Harry Potter e a Ligação Silenciosa

Capítulo VIII – O Baile de Natal

_Você esqueceu de dizer com quem você vai ao Baile, Cathy._disse Hermione, no café do dia seguinte.

_Ah...

Harry cruzou os dedos, em vão.

_Vou com Alex Morgan. Ele me convidou há séculos, desde o último chamado, na ala hospitalar.

_É..._disse Rony._Quem diria que dessa vez não tivéssemos problemas com nossos pares.

É... /i não tinha nenhum problema, e Harry sentia-se aliviado por já ter um par, mas ainda chateado pelo fato de /i não ser este par. Em lugar de Harry, seria Alex Morgan, e havia muito tempo que estava escrito em sua testa o quanto gostava dela. Harry buscava sinais em Catherina que dissessem se ela o correspondia Morgan ou não, mas ela nada deixava transparecer. Apenas parecia não achar nem ruim nem boa sua presença, como se tanto fizesse. Uma hora, Harry chegou a reparar nela uma expressão apenas conformada, mas depois de piscar, percebeu que devia ter imaginado.

Hermione iria com Rony, e para Harry era bem óbvio (para Harry e todo o resto de Hogwarts) que eles não iam juntos para apenas sobrarem; os ciúmes de Vítor Krum que Rony tinha tudo denunciavam, ao mesmo tempo em que Hermione nunca fora entusiasta às investidas de Krum, no ano passado; entre os dois certamente tudo daria certo.

Quanto à Cho Chang, sua atitude abrigou Harry a se convencer de que a última coisa que ela sentia era pena; cumprimentava Harry alegremente sempre que o via, de vez em quando tentava sustentar uma conversa (que Harry não ajudava a sustentar: ficava sem saber exatamente o que fazer perto dela), enfim, tentava estreitar os laços entre os dois.

O mês de dezembro passou muito rápido, e logo já era o dia do Baile. Contrariado, Rony foi pegar sua roupa a rigor no malão.

_Agora me toca pôr aquele "vestido" marrom e... Ei!_exclamou, pegando as novas roupas azul marinho._Minha mãe comprou novas roupas?

Harry sentiu-se tentado a contar sobre Fred e Jorge e o prêmio do Tribruxo, mas se conteve. Ao descerem para a sala comunal, Harry e Rony pararam, totalmente sem fôlego, ao pé da escada. Hermione estava duas vezes mais bonita do que no ano passado, com os cabelos novamente lisos presos um penteado delicado, com um belo vestido azul-claro ornamentado com miçangas. Os olhos de Rony se súbito brilharam intensamente.

E Catherina _ ela estava mais linda do que Harry esperara _ com os cabelos mais brilhantes do que o normal, usava uma tiara de prata e um vestido também prateado, o rosto límpido e bem maquiado. Seus olhos verdes se destacavam, parecendo tão convidativos... E então o sonho dourado (ou melhor, prateado) de Harry acabou, já que Alex Morgan também saiu de seu dormitório e apressou-se a ir falar com ela.

_Você está incrível._disse ele, meio sem fôlego.

_Você também está bonito._retribuiu ela, em tom usual.

Antes de entrarem no Salão Principal, Harry encontrou-se com Cho. Ela também estava bonita, com seu vestido cor de ouro e os cabelos puxados pra trás numa trança, mas não parecia tão radiante quanto deveria parecer.

As portas do Salão Principal foram abertas, e os alunos encontraram a célebre cantora bruxa Celestina Warbeck, no palco. Harry sentiu-se satisfeito por não ter que abri-lo novamente, como fora no ano passado. Mais tarde Harry veria Jake Warbeck ir falar com Celestina e ele descobriria que eles eram irmãos. Ela pôs-se a cantar, uma música rápida, os casais se dirigiram à pista de dança.

Morgan tinha algo para dizer a Catherina, mas ficou num misto de medo e dificuldade, graças à altura do som. Dançou com ela as três primeiras músicas, que eram rápidas, até que finalmente uma lenta começou. Os pares começaram a se abraçar, e quando Morgan foi se aproximar de Catherina, Harry a chamou para dançar primeiro. Cho, não muito ofendida, trocou e dançou com Morgan.

Meio sem jeito, Harry passou os braços pela cintura de Catherina, que punha os seus em volta do pescoço dele, delicadamente.

