Capítulo 24 – Uma Outra Estação
"Sei que não tenho a força que tens
Se me vejo feliz quase sempre exijo um talvez
(...)
Gosto quando estou feliz
Gosto quando sorris para mim
Estou longe, longe
Estou em outra estação
Não me digam como devo ser
Gosto do jeito que sou
Quem insiste em julgar os outros
Sempre tem alguma coisa p'rá esconder
Teu corpo alimenta meu espírito
Teu espírito alegra minha mente
Tua mente descansa meu corpo
Teu corpo aceita o meu como a um irmão
Longe longe, estou em outra estação
Todos fazem promessas demais
Temos muito o que aprender"
Ao entrar na cerimônia oficial do Ministério da Magia de sua formatura em Hogwarts, viu que alguns de seus colegas de casa tinham desaparecido. Haviam mais formandos sem um pai, ou uma mãe, ou sem ambos do que ele se lembrava de existirem. Crabbe não estava lá, e Goyle parecia muito perdido. Pansy veio cumprimentá-lo assim que ele chegou, a mão da garota tinha uma grande cicatriz.
- Fiquei surpresa quando soube que você tinha sido inocentado. Não fazia idéia de que tinha sido você que tinha contado à Dumbledore. Achei que o Snape...
- O Snape não sabia de metade dos detalhes que eu sabia – falou, sentindo-se mal. – E é fiel demais a Dumbledore para bancar ao agente duplo.
- Você estava o tempo inteiro trabalhando pra Dumbledore?
Ele deu uma risada fria diante da pergunta da garota, e puxou as vestes, mostrando o lugar onde a marca negra estivera marcada, um pedaço de pele vermelho e inchado.
- Você está vendo a marca negra aí, queimada? Eu poderia ter retirado a cicatriz, mas não queria esquecer o quanto eu fui estúpido me juntando à... – Ele engoliu seco – Não podíamos nem dizer o nome dele sem sentir a marca queimar. Eu nunca vou esquecer o quanto eu fui estúpido ao me juntar ao Voldemort.
A sonserina ainda se encolheu ao ouvir o nome que Draco pronunciara, mas rapidamente se endireitara e estendeu a mão ao antigo namorado.
- Admiro sua atitude, Draco.
- Não admire, Pansy. Admire Virginia por ter me feito ver o óbvio.
Ele se afastou da sonserina sem saber direito para onde deveria ir, até ver Hermione acenar para que ele se aproximasse. Ao lado dela estava o Weasley, com a roupa mais próxima de nova que ele lembrava de tê-lo visto, Potter se apoiando em uma muleta, e Longbottom com uma tipóia, sorrindo, o mais novo herói do mundo mágico. Foi andando, com sua melhor expressão de superioridade no rosto e um olhar meio desconfiado para aquele grupo.
- Queria te dar os parabéns pela liberdade – A Grifinória sorriu. – Seria muito ruim se você fosse o primeiro monitor-chefe a não se formar em centenas de anos.
- Sabia que deveria ter algum fundo acadêmico nas suas felicitações – sorriu, ainda mais ironicamente que o normal. – Não se preocupe, eu estou aqui, cumprindo meu papel.
- Malfoy – a voz de Potter estava próxima a si. – Eu... – Ele olhou para os amigos como se pedisse forças. Neville e Hermione acenaram em incentivo, mas Weasley virou o rosto como se não quisesse ter nada a ver com isso. – Eu queria te agradecer por ter nos avisado, se você não tivesse procurado o Dumbledore...
- Esqueça isso, Potter – ele falou, sentindo-se pela primeira vez como alguém que fez algo realmente bom.
Ele se virou, indo em direção a cadeira do monitor chefe quando foi novamente interrompido, mas por outra pessoa.
- Malfoy – era Weasley, com uma expressão de profundo contragosto. – Muito obrigado por ter tirado Gina das mãos... Bem, das mãos do seu pai duas vezes.
- Não fiz mais que minha obrigação, Weasley – ele falou, com um pouco de mágoa na voz. – Mesmo que fosse pra ela me largar depois, eu não podia ter feito outra coisa.
E finalmente alcançou a cadeira que deveria ocupar durante a cerimônia enquanto o ruivo o olhava desconcertado.
Draco caminhava pela plataforma com Eilan se apoiando em seu braço. Era estranho, depois de tantos anos, encarar a locomotiva sabendo que não entraria nela. Nunca mais embarcaria no trem vermelho em direção ao castelo, e não entraria nas carruagens para ver as torres e torrinhas iluminadas à luz do luar, ou debaixo de uma chuva torrencial.
- Aproveite muito bem, porque esse é seu último ano – Falou para a loira, que já usava as vestes da escola.
- Eu sei. Por isso mesmo que eu decidi vir pegar o trem. E vou aproveitar o quanto puder, embora ainda esteja me perguntando como vou subir e descer escadas quando minha barriga crescer.
Ele passou a mão de leve pela barriga da menina.
- Você sabe que eu sinto muito por isso, não sabe?
- Não sinta. Não é diretamente nossa culpa. Estava escrito e fim.
- Eilan, as coisas não são assim...
- Esqueça o assunto, Draco – ela se desvencilhou do braço do primo, indo em direção à ruiva que ajeitava o crachá de monitora.
As duas se abraçaram, com sorrisos contentes, sob o olhar atento dos pais de Gina, parecendo emocionados com a perspectiva de embarcar seu último filho, pela última vez.
