algum comensal obstinado já avisou ao Mestre que estamos de volta.

- Quem, me diga!

- Nem uma palavra, Weasley... Você vai conseguir descobrir sozinha...

Os dois entraram no salão lado a lado, todos os alunos estavam sentados e virados para Dumbledore, a exceção dos dois. Ela passou os olhos pela mesa da Sonserina, tentando descobrir quem estaria faltando.

- Está olhando para o lado errado – avisou o loiro.

Ela se virou para a mesa dourada e vermelha totalmente descrente de que fosse ver um assento vazio que não fosse o que geralmente sentava. Mas ali estava Colin, ao lado de Parvati Patil, de frente para Lilá Brown, e tinha um assento vazio tanto ao seu lado quanto a sua frente.

- Onde está Marin? – perguntou alto para si mesma.

- Você pode juntar dois e dois sozinha.

Ela virou-se para ele, sacudindo a cabeça negativamente.

- Você está mentindo.

- Porque estaria?

Ela passou os olhos desesperadamente pela mesa da Sonserina, procurando algo de errado, algo que pudesse fazê-la acreditar que não era Marin, sua amiga há anos, a comensal infiltrada.

- Tem dois assentos vazios da mesa da Sonserina! – falou em tom vitorioso – Seu mentiroso! Quem é? Qual dos seus amiguinhos está faltando, hein?

- Eilan Avery te diz alguma coisa?

Sentiu seu estômago afundar. A menina estava internada em St Mungus, ela deveria ter se lembrado. Não havia mais dúvida. Mas porque raios Marin teria se tornado uma comensal?

- Porque... Porque...? – ela tentou falar, mas as palavras não saiam.

- Eu também não sei porquê Virginia – sua voz era quase um sussurro. – Me perguntei a mesma coisa quando a vi.

- Eu não acredito nisso... Eu não acredito...

Ela saiu discretamente pela porta, voltando ao Hall, com o rosto inundado pelas lágrimas.

- Virginia...

- Por favor, Draco, por favor... Desista disso... Confesse para Dumbledore... Escolha o nosso lado... Você pode ser espião, ou...

- Eu não sou um agente duplo – ele respondeu firme.

- É uma escolha entre ele ou eu... – ela tentou, desesperada.

- Se eu o abandonar, eu morro...

Os dois se encararam por alguns instantes, os rostos próximos como não ficavam há muito tempo, fazendo renascer a chama de sentimentos que jamais tinham sido completamente apagados. Seus lábios se entreabriram, se procurando, o olhar ardendo de desejo.

- Antes morrer ao meu lado... Do que sem ter meu amor.

- Verdade.

- Nós vamos achar uma maneira de te manter seguro, eu prometo... – ela murmurou, os lábios quase tocando os dele.

- Esqueça que terminamos... E eles que me achem aqui.

Então finalmente eles se beijaram, os joelhos dela tremendo tanto que não conseguia se mexer, seus braços enlaçaram o pescoço de Draco, que a puxou para perto, e tudo parecia estar de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído.


Nota da Autora: A música do começo do capítulo se chama "Love in the afternoon", do Legião Urbana, em "O Descobrimento do Brasil", e antes que alguém pergunte, estava sim na trilha sonora de "O Clone". O Título do capítulo foi tirado de "Os barcos", do mesmo cd, que, obviamente, não me pertence... ^^