_E aí, o Morgan dança bem?_alfinetou ele.

_Pode ser._respondeu Catherina, sorrindo._ Posso saber por que deixou a sua deusa oriental pra dançar comigo?

_Talvez seja por que agora eu esteja ligeiramente mais interessado numa brasileira._respondeu Harry, encontrando os olhos dela e corando._ Se quer saber, não sei se gosto tanto dela quanto gostava no ano passado. Estou meio que fugindo da Cho, e pelo jeito com ela está acontecendo o contrário.

_Já está ficando muito notório isso, Harry._disse ela, um tanto encabulada com o abraço tão forte de Harry._Não a deixe muito de lado, ela está começando a gostar de você. E... acho que nós não precisamos ficar tão próximos...

_Ah, não estrague a piada, olha só a cara do Morgan _brincou Harry._ Parece que está a fim de me causar outra cicatriz.

Dali a pouco a música acabou. Ao soltar Catherina (depois que ela o lembrara que já estava na hora de soltá-la, na verdade), percebeu que não tinha aproveitado o que devia daquela proximidade. Em instantes depois, ela sugeriu a Morgan que fugissem um pouco daquela música alta e fossem dar uma volta nos jardins. Satisfeito por ter um tempo a sós com ela, ele assentiu.

Andaram pela grama fofa de neve, até que, do nada, um raio vermelho atingiu Morgan ("Esta história de raios do nada já está ficando cansativa!", pensou Catherina), que caiu estuporado. Catherina, automaticamente sacou a varinha, murmurou "Lumus!", e viu um rosto conhecido seu entrar em seu campo de visão.

_Malfoy._murmurou ela, encarando-o com coragem._ O que você quer?

_O que acha?_disse ele._Vou fazer parte do que preciso fazer.

_Você na tem força nem poder pra isso._disse Catherina, cujo sangue fugia da face e ela começava a tremer.

_Não?_insinuou Malfoy, empurrando Catherina, que chocou-se contra a parede do castelo. Com muita força, ele segurou os braços dela, de modo a imobilizá-la.

_Quero deixar bem claro _disse Malfoy, estreitando a distância entre os dois._ que não gosto de você. Eu não amo, nem ninguém demonstrou merecer meu amor. Ela palavra não existe no meu vocabulário. Mas nesse caso... Tudo pelo Lord das Trevas...

_Sabia que ele estava por trás disto._disse ela, com a voz falha._ O que ele quer, droga?Por que não fala de uma vez?

_Assim não teria a mínima graça._replicou Malfoy, divertindo-se com o nervosismo e a respiração ofegante de Catherina._Só o que vou fazer é deixar algo das trevas com você.

_Do que está falando?_disse ela, à beira do desespero.

_Vou te dar um beijo, McFisher. Assim você estará com algo que a ligará ao Lord, para que ele a leve até si, com um feitiço inventado por ele. E então...

_E então ele me mata._completou Catherina._Pra depois caçar Dumbledore, os Granger e os Weasley, não é?

_Isso mesmo, McFisher.

_Ok, Malfoy, pare de brincadeira, agora já perdeu a graça, acorde o Alex...

_Eu falo sério._disse Malfoy, já tão próximo que as duas respirações se misturaram. Catherina tentou se soltar, mas ele era realmente muito forte. Quando ele quase já conseguia o que queria, ele foi atingido de lado e soltou Catherina. À beira do choro, ela deixou-se escorregar até o chão.

Fora Harry _que, ao perceber o que se passava, não pensou duas vezes antes de atacar Malfoy. Depois disso, correu até Catherina e abraçou.

_Você está bem?

_Estou._respondeu ela, soluçando.

Malfoy se levantou, empertigou-se e disse:

_Não tem problema. Haverá outras chances._ e se afastou.

_Afinal de contas, o que ele queria?_perguntou Harry acompanhando o sonserino com os olhos.

Catherina não sabia como contar.

_Ele queria... Queria me beijar.

Era a última coisa que Harry esperava ouvir.

_Mas como? Ele te chama de sangue-ruim, te enfrenta num bate-boca e...

_E senta do meu lado na aula de Feitiços, me convida pra ir com ele ao Baile e me ataca agora.

Harry sentiu-se muito idiota.

_E a Cho?_perguntou Catherina.

_Lá dentro._explicou Harry, superficialmente._ O Malfoy disse que gostava de você?