- E como estão todos? Como está seu irmão? Granger? E Colin, tem te escrito?
- Estão todos bem! Colin passou as férias em um hotel trouxa, estava muito enrolado com a correspondência.
- E... – ele pode ver a prima corando antes de falar. – E Harry?
- Porque você não escreve para ele?
- Gina, depois de tudo que houve... Não, melhor não...
- Não seja boba, Eilan! Vocês devem sentar e conversar, eu acho que faria bem você aliviar a tensão – a voz da grifinória morreu ao olhar o rapaz surgindo por trás da loira.
- Virginia – ele se limitou a falar, colocando um sorriso quase agradável no rosto.
Os pais dela se viraram em direção ao rapaz enquanto ela corava profundamente.
- Draco... – respondeu, sem jeito. – Esses são meus pais, Arthur e Molly Weasley, talvez você não se lembre deles...
O loiro sorriu elegantemente.
- Encantado – falou apertando a mão da Sra. Weasley. – Se nos conhecemos anteriormente, eu era jovem demais para lembrar.
- Meu jovem, tenho que te parabenizar por sua coragem. Poucos teriam desafiado você-sabe-quem dessa forma.
- Obrigado – Ele tentou apertar a mão do Sr. Weasley de forma impassível, mas um leve colorido tingiu suas bochechas.
Eilan olhou para ele e riu abertamente enquanto ele parava em frente a ruiva, dando as costas para ela.
- Algum problema, Eilan? – perguntou sem se virar.
- Imagine, priminho! Gina, lembre-se do que eu te falei. Eu morreria se impedisse as coisas por mim. Seria meu maior desgosto – e virando-se para os Weasley. – Se os senhores me dão licença, eu vou cumprimentar alguns outros amigos.
- Toda, querida – falou Molly com a voz suave. – Gina, querida, eu e seu pai também vamos indo.
- Indo? – perguntou o homem. – Mas o apito do trem ainda nem tocou, Molly e...
- Nós já estamos indo, querido... – Enfatizou a mulher. - Eu tenho certeza que Gina tem muitas obrigações para cumprir como nova monitora-chefe.
- Monitora-chefe? – perguntou Draco sorrindo para a ruiva.
- Só Deus e Dumbledore sabem porque – respondeu tímida.
- Comporte-se, ouviu? – falou a Sra. Weasley, puxando a filha para um abraço. – Qualquer coisa, nos escreva...
- Não tem como esquecer, mamãe...
- Boa sorte, princesinha – o Sr. Weasley a abraçou e beijou de leve o rosto da menina. – Aproveite bastante.
- Pode deixar, pai...
O Sr. e a Sra. Weasley saíram rapidamente, deixando os dois à sós. Draco não podia ver como o coração de Gina batia rápido, e não conseguia ler a mistura de emoções no olhar dela. Também não conseguia imaginar o quanto seu olhar mostrava de tudo de sentia.
- Então...
- Então... – Ele repetiu.
- Está na casa da sua avó?
- Estou morando com ela, ali em Hogsmeade. Se você quiser me ver... Sabe onde achar.
- Sei sim. Ah, eu senti sua falta durante o verão. – ela falou, ainda corada.
- Eu sentia sua falta todos os dias desde que você foi embora – respondeu sério.
- Ah, Draco... – Ela deu um passo a frente, e ele a envolveu em um abraço enquanto ela apoiava a cabeça no peito do rapaz. – Como é que se faz para apagar o passado?
- Eu não sei, Virginia. Eu queria descobrir... Mas nós podemos tentar mesmo assim...
- Podemos tentar – ela repetiu, e em seguida ergueu o rosto, na direção do dele.
Os dois se aproximaram devagar, esquecendo de tudo que acontecia na plataforma cheia de névoa, e seus lábios se tocaram em um beijo tímido. O hálito fresco escapou pela boca entreaberta dela, apenas um instante antes de Draco abraçá-la forte, os lábios se esfregando lentamente nos dela. A saliva deles se misturava, seus dedos se misturando aos cabelos vermelhos da grifinória, enquanto ela apertava suas costas contra si. Sim, eles poderiam tentar. Eles deveriam tentar. Não havia outra escolha para os dois.
O som do apito do trem ecoou pela plataforma, e os dois se afastaram. Ela olhou nos olhos dele, com um sorriso. Ele colocou o cabelo dela atrás da orelha.
- É melhor eu entrar.
- Acho que sim.
Ela subiu no trem, aparecendo imediatamente na janela ao lado.
- Virginia... – Ele chamou, e ela sorriu. – Eu te amo.
- Eu também te amo – ela respondeu em um suspiro, e puxou o rosto dele pra si, os lábios se tocando de leve. – Vai me encontrar na primeira visita à Hogsmeade?
- Não perderia por nada nesse mundo.
- A gente pode tentar, não é? – ela falou. – Então, vamos tentar.
A locomotiva vermelha começou a se mexer, a levando pra longe. Ele viu o sorriso feliz dela enquanto acenava para ele, parado na plataforma. Ele acenou de volta, até que o trem fez a curva a tirando de suas vistas. Ele parou, sério, na plataforma antes de fechar os olhos com força e desaparatar.
FIM
"E numa estação
Como a primavera
Sentimentos são
Como uma canção
Para a Bela e a Fera"