Ela não sabia até onde contar as coisas para Harry. Ficou sem jeito.

_Não, ele não disse...

Harry, percebendo a vergonha dela, disse:

_O que foi, Catherina, por que você não pode me contar?

_É assunto meu!_exclamou ela, se exaltando._Entendeu agora?

_Você não pode resolver tudo sozinha! No último chamado, você foi estuporada, e já se ia deixando levar pelo tal vulto!

_Talvez ele soubesse que você estava ali! E eu posso sim resolver meus problemas sozinha!

_Cathy, será que você percebe que tem amigos?_gritou Harry._ Durante esses cinco anos, todas as vezes que sobrevivi a Voldemort foram graças ao Rony e à Mione! Será que você não sabe o que é trabalho em equipe!

_Não, não, não!_explodiu ela._ A minha infância toda eu fui "a esquisita" e não tive amigos! Eu nunca confiei em alguém que não fosse meus pais!

Harry ficou se sentindo mal. Catherina começou a chorar, sentada numa pedra coberta de neve.

_Droga de noite._murmurou ela._ Vou acordar o Alex, vou pra cama e...

_Desculpe-me. _disse Harry, fugindo do olhar dela._Eu também não sabia o que era ter amigos, mas o Rony e a Mione acabaram por me ensinar.

_Rony e Mione, Rony e Mione, Rony e Mione!_disse ela, se levantando e começando a ajeitar o vestido._ Tchau Harry, por que não vai contar o salvamento heróico que fez agora ao Rony e à Mione?

Harry, chateado, lançou um último olhar a Catherina e voltou para o Baile.

Voltando ao Salão Principal, viu Cho dançando com um menino da classe, um tanto abatida, e Rony e Hermione numa mesa, rindo muito. Sem querer estragar a noite de mais ninguém, voltou à Torre da Grifinória e foi dormir.

"Pois é", pensou ele. "Você não gostou de imaginar o Morgan com a Catherina e quis voar no pescoço do Malfoy agora há pouco. Isso só pode ter um nome: ciúme".

As duas vezes em que quase se beijaram _enquanto falava com ela nos jardins pensou em fazer isso _significavam muito para Harry. Embora ela também se sentisse também atraída por ele, parecia não querer que eles... Bem, você sabe. "Está na hora de assumir para mim mesmo. Eu gosto da Catherina".

_Eu sabia que ela não agüentaria fugir de mim._disse Voldemort._Pode trazê- la, Rabicho.

Rabicho e Voldemort estavam na casa dos Riddle novamente. Rabicho abriu a porta da sala e Catherina, vestida com a roupa do Baile e varinha em punho, entrou.

_Você tem mesmo certeza do que quer?_disse Voldemort, fitando Catherina com os olhos de fendas._ Você nunca me vencerá num duelo.

_Eu sei disso._disse Catherina._E não me importo.

_Se é assim... Crucio!

Ela foi atingida pela maldição, mas permaneceu imóvel. É claro que sentia todas as dores da Cruciatus, mas arranjou força para agüentar. A força que ela emanava era incrível, com o Supraforce bem preso em seu vestido. Voldemort ergueu a varinha, e as dores pararam. Catherina só pôde pensar num feitiço:

_Rictusempra!

A Azaração das Cócegas atingiu Voldemort, e foi absurdo vê-lo se contorcer de rir. Ninguém precisa da Cruciatus, Harry pensou.

Ele se recuperou, pegou a varinha e gritou:

_Avada Kedavra!

Catherina se desviou; o feitiço foi ricochetear nas paredes.

_Conjuctivictivus!

Antes de ser atingido, Voldemort gritou "Avada Kedavra" outra vez, e desta Catherina não conseguiu se desviar.

Caiu no chão, morta.

Harry acordou suando frio. Deviam ser três da manhã, e ele levantou correndo, de pijama mesmo, e começou a descer até a sala comunal. De lá, pretendia ir de qualquer jeito ao dormitório das meninas. Ao descer, já ia subindo quando trombou com alguém. Era ela.

_Harry!_exclamou._ Você sonhou com...

_Que bom que você está viva!_disse Harry, não se contendo e a abraçando. Ficaram assim por um instantes, até que ela se afastou e disse:

_Você me viu ser morta por Voldemort, em sonho?

_Vi._respondeu Harry._ E vim correndo, com medo de que o sonho fosse real...

_Como é?!_disse Rony.

Na manhã seguinte, um domingo, Harry e Catherina contaram seu sonho duplo.

_Esse pesadelo é a gota d' água._disse Hermione._ Harry, já está na hora de ir falar com o prof. Dumbledore!

_Aí você aproveita e pega detalhes sobre a Ordem da Fênix._acrescentou Rony._ Dumbledore saberá nos dizer o que fazer.

_Vocês têm razão._concordou Harry._ Aliás, Catherina, você não contou exatamente o que o Malfoy fez com você.

_Malfoy?_estranhou Hermione._ Eu não acredito que o Rony e eu nos distraímos tanto no Baile! O que aconteceu?

Catherina contou a eles sobre as ameaças de Malfoy e sua última investida.

_Mas, Catherina..._murmurou Harry._ Por que... Por que o Malfoy disse que terminaria o trabalho do pai dele?

_Foi... Foi porque... Ah, OK, eu conto. Foi porque Lúcio Malfoy estava com Voldemort quando ele matou meus pais. Pronto, falei.

_Mas então é isso!_exclamou Hermione._E você acha que agora eles querem te levar ao Voldemort?

_Pode ser._respondeu Catherina._E... O Lúcio Malfoy não queria apenas matar minha mãe e eu... Ele queria... Bem... Não sei como dizer.

_Você está nos dizendo que o Lúcio Malfoy quis violentar sua mãe e você?_disse Harry, perplexo.

_É... E o tipo de ameaças do Draco denunciam que eu posso ser...

_Mas NEM PENSAR!_exclamou Harry, se levantando._Eu vou AGORA mesmo falar com o Dumbledore!

Harry saiu da Torre da Grifinória, e foi até a gárgula que guardava a sala do prof. Dumbledore. Que legal, pensou Harry, e a senha? Ainda estava ali pensando no que fazer, quando viu a profª McGonagall surgir no corredor.

_Professora!_exclamou Harry, correndo até ela._Eu preciso urgentemente falar com o prof. Dumbledore! Pode dizer a senha pra mim?

_Sinto muito, Potter._replicou McGonagall._Dumbledore não está em Hogwarts. Está ocupado, resolvendo outros assuntos.

O ânimo de Harry murchou.

_Obrigado, professora._murmurou ele, em resposta.

_E aí, Harry?_disse Rony, ao vê-lo de volta.

_Você já falou com o Dumbledore?_estranhou Hermione.

_Ele não está em Hogwarts._disse Harry, sem emoção._McGonagall me disse.

_Vamos para o almoço, então._disse Catherina.

No Salão Principal, eles viram o lugar do diretor vazio. Dali a pouco, depois de começarem a comer, eles viram Cornélio Fudge, o Ministro da Magia chegar e ir falar com McGonagall; parecia nervoso e suado.

_O que será que ele tem?_disse Rony.

_O que quer que seja, coisa boa não é. _disse Harry._ Vejam o jeito dele.

_Vai ver veio pedir ajuda._disse Hermione._Depois do bate-boca que ele teve com o Dumbledore no ano passado, deve estar arrependido.

Diante de mais uma dúvida, Harry sentiu-se com a cabeça cheia de pensamentos e exausta demais. Pela primeira vez no ano, sentiu o peso dos deveres dobrados (em preparação para os N.O.M.s, no fim do ano), seus sentimentos, as dúvidas e os mistérios.

_Gente _disse ele, empurrando o prato mal tocado._ Eu acho que vou pro meu quarto... Estou capengando de cansaço.

Ao se levantar, Catherina lhe lançou um olhar cheio de pena e compreensão. Harry subiu até o dormitório, pegou um pedaço de pergaminho, um vidro de tinta e uma pena. Seu desejo era uma penseira, mas teria que improvisar. O que fez, então, foi começar a escrever. Escreveu durante a tarde toda, falando de tudo que pesava sua cabeça, dos grandes mistérios à pequenos detalhes, como o jogo de quadribol contra a Corvinal, que seria no início de janeiro. Os treinos estavam cada vez mais exaustivos. Em dezembro, a Sonserina ganhara da Corvinal e em fevereiro pegaria a Lufa-Lufa. Os times que ganhassem iriam para a final, enquanto os perdedores disputariam o terceiro lugar. Harry mal podia esperar